sábado, 6 de janeiro de 2024

Para Shanti Das, o peregrino da Índia, discípulo de Gandhi e Vinoba, o activista da Ahimsa, o ecologista e fundador da comunidade da Arca, poeta e filósofo.

      Escrito no dia da desincarnação terrena de Shanti Das (servidor da Paz), ou Lanza del Vasto.[29-I-1901 a 5-I-1981]

                 «Para Shanti Das
A man has died and in the labyrinth of life we are more alone. Morreu um homem e no labirinto da vida estamos mais sós.

Assim despediste-te da Terra no dia dos Reis Magos. Lembrando os homens que os malefícios do progresso e da indústria destroem o menino. Tu que viveste uma vida de austeridade e simplicidade com alegria, força e divindade, não te afastes já deste plano mais denso e deixa-nos algumas intuições e controlos.
A lança na mão atravessaste as terras pirenaicas para vires aqui apontar o caminho da não-violência, forte como um fogo, belo como as searas ao vento. Em nós semeaste esta força de resistência ao mal que caracteriza os homens de antanho antes de quebrar do que torcer. E agora ao abandonares a Terra deixas-te-a empobrecida, e a tristeza vem-nos do coração à garganta, ainda que saibamos que como alma mais vivo do que nunca estás. E a minha alma sorri, afastando as nuvens que toldam a visão clara que é apanágio daqueles que incessantemente vão aumentando os seus actos de justiça, neste universo preso não sei de que tendências desagregativas e no qual bem poucos seres reúnem as forças para manterem o rosto sorridente

Ah amigo, agora que nos deixaste como está o teu corpo frio e morto e sob algum caixão enregelado? Mas que medo podemos ter de neve e da morte se o nosso coração está quente e a força de nos transformarmos e de transformarmos mais o mundo está viva e em cada momento é semeada, em cada contacto passada?
Oh, também o Divino está sorridente contigo nestes momentos em que te aproximas mais dele?

Pastor dos montes Hermínios, a lança abre-me o coração, a tua musica [e cantos] quer saltar pelas orelhas, e relembro os votos secretos, as promessas escondidas das futuras realizações, sem nome, em silêncio, embora os canhões continuam a atroar e a envenenar o ar enquanto as mentes do grande número se debatem nas franjas da fome ou da ignorância, no luxo ou na inutilidade. E contudo tu, como Eles passaste e ergueste alguns cantos em que de mãos dadas os humanos se religaram com a irmã Natureza.
Agora vou despedir-me de ti, sem deixar que a energia mais pelas lágrimas mas fazendo-a subir ao alto, donde se derrama em força austera para melhores realizações futuras.
Shanti das, como uma montanha firme sorris.
Lanza del vasto, como um mestre estás
Agora a nós de avançarmos com a sarça ardente, o fogo do amor e do espírito divino irradiando...

                                      PAZ FORÇA AMOR »

 

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