quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Leonardo Coimbra, Testemunhos dos seus Contemporâneos: Santos Graça, Paulo de Castro (Francisco de Barros Capachuz), Álvaro Ribeiro, Eduardo Dias Ribeiro Padrão e Manuel Couto Viana.

Nos Testemunhos dos seus Contemporâneos, de Leonardo Coimbra, após o  contributo de Eudoro de Sousa encontramos o 21º, de António dos Santos Graça (1882-1956), um notável etnógrafo e jornalista poveiro, intitulado Leonardo Coimbra, professor do Liceu da Pova do Varzim, que narra essa fase da vida de Leonardo, de 1912 a 1913, com  pormenores emocionantes e que bem patenteiam a força anímica luminosa do grande orador e pedagogo. Foi o caso de ao ser nomeado para professor do liceu, o que gerou receios dos mais conservadores, entre os quais o médico Caetano de Oliveira, que pedira a Santos Graça que tentasse evitar a entrada desse perigoso "anarquista e destruidor de crenças" no meio calminho ou conservador da Póvoa. Nada de mais ilusória tal fama e a breve trecho Leonardo tornara-se querido de toda a gens poveira, sobretudo após um discurso no Teatro Garrett, com fins de beneficência, em que «a cada momento a plateia levantava-se num aplauso entusiástico, jamais visto na terra.»
Dirá
ainda este notável etnógrafo dos barcos (e sua simbólica) e  pescadores da Póvoa do Varzim: «Como professor, teve sempre a estima e a mais alta consideração pelos alunos. A Bondade era uma das pautas do seu carácter e onde se mostrava realmente uma pessoa  superior. O cuidado pelos humildes e desvalidos enchia-lhe a alma. (...) Era, sem dúvida, um amigo dedicado ao seu amigo. Alma aberta e leal, que ao abandonar a nossa terra deixou em todos nós, em cada poveiro, um amigo que muito lhe queria.
Não admira, pois, que a sua morte dramáti
ca e brutal caísse nessa terra poveira como um raio que fulminou os nossos corações, já cheios de saudade pelo Mestre querido da nossa juventude.»

O 22º contributo, enviado de S. Paulo, em Junho de 1948, do jornalista Paulo de Castro, pseudónimo de Francisco de Barros Capachuz (1911-1993), notável democrata e lutador anti-fascista em Portugal e no estrangeiro, preso e deportado por mais de uma vez, e exilado no Brasil desde 1946,  sob o título de Evocação, consegue fazer sentir a genialidade   desafiante, desconcertante e trágica de Leonardo. Todo o artigo é valioso, e é com dificuldade que seleccionamos: «(...) Ia caminhando até à avenida dos Aliados, depois até um café onde ficava na companhia de seus alunos e alguns operários, vindos para o interrogar, contrariar ou agradecer um pouco da espiritualidade que se desprendia do seu diálogo ágil e encantador.
Leonardo Coimbra foi um desses homens a quem vulgarmente se chama de temperamento trágico. Ele imprimia a tudo o que o rodeava um sentido de transcendente inquietação, de nervosismo visceral, de pânico metafísico. Foi como Antero, um homem de tipo faustico, mas enquanto o primeiro conseguiu atingir uma serenidade aparente ou real e certa inteligibilidade convivente e especulativa, Leonardo Coimbra foi durante toda a vida um homem desconcertante e perturbador, um caso específico de inclassificação do ponto de vista humano e até filosófico (Nota: Numa página admirável da Luta pela Imortalidade, ele responde indirectamente aos que o acusavam de bergsonista).
O mais competente dos seus biógrafos, Sant'Anna Dionísio, descreve-o como homem alternadamente idílico e agitado, por certos ângulos amorável, por outros, satânico, em certos momentos tocado de angústia religiosa, em outros impelido por desalinhos arbitrários, ora místico, ora naturalista - e possuindo apenas esta característica constante: a curiosidade de saber.
Uma outra constante de seue spírito que impora pôr e relevo, se o quiseremos considerar na sua totalidade, é o amor entranhado, diríamos quase totémico, ao círculo da sua afectividade, compreendendo a família, os amigos e os discípulos. (...)
Leonardo Coimbra não era um homem de adesão definitiva a nada, exceptuando o seu mundo afectivo. O discurso que pronunciou no teatro S. Carlos em que fora previamente entendido que seria de adesão, quase finalizou em escândalo, pois, ao atacar o bolcehvismo, como sistema totalitário, ele atacou igualmente o nazismo e o fascismo e todas as formas e pretextos de esmagamento da pessoa humana. Terminou citando uma profecia de Gogol tão surpreendentemente herética para um auditório tão ortodoxo, que o público emudeceu de espanto.
Assim foi Leonardo Coimbra até ao fim, um semeador de perplexidades, um catalizador de cultura, um homem seduzido pela multiplicidade dos caminhos mais propícios à problemática do que à conclusão.
Longe de nós esboçá-lo como um cidadão exemplar à maneira de Antero ou de Raul Proença (...) Em Leonardo Coimbra há também humildade, quando longe de tudo o que lhe inspirava intuito de combate tinha momentos de elevada compreensão, de afectividade, de lirismo e de veemente exortação às melhores virtualidades humanas.»
 O testemunho de Paulo de Castro, que vale ainda por ser o de um anti-fascista que admirava muito Leonardo, foi concluído assim: «Mesmo quando a nossa interpretação seja diferente da sua, há uma essência que nos transmitiu, e que conservaremos como mensagem de um dos espíritos mais complexos, brilhantes e inquietos que nos foram dado a conhecer». S. Paulo (Brasil) Junho de 1948.

Já o 23º é um  profundo estudo acerca de Leonardo Coimbra e a política do seu tempo, já que a autoria é de um dos seus principais discípulos, Álvaro Ribeiro (1905-1981) e que, embora portuense, por Lisboa impulsionaria a chamada Escola da Filosofia Portuguesa, congraçando à sua volta a segunda geração de admiradores e estudiosos de Leonardo e que muito escreveriam posteriormente. Traça a evolução social e psico-filosófica, desde os tempos em que o estudante Leonardo Coimbra aparecia nos comícios a fazer discursos incompreensíveis, de corpo varonil, gravata à Lavalliere, «um revolucionário do grupo mais temível, proferindo tolstoianas palavras de esperança e amor», e narra como, já bastante depois da proclamação da República, em que passara de anarca ("os avançados") a republicano, alguém o acusara, num comício eleitoral em que ele criticara os extremismos, de já ter sido anarquista,  Leonardo replicara magnificamente: «- Sim, senhor. Também mamei, também gatinhei, mas, palavra de honra, não fiquei toda a vida a andar a quatro patas. E agora que tenho os braços livres para os erguer em prece, dou graças a Deus por me ter feito à sua imagem e semelhança».
Perante a crise ideológica da I República, com os políticos incapazes em aplicar os princípios e programas, Leonardo expõe e desenvolve «uma doutrina democratista, um pensamento político original e autónomo, que inteiramente se distingue do republicanismo dos seus contemporâneos e compartidários. Raras vezes se prestou a devida justiça à iniciativa isolada deste doutrinador».
Comentando a passagem "rápida e fulgurante" de Leonardo como ministro da Instrução Publica em 1919 e 1923, e a sua luta contra todas as forças da oposição, o que gerou a Questão Universitária e «que proferisse na Câmara de Deputados a sua obra prima de eloquência parlamentar» considera, e é sempre uma lição para nós este "morrer para renascer", que «Leonardo Coimbra perdeu a questão universitária. Nem a Faculdade de Letras foi transferida de Coimbra para o Porto, nem foi dada execução à reforma de estudos filosóficos. A cidade do Porto, berço do Infante D. Henrique, obteve, porém, um benefício para a sua Universidade: a existência de uma Faculdade de Letras, de que Leonardo Coimbra foi mestre, ou melhor, grão mestre. Leonardo Coimbra teve de passar pelo ministério para chegar ao magistério, e para reconhecer que a escala de valores consentida pelos políticos seus contemporâneos estava na razão inversa da ordem tradicional.»
Aluno directo de Leonardo, Álvaro Ribeiro saberá descrever bem a originalidade do funcionamento da Faculdade de Letras e o magistério de Leonardo. E embora não mencionando os aspectos tão valiosos da sua doutrinação juvenil anarquista, fraternalista, republicana, espiritualista, que se manifestaram em tantos artigos na Nova Silva e na A Águia, sem dúvida que o resumirá bem, ainda que com algum acanhamento da sua universalidade, no último parágrafo da sua comunicação:
«A experiência política de Leonardo que fim do pessimismo anarquista ao misticismo cristão, mediante um democratismo original e singular, não seguiu uma carreira rectilínea, desenhada pela vontade estóica na cidade cosmopolita e geométrica; mais se assemelha a uma curva descrita pela ansiosa procura da equação entre o amor humano e o amor divino. Na ordem da eticidade, todos os actos políticos de Leonardo Coimbra exprimem a mais elevada intenção do filósofo, sem quebra de coerência, sem mancha de oportunismos, embora numa linha de públicos insucessos e de privados desgostos.»

Leonardo Coimbra,  por Eduardo Malta. Pintura que era de Sant'Anna Dionísio.

Do 24º contributo, Duas palavras simples, memórias dum seu aluno num trimestre no liceu da Póvoa de Varzim, no ano de 1913, o poveiro professor primário Eduardo Dias Ribeiro Padrão, e que desencarnou em 1956, destacaremos a bem realista fotografia de Leonardo em acção:  «Era Leonardo Coimbra uma figura simpática e risonha. Todos nós gostávamos dele e das lições que nos dava.
Sempre que ele realizava conferências, a sua eloquência arrebatava o público que acorria para o ouvir. As mulheres, sobretudo, comoviam-se com a sua palavra ardente, sempre tocada da mais pura poesia. Era para elas um ídolo.
Tive uma irmã (com que saudades a evoco!) que algumas vezes o ouviu; e entusiasmava-se, - mais do que por isso, transfigurava-se - quando se referia a este Homem extraordinário que possuía o dom da palavra, sempre eloquente, substancial e burilada no melhor ouro da língua portuguesa. (...) Ficou-me sempre gravada no espírito a sua figura inconfundível, em cujo todo se adivinhavam as crepitações do génio. (...) Morreu como um justo. Aproximando-se de Deus, na hora imprevisível do seu trágico fim, mais se engrandeceu aos nossos olhos. Até nisso foi grande e dramática a sua existência».

Leonardo Coimbra pouco antes de partir para os mundos espirituais, precocemente e por isso deixando alguma perturbação e saudade nos seus amigos mais próximos.

O testemunho 25º é do Manuel Couto Viana, e intitula-se Já lá vão quarenta anos, e narra o impacto e influência exercidos por Leonardo Coimbra num grupo de estudantes e amigos, que s e reuniam no café Central, na praça D. Pedro IV, no Porto,   pois ele  «aparecia frequentemente lá, discutindo e persuadindo com o seu verbo fácil e profundo, atraindo pela simpatia pessoal que de si irradiava e pela bondade com que acolhia todos os que dele se aproximavam (...) Trazíamos debaixo do braço, a alardear cultura, A Força e a Matéria, de Büchner, e A Origem das Espécies [de Darwin], mas não tínhamos coragem nem pachorra para demorar os olhos no recheio dessa e doutras brochuras, compradas no Lelo, onde amiudadamente entravamos a vasculhar os escaparates. Líamos sim, avidamente Hugo, Zola, Tolstoi, Gorki e creio que já nessa altura Dostoievski, cujos dramas sociais, por eles tratados nos seus romances, nos emocionavam até às lágrimas e geravam em nós a maior revolta contra a sociedade burguesa.» Narra ainda o grupo Os Amigos do A.B.C, que «tratava de iniciar operários no conhecimento das primeiras letras e de lhes formar o cérebro na doutrina anarquista - então familiarmente designada, entre nós, pela palavra "Ideia"», quem sabe com que forças ligadas ao ideário e poética de Antero de Quental. Mas explicará:«Não éramos contudo, apologistas da acção directa, porque o não era também Leonardo Coimbra. Nunca ouvimos da sua boca uma palavra de incitamento à violência ou uma expressão de ódio. Nas conferências em que combatia o Positivismo, contra o qual vigorosamente se insurgia, nunca ouvi Leonardo Coimbra descer à injúria ou ao ataque pessoal. Tudo tratava no campo elevado das ideias, apesar da sua obsessão, que era, por essa altura, a de arrazar o credo positivista (...)
O certo é que no Porto univer
sitário dessa época, de febris preocupações políticas, avultava a sua figura, a despeito dos que o detestavam ou malsinavam - sem se atreverem a enfrentá-lo ou a medir com ele forças no plano da cultura. Leonardo Coimbra era efectivamente já alguém por essa altura de 1908», ou seja, no fulgor dos seus 25 anos. 

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Leonardo Coimbra, Testemunhos dos seus contemporâneos: Mário Beirão, João de Barros, Alberto de Serpa, Alves Correia, A. Correia de Oliveira, Sousa Costa, Umberto Araújo e Eudoro de Sousa.

                                                              

 Avançando na revisitação da obra Leonardo Coimbra, Testemunhos dos seus contemporâneos,  apresentamos mais alguns dos quarenta companheiros, amigos e alunos de Leonardo Coimbra, transcrevendo deles informações, ideias e frases estimulantes e luminosas:
                                        
Comecemos pelo 13º participante, o p
oeta saudosista Mário Beirão (1890-1965), que gerou uma soneto Solilóquio de Leonardo Coimbra, num lamento de noite obscura ou de exílio, bastante sentido ou cultivado na época, nomeadamente com Augusto de Santa-Rita,  na sua vibrante Justificação da revista Exílio, de 1916, e onde Fernando Pessoa contribui também forte e esotericamente, terminando-o assim: «Mas, à flor dos meus ais, fulgindo, esvoaça/ Éterea voz... sonhas (eu sei!) comigo,/ Fonte piedosa, múrmura, da Graça!-» Anote-se que Leonardo Coimbra escrevera a apreciação crítica de dois dos seus livros: O Último Lusíada, e em 1923 na revista Águia, Pastorais, acerca deste desenvolvendo uma valiosa teorização sobre o movimento da alma para o outro mundo e que nasceria «da inquietação do vazio, duma carência», a que se sucede o sentimento duma presença partir da qual se gera a «percepção espiritual, dando visões, que se garantem pelas profecias ou poderes de alegria e saúde com que se acompanham.», visão que lhe «parece ser um privilégio da santidade ou beleza moral».

O 14º contributo é do poeta, político republicano e pedagogo João de Barros (1881-1960). Intitulado Leonardo Coimbra, depois de confessar que ouvira Leonardo pela 1ª vez em 1911 no Teatro Sá da Bandeira, do Porto, descreve a sua arte da oratória, ao estilo de Jean Jaurés, que era «um construtor da própria eloquência, erguida a pouco e pouco, à medida que ele falava, até aos mais elevados cimos da oratória, palavra a palavra, momento a momento.
Leonardo Coimbra dava-me de facto, a mesma impressão: - os conceitos iam-se edificando, sobrepondo, subindo pedra a pedra, atingindo por fim vertiginosa altitude de emoção e de pensamento. Espectáculo admirável! Não duvidei da justiça dos elogios que o meu inesquecível Cristiano de Carvalho prodigamente lhe dispensava.
Passado tempo, publicava Leonardo Coimbra esse livro único em toda a literatura portuguesa moderna: A Alegria, a Dor e a Graça, poema lírico dum artista excepcional que sabia transformar em poesia as mais nobres e profundas ideias.
O deslumbramento - confesso-o sem exagero de nenhuma espécie - continuava. Não sou crítico, e ignoro tudo ou quase tudo da filosofia. Não me atrevo, pois, a discutir as criações e doutrinas filosóficas de Leonardo Coimbra. O que me atrevo, porém, é a afirmar que muitas das páginas d'A Alegria, a Dor e a Graça são páginas de antologia, que entre bastantes outras não deixarão esquecer o nome e o génio do seu autor. Possuem uma densidade e uma capacidade capacidade de irradiação, que nos cativam e iluminam a alma. Igualá-las em seu valor e em sua beleza - não é fácil. Excedê-las - é impossível.»
Após esta recomendação à leitura de tão espiritual obra (e que já abordamos parcialmente neste blogue), João de Barros concluirá o seu belo testemunho, pois convivera com ele familiarmente vários anos, desenhando um quadro impoluto de Leonardo, que terminava assim: «Era na mais pura e digna acepção do termo, um grande homem, um homem de forte, ampla e delicada estrutura de espírito (...)», ou talvez melhor, um homem com uma alma, corpos subtis e capacidades psíquicas poderosos, abertos ao infinito e de grande sensibilidade...

O 15º participante foi e é o poeta e presencista Alberto de Serpa (1916-1992), com um fulgurante poema de hermenêutica religiosa de Leonardo, em duas quadras, À Alma de Leonardo Coimbra, Agradecendo a fé que em mim renovou, a primeira interrogando as vias e disputas em que Leonardo se envolveu, a segunda e última: «Mas quando a morte, de asa aberta/ Tua fronte roçou e a venceu, A tua vida estava certa:/ O horizonte era só o céu.», pois a sua alma  na graça da infinita Divindade confiava ou mesmo certamente aspirava. O poema veio a ser publicado em 1952 no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, em que homenageia os seus melhores amigos, desde Leonardo a Régio, Ribeiro Couto, Carlos Queiroz, Frederico Schmidt, António Botto, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, etc.  

Na 16ª contribuição,  À Memória de Leonardo Coimbra, o padre, franciscano e democrata, Alves Correia (1886-1951),  analisa e transcreve o percurso filosófico de Leonardo Coimbra à luz  de comparações com os grandes filósofos, e entre eles Antero de Quental, e partilha um ramalhete de pensamentos e histórias da sua convivência com Leonardo, nomeadamente o amor a S. Francisco de Assis que os unia, valorizando e citando do seu livro S. Francisco de Assis, Visão Franciscana da Vida:«S. Francisco de Assis é o homem espontaneamente cristão, o homem que reencontra a natureza paradísiaca, aquele que é o tipo  divino, que é a ideia do acto do pensamento criador.», ou seja arquétipo dinâmico, e para nós fonte inspiradora.
E nas comparações dos dois "filósofos monadologistas e dinamistas": «Antero de Quental foi mais hegeliano do que Leonardo Coimbra e Leonardo Coimbra mais platónico do que Antero.
O espírito atribulado do Antero, se conseguiu sair do inferno do desespero, em que se contorceu, desde 1874 a 1880, não pode libertar-se do limbo da unidade ou confusão panteísta.
[Em Antero] O ideal supremo da perfeição moral, o santo, compreensor e ao mesmo tempo intérprete do Universo, ficava imanente ao espírito humano, dominado mas absorvido, dignificado mas anulado. 
Mais auto-consciente do seu eu espiritual, da sua centelha divina, diremos nós, Leonardo Coimb
ra «firmava-se num individualismo irredutível», e dizia:«chamem-me, se quiserem mónada; não me resigno, porém, depois tantas filosofias, a ficar só com as últimas sílabas - na-da. O que me apaixona na questão religiosa não é a separação da Igreja e do Estado, mas sim a separação nítida de Deus e do mundo».
                                         
O 17º contribut
o é de António Correia de Oliveira (1878-1960), o poeta nacionalista católico de Belinho, um soneto intitulado Leonardo Coimbra, onde traça a sua ascensão de "verbo artesiano", ainda "só palavra e não Pai-Nosso", ao homem da acção amorosa e poderosa e, por fim, sua entrada no "Credo", pois Leonardo, «construtor de ideias,/tinha em seu coração,  além da veias/ do sangue, - os veios do Sinal da Cruz

                                                                       
O 18º contributo, de [Alberto de] So
usa Costa (1879-1961), Leonardo Coimbra, Orador, é um vívido testemunho, pois, após mostrar a amplidão tremenda de Leonardo, que não se compadece com visões de aspectos ou planos separados, bem como o seu percurso interior espelhado nos livros, narra um episódio no Porto, no qual,  a convite de Leonardo, então Presidente da Associação  dos Jornalistas e Homens de Letras, discursou sobre a Montanha, o Marão e  Trás os Montes, com a intervenção final de Leonardo a emocionar toda a gente e a gerar  um abraço estreito entre ambos, com os olhos emudecidos.

                                
                           Leonardo e Pascoaes, por volta de 1914. Amizades perenes...
O 19º contributo,
de Umberto Araújo, de quem pouco sabemos, além de ter prefaciado em 1924 uma obra, na Atlântida Editora, de Coimbra, sobre o bandoleiro João Brandão, é dos mais vibrantes e simultaneamente mais completos sobre a sua vida e alma, percurso e morte. Oiçamos o princípio tão subtilmente clarividente:
«Felizes os que sentiram o bater próximo de asa
s de tão grande espírito, o frémito da sua inspiração; a força galvânica da sua eloquência caudalosa e borbulhante, arrastando as multidões, ao despenhar-se como uma catarata de Niágara, solene, arrebatadora, vertígica, sacudida por vibrações incoercíveis.

Era nesses momentos que pairava a grande altura o seu verbo prodigioso de cristão, a sua alma eleita de filósofo e de visionário, numa rajada nervosa que parecia o relâmpago fantástico de uma tempestade criadora.»
Depois traça a vida no mundo do poder de Leonardo, numa caracterização ainda hoje tão idêntica, dir-se-á, e como ele «não pode compreender os bas-fonds medonhos onde pululavam todos os vibriões da vida pública. E a desilusão foi tremenda e amargurante. Enganara-se. Um pensador de raça nunca se adaptaria às coisas mesquinhas e vulgares da democracia partidária. Existia uma antítese orgânica e fatal entre o primado da inteligência e a hipocrisia prosaica e vergonhosa do servilismo das coteries [grupinhos ou cliques]» Talvez discordemos do fim que dá, ou da visão que tem, de Leonardo no fim de tudo, mas sendo instrutiva e psicologicamente bem vista, ei-la: «Leonardo Coimbra caiu. Foi o último herói forense imolado ao Moloch estranho das tramas parlamentares e apesar da sua envergadura de gladiador antigo, do seu panache vitorioso de moço resoluto e decidido, ficou na história calamitosa dos acontecimentos como um homem fracassado. Não por incompetência, mas somente por incapacidade manifesta de conformismo. Como tantos outros precursores da liberdade, deixou apenas atrás de si o exemplo simbólico e doloroso de um homem que lutou - mas foi vencido.»
Ou será, que a sua v
ida e obra imortalizaram-no, e que as derrotas dos seus projectos educativos eram inevitáveis no dialéctica circunstancial e que o mais importante era a sua evolução interior, a sua realização espiritual e divina, que lhe permitiam ao morrer ir como espírito bem desperto e luminoso para os planos ou dimensões luminosos e elevados do mundo psico-espiritual, e que portanto venceu as provações tanto mais que a sua obra pode hoje ler ser lida, meditada, dialogada?

                                                                 
O 20º contributo, um dos que mereceria ser transcrito in toto, de Eudoro de Sousa (1911-1987), um notável filólogo, helenista e mitósofo, no Brasil desde 1953 e fundador do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Brasília em 1962, intitula-se O Pensamento eloquente e romântico de Leonardo Coimbra, e é bem fundamentado e esclarecedor do ser e pensamento de Leonardo, contextualizando-o na história da Filosofia em Portugal, nomeadamente na sua luta contra o positivismo de Augusto Comte e de Teófilo Braga, dominante no Curso Superior de Letras de Lisboa, valorizando a biografia de Leonardo por Álvaro Ribeiro, e demonstrando que, ao contrário do que se dizia, o bergsonismo de Leonardo derivava da mesma oposição ao positivismo "circunstante e dominante"  e que antecedera até Henri Bergson (1859-1941) em certos aspectos das afinidades conceptuais e religiosas que tinham ou que com originalidade formularam, tal a função mediadora da filosofia entre a ciência e a religião (e ambos se converteriam no fim da vida, embora Leonardo sempre fosse um cristão), suplantando-o mesmo quanto à intuição, "complementar da razão e do intelecto". Também realça o romantismo e idealismo do movimento da Renascença Portuguesa e da revista A Águia, em oposição a futuras  revistas mais caracterizadas por «receituários de técnica económica e pedagógica», e mostra a grande comunhão e complementaridade de Leonardo com Teixeira de Pascoaes na valorização do Povo, da Mulher, do Feminino, elogiando, como muitos outros e até por outras perspectivas, a obra prima filosófico-poética de Leonardo: «é ainda na Alegria, a Dor e a Graça, que se nos deparam as mais generosas páginas acerca da infância que jamais foram escritas em língua portuguesa» (...); valorizando muito  nela e em Leonardo  a união do pensamento ou especulação, com a a expressão, estilo e no fundo «a imaginação que encarna e vivifica a especulação». Ora tal união,  em Leonardo, manifestava-se também na palavra eloquente, no orador, no tribuno, no professor,  com uma tal força e qualidade que grande era «a largueza e fundura do sulco de admiração que dele nos ficou», admiração que «é a maior abertura, ou o maior tropismo, da alma à luz irradiante do exemplo».
E apoiando uma acus
ação, a de que Leonardo fora um orador romântico, esclarecê-la-á  e concluirá: «Só esta preocupação do Mistério longínquo, que na universal diversidade do Cosmos se refracta, deixando cintilas de luz aderentes aos símbolos do Povo, da Criança e da Mulher, só esta incessante preocupação do Mistério - o do Eterno Feminino, o da Infância Edénica, o do Povo - mar infinito das possibilidades sociais -, só este traço tão vincado e tão característico da fisionomia espiritual de Leonardo Coimbra, bastaria, de per si, para justificar e verificar a apelidação de orador romântico.
Quan
to à acentuação minoritária e depreciativa da opinião comum, deixemo-la ficar inerte nas «almas não verídicas» nos «esboços de almas, nos cárceres utópicos dos únicos verdadeiros ateus: deixemo-la morrer sufocada na aridez da indiferença dos que em vida nunca admiraram, e portanto, nunca puderam amar.»

Imagem extraída da página no facebook "Eudoro de Sousa", que foi  colega e amigo de Agostinho da Silva  e profundo estudioso e conhecedor da riqueza dos mitos gregos como iniciação à complementaridade dos opostos e do imanente e transcendente.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Leonardo Coimbra, Testemunhos dos seus contemporâneos: Eugénio Aresta, Marques Ferreira, António de Sousa, Alfredo Brochado e Américo Durão.

Continuando a apresentar os quarenta companheiros, amigos e alunos de Leonardo Coimbra (1883-1936) que participaram no seu In Memoriam publicado em 1950,  com os seus nomes e os títulos das comunicações, e transcrevendo excertos estimulantes e removedores, entremos no:

 8º  contributo,  de Eugénio Aresta (1891-1956), participante na 1ª grande Guerra, aluno de Leonardo na Faculdade de Letras do Porto,  e depois professor de filosofia, intitulado Leonardo Coimbra, o Homem e a obra, do qual selecionamos: «Aceitando a classificação simplista, dividindo os filósofos em musicais e arquitectónicos, ou a de Bertrand Russel, separando-os em místicos e lógicos, Leonardo Coimbra baralha as categorias e fica indefinido, misturando o místico e o lógico, o poeta e o geometrizante. Aqui e ali fuzila um lampejo de ironia ou aviva-se um traço de caricatura.
É este homem omnímodo e vário, é esta obra densa e irregular que se trata agora, e vai sendo tempo, de julgar com serenidade.
Creio que é poss
ível mostrar o que o homem teve de elevado e uniforme, para além da pluralidade das atitudes conviventes. E o que há na obra de reflexão profunda e séria, empurrando o leitor para novas direcções na marcha do pensamento. Removedor de ideias, catalisador de cultura, se Leonardo Coimbra usou a ironia, também na sua obra há maiêutica que chega e sobra para explicar a acção que ele exerceu sobre os seus discípulos e o comovido respeito que a sua memória lhes inspira.»

Valiosa também é a  síntese que Eugénio Aresta faz em Leonardo da compreensão do conhecimento do Universo não limitado pela razão teórica de Kant, antes vendo as infinitas possibilidades criadoras dos seres, num esforço de consciencialização que vai das plantas e animais até chegar à Inteligência humana mas recusando-se a separar Intuição-Inteligência, pois Leonardo «procura fundir os dois conceitos antitéticos num só conceito mais compreensivo de Razão Experimental, [título duma obra sua  e um dos seus conceitos chaves], ora intuitiva ora raciocinante, pressentindo por simpatia o latejar das pulsações do Universo [o que ele como ser de grande sensibilidade e poesia muito partilhou nos livros e discursos] e desenvolvendo os pressentimentos intuitivos pela lógica da inteligência.» 

O 9º contributo é de [Manuel] Marques Teixeira [Oliveira],  professor de Física e que escreverá em 1961 uma obra Leonardo Coimbra e a Escola Única. Intitulado O Pensamento Criacionista e o Pensamento científico, nele Marques Teixeira pesquisa e tenta justificar uma presciência de Leonardo Coimbra, em relação às teorias da física moderna, na sua valorização do Criacionismo, do pensamento e das ideias que, como José Marinho notou (e cuja obra O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra Marques Teixeira muito elogia), se encontra situado entre a indeterminação e a liberdade, intuindo as ondas de probabilidade geradas pelo comportamento em ondas ou partículas das subpartículas atómicas comprovadas pela física quântica, e afirmando pioneiramente o conceito de "cousismo" e "cousar", que Bachelard (1884-1962) utilizará, desvalorizando as coisificações  e prevendo já em 1912 na sua tese do Criacionismo, pelos avanços que a física moderna fazia, ser «a ciência uma dialéctica de noções, cuja base é o pensamento tendendo para a mais completa racionalização e íntima unidade e acordo.»

No 10º contributo,  intitulado A Última vez que vi Leonardo Coimbra, Alfredo Brochado (1897-1949), o tão sensível como discreto poeta, natural de Amarante e vizinho de Pascoaes e de Leonardo, colaborador na revista Águia, e em muitas outras, dá-nos em duas páginas uma sensível quase clarividente visão do dinamismo removedor do magistério de Leonardo Coimbra, «uma grande luz que se acendeu na terra portuguesa», e que «tinha o singular poder de agitar ideias. A seu lado sentia-se o rumor da inteligência, a maré viva, vindo não se sabe donde, como um Oceano sem fim.
A água do lago estava calma e tranquila e a sua presença agitava-a de singulares ondulações. Por isso, quem algum dia o conheceu, teve sempre necessidade do seu convívio e da sua presença. Era o contrário de um ser parado e concordante. O poder de especulação filosófica que animava o seu espírito, traduzia-se na conversa, em contínuos ensinamentos, em discussões, das quais na verdade nascia a luz. Todos aprendemos muito com ele. As suas aulas não terminavam. Saía da cátedra e continuava a ensinar. Mais do que qualquer outra missão, coube-lhe a mais bela de todas: ensinar aqueles que tanto desejavam alargar o horizonte do seu conhecimento e encontrar resposta consoladora para as perturbantes interrogações do seu espírito. Fazia-o por uma inclinação natural do seu espírito, pelo prazer que tinha da comunicabilidade, da vida social, de viver, repartindo pelos outros a sua alma.» Que extraordinária descrição de um bom professor...

O 11º contributo, de António de Sousa (1898-1981), portuense, notável poeta, animador de Coimbra e seus fados, da vida associativa e das revistas literárias, e buscando a harmonia dos contrários, é um  profundo poema O Mistério do Homem. Á memória de Leonardo Coimbra, onde intui a pré-existência do ser e destino de Leonardo Coimbra, quando o Universo  se estava ainda a gerar e, concluindo, quando «Ainda não havia igrejas/ milagres, filosofias,/ Deus verdadeiro ainda não chorara,/ já ele sabia Deus/ porque amava.», realçando assim a forte irradiação do coração espiritual de Leonardo Coimbra, bem poderoso, quase inextinguível.
                                               
O 12º contributo, do poeta Am
érico Durão (1896-1969), colega na Universidade de Lisboa de Mário Beirão e de Florbela Espanca, a qual muito o apreciou, e que teve mesmo o privilégio de um dos seus livros, Tântalo, de 1914, ter sido prefaciado por Leonardo Coimbra, com ideias e imagens bem valiosas e elogiosas («No fluxo-refluxo da esperança, é, meu querido amigo, o seu livro um ser vivo, o seu coração anima-o, ouvimos bater a cadência do seu ritmo cardíaco»), é uma breve mas sentida e pessoal saudação, intitulada Despedida, finalizada com a narrativa dum fenómeno invulgar que o tocou bastante, mas que transcreveremos noutro artigo. Começa assim a sua evocação e preito de homenagem: «A ironia acerada que com frequência lhe polvilhava a conversa, a princípio, surpreendeu-me. Não me foi, porém, preciso muito tempo para compreender que só as ideias fecundas e belas achavam guarida na sua inteligência e no seu coração. Os comentários acerbos, que por vezes fazia a pessoas e factos que de eles não eram merecedores, tinham um sabor epidémico, surgiam-lhe de momentâneo humor, ou até de um simples jogo de palavras.
O forte poder de sugestão que do seu convívio pessoal emanava, foi um dos seus dons mais alto, sobrelevando, ainda agora, a influência da sua obra escrita, a qual só nos últimos tempos adquiria a força e a serenidade luminosa das coisas perenes.
Os amigos e discípulos de Leonardo quando não envenenados por qualquer despeito incompreensivo e mesquinho encontravam nele um amigo confiado e certo como um irm
ão.»
Narra em seguida como, mal soubera da
morte, partira de Guimarães para o Porto, e ainda participara na comovente velada em Matosinhos: «Leonardo Coimbra dormia na sua pequena sala, entre flores e círios, as primeiras horas do derradeiro sono.
Nenhuma dúvida era possível!
O grande orador, o filósofo, o poeta, o amigo excepcional deixara-nos! Na salinha, ainda não há muito cheia do seu desbordante entusiasmo e da sua clara alegria de viver, só o seu corpo inanimado repousava agora (...). 

Que Leonardo Coimbra, dos elevados planos espirituais em que perdura, receba os nossos raios espirituais e continue um mestre de Portugal, inspirando subtilmente os que o leem, cogitam e amam!

domingo, 28 de janeiro de 2024

Guilherme Filipe, "Invocação e testemunho de Leonardo Coimbra". Transcrição. E breve biografia do notável pintor de Fajão, Pampilhosa da Serra.

Guilherme Filipe, quando viveu cinco anos na Nazaré, fundindo-se plenamente com as pessoas e o ambiente. Fotografia do blogue de José Queiroga: Homenagem ao Pintor Guilherme Filipe.
No In Memoriam de Leonardo Coimbra, publicado no Porto em 1950, entre os vários contributos valiosos, belos e sentidos um só provém de um pintor e é o de Guilherme Filipe, que tendo nascido em Fajão, Pampilhosa da Serra, em 1897, quatorze anos mais novo que Leonardo Coimbra, teve uma vida dedicada plenamente à arte, à pintura, aprendendo primeiro com Cândido Sotto Mayor, José Malhoa e António Tomás Conceição Silva e estudando em diferentes centros de Espanha (onde foi importante o magistério de Joaquim de Sorolla) e França, com constantes idas e vindas, exposições e convivências, até estabilizar em Portugal em 1932, e desenvolvendo, dir-se-á, um estilo profundo de realismo social, com as figuras muito humanas mas frequentemente plenas de simbolismo...
A sua primeira exposição em Coimbra, em 1923, e na Universidade, mais complexa na sua pujança inicial, foi apresentada por almas artísticas e sábias como Eugénio de Castro (que lhe arranjara um atelier na Faculdade de Letras), Afonso Duarte, Virgílio Correia, e  do catálogo da exposição hoje José Queiroga partilha no seu blogue parte das valiosas apreciações. 
Resolvemos transcrever o seu testemunho pelos belos ensinamentos que nos transmite, seja acerca de Leonardo, seja dele próprio. E se lermos a sua biografia, e há-as valiosas online, tal a da sua sobrinha-neta Rita Cortês na wikipédia, e as dos blogues de José Queiroga e do ancestralpampilhosense, compreendemos melhor a riqueza artística, pedagógica, ética e espiritual vivida por Guilherme Filipe  com tantas exposições e sobretudo iniciativas culturais, tal no Estoril, em 1934,  a Escola de Acção Artística e Intelectual, que funda com Augusto Pina, e patrocinado por Fausto Figueiredo e Guilherme Cardim, e em 1944, na Nazaré, o Jardim Académico de Belas Artes onde se realizaram cursos, conferências, exposições, sessões de cinema, e que ele animou abnegada e entusiasticamente,  mencionando-o até neste texto, já que o escreveu quando trabalhava e vivia na bela vila piscatória
 Realçaremos ainda as suas amizades com Eugénio de Castro, Leonardo Coimbra, Miguel Torga, Sant'Anna Dionísio (que pintou bem como ao seu filho) ou mesmo os democratas opositores do repressivo Estado Novo, pois integrou a comissão de apoio à candidatura eleitoral de Humberto Delgado à presidência da República, passando desde então a ser mais silenciado ou publicamente inviabilizado.
Miguel Torga (1907-1995, aqui em jovem pintado por Guilherme Filipe), será o autor da sugestiva inscrição na lápide do pintor em Fajão, na qual se pereniza «a tua humanidade de sonhador de impossíveis, de arquitecto de Jardins Universitários, de construtor de Falanstérios utópicos, de artista que pintou a manta de todas as maneiras e cores... Igual  ti próprio para todo o sempre: transitório e fabuloso.»

 
Este seu testemunho, certamente pedido por Sant'Anna Dionísio, é pois uma boa oportunidade de comungarmos com a sua alma, a de Leonardo Coimbra e o fogo do amor ao bem, à verdade, ao belo e à liberdade que os animava. O título já indica muito, e pena foi que não tivesse debuxado uma vera efígie de Leonardo Coimbra: 
 
                            INVOCAÇÃO E TESTEMUNHO

«Sou admirativo por natureza. Infelizmente, porém, admiro pouca gente, e quando tenho que fazer a alguém a não admiração por si ou pela sua obra custa-me isso os olhos da cara.
De todas as coisas e de todos os seres esforço-me sempre por encontrar o seu lado bom; porque o mau, se o vejo, uma de duas; ou o escondo, para que, por minha parte, ele não influa na formação e desenvolvimento dos que, por qualquer desvio de natureza são sensíveis ao mal, ou o corto rente como quem corta a parte do corpo afectada pela gangrena, mostrando-o em toda a sua maleza e fealdade.
Há nisto, reconheço-o, qualquer coisa de fatal e desditado missionarismo nato, superior à minha vontade e às eventuais razões de conveniências pessoais. Mas que fazer! Sinto que, ante tudo, é preciso defender a vida, a arte, a beleza e o amor dos perigos que a ameaçam.
Conheci e admirei Leonardo Coimbra [pena não ter detalhado mais, ainda que descrevendo-o bem, como pintor e espiritual]. Era um tipo exemplar de homem, fisicamente bem constituído e intelectualmente bem formado, jorrando de luz de verdadeira inteligência, optimismo e simpatia humana.
Alto, forte, gordo, moreno, corado, cabeça arredondada, cabeleira negra, grandes olhos castanhos duma melancolia profunda, embora vivos, raras vezes o víamos sem um grande charuto na boca, cujas fumaradas eram algo assim como o fumo vulcão do seu espírito.
Em qualquer parte onde se encontrasse, Leonardo Coimbra dominava sempre. A sua presença era daquelas que enchiam o espaço: um salão, a praça pública, o parlamento, o país. Quando falava, a sua voz, o seu verbo eloquentíssimo, revelavam logo nele a força da natureza com Dom de gente.
Tinha as aptidões necessárias para ser o filósofo que a Península Ibérica requeria a continua requerendo. Mas era português, tinha sido nado e criado em Portugal e essa fatalidade perdeu-o para a filosofia e até para a política.
Não foi ele, de resto, o primeiro nem o último dos grandes portugueses que se perderam assim. Se valesse a pena dizer porquê, diríamos que a trágica verdade está em todos nós: somos poucos e temos os encargos de muitos. Toda a energia do povo português se gasta na manutenção da independência material do país. Se há casos individuais em que alguma energia fica para sonhar, pensar, filosofar, pintar, fazer ciência, isto é, fazer Pátria, esses casos nunca podem garantir a independência espiritual, que é essencial porque, além de serem raros, padecem do mal da origem: são devidos a essa estranha coincidência entre a fortuna particular, feita ainda à custa da energia do povo, e uma formação moral em culturas estrangeiras, sem sentido de unidade [uma das falhas constante na nossa história]. E assim, como só por milagre constituímos uma Nação, eu penso que enquanto se não destruir esse monstruoso rochedo da fatalidade nacional, que tantas ondas de talento e de génio tem desfeito, não haverá possibilidade de construir, dentro das fronteiras, a Pátria ideal da cultura em relação com a Humanidade, e desgraçados dos portugueses que nascerem com vocação para as artes, para as letras ou para as ciências.
Ora a minha admiração por Leonardo Coimbra estava em que eu via sempre nele o homem capaz de formar a pequena legião de bravos capazes de destruir esse tal monstruoso rochedo da fatalidade nacional.
Se hoje fosse vivo tinhamo-lo certamente no Jardim Universitário de Belas Artes, animando e orientando os seus debates, nesse sentido. Quantas vezes, antes de abrirmos essas sessões, ou já depois de as abrirmos, quando ouvimos gaguejar alguns, impossibilitados de coordenar ideias e construir um pensamento, nos lembramos de lhe enviar um convite para o outro Mundo!... [Bela afirmação da sua abertura à comunicação com os espíritos já partidos].
Pouco nos importaria que não fosse um filósofo ou um pensador feito; e, no caso de o ser, que a sua filosofia ou o seu pensamento não agradasse ou satisfizesse por não corresponder às exigências históricas do nosso tempo. O importante seria que estivesse presente. Porque sendo ele, como era, isso sim, a filosofia em potência e o pensamento em acção, no sentido genésico, a seu lado ninguém permaneceria indiferente aos altos problemas da vida, pois era como poucos homens têm sido no Mundo - um grande agitador das almas.

A garra espiritual de Leonardo Coimbra sente-se nas gerações que formou. E se nenhum dos seus discípulos o seguiu o seu "criacionismo", mas antes o recorda com admiração e saudade, é porque ele foi o verdadeiro Mestre: formou inteligências, criou personalidades.
Era assim Leonardo Coimbra.
Que o seu espírito esteja presente, neste momento excepcional, em que o Mundo vai dar uma grande volta, no seio da História.»

Que a alegria, o amor e a graça divina brilhem em Leonardo Coimbra e Guilherme Filipe, e nos inspirem. Aum...

sábado, 27 de janeiro de 2024

Um dito de Jesus sobre a destruição do seu corpo e ressurreição, e do Templo de Salomão e sua reconstrução.

Nestes tempos de tanto, tanto sofrimento na antiga Terra Santa, qualquer ser mais sensível, religioso ou crente na vida depois da morte, ora e medita e, simultaneamente, invoca e interroga o mestre Jesus sobre o que se está a passar e o que pensará ele, com os seus anjos e santos. Na incapacidade generalizada de o intuir, na ausência dum magistério eclesial claro e firme,  há que recorrermos ao que dele nos ficou e meditar alguma frase sua. E  eis um dos ditos do Evangelho de S. Tomé (aparecido em Nag Hammadi, Egipto, em 1945, num conjunto de códices em copta, do séc. IV) talvez apropriado e sem demasiadas dificuldades de interpretação, o logion 71: Disse Jesus: Eu deitarei abaixo esta edificação e ninguém será capaz de a reconstruir.
Está a referir-se a si próprio, ou seja ao seu corpo que iria em breve ser crucificado, ou será antes à religião mosaica e judaica, e em especial ao Templo de Salomão?
Em termos históricos, provavelmente seria ao Templo e, consequentemente, ao seu sumo Sacerdócio,  pois trinta e sete anos depois do rabi da Nazaré ser condenado e crucificado, o templo de Jerusalém sofre a sua 2ª destruição, ao ser arrazado pelos romanos, no ano 70, após um cerco demorado com a Arca de Aliança e outros objectos sacros a desaparecerem ou a serem levados para Roma. Com o fim do Templo-mór, do sumo sacerdote e da seita dos saduceus, serão os rabis, os professores religiosos, por vezes místicos, que em pequenas sinagogas  continuarão a orar e a estudar a Tora, levando-a até para a Europa, tal como os judeus e sírios tornados cristãos levavam a Boa Nova. Já na época medieval, dos finais do séc XI ao XIII, quando os cristãos com as Cruzadas tentaram libertar os lugares santos da Palestina do domínio islâmico, a Ordem dos pobres cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, vulgo Templários, instalar-se-á interior e na cripta do que se edificara sobre parte do destruído templo de Salomão (desde o séc. VII,  a mesquita de Al-qsha, e que sofreu várias destruições e utilizações e é palco hoje de constantes opressões aos fiéis islâmicos das sextas-feiras), e pioneirizaram certos aspectos de uma religiosidade mais universal e iniciática, e pela sua sabedoria, coragem e pragmatismo constituindo uma fraternidade ou comunidade axial entre a terra e céu e que, com a sua abrupta atribulação e destruição em 1317 pelo ganancioso rei francês Filipe o Belo, entrando num legendário mítico perene.
A mística do Templo e dos seus avatares, que perpassará muito, muito pela Maçonaria, na sua doutrinação e ritualismo, desde o séc. XVIII, e entre nós bastante por Fernando Pessoa, chegará até ao séc. XXI, com muitos a desejarem ainda reerguer o Templo exterior, ou a destruir até as artísticas construções islâmicas resplandecentes, num recinto tão querido às três religiões. Mas sabemos que a reconstrução do Templo, sobrevivendo contudo parte do Muro exterior das Lamentações, muito cultuado, não mais, não mais poderá acontecer, como Jesus disse, não só por impossibilidades arquitecturais e político-religiosas, como por também porque fé e as crenças nas religiões ditas abraâmicas ou do Livro decairam muito, ainda que bastante menos no Islão.
                                                                   
Voltando ao dito de Jesus, como a
s palavras dos mestres têm sempre várias dimensões, e de facto são por vezes clarividentes, proféticas, Jesus poderia estar a dizer também mais iniciaticamente: «- Eu, enquanto ligado com o mundo espiritual e divino, como mestre ou ungido, sei que virá o tempo em que o Templo cairá. Mas também vos digo que quem se entregar à minha orientação, não se perturbará com tal perda dum templo externo e aprenderá a vencer o seu ego ignorante, de modo a reconhecer no seu santuário interior o  espírito imortal e a religar-se à Divindade, ao Pai.»
Se estudarmos as hermenêuticas mais comuns dos comentadores de S. Tomé e dos Evangelhos, vemos que em geral tendem a admitir mais o referir-se ao seu corpo e a consequente ressurreição, seguindo S. João 2, 13:22, onde o episódio é localizado após a expulsão do vendilhões do Templo, o que aponta  para ser até mais o Templo de Jerusalém, pelo que deveremos realçar estar indicada nessa imagem a  ultrapassagem da religião judaica, pelo ensinamento e morte de Jesus, como se depreende de outras falas dele que escaparam à redação conciliadora pragmática da Torah como Antigo Testamento com os Evangelhos, como o Novo Testamento, tanto mais que ele era verdadeiramente o principal ungido, messiah, em grego christos , e por alguns reconhecido como o profetizado em Daniel e Isaías, mas que acabara por não o ser, fatalmente, pelos sacerdotes e a maioria dos hierosolimitas.
De facto, nos Evangelhos sinópticos a ideia que passa é semelhante ao dito citado por Tomé, mas com fim oposto, pois ele dá o seu próprio corpo à destruição, e ao terceiro dia o reconquistaria para a vida eterna. Em S. Mateus, em 26, 59, lemos a frase de poder destruir o templo e reconstrui-lo em três dias, ser arguida como sendo de Jesus por duas testemunhas denunciadores face ao Sumo Sacerdote, o qual questionando Jesus, escandaliza-se e rasga as vestes por ele reconhecer que era o filho de Deus, decidindo-se então a sua morte. No evangelho de S. Marcos, o mais histórico ou fidedigno, vemos por três vezes ser mencionada a destruição do Templo,  a primeira vez no cap. 13:1-4  numa conversa real, simples mas profética entre os mestre e os discípulos, quando saiam do Templo pois estes, elogiando a sua estabilidade, fazem-no afirmar: «Não ficará pedra sobre pedra, que não seja deitada abaixo.» Mas será nos Actos 6:12-14, que encontramos a descrição mais alargada plausível, embora afirmando-se que provinha de falsas testemunhas diante do Sumo Sacerdote: «ouvimos dizer que este Jesus da Nazaré destruiria este local e mudaria os costumes ou mandamentos que Moisés nos entregara»
Só portanto nos Actos 6 parece emergir a versão mais completa da fala do mestre, mostrando-se que Jesus profetizara e quereria o fim (ou a transmutação) da religião de Jeová, pois os outros evangelhos omitem a declaração expressa de tal propósito. E será então que o dito, tal como é apresentado de modo reduzido no Evangelho de S. Tomé, visa não apoiar os que acreditavam que Jesus teria ressuscitado corporalmente, algo que aliás é desenvolvido com contradições nas narrativas evangélicas? 
Ou seja, o compilador dos ditos de S. Tomé desvalorizou o episódio da ressurreição física, que ele consideraria não um dito profético mas uma coisificação ou materialização de uma ressurreição espiritual e, no modo como o transmite, parece apenas indicar o fim do Templo e do seu Sacerdócio. Mas provavelmente também da própria da lei de Moisés e da sua dependência do demiurgo Jehova, natural numa compilação de ditos puros ou concentrados, que evidenciam o lado mais gnóstico e libertador de Jesus. 
Algumas conclusões parecem-nos então plausíveis, sobretudo a partir dos Actos dos Apóstolos, e dos progressos da crítica científica e espiritual histórico-religiosa, para o qual o evangelho de S. Marcos é o mais histórico e fidedigno: 1ª, a de que a religião mosaica foi na sua essência ultrapassada, nomeadamente quando os seus fiéis não souberam libertar-se, quanto à Divindade, da concepção exclusivista e violenta de Jehova, para a mais pura e íntima de Jesus, e duma religião demasiado ritualista e legalista para o do amor e caridade fraterna e libertadora, algo que nos dias de hoje ainda parece mais evidente.  2ª, que os sonhos messiânicos ou então de segundas vindas, sejam de judeus, cristãos, teosóficos, esoteristas e sobretudo evangelistas, mas também de outras religiões, são uma projeção de desejos e ânsias, que podem alucinar e alienar, gerando tendências perigosas de sectarismos fanáticos. 3ª, a de que o Templo de Salomão nunca mais será reconstruído, nem os lugares santos islâmicos serão destruídos, dada a sua historicidade, beleza e sacralidade. Sabendo-se porém nestes campo da proverbial teimosia, ou mesmo obstinação, judaica e dos fundamentalistas evangélico-cristãos, ainda muito pode acontecer, tanto mais que assistimos nestes últimos anos e particularmente meses a uma tentativa levada a cabo impiedosamente de destruição maciça da presença islâmica e palestiniana na Palestina, na faixa de Gaza, em Israel.
O que pensará o mestre Jesus da tragédia actual e proporá para o futuro? Certamente, cessar-fogo imediato, reconhecimento do Estado Palestiniano, co-habitação pacífica dos dois Estados e maior abertura dos dirigentes às forças de luz, amor, sabedoria e fraternidade, com uma ampla educação para a não-violência e paz nas populações...
Será possível realizar-se este desiderato, numa tarefa hercúlea, ou é uma utopia imensa, pois os traumatizados dos dois lados e os instintos de vingança acirrados, para além das muitas mentalidades violentas, racistas e cheias de ódio, e das disputas ambiciosas territoriais e das bacias petrolíferas no mar, dentro do grande confronto geo-político entre o império anglo-americano-israelita e a multipolaridade concretizada no BRICS e liderada pela Rússia, China e Irão, vão fazer perdurar por bastante tempo, ou intensificar a curto prazo, as guerras e escaramuças?
Embora seja utópico admitir-se a breve trecho uma paz estável, antes parecendo eminente uma conflagração, creio que todos devemos lutar pelo cessar fogo, a co-existência dos dois Estados, e a erradicação pela cultura, a educação, a arte e a espiritualidade do egoísmo feroz e do ódio.
Para estas metas ou elevados objectivos, o mestre Jesus deu muitas indicações esparsas pelos Cinco Evangelhos, ou recebidas e intuídas pelos seus santos e santas, e que encontramos noutros ensinamentos espirituais e éticos, mas que certamente só em corações sensíveis e receptivos é que medrarão. Oremos para que assim aconteça, e que das destruições do corpo de Jesus no ano 33, da cidade e templo de Jerusalém no ano 70, dos cavaleiros do Templo em 1317 e  de tanto, tanto de Gaza em 2024, renasçam agora seres, forças e edificações harmoniosas, amorosas e fraternas. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O que dirá e fará Jesus face à decadência ética e juridíca do Ocidente, após as decisões do TPI quanto à Palestina? O que se deve esperar e fazer?

                                                     
Se havia dúvidas quanto ao famoso Tribunal Penal Internacional ser inepto ou ineficaz, para al
ém possivelmente  manipulado e, controlado, hoje a 26 de Janeiro de 2024 deixaram de existir pois, ao examinar  e deliberar acerca da queixa-crime apresentada pela África do Sul contra o genocídio em curso por Israel em Gaza, decidiu  não condená-lo, não emitir um mandato de captura contra Benjamim Natanyahu,  não sugerir ou impor um cessar fogo imediato, e apenas  limitar-se a pedir ao governo e militares israelitas que evitem actos que transpareçam demais o genocídio em curso, que permitam o acesso do auxilio humanitário e apresentem dentro de um mês um relatório do que fizeram. Deixaram porém em aberto, dado que o genocídio continua, tomarem outras medidas no próximos dias, e logo veremos se é apenas fumo, ou se há fogo da verdade e da justiça que Jesus quis trazer à Terra...

Parece pois que as suspeitas de que os juízes-juízas deste tribunal estariam influenciados ou comprados por grupos de pressão israelo-americano, se confirmaram. Perante a ausência da condenação do 1º ministro  Netanyahu, compreende-se até melhor a recente sanha mediática deste russófobo tribunal, emitindo um mandato de captura contra Putin, presidente da Rússia, por ter feito sair crianças das zonas de Donbass em luta pela libertação em relação aos extremistas,  exactamente o que o extremista do ódio Benjamim Netanyahu não permitiu fazer às mais já de 15 mil crianças e mulheres mortas na faixa de Gaza.

Quando eram apenas 500, e não os mais de 10 ou 15 mil actuais...

Se uma actuação justa deste tribunal, a última esperança da aparente jurisprudência ocidental, se gorou,  perante a ineficácia das Nações Unidas, reduzida a uma lamentação do seu presidente pela brutalidade do genocídio, e que mesmo assim foi criticada por  históricos pseudo-democratas ocidentais, para quem nos poderemos virar com esperança?
                                                              
Do Ocidente anglo-a
mericanizado sabemos já que não se pode esperar nada, pois excepto a Espanha e a Irlanda, e uma ou outra voz mais corajosa de deputados (tal Clare Daly e Mick Wallace), a maioria dos líderes têm apoiado o genocídio e  Ursula (von Pfizer), vendida ao Fórum Económico Mundial, aos anglo-americanos-israelitas e à imperialista NATO, mantém as rédeas apertadas contra  as vozes contraditórias da sua péssima geopolítica, que está a causar a entrada da União Europeia e da população em decadência acentuada, com crescente sofrimento, pobreza, inflação e, portanto, quem sabe, revoltas, justas diga-se...

                                     

Então será do BRICS, da China, da África do Sul, do Brasil, da Turquia, da Rússia, do Egipto, do Qatar ou mesmo do Irão, que virá a voz da razão com  propostas de meios que ponham fim à mortandade e destruição tenebrosa, com implementação internacional do cessar fogo,  e o reconhecimento próximo dos dois Estados, o israelita e o palestiniano? 

Seria possível, é desejável mas não se nos afigura como muito viável para já face ao antagonismo, pertinácia e ódio das duas partes em competição e luta trágica, seja a israelo-palestiniana, seja a hegemonia norte-americana versus multipolaridade.

Resta-nos então virar-nos para o mestre da Palestina, Jesus o Cristo. Onde está ele, o que sente, o que envolve a sua aura e o que nos dirá ou recomendará?
                                                 
Que ele esteja nos planos subtis e espirituais da Terra será a resposta mais curial, seja sentado à direita do Deus Pai, para usar a imagética antiga, seja dinâmico nos mundos espirituais. Mas sobre quem tentará fazer mais efectiva a sua força de amor, entendimento e paz? Quantos dirigentes importantes estarão abertos a tais influxos? Poucos, infelizmente, tanto mais que os dois principais e mais decisivos, Biden e Netanyahu, parecem estarem petrificados no ódio, diabólico...
Em quão poucas reuniões a chave de entrada dada por Jesus é accionada, aquela, tão famosa e importante, que ele nos deixou em testamento: «Se dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei entre eles?»
Quem o invoca ou, que seja, o seu amor, paz e ligação divina, que podemos considerar sinónimos ou incluídos no "em seu nome"?
Poucos, talvez alguns grupos de oração ou meditação, local ou ecuménica, e provavelmente activistas da paz e concórdia, ou mais generalizado, os cidadãos da fraternidade planetária, vindos de todas as religiões e povos e que, a arrepio dos seus governos europeus e em Israel, se opõe ao genocídio. 
Vemos porém a oposição à realização de tal desiderato possibilidade, quando se faz desaparecer os símbolos do apelo ao divino, como não há muito Ursula von der Leyen, fez, mandando retirar uma escultura quinhentista de Cristo crucificado de uma sala nobre na Alemanha onde realizava uma reunião com a sua presença, algo explicável por estar escravizada à Nova Ordem transhumanista-infrahumanista anti-divina veiculada pelo Fórum Económico Mundial e &, e pelos milhares de meios de informação e seus jornalistas e comentadores eles alinhados, amilheirados...
 A questão ficará então reduzida a um luta local até a Palestina edificada estar destruída, com milhares de seres traumatizados ou deslocados de todos os lados para todo o sempre, independentemente das baixas  recíprocas, ou  não haverá esse fim local, pois a guerra estender-se-á a países limítrofes, ao Yemen mesmo, ainda aumentando mais as destruições e mortes, tal como parece ser desejado por alguns?
Mistérios que o Futuro guarda no seu seio! Sob o pano de fundo da guerra movida pelos USA, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá, União Europeia e NATO contra a Rússia, de que a Ucrânia é a chaga mais visível actual, mas também na Síria, sob o pano de fundo da reacção dos países islâmicos e africanos ao imperialismo anglo-americano e israelita, tão desejoso de bombardear o Irão e as suas rosas de Isfahan, não é fácil descortinarmos os resultados futuros.
                                              
Resta-nos então trabalhar pela reflexão
, meditação e oração para nos mantermos lúcidos e informados, acima das manipulações e carneiradas, tentando a religação à sabedoria da alma divina no mundo, e aos seus mestres, onde Jesus, certamente hoje com a bandeira palestiniana brilha exemplarmente, inspiradoramente, na unidade do corpo místico e sábio da Humanidade perene.

Boa inspirações e realizações, bênçãos e fortuna para todos e para nós. Que a esperança e a vivência da dignidade, fraternidade e sacralidade dos seres humanos volte de novo ao de cima, ressuscite em árvores verdes de esperança, transmutando tantas mortes e sangue derramado na antiga Terra santificada pela passagem do mestre Jesus. Que as suas bênçãos e as dos outros mestres, santos e santas nos inspirem e fortifiquem. Amen, Aum...