domingo, 14 de janeiro de 2024

Da Europa e de Portugal, seus rostos e almas, desgraças e graças. Poema de 1993, melhorado.

Qual é o rosto da Europa? Para onde fita seu olhar?

- Olha em todas as direcções, move-se sem cessar. 

Mil rostos acodem às costas do mar e às montanhas, 

fitando Oriente e Ocidente, Norte e Sul. 

A Europa é um remoinho.


Portugal é a porta do gado e da esperança, 

E há as maresias e campinhos franciscanos.

Vê-se a pata dos governantes calçada em carros de luxo

e as cangas dos bois a jazerem por terra.


Os passos perdidos são de muitos 

e há correrias e tragédias nas noites.

Tudo quer dinheiro, poder e prazer

e poucos se esforçam pelas virtudes.

Vai mal a marcha da ronda, 

vejo pobreza e desordem na rua.


Cada dia traz o seu mal e cada um colhe o que semeia.

Vejo pragas e irritações, fogos sombrios a lavrarem.

Ninguém põe os olhos para as bandas do Oriente,

lá donde vem a elevada Luz do Espírito.

 

Reina pois  a lei da selva nas cidades

e as savanas são pasto das desavenças da democracia.

Há fome no mundo e desperdícios sem fim.

Consome-se demasiado e some-se a simplicidade.

Produzir, criar, dar e  partilhar são forças raras

apesar de tanto reformista e conselheiro da República.

Mas esta é uma rês onde muitos cevam seus apetites

e não se olha à vaca sagrada da Índia,

nem a Mãe natureza é respeitada,

só galinha de ovos de ouro a ser explorada.


Vem a noite e tudo vai estrebuchando

e caindo na inconsciência e sonhos. 

Poucos são os despertos no outro lado,

Ao subirem, espíritos, pela escada e eixo dos mundos.

Já pouca e infantil é a oração e a meditação

e as bênçãos do céu não encontram recipientes,

nem o orvalho penetra a terra seca e árida

e esterilizada pelo plástico e o cimento,

e poucas almas chorando e orando

dissipam as nuvens opressivas

e atraem a chuva luminosa divina.


Abro os ouvidos ao som e os olhos ao Espírito.

Não quero saber das poucas vergonhas do país.

Um dia verão com os olhos da alma

os que hoje se recusam a ver com os do corpo.


O meu coração sangra, dói e arde de aspiração.

Oh Deus, Oh Deus, tu és tudo e nós somos nada,

mas pretendemos ser importantes na feira de vaidades.


Dispo-me das coisas e dos apegos

E torno-me chama luminosa,

erguendo-me para ti, ó Divindade.

Vem. Desperta-me. Que eu seja.

Amen

                           7/3/93.

                        

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