José Vitorino de Pina Martins (18-1-1920, Oliveira do Hospital, a 28-4-2010, Lisboa) e Henri-Jean Martin, na biblioteca da Academia da Ciências, de Lisboa. |
Comemorando-se hoje 18 de Janeiro de 2014 os 104 anos do nascimento do tão ilustre pensador, investigador, professor, escritor, conferencista e verdadeiro académico José V. de Pina Martins, autor de centenas de trabalhos valiosos sobre a cultura portuguesa e europeia e o Humanismo e seus mestres, com quem tanto convivi como amigo pleno de afinidades e como ajudante de investigações e livros, resolvi partilhar o que lhe dediquei algum tempo após a sua partida, escrito nas folhas brancas e margens do seu livro, que eu lia, Rio Interior, a sua última obra poética (escrita em 1954 e dedicada a Teixeira de Pascoaes que acabara de partir), primeiro um poema, depois frases e versos que dialogam, resumem e intensificam espiritualmente o que ele sentira e escrevera...
Ó amigo e caminhante na senda,
que a música do Sermo Divino
te desperte e te erga à mística viva
dos que conhecem e sentem Deus.
Oh mestre querido, joia do Renascimento
incarnada na Lísia milenária,
vem tecer raios de Luz nas almas,
fazer galgar distâncias, vales e montes
e ascender à montanha da contemplação.
Ó Deus, guia o nosso ser e viver,
leva-nos até à fonte de Teu Ser
que com humildade adoramos,
invocamos e sintonizamos.
Vem, ó Mestre divino,
clamam os discípulos no caminho.
Saudaste Pascoaes, outra borboleta
ardente na chama do conhecimento,
da Gnose, dos gnósticos e amantes
dos alfarrábios quinhentistas,
dos Aldos aos Picos e Erasmos,
quantas estradas calcorreadas
com as afinidades electivas de
Eugenio Asensio, de Marcel Bataillon
ou ainda de Teixeira de Pascoaes
e agora de Pedro Teixeira da Mota?
Olhos frementes, almas intensificadas,
invocando desesperadamente Deus
e rompendo o sono e a noite
com um tão forte desejo
que a Luz e o Amor de Deus
nos inundem e iluminem,
e Te desvendes em nós, ó Divindade.
Ó rio das águas brancas
que corres no mundo espiritual
e nos ligas à fonte Divina,
eu aqui te invoco entre mim
e o José Vitorino de Pina Martins,
escritor e bom amigo.
[E falta-me encontrar o exemplar para fotografar alguma folha, com o acrescento poético meu.] |
Cavalos ao vento, crinas flamejantes,
nasçam desejos de transfiguração,
de consciencialização e revelação do espírito.
Caminhamos decerto pagando o preço da carne,
mas ainda assim Espíritos sempre renascendo.
Sê o amor compassivo e prestável para todos
e manso e humilde não critiques mas ajuda.
Rio interior, insatisfeito, sempre em busca
do oceano infinito de Deus
e querendo levar nele mais e mais almas.
~~~~
Deus é o centro do espírito de cada um no peito,
no centro da nossa alma habita.
Nuns como gérmen abafado pela ignorância,
noutros resplandecente como o sol.
Vós sois deuses, disse o mestre Jesus.
Vem pois, ó Deus, brota das entranhas
do meu ser, mostra-te, brilha,
ilumina-nos, guia-nos, torna-nos Amor.
~~~~~~~~~~~~
Dias em que o intelecto duvida,
meses em que a alma não brilha,
momentos de descrença em ti, ó Deus,
tal como um rio sem linfa, dizes tu.
Mas se eu sou um espírito luminoso,
um filho de Deus,
porque me hei-de de identificar
com as limitações acessórias
e não me reconhecer
na minha origem divina?
Ó Deus, dá-me um verdadeiro
ardor de aspiração por ti,
uma confiança serena e certa
que Te hás-de revelar em mim.
Sim, no silêncio da alma
fala e ressoa o Verbo,
Sermo Divino em nós.
Ardam as escórias da personalidade,
morra o passado.
Aqui e agora, Eu e tu,
Deus brilhe em nós.
Caminha da inocência infantil
para a curiosidade juvenil
na demanda aventureira de luz.
As austeridades do homem discípulo
são para se chegar agora ao intemporal.
Água tempo que nutres minhas células
agora em amor e me ergues em ondas
até à unidade com o Oceano divino,
alma nossa religada à Alma mundi Divina...
Que palavra sussurra a fonte da nossa alma:
- Amor, amor, amor és, são, somos!
Oh Unidade Divina... Aum...
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