Qual é o rosto da Europa? Para onde fita seu olhar?
- Olha em todas as direcções, move-se sem cessar.
Mil rostos acodem às costas do mar e às montanhas,
fitando Oriente e Ocidente, Norte e Sul.
A Europa é um remoinho.
Portugal é a porta do gado e da esperança,
E há as maresias e campinhos franciscanos.
Vê-se a pata dos governantes calçada em carros de luxo
e as cangas dos bois a jazerem por terra.
Os passos perdidos são de muitos
e há correrias e tragédias nas noites.
Tudo quer dinheiro, poder e prazer
e poucos se esforçam pelas virtudes.
Vai mal a marcha da ronda,
vejo pobreza e desordem na rua.
Cada dia traz o seu mal e cada um colhe o que semeia.
Vejo pragas e irritações, fogos sombrios a lavrarem.
Ninguém põe os olhos para as bandas do Oriente,
lá donde vem a elevada Luz do Espírito.
Reina pois a lei da selva nas cidades
e as savanas são pasto das desavenças da democracia.
Há fome no mundo e desperdícios sem fim.
Consome-se demasiado e some-se a simplicidade.
Produzir, criar, dar e partilhar são forças raras
apesar de tanto reformista e conselheiro da República.
Mas esta é uma rês onde muitos cevam seus apetites
e não se olha à vaca sagrada da Índia,
nem a Mãe natureza é respeitada,
só galinha de ovos de ouro a ser explorada.
Vem a noite e tudo vai estrebuchando
e caindo na inconsciência e sonhos.
Poucos são os despertos no outro lado,
Ao subirem, espíritos, pela escada e eixo dos mundos.
Já pouca e infantil é a oração e a meditação
e as bênçãos do céu não encontram recipientes,
nem o orvalho penetra a terra seca e árida
e esterilizada pelo plástico e o cimento,
e poucas almas chorando e orando
dissipam as nuvens opressivas
e atraem a chuva luminosa divina.
Abro os ouvidos ao som e os olhos ao Espírito.
Não quero saber das poucas vergonhas do país.
Um dia verão com os olhos da alma
os que hoje se recusam a ver com os do corpo.
O meu coração sangra, dói e arde de aspiração.
Oh Deus, Oh Deus, tu és tudo e nós somos nada,
mas pretendemos ser importantes na feira de vaidades.
Dispo-me das coisas e dos apegos
E torno-me chama luminosa,
erguendo-me para ti, ó Divindade.
Vem. Desperta-me. Que eu seja.
Amen
7/3/93.
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