sexta-feira, 30 de abril de 2021

Poemas da Luz anímica e do Amor perene. Do XI ao XXIII, final, de há anos e bem melhorados agora. Com 5 pinturas de Bô Yin Râ e uma nipónica.

XII
Mil nomes pronunciei antes de chegar ao Teu,
Mil passos e retrocessos tracei nos areais
Até encontrar a firmeza das rochas e da terra
Por onde caminhamos e nos despertamos.

No nosso coração há mares
e nele, como conchas, peixes ou sereias
nossas almas nadam e comunicam
sentindo-se bem no Oceano sem fim.

Gritarei e esculpirei o teu nome
     Nas paredes das falésias imensas.
Traçarei o teu nome no ar lilás
    Qual voo da gaivota no horizonte.


 Não dormirei sem ter invocado teu Nome,
sem adormecermos no mesmo mantra.
E mesmo nas marés dos sonhos
estaremos sempre bem atentos
a não nos perdermos de vista,
     A âncora da Esperança que quer
bem firmemente perseverada
nas profundezas do Amor e Ser.

XIII
"Morrer é ser iniciado"
diziam os antigos gregos.
Cristo veio renová-la:
"Não há morte, mas ressurreição".


Vou peregrinando na vida
Procurando ser sábio e verdadeiro
E cada vez mais luminoso
Ligando bem o céu e a terra.

Quando te encontrei
na paz dos teus olhos
Vi o Oceano sem fim
E  nele
quis mergulhar.


Agora nadamos no mar sem fim
do Amor divino e invencível
que como Sol renascendo cada dia,
Atrai-nos para Deus, a fonte da Vida.

XIV
Busco a alma divina
Em mim e em ti,
Voo sereno mas com pressa,
  Amor e aspiração divina.

Procurar o espírito,
Erguer a individualidade,
Abraçar-nos nas essências,
Despertar-nos ao máximo
E sermos um na Divindade.


Não deixarei os cães
morderem ou ameaçarem
nossos caminhos e passos.
Atento e forte na luz
dissiparei toda e qualquer treva.


Tornar-nos-emos tão fortes e puros
como os lírios, cedros e montes,
ou as aves e crianças desprendidas
transmutando a sombra na luz.

Dispersarei as trevas do nosso ser.
Torpor, dúvidas ou tentações
estilhar-se-ão na luz do meio
em que nossas almas viverão.

XV
Teus olhos sonhados e místicos
belos, cristalinos e puros,
procuro chegar ao fundo,
passando da menina à alma
e quem sabe mesmo ao espírito.

Do beijo na face, a forma dos lábios
e os contornos das pálpebras
não traçarei palavras ou sons.
Basta o sentimento, a consciência desperta
e esta vontade imensa de te amar, de sermos amor.


XVI
Face à noite primordial cósmica,
Ao antigo Caos do Amor
E à união das nossas almas
só sentimos gratidão, beatitude e amor.

Não dormiremos como as estrelas,
como o galo pitagórico saudaremos a Aurora.
E da intensidade do nosso encontro e união
Ressoarão ondas rítmicas no Oceano Cósmico,
Cristalizando nas almas a presença Divina.

XVII

Só vendo ainda  as luzes da aurora

 Não posso saber de nudez total.

Quando ela chegar e nos abrasar

Pouca escória em nós restará,

Será verão quente na nossa unidade.

 

O Amor escorre da fonte cristalina

 Ciciando sons e ritmos divinos

Inundando a nossa alma de Luz

Erguendo-nos na dimensão imortal.


XVIII

Os Setembros cálidos e mágicos

 Quando subimos aos montes,

ou trabalhamos nas colheitas

em tudo a fertilidade sorrindo.

 

Dedos e mãos que se tocam,

Almas que se querem unir,

 São Miguel lá no alto triunfando:

Os raios de Amor cruzando a Terra.

 

Ritmos de luas, equinócios e eclipses,

São ocasiões de ritos e meditações,

 evocações das Harmonias  Cósmicas

na Terra tão explorada, ardente e carente.

 

XIX

Pássaros da luz

esparsa por aqui e acolá,

traçando fulgurações

nos encontros ocasionais.

 

 Como não gratamente relembrar

jardins de sol e estufas de sombra,

mesas, flores,  parreiras e diálogos,

almas e uniões tão expectantes?

 

A procura ardente do Espírito

Une as almas peregrinas afins,

E calmas como guardiões

Vigiam as costas de Portugal.

 

Unindo-nos com os mais novos

Complementamos os mais velhos,

Abraçando o  Céu e a  Terra,

 Harmonizamos o Androginato interno.

 

 Folhas, nuvens e pessoas ao vento

São apelos ao discernimento

Das seivas anímicas valiosas,

Que devemos cultivar perenemente. 

XX

 Gaivotas solitárias e miraculosas

atravessando mares e costas sem fim,

olhos no longe, impávidas e serenas,

voos rasantes nas cristas das ondas

subindo subitamente rumo ao sol 

e por fim ei-las precipitando-se

e no mar ondulante mergulhando:

e quando vem o peixe na boca

há paz na alma desabrochante.

 XXI

O  Amor é todo poderoso

mas para muitos é tão ilusivo.

pois ele parte, ele chega

ele exige, ele esfuma-se.

 

Nas horas mais nocturnas

O fogo do Amor devemos despertar,

para, resistindo ao torpor das trevas

ardermos, iluminar-nos e  contemplarmos.

 

Mas como, para quem

questiona a mente ao Ser?

- Lança a energia da aspiração coração

e chama pelo nome e face divina

que mais vibra no teu coração.

 

A Unidade Divina e a sua Comunhão.

É dada por quem amas ou amaste.

Cultiva os momentos de mais Amor

pois embora invisível arde e desvenda. 

 

Quem amas palpitará vibrante

Rumo a ti na Alma do Mundo.

Por fios luminosos correm anseios,

Precipitando visões celestiais

 Compensando as dores e esforços.

 

Tua alma grávida como uma catedral,

Contém ícones, resinas e filigranas,

E coroando, em cálice, a eucaristia,

 A visão duma face feminina divina.

XXII

Teu rosto e ser tão belo

não está ainda tão amado

que espelhe o espírito divino

e nos inunde da sua felicidade.

 

Teu corpo puro e subtil

Redondo e harmonioso

É uma promessa certa

 Da criatividade frutífera.


Teus dedos suaves

apontam as linhas,

desenterram as raízes,

segredam sentidos,

indicam caminhos,

desvendam os mistérios.

 

A presença da Luz Primordial

brilha no fundo do teu coração

e tudo será bem possível

na Primavera da tua alma.

 

Tua aura calma,

Tua vida límpida,

Permitem a paz,

Partilham o silêncio.

 

Em evocação de ti

Saudarei a Magia

 Causadora dos encontros

 Dos seres amáveis,

A descoberta das almas gémeas

A união das almas afins.

 

XXIII

Nossos nomes originais cruzados

E nossas mãos e almas entrelaçadas

Geram osmoses, poemas e claridades,

que aumentam a fraternidade planetária.

 

E vencendo as dúvidas e trevas,

Insónias, desânimos e agitações,

Por serviços e realização espiritual,

Desabrocharemos a consciência imortal.
 

terça-feira, 27 de abril de 2021

Albuns inéditos. José de Beires Junior, 1872. Desenhos, e um anteriano, lançados na barca perenizante dos Fiéis do Amor, com a voz da Teresa Salgueiro.

                                              

                               

                               

Este Álbum desenhado há mais de 170 anos sobreviveu às vicissitudes do tempo e chegou aos nossos dias com oito desenhos cheios de ingenuidade, força e frescura, que caracterizariam o seu autor José de Beires Júnior, que se poderá admitir ter seguido a carreira militar. Pela intercomunicação das coisas e dos seres veio parar-me às mãos e suscitou-me a ideia de o dar a conhecer e simultaneamente fazer chegar até à sua alma alguma luz e amor. Uma música do grupo Madredeus, com a voz sublime da extraordinária Teresa Salgueiro, Ao Longe o Mar, que encontra no fim do artigo, poderá ouvir desde já, até no sentido de recuperarmos mais a perenidade consciencial de tudo o que vale ou que amamos...

Possa muito da arte deste Álbum, já patente nas letras que assim o intitulam, miniaturizadas e esmeradas beneditanamente, e depois nos ingénuos desenhos, estimular-nos a sermos mais criadores e cultores, com amor despertante, da beleza e da harmonia e, portanto, da justiça e da fraternidade humana tão necessárias face a tanta iniquidade e sofrimento  que o imperialismo norte-americano e o neo-liberalismo ocidental  desencadeado no mundo. E assim a desenvolver mais a vontade ou a aspiração do amor, pois  é ela que nos arranca à mediana e tão perecível horizontalidade, tão manipulada ou mesmo opressiva...

De que nos falam os desenhos tão naifs senão do caminho do ser humano, e assim no 1º par de desenhos deparamo-nos com a face de um oficial garboso de capacete emplumado diante de uma criança tímida segurando uma maçã nas suas mãos, qual prece de gratidão,ou símbolo da busca do conhecimento e do amor, que se abre ou desafia a todos. O 2º leva-nos numa fragata com um "P", talvez de Portugal, na vela, rumo à travessia do Oceano, a que todos somos lançados nesta Terra, só aparentemente terra e física pois bem mais vasta e subtil ela é. Na 3ª folha José de Beires Júnior apresenta duas imagens de animus, da alma masculina, a que o seu peito aspirava e no qual se dilatava. Segue-se na 4ª folha  a sua materialização conquistadora no cavaleiro, no corredor ou jokey, aquele que sabe dominar os seus instintos e chegar às suas metas, qual arcano VII no Tarot. Ei-los:




O desenho a seguir ao do cavaleiro, na quinta folha, foi cortado, escapou-se da história e só podemos intuir que nele talvez a Amada, provavelmente ainda ideal, fizesse a sua aparição, mas uma mão incógnita a arrancou da nossa narrativa e da História...

Assim se passa tantas vezes na vida, quando dois seres se podiam constituir em duas páginas seguidas de um livro mas por diversas causas se rasga tal contiguidade de almas afins. Talvez por isso o desenho que se segue é um monumento com um vaso de cinzas, ou como lhe chama José Beires Júnior, um túmulo, ao estilo grego. Quem se memoriza e resgata da Eternidade? Foi alguém que conseguiu realizar que o morrer é ser iniciado, ou seja, que é apenas iniciar-se um novo caminho nos mundos subtis e espirituais?

Para o seu último desenho (e porque não desenhou mais?) José Beires Júnior escreve com a sua letrinha de jovem: "Um eclesiástico considerando as reformas de 1870", ou seja, lendo o jornal Diário Popular.  

Curiosamente na época em que Antero de Quental, com a denominada Geração de 1870, lançava as bases de uma certa revolução moderna das consciências portuguesas, primeiro com as suas Odes Modernas (1865, com a dedicatória a Germano Vieira Meires, e a nota final bem revolucionária, já não presentes na 2ª edição de 1875), depois entrando em polémica com o conservadorismo literário de Castilho e seu círculo, enviando-lhe a sua brilhante carta Questão do Bom Senso e do Bom Gosto e, finalmente, com as Conferências do Casino, realizadas a partir de Maio de 1871, na qual a sua sobre as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos, ao originar ataques fortes dos meios  eclesiásticos, obrigou Antero a escrever a Resposta aos Jornais Católicos, que saiu à luz na madrugada de 22 de Junho de 1871  no nº 5295 do Jornal do Comércio, magistralmente justificada assim no 1º parágrafo:  «Respeito todas as opiniões: nenhuma todavia tanto como a opinião dos vencidos cuja fé é superior aos factos que os esmagam, e muitas vezes à ciência que os condena. As opiniões, se vivem muito pelas ideias, vivem tanto ou mais ainda pelo amor e pelo carácter dos que as representam. Considero assim o partido católico. Combato-o, respeitando-lhe a lealdade da crença. Esperava dele a reciprocidade deste sentimento. Não posso pois senão estranhar e sobretudo lastimar o procedimento dos jornais católicos, que para impugnar as conclusões da minha conferência sobre as causas da decadência da Península, recorreram deslealmente a insinuações pérfidas sobre as minhas intenções e a minha convicção, adulteraram as minhas palavras, e me atribuíram opiniões  a que nem de longe aludi. isto tem um nome muito feio, e que eu não quero dar a pessoas que, apesar de tudo me obstino em respeitar.»

Por fim, deixando para atrás a súbita descoberta (já aqui com as fotografias no blogue) de uma possível referência a Antero de Quental e às Conferências do Casino, entramos no último desenho, já não de Beires Júnior mas de um desenhador Marques no qual vemos um homem bem vestido, pujante de vitalidade e empunhando nas mãos dois vasos plenos de flores garridas, qual homenagem ao seu predecessor José Beires Júnior, seja antes a uma amada. Ou será que queria apenas estimular a consciência de termos as flores da nossa alma, bem coloridas e desabrochadas e de oferecermos mais flores a quem nos rodeia ou quem mais merece ou precisa?

Demos graças a José Beires Júnior, a Marques, a Antero de Quental, a Teresa Salgueiro e aos  Madredeus (nesta sua música que nunca mais findará...)  e que a Luz e o Amor brilhem nas suas almas de Fiéis do Amor e da Tradição Espiritual Portuguesa...

                       

Poemas da Luz anímica e do Amor perene. Do VIII ao XI dum ciclo de XXII, escritos há uns anos. Com 4 pinturas de Bô Yin Râ.

                                                              

VIII
Momentos quentes, sublimes,
Quando as almas se fundem
E já não são só elas
Mas todo o Universo e Deus.

No cais da minha alma
Aportou a tua nau.
Grande reboliço
E alvíssaras se ergueram.

A espuma na areia e no ar
Revela a intensidade do embate
Entre o Oceano e a Terra,
Entre mim e ti, meu Amor.

Corpos molhados,
Almas imensas,
A lucidez do Espírito,
O abraço da Unidade.
 

IX
O paroxismo do Sol
Tinge o horizonte de sangue,
Assim as nossas almas
Vertem amor desde a aurora.

Quando erguemos o cálice,
Quando celebramos o Amor,
Quando nos entregamos
Totalmente um ao outro,

O que se irradiará então pelo Universo,
Que vibrações maravilharão os Anjos,
Que cânticos, orações, mantras e ais
Se juntarão à música das esferas?


X
O mistério da conjunção,
O segredo da criação,
Fremem de portas abertas
E luzes resplandecentes.

As palavras calam-se,
O vento serena,
Nada bule a não ser
A chama imensa do Amor.

As serpentes animam-se,
Erguem suas asas,
Há dragões no céu,
Arco-íris na Terra.

Pelos vales e montes
Ecoam o grito e a maresia
Do Amor infinito
Que nos une para sempre.


XI
Dentro de mim há uma ilha
Onde tu serás a princesa
Deste Robinson Crusoe
Há muito ali naufragado.

Vieste sorridente e calma
Trazendo a barca da salvação.
Não podia hesitar muito,
Saltei da ilha para teu coração.

Agora não estou enraizado,
Antes livre como o vento,
Sou uma centelha espiritual
Unido a tudo e a ti.

Ilhas reunidas entre si,
Paraísos e utopias na Terra,
Assim reverdeceremos
E  grande paz irradiaremos.

domingo, 25 de abril de 2021

Do Culto doméstico e da Higiene no Shinto de Hirata Atsatune, nos Romanos e nas nossas aras e lares.

O culto religioso ou espiritual doméstico, baseado e com efeitos familiares, higiénicos e estéticos, tem uma antiguidade muito grande e foi vivido em vários povos com apurada sensibilidade e intensidade. Vamos apenas aproximar-nos brevemente de duas tradições, uma ocidental, a de Roma, e outra oriental, a do Japão e mais propriamente a do Shintoísmo, através da visão e ensinamentos de um dos seus pensadores, Hirata Atsatune, um filósofo importante do Fuko Shinto, a Renovação do Shinto, durante o período Edo (1603-1867), Shinto significando o caminho dos Espíritos (shin, ou ainda kami).

As fotografias do Japão neste texto foram obtidas na minha peregrinação de quarenta dias, registada em diário, em Julho, Agosto e Setembro de 2011. 

Na verdade, alguns pensadores sábios do Japão nos séculos XVII, XVIII e XIX procuraram preservar e fortalecer a tradição cultural e espiritual  nipónica e shintoísta em tempos de fortes influências estrangeiras, seja chinesas e budistas seja ocidentais, e de crescente urbanização do país e, portanto, de perda dos modos de sensibilidade e vida naturais e antigos, nomeadamente os que os poetas, as mães e os educadores transmitiam às crianças e jovens. Algo disto entre nós mencionou Augusto de Santa Rita, na sua significativa Justificação inicial do número único da revista que publicou com Fernando Pessoa, em 1916, Exílio.

Nesses sentidos ou objectivos estudaram as tradições poéticas, míticas, etnográficas e religiosas, através  das etimologias, práticas e concepções de vida ou filosofias, e tentaram apontar as que eram mais valiosas de ser preservadas e cultivadas porque representavam ou indicavam o caminho da harmonia natural, entre a terra e o céu, entre os humanos e os kami. Denominou-se tal o Kokugaku, Estudos Antigospois basearam-se muito na poesia (waka) mais antiga (tal a compilação datada de 759 Man’yoshu), na crónica Kojiki (escrita por O no Yasumaro, a mando da imperatriz Gemmei, em 711-712) e em menor grau de valorização na Nihonshoki, de 720, e ainda nas orações cantadas ou noritos (um exemplo: https://youtu.be/Ly-Y5LS39bA) e ritos primordiais (tais os contidos no Yengishiki, do séc. X), e nos sentimentos e consciência que elas testemunhavam, sintetizados no famoso traço de sensibilidade ou mentalidade, o mono no aware, a empatia com as coisas e seres, por exemplo por Wenceslau de Moraes tão sentido, observado e aprofundado, tornando-o único nos pioneiros ocidentais do conhecimento empático da alma japonesa, dentro da alma da criação, como ele também chamava.  

Denominado o Fuko Shinto, o Shinto restaurado ou reformado, purificado dos estrangeirismos e ensinando a recuperar o coração puro e natural (magokoro),  os seus principais expoentes foram numa linha sucessiva de mestre discípulo, Kada no Azumamaro (1669-1736), Kamo Mabuchi (1697-1769), o mais importante Motoori Norinaga (1730-1801) e Hirata Atsatune (1776-1843), este clamando ter recebido a transmissão de Motoori Norinaga, que não conhecera fisicamente, por sonho, o que muito provavelmente não é uma legenda pois trata-se de fenómeno vivenciado, vivenciável pelos que estão  no caminho espiritual.

Neste artigo vamos abordar apenas Hirata Atsatune e alguns aspectos do seu ensinamento, tal com o de ter desenvolvido a ideia que todos os japoneses eram descendentes dos deuses e não só a família do imperador, até por razões políticas, esta já tendo sido muito realçada por Motoori Norinaga, tal como ainda a preeminência do kami ou deusa do Sol, a bem amada ou adorada Amaterasu o mi kami

Tinha a sua razão de ser tal ideia e concepção, porque deste modo Hirata Atsatune investia as pessoas numa individualidade, sacralidade e poder mais fortes, com capacidades portanto de também elas serem intermediárias entre a Terra e o Céu, entre o corpo e o espírito (shin). Mas já exagerava quando pensava que só o povo japonês era o escolhido dos Kami ou deuses, e só ele descendia directamente Deles,  exageros nacionalista no seu afã de partilhar ao máximo os ensinamentos salvíficos que estudava e desenvolvia da
tradição espiritual nipónica do Shinto.
Ora na função de pontífices, de sacerdotisas (mikos) e sacerdotes, os
seres devem fazer os seus rituais, orações, meditações para cultuar os espíritos celestiais, os Kami, e nomeadamente os da casa. Será esta actuação que  nos interessará mais, pois tal sacralização da casa, à parte alguns amantes do Feng shui (e em geral numa forma algo geral e técnica)  está muito perdida.  E será bastante útil à nossa evolução espiritual...
Hirata Atsatune, que gerou bastante obras, infelizmente pouco
traduzidas, algumas mesmo (sobretudo após a morte da sua amada mulher) acerca dos mundos subtis e espirituais, valorizou alguns kamis do lar, conhecidos tradicionalmente embora com variações de nomes dependentes das zonas das casas que lhes são consagradas.

Ei-los: Ie no kami Yabune no kami, o kami da casa ou edifício, também chamado Toshigami, o kami guardião, ou os kamis, plurais (sorei),  da prosperidade da família, primitivamente ligado à colheita do arroz, festejado anualmente e aupiciosamente no começo de cada ano (tal como em Agosto, quando se comemora o Bon Odori, o festival dos mortos, e que Wenceslau de Moraes tão magistralmente descreveu, vivendo-o em Tokushima e aonde eu estive em peregrinação na época certa), altura considerada de abertura maior da ligação com o mundo espiritual. São muito belas as decorações que se lhe oferecem no começo do ano, Shime kazari:

  Depois menciona  um kami já muito pouco cultuado mas na época muito importante, Ido no kami, ou Idogami, o kami do poço e fonte de água, e seria interessante estudar algumas das suas histórias e compará-las com o nosso fabulário dos poços. E ainda  o Kamado no kami, o kami do fogão e da cozinha, também conhecido por Sanbō Kōjin, no sincretismo do budismo e shintoísmo, nomeadamente no mais esotérico Shugendo.

E,  por fim, o muito necessário na época, dadas as más condições higiénicas nas cidades e bairros pobres,  Kawaya no kami, o kami da casa de banho, por vezes visto como feminino, e para cujo culto Hirata Atsatune propôs várias medidas de higiene,  de construção, de utilização como estrume, de harmonia, de culto. Acreditava-se por exemplo, com mais ou menos razão, que o estado dela influenciava quem nascia na casa, especificando-se que poderia mesmo influenciar o nariz do nascituro.

No Ocidente e em Portugal perdemos esta consciência e visão da possibilidade de existência de  deuses ou espíritos tutelares da casa e das suas divisões, embora nos tempos mais antigos, nomeadamente dos Romanos houvesse  os deuses domésticos denominados Penates, que as pessoas cultuavam nas suas casas, no tablinium, um espaço-divisão que sucedia ao atrium, e que eram os escolhidos por cada família, sendo representados em moedas, vasos de cerâmica ou esculturas como seres de idade, com um manto sobre si, algo que pode sugerir espíritos de antepassados que agiriam como intermediários com o mundo divino.

Estes seres humanos já só espíritos, seja antepassados seja amigos e guias, em geral eram até mais cultuados como  os espíritos tutelares da família, os  Lares familiares, nos pequenos altares ou aras onde se lhes queimavam diariamente ervas e incensos ou se derramavam as libações. Assim tanto se purificava a casa como se invocavam as bênçãos pelas fragrâncias e orações, simultaneamente proferidas. Eram assim não deuses mas génios, engenhos ou espíritos despertos no além e capazes já de inspirarem na Terra, e geralmente representados com  coroa de louro e uma taça corno de libação. Não estavam limitados porém à casa e em qualquer local se podiam manifestar e logo cultuar. Assim havia os da ruas e campos, os viales e rurales...

 Com o Catolicismo, a concepção feita de Deus e de Jesus Cristo seu filho eliminaram todos os "concorrentes" e apenas se permitiu criar alguns cultos a anjos (em especial ao Anjo da Guarda, este a partir do séculos XVIII e XIX, muito reproduzido em gravuras e estampas)  e Santos, estes festejados com alguns traços do paganismo no início de Novembro, nos dias de todos os Santos e de todos os Defuntos. Algo do Kami tutelar da casa ficou assim nas gravuras que entronizavam anjos, santos, Jesus, ou a partir do séc. XVIII, o sagrado coração de Jesus, como protector das casas, por vezes havendo até estampas ou azulejos de invocação de protecção ou de boas vindas para os que comungavam de tal crença, invocação e fraternidade. 

                                     Pode ser uma imagem de 1 pessoa

Podemos então admitir de certo modo que algumas imagens, gravuras, pinturas ou esculturas que temos nos nossos quartos e salas podem ser vistos como portas e janelas para os deuses, protectores,  inspiradores, os Kamis tutelares. Estão neste nível mais particularmente e intimamente as fotografias de familiares ou amigos que já partiram para os mundos espirituais e que de certo modo se tornaram Kamis, espíritos divinos (ou mais próximos de tal nível primordial), ainda que certamente diversos níveis vibratórios no além, muitos seres estando ainda demasiado inconscientes, ou limitados ou baixos, antes precisando das nossas orações, pelo 
pouco feito na Terra para despertar tal consciência.
Orar diante de tais pequenos santuários foi valioso para os romanos
e foi também muito desenvolvido no Japão com os Kamidanas, pequenos santuários caseiros, e mesmo portáteis, onde kamis familiares e os celestiais e primordiais são cultuados, ou então Butsudana, com os Budhas. (Na imagem, o butsudana da família em cuja casa em que fiquei em Tokushima, em Agosto de 2011, na celebração do Bon Odori,  graças a Takako Karaoke, a quem muito agradeço).

 Os Gregos e Romanos tinham uma classificação valiosa que incluía este nível intermediário: os semi-Deuses. Aqueles que pelos seus feitos se tinham erguido a um grau de imortalidade e de consciência dos deuses ou mesmo da  Divindade. Entre as referências a tal culto estão  os famosos Versos de Ouro de Pitágoras, que deverão até ser mais chamados versos pitagóricos, pois retratam antes um catecismo pitagórico de discípulos do insigne mestre.

Não houve nos pitagóricos certamente influências das ideias nipónicas que proclamam a passagem dos seres humanos a kamis seja pela suas vidas bem luminosas ou excepcionais, ou apenas pelo passar de certo tempo uma vez morto o corpo físico e entrados nos planos subtis e espirituais. Mas dado que a Grécia religiosa têm raízes shamanicas e que estas tiveram curso forte no Japão, na Coreia, na Rússia, sendo a fonte primordial do Shinto, até podemos considerar as duas tradições como veios do mesmo rio, e em que os Kamis e semi-deuses tanto podem ser espíritos angélicos celestiais ou apenas espíritos que já foram humanos terrenos e que agora vivem em corpos espirituais. 

Certamente podemos ainda referir  o contributo da Grécia, da Deusa Hygia donde nos veio a palavra Higiene, a deusa da Medicina, cura dos simples e da higiene pública e que Hirata Atsatune tanto cultuou e procurou desenvolver, no seu afã de melhoria das condições de vida físicas e psíquicas dos seus compatriotas. Esta linha prosélita foi bem ampliada pelo seu filho adoptivo Kanetane (1799-1880) que de certo modo fundou a Escola de Hirata divulgando muito os seus livros. Um dos seus discípulos mais importantes foi Katagiri Harukazu  que criou o Mameo no tsudoi, o Círculo de Homens Sinceros, para o estudo  da obra de Hirata, com grande devoção ou culto ao seu espírito, invocado em longos noritos. Conseguiu erguer em 1867 um santuário, o Hongaku reisha, fortalecido por objectos icónicos pertencentes aos antigos mestres, que influenciou muita gente e compôs ainda belos poemas de partilha do valor da vida agrícola e da comunhão simples com os Kamis.
Em verdade admitida a realidade dos Kamis estarem ou poderem
estar em toda a parte e manifestar-se em qualquer objecto, em especial no que se destaca pela sua qualidade, caso de certas pedras, árvores, locais da natureza, esta concepção e crença  típica do Shinto impulsiona-nos a admitirmos que será importante propiciá-los não só na natureza e nos santuários mas mesmo nas casas de banho, tanto mais que se não as mantivermos limpas geram-se energias negativas que, acumuladas, obstruem a fluída ou livre circulação, e logo afectam a saúde, e atraindo até eventuais entidades negativas. Já quanto a como são estas energias e também que entidades são essas, embora haja bastantes lendas e algumas visões clarividentes subjectivas, só quem investiga e vivencia lucidamente é que poderá sentir e logo ganhar, mais ou menos temporariamente,  alguma relativa compreensão segura. Vale mais porém sintonizarmos com os
seres subtis ou kamis de luz...
Fiquemos então com a ideia-força da importância de todas as
divisões da casa que habitamos estarem belas e harmoniosas e poderem assim ser percorridas livremente pelas energias vitais ou mesmo por mais elevadas e abençoantes, ou até merecer a estadia de espíritos subtis luminosos e inspiradores. Esta concepção, aceite e cultivada,  gera comprovadamente uma purificação da casa e uma entrada de energias mais puras ou elevadas na nossa alma, nomeadamente nas nossas meditações.
Cultivemos então a beleza e a limpeza em todos os locais onde
estivermos, tanto exteriormente como sobretudo interiormente ( pela pureza e o não egoísmo)  e, como as mikos ou os pontífices desejados social e espiritualmente por Hirata Atsatune, tanto nos curvemos diante do Divino como ergamos com assiduidade nas nossas aras e lares o cálice do Graal ou do Coração flamejante e aberto ao alto em gratidão, aspiração, receptividade e irradiação das tão necessárias qualidades divinas de Justiça e Fraternidade, Sabedoria e Amor...

sábado, 24 de abril de 2021

Das relações dos seres humanos em si, com os outros e no Cosmos multidimensional.

                                            

Cada ser é único, irrepetível, em si e na sua inserção interactiva no Cosmos multidimensional.

 Cada parte de si mesmo influencia e é influenciada por todas as outras partes de si e de muitas dos outros, ainda que tão subtilmente ou minimamente que pouquíssimos seres estão conscientes das múltiplas interacções constantes não só ao nível físico mas também energético e psíquico, espiritual: quantos raios e correntes circulam..

Há partes e órgãos no ser humano mais importantes na constituição do ser interactivo, de tal modo que as pessoas se identificam a elas, pois  qualificam ou caracterizam bastante uma pessoa. A cabeça-pensar e o coração-sentir são dois dos centros energéticos mais sensíveis e determinantes na psicologia das pessoas: a sua capacidade e necessidade de pensar e compreender e a sua capacidade e necessidade de sentir e de amar. 

Quem consegue regular harmoniozamente estes dois níveis, nas suas interactividades, tem mais possibilidades de agir bem, de estar bem, de ser bom e verdadeiro, e logo gerar beleza.

As qualidades psíquicas que o coração e  a cabeça desenvolvem estão  bastante ligadas aos cinco sentidos pois estes são as portas principais para o  exterior e assim certos  órgãos e centros como  o nariz, a boca, o sexo, o ventre, a cabeça, as orelhas, as mãos e os pés estão constantemente interagindo com o compreender e o amar e são alteradas pelo que fazemos com eles, originando efeitos modeladores ou psico-mórficos, pois tanto a psique (ou alma coração-cabeça) influencia a morfologia ou forma corporal, como vice-versa. Pouca gente se consciencializa muito de tal e toma mais a peito o esculpir-se a si próprio, ou mesmo o saber ler a fisionomia dos seres e o que certos traços mais salientes revelam dos seus hábitos e gostos, características e capacidades.

Na realidade, a forma, o modo e a intensidade com que vivemos cada um dos cinco  sentidos repercute-se física e energeticamente nos órgãos que lhe estão ligados; e por sua vez o corpo no seu todo vai reflectir os estados e actividades desses  órgãos. De igual modo física, energética e subtilmente os sentimentos e as emoções modelam os corpo subtis e físicos: quem tem bons sentimentos e cultiva a boas emoções, esse ser gera corpos e estados energétcos mais harmoniosos, físicos e subtis, estes vulgarmente incluídos no termo vago de alma.

Mas também importante ainda são os instintos mais activos ou desenvolvidos pois devemos saber vivê-los harmoniosamente, isto é integradamente, generosamente, amorosamente, sabiamente, tanto mais que eles influenciam muito os órgãos e o tónus da nossa vida. Como os orientamos, como se manifestam sub-conscientemente e nos sonhos, que ilações e actuações devemos encetar, são questões que nos desafiam constantemente e por vezes de modos que nos escapam. Daí que a observação ou registo dos sonhos ou das meditações e intuições é bem importante de se realizar para nos apercebermos de quem somos e estamos constituídos, onde estamos, o que desejamos, o que valemos e para onde nos encaminhamos.

Na realidade, cada ser está numa estrada que é a sua vida, e em inter-relação multidimensional, embora  poucas pessoas discirnam e se vejam a  percorrer um caminho, isto devido tanto à intensidade ou premência do presente e da visão curto prazo que as domina, como pela diversidade de circunstâncias que a compõem e finalmente pela falta de visão de cima sobre nós próprios pela qual se vê que dia, semana, mês após mês, essa pessoa avançou ou recuou, peregrinou, caminhou, seja em relação a certas metas ou objectivos, seja  nos relacionamentos humanos, na qualidade e profundidade das suas relações com outros seres, seja pessoas de família, seja amiga(o)s, seja já seres em estados subtis de existência, tais como antepassados, guias, mestres, anjos e, finalmente, o Ser Divino nas suas faces...

Na realidade diária a pessoa enfraquece ou fortalece esta ou aquela relação ou amizade, caminha nesta e naquela direcção, seja de cumprir uma tarefa, seja de satisfazer certos desejos e metas, algumas delas mais interiores, tais como as que são as suas crenças, devoções e aspirações. Mas também há  avanços, amadurecimentos, recuos no ainda mais interior e subtil nível, que são os seus sonhos, ou mesmo as suas intuições e visões... 

Mas quem consegue estar atento e bem consciente do percurso já realizado, das forças desenvolvidas, dos campos a que já se poderia ter acesso, e trabalha neles, para não se dispersar nem deixar enfraquecer qualidades ou capacidades, e para no fundo fortificar a sua realização individual e espiritual, esta já em função do Todo?

 Não é fácil de facto as pessoas aprofundarem as suas linhas mais próprias de energias anímicas e de realização, tanto mais que à sua volta existem muitas forças ou seres, seja  em conflitos ou com atracções ou propostas para a envolverem, ou mesmo apenas para distraírem e desviarem, por vezes sem sequer as pessoas aperceberem-se que estão a ser joguetes de forças colectivas supra-pessoais que vivem, proliferam ou enriquecem à custa de não haver pessoas mais lúcidas e determinadas sociologicamente e   espiritualmente. Ora a sociedade de consumo em que vivemos caracteriza-se por essa oferta constante de distracções, de novos estímulos à curiosidade, de manipulações e brainwashs, por vezes em certos momentos tornando-se mesmo dramática a tentativa de influenciar e manipular nas pessoas, como os governos e meios de comunicação, em geral já hoje completamente vendidos ou arregimentados, tanto abusam.

Uma pessoa não se dispersar dos seus propósitos torna-se então muito difícil. Há quem se agarre aos pequenos propósitos, a pequenas tarefas diárias ou pontuais, outros às suas cartilhas políticas, filosóficas ou religiosas, mesmo estas todas elas em queda à excepção de certos baixos astrais de grupos pseudo-evangélicos, mas discernir o que é verdadeiramente mais importante e perene pode escapar a muitos, mesmo que pensem que estão a fazer o bem e acreditam numa ideia de Deus que receberam exteriormente. 

Ora nestes níveis não podemos entregar-nos a qualquer fera feita pastor, nem tornar-nos cegos conduzidos por cegos ou meio cegos e temos mesmo que por nós próprios, lendo, dialogando e meditando, obtermos as nossas vivências e gnoses. 

Para isso todos os dias devemos recuperar tanto o nosso coração e sentir puro, transparente e original, unitivo, connosco e com os outros e a Natureza, como também a mente pura, calma, silenciosa, observadora, isto mais se obtendo ou recuperando ao observar a respiração, ao concentrar-se interiormente e ao meditar. 

Para quem não consegue fazer mais facilmente o silêncio, recomenda-se apenas rezar ou usar alguns mantras para prender o macaquinho da mente numa corda, e gerar com essa qualidade uma intensificação qualitativa vibratória valiosa, que depois no fim é já portadora de ressurreição do coração e do Amor. E mesmo mais simples ainda para os ocidentais pode ser o dedilhar da oração Pai Nosso, ou mesmo só a petição Seja feita a vossa Vontade, assim na terra como no céu. Ou até só a palavra de entrega e adesão: Amen, correspondente ao Aum indiano e ao Amin islâmico.

Se não fizermos tais práticas  arriscamos a que forças que nos rodeiam ou que com que nos interrelacionamos frequentemente perturbem a paz de alma e criem sombras, inquietações e dúvidas, fazendo assim esfumar-se a serenidade e logo a capacidade de se sintonizar e abrir as janelas ao espírito, aos mestres e a Deus. Com isto não nos realizamos tanto na Terra  e chegaremos à hora da morte desprovidos de forças espirituais assimiladas para entrarmos conscientes no além


O invocar-se o mestre, o anjo, uma face divina é fundamental. Certos tipos de esoterismos, new age e espiritualidades que negam a individualidade, os mestres, a Divindade são perigosos. Temos de sintonizar, sentir ou ver tais realidades dentro de nós, algo certamente difícil e para o qual a devoção amorosa e o apelo ou invocação perseverante são fundamentais: Om sri Gurabe namah, Saudações ao mestre, cantam os indianos... Ou Deus nasce mais em nós, diremos nós...

Para conseguirmos estes momentos de alinhamento e interiorização temos de resistir  às tentações e curiosidades dispersantes, as seduções e desejos que nos fazem sair constantemente nós e que nos  afastam de sentir as ligações verticais interiores..

Na realidade, as pessoas não tem muita consciência dos efeitos de uns sobre os outros causados pelos encontros e as conversas, mesmo que seja pelas redes sociais ou os whatsaps, em certos casos as pessoas vivendo mesmo bombardeadas e apanhadas nessa roda viva de mensagens e notícias, frequentemente inúteis, superficiais ou mesmo nocivas.

Assim podemos conversar com uma pessoa uma hora ou duas e mesmo sobre temáticas espirituais e subitamente ficarmos com uma dor de cabeça grande durante horas porque captámos as energias psíquicas da outra pessoa e as oscilações vibratórias que ela tem. Cada pessoa tem a sua oscilação própria e há algumas que são muito dessincronizadas connosco e devemos estar atentos à nossa capacidade de adaptação.  Há então que meditar, silenciar, invocar as bênçãos do alto logo que por fim se está só, ou em casa, por vezes sendo mesmo necessário regar-nos mesmo com uma chuveirada higiénica e purificadora, e colorida subtilmente, gratamente.

Intuirmos quais as pessoas com quem deveríamos trabalhar mais e agir nesse sentido é sempre uma arte óptima embora difícil, sejam elas pessoas amigas sejam já dos níveis subtis e espirituais do Universo.

Medite e ore então com mais frequência, mesmo que seja por pouco tempo, e harmonize-se e receba as intuições e a visão de cima para um seu peregrinar melhor aqui na Terra e que ajuda o amor, a sabedoria, a justiça e o bem na Humanidade, em Gaia e no Cosmos.


As três pinturas são do livro Welten, ou em português Mundos, de Bô Yin Râ.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O Livro Divino, o Livro do Amor Libertador, O Livro da Verdade e da Realidade... Dia do Livro de 2021.

Escrito manualmente no dia do Livro de 2021, entre as 19:20 e as 19:58, e abençoado a meio por um forte arco-íris, duradouro, assinalado no texto. Espero transcrevê-lo rapidamente para quem não o conseguir ler. Com breve vídeo, de 56 segundos, do arco-íris no fim...

Boas leituras e assimilações, e luminoso despertar anímico-espiritual, com este livro bem especial, dedicado a si e ao Si...

                                                      

Entrando no interior dos livros estamos a entrar em nós próprios, nos seus autores e também na alma do Universo, na demanda do Livro Primordial, aquele que primeiro se formou na alma-espírito do Ser 
Divino e que Dele emanou para os primeiros espíritos gerados, que foram depois escrevendo a história da manifestação, a qual os livros de História, Religião e Filosofia tentam abarcar.
Mas como intuir a explosão solar de mil sons e mil letras que brotaram do Amor divino que se quis manifestar nos espíritos e almas, seres, palavras, letras, ideias e ideais, livros sem fim que chegam hoje até nós neste último, que eu e tu criamos aqui e agora?

A escrita é sempre um acto de invocação e evocação mágica, de tentarmos trazer ao papel e à nossa consciência na terra o que se passa em níveis subtis.

O livro que se quer divino tem obrigatoriamente de nascer de uma grande chama de aspiração e amor, para que as bênçãos divinas possam descer sobre quem o escreve, e passarem pela sua mão ou mãos, e depositarem-se não só no papel mas no infinito mundo de inter-relações que se vão originar de tal acto mágico, sacralizante e invocante do mais elevado, eterno e divino em nós: O Espírito. *

 
Este livro contém, invoca, transmite o Espírito Divino, o Ser Primordial, a força do Amor viva e actuante.
Paro, Oro. Ergo as mãos. Invoco a Divindade e Ela... manifesta-se no arco-íris que subitamente esplende no céu e nas nuvens, atravessa o vidro e fere-me os olhos; e me faz erguer para ele me dirigir e expor, e assim receber o ouro alquímico das suas cores que se derramam pela aura, as mãos, as letras, as palavras, o papel, as nossas almas e corações... Assim o Livro sagrado é cósmico, comungou da união do Céu e da Terra, rejubilou no arco-íris.


Felizes dos livros que são gerados no forno alquímico, no athanor da alma espiritual e que aspira a Deus, ao Amor, ao Bem e que vê entre as nuvens formar-se ora o arco-íris ora a estrela do espírito, e que assim o abençoa, e incarna mais nela e se avatariza.
Assim o livro é investido pelo vento, as nuvens, pelo arco-íris, pelas aves (gaivotas e andorinhas...), pelo amor que alguns seres partilham mais connosco e que estão presentes na redacção mágica de um livro, que é de Deus e das suas faces femininas, como Hygeia, como a Amaterasu, ou a Fatimah, ou Maria, ou todas as almas amigas que mais nos apreciam e impulsionam o livro na sua dimensão de comunhão de grupo de almas afins.
                                                    
 Encerrar num livrinho todos os segredos do Caminho que gostaríamos de transmitir e realizar entre nós, entre mim e ti, é um desafio imenso: implica que sempre que lemos estas palavras e frases estamos a tentar despertar o nosso ser espiritual e assumimos as suas melhores qualidades e assim vencendo todos os obstáculos, medos e negatividades, irmos manifestando mais o bem, o amor, a sabedoria, o corpo místico da humanidade, a fraternidade e a ecologia salvíficas.
A folha dobrada em oito páginas, o in-8º da descrição de um livro, vai comprimindo o Verbo, o Logos, o Sermo que aqui se pronuncia. Ergo então a memória viva ou de cor (coração)  de algumas pessoas ou seres que mais amo, que mais me tocam e espero que este Amor Divino que nos une abra também mais o teu ser e coração à Divindade, que em ti deve manifestar-se, e que tanto beatifica e harmoniza. »

                                        

                                        
Segue-se, no pequeno vídeo, o Livro exposto aos raios do Sol do arco-íris e do Logos....
                                                                 
                                                          
Possamos nós diariamente expor-nos ou abrir-nos por algum tempo, e em aspiração espiritual, aos raios e correntes de Amor, Sabedoria e Força Divina....
Veja o vídeo de um minuto em: https://youtu.be/5wwsBr9GVhs