quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Um Colóquio entre Jesus, Erasmo, Ramakrishna, Antero de Quental, Bô Yin Râ e Fernando Pessoa.

Colóquio entre Mestres da Humanidade....

Diálogo travado entre alguns mestres e sábios no séc. XXI, no mundo imaginal, segundo a aspiração e a intuição de Pedro Teixeira da Mota, invocando-os. Começado a escrever há algum tempo e publicado em 11-I-2024. 
Vera efígie de Jesus, pintada por Bô Yin Râ
- Jesus: Aceitemos esta escrita invocadora nossa, e assim chegamos até vós para ajudar-vos, já que é bem visível o vosso sofrimento, frustração e indignação em relação ao estado geral das sociedades e dos seus governantes, e aos tipos de vida conflituosas, carentes ou oprimidas em que tantos se encontram.
Muitos aspiram à justiça, à luz, ao amor, à verdade e à felicidade, mas estão tão envolvidos, contaminados ou oprimidos pelos ambientes negativos que dificilmente lhes chegam ao ouvido interno do coração espiritual as energias psico-espirituais  luminosas que irradiamos da aura espiritual da Terra. E contudo muitos poderiam resistir melhor às opressões e manipulações, e serem mais coerentes e plenos,  se sintonizassem connosco interiormente nas suas meditações, cogitações, orações e assim recebessem alguns raios  enviados subtilmente, internamente.
Erasmo, pintado por Quentin de Metsys
Erasmo: No século XXI as pessoas têm de participar mais naturalmente no corpo místico da Humanidade e da Divindade, no Campo energético, de informação e consciência espiritual que une todos os seres, pese cada pessoa ser única e distinta na sua personalidade, dotada de livre arbítrio, embora saibamos que a maioria dos meios de informação e de cultura querem sobretudo perturbar, distorcer, desequilibrar o discernimento e o livre arbítrio das pessoas, para as explorar. Pelo que só podemos clamar: despertem, fechem as vossas televisões, controlem os telemóveis e internets e regressem mais à Natureza, façam agricultura biológica, peregrinem, dialoguem, leiam, escrevam, desenhem, esclareçam, curem e sobretudo orem e meditem mais para vos religarem e renascerem espiritualmente.
O que era antes uma tarefa e designação reservada, o corpo místico da Igreja, um campo de forças cuja cabeça era Cristo e incluía os crentes, santos e mestres, deve hoje ser entendido como acolhendo e abrangendo os seres de todas as vias, religiões, tradições e povos pois nos planos mais interiores e elevados do mundo, os espirituais e divinos, há uma só Religião, a Divina, a do Espírito e do Amor, e  a ela chegam e participam tanto pagãos e cristãos, como islâmicos e budistas, hindus e shintoístas, judeus, animistas e siks, desde que vivam justa, harmoniosa e fraternalmente para o Bem Comum e para a religação espiritual e divina e que saibam interiorizar-se pelo coração suficientemente.
 
- Antero de Quental: Sim, nesta Religião e seus planos e templos subtis ou internos contribuem, ou podem aproximar-se ou entrar  mesmo, todos os que pela sua vida justa e consciência luminosa conseguem elevar-se acima das personalidades conflituosas e limitadas e comungam e vivem com os valores, virtudes e ideais da Humanidade: conhecimento,  cultura, sensibilidade,  piedade, justiça,  solidariedade  e, simultaneamente, conseguem perseverar na interiorização meditativa de modo a sintonizarem e religarem-se com o espírito, os mestres e anjos e a Divindade. Algo que eu não consegui realizar tanto, embora em alguns dos meus tão trabalhosos e sacrificiais sonetos tivesse invocado a comunhão com os mortos e noutros tivesse referido a meditação e a contemplação, sem contudo tê-la aprendida directamente de algum mestre ou tradição específica.
- Fernando Pessoa: Muitas pessoas vivem num tal desassossego e superficialidade, tão apanhadas na agitação, manipulação e desinformação dos meios de comunicação,  que será bom para elas  reflectir e meditar os bons ensinamentos espirituais que possam encontrar através das pessoas, livros e religiões. No  meu caso não tive  muitas oportunidades de grandes diálogos espirituais, pois  poucos eram os amigos mais afins desses níveis. Na minha ânsia universalista gerei  heterónimos para dar voz a complementares visões da vida, mas a essencial era a espiritual, e na busca da qual li e anotei bastantes livros, talvez algo demasiado influenciado pelas ordens secretas e de  magia e que culminaram com o encontro com Alesteir Crowley, que tanto me impressionou, embora apanhado por forças negativas,  em detrimento da devoção, do amor divino, da religação ao espírito e à Divindade eterna, que é o mais alto objectivo oculto e espiritual.
Deixei-me frustrar assim lentamente na solidão interior citadina, embora para mim propicia à poesia e a esse algo desanimado livro do desassossego, solidão ainda hoje tão presente ainda que disfarçada pelos meios de informação cada vez mais ruidosos e omnipresentes,  pois não conseguem ocultar quão  enfraquecidas, manipuladas e perdidas se encontram tantas pessoas, mesmo com as seguranças sociais e medicamentos, os canais televisivos e espectáculos, as publicações, internets, redes sociais.  Fora da embriaguez dos mitos, ou dos ritos sem alma, as pessoas têm mesmo de trabalhar interiormente pela meditação e a oração, a abnegação e a contemplação, para terem mais vivência espirituais e despertarem, convindo ainda desenvolverem amizades profundas e espirituais, com vivos ou com os que já partiram, pois as inspirações e apoios são fundamentais para fortificaram as nossas auras, amor e vontade.
 - Jesus: estamos a partilhar algumas compreensões, ensinamentos, ditos, que não exigem de vós demasiado, e que sem efeitos secundários serão capazes de vos harmonizar mais do que os medicamentos e distrações que dão lucros aos que exploram a  vossa ignorância e dependência psicosomática. Um dos principais é : "Procurai primeiro o reino ou nível dos céus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo". Disse-o há dois mil anos e repito-o hoje. 
Erasmo, pintado por Hans Holbein
 - Erasmo: "O que é o reino dos céus e o que é a sua justiça", perguntarão?  - O reino dos Céus é o mundo espiritual interior. É o mundo ou dimensão dos espíritos e onde pontificam o amor e pureza, a verdade e a fraternidade. Se estamos sintonizados ou afins dele, tal reflecte-se numa consciência mais serena e  alegre, a  de sermos seres espirituais, luminosos, ou filhos e filhas de Deus, personalidades por onde passa a Vida pulsante e vibrante e que em nós quer ser divinamente criativa. 
Nesta sintonia ou pertença se pode pronunciar e emitir, mais ou menos sábia, amorosa e criativamente, a Palavra, o Verbo, o Som Primordial, o Logos divino, que é a vida inteligente no mundo, o Logos spermatikoi, o intelecto ou consciência  derramada universalmente, tal como, entre outros, os estóicos e indianos discerniram, a que temos acesso e manifestamos pela mente, o sentimento e a palavra, esta que tanto move as almas, na sua magia e terapia, como desde os tempos do Egipto, de Orfeu e de Pitágoras se ensina e conhece.
Quando há pouco falei do corpo místico da Humanidade, estava já a apontar para este Logos spermatikoi, para esta Inteligência ou Intelecto divino que perpassa todo o Universo, tão trabalhado filosoficamente por exemplo pelos gregos e os islâmicos, tal Averróis, e que podereis sintonizar  nos níveis mais profundos ou  elevados da vossa alma.
Esta demanda é bem importante mas na verdade difícil: sintonizar e comungar diariamente, regularmente com o vosso espírito, o qual tem acesso ao Logos, Intelecto primordial, Amor-Sabedoria divino, para que não vos sintais tão frustrados, carentes e sofredores, como fatalmente sucede face ao que o mundo exterior  causa com as injustiças, guerras,  invejas, opressões, desilusões, doenças, mortes
- Antero de Quental: Benditos os que conseguem ser puros do coração, quais lírios ou rouxinóis, ou seja, quem não se deixa corromper pelos poderes, distrações e manipulações do mundo e se limpa, alinha e persevera na religação interior e a celebra criativamente em esforços, cantos, poemas, danças, arte e abnegações.  Puros são os que conseguem regularmente abdicar do que se torna obstáculo para se acercarem interiormente do seu coração, aí onde mora o espírito e obterem algo da sua visão, pois conseguirão fluir no pan-dinamismo do Logos derramado mais intensamente pelo corpo místico da Humanidade. 
Esses são os que verão ou realizarão mais a fraternidade, a luz, o amor, a alegria e ainda, de quando em quando, na medida adequada, embora seja sempre  graça das graças, a bênção da Divindade. Os que sentirem mais dentro de si tal influxo espiritual ou já certa religação  divina,  agirão mais calma e lucidamente, procurando que o Espírito divino, na profundidade íntima ou no seu panpsiquismo, brilhe e seja mais reconhecido, respirado e manifestado pelos seres.
Nós: - E que orações nos aconselhais? 
Fotografia de Bô Yin Râ (1876-1943), em Lugano, Suiça.
Bô Yin Râ: Muitos de nós ensinaram e escreveram sobre a oração, nomeadamente Jesus, Erasmo e eu, e poderemos aconselhar, por exemplo, os mantras e jaculatórias, orientais e ocidentais, como os sentirmos mais, tal: "Meu Deus, vem nascer em nós.", "Meu Deus, venha a nós o vosso reino, ou influxo", e são bem  valiosos nos seus efeitos ao brotarem de almas e bocas que aspiram e  se vão tornando luzes na Luz, trabalhadores da seara divina, que é o mundo manifestado. Dos mantras orientais, referiremos o Om Mani Padme hum, o Aum Tat Sat, Om Vishnu Narayana, Tat Twam Asi, Om namo Shivaya, o Om Jivatman, pois eles  ajudam a harmonização das  forças psíquicas, o concentrar-se e  interiorizar-se, o alinhar-se com as forças espirituais neles contidas e logo  alcançarem-se estados de consciência mais profundos e iluminados, de tal modo que a serenidade lúcida, o amor compassivo, espírito e o Divino se possam fazer sentir ou manifestar mais em tais almas.
  Nós: - Mestres amigos,   na Terra andamos sempre em processos de harmonização e cura, esclarecimento e pacificação, ao sofrermos e estarmos algo dilacerados pelo corpo frágil, e pelas instáveis e conflituosas personalidades, nossas e dos outros, e num mundo tão dividido e em conflito pelas  potências económicas, militares, ideológicas e egóicas.  Como vencermos tais obstáculos e desenvolvermos mais as aspirações, qualidades, valores e realizações espirituais?
Om Sri Ramakrishna Namah.
- Ramakrishna: Pois trabalhando nesta dialéctica: quanto mais desenvolvermos estados meditativos interiores espirituais, temporalmente e qualitativamente, mais as pressões e influências materializantes, dispersantes e conflituosas diminuem,  tornam-se menos opressivas ou esfumam-se mesmo.
Já no final do século XIX, em satsangs, eu dizia que as pessoas devem desenvolver mais a sua devoção (bhakti), o seu amor (prema), e a interiorização (pratathayara), usando curtas orações, ou mantras, e até escolhendo uma face ou  imagem divina, Ishta Devata, seja Jesus, Maria, Amaterasu, Fatima al-Zhara, Shiva, Vishnu, Kali, seja o Pai, Allah, Brahman, e tentando desenvolver então uma relação íntima e profunda,  com perseverança e em amor.
Meditai com regularidade e tentai manter a vossa alma aberta e sintonizada connosco, mestres e anjos, e  com o espírito, a Divindade, e as suas faces (já referidas) que mais sentirdes, Deuses ou Deusas, e no meu caso foi sobretudo a Mãe divina, Kali, e sereis inspirados a contribuir adequadamente para a realização espiritual libertadora das pessoas e a melhoria do estado geral da humanidade, do planeta, da ecologia, das sociedades e ambientes, da terra, mares e céus.
É o swadharma, a missão ou dever de cada um, que devemos discernir e aprofundar criativa, alegre e abnegadamente, dando exemplo discreto e desprendido de independência, discernimento e amor. E isto é possível ou fortifica-se com a prática regular de sintonização, oração e meditação. E numa vida de harmonia psico-somática e ecológica, em que o trabalho é realizado com consciência, amor e habilidade ou comensurabilidade.
Todos: Almas amigas, avancemos criativamente nesta grande fraternidade, em satsanga, ou companhia da Verdade, no campo unificado de energia informação consciência, no corpo místico da Humanidade, no Kosmos! Aum...

Sem comentários: