quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Poesias dedicada a José V. de Pina Martins, e desafiadas pela alma do seu livro poético "Rio Interior". No dia dos 104 anos do seu nascimento.

José Vitorino de Pina Martins (18-1-1920, Oliveira do Hospital, a 28-4-2010, Lisboa) e Henri-Jean Martin, na biblioteca da Academia da Ciências, de Lisboa.  

Comemorando-se hoje 18 de Janeiro de 2014 os 104 anos do nascimento do tão ilustre pensador, investigador, professor, escritor, conferencista e verdadeiro académico José V. de Pina Martins, autor de centenas de trabalhos valiosos sobre a cultura portuguesa e europeia e o Humanismo e seus mestres, com quem tanto convivi como amigo pleno de afinidades e como ajudante de investigações e livros, resolvi partilhar o que lhe dediquei   algum tempo após a sua partida, escrito nas folhas brancas e  margens do  seu livro, que eu lia, Rio Interior, sua última obra poética (escrita em 1954 e dedicada a Teixeira de Pascoaes que acabara de partir), primeiro um poema, depois frases e versos que dialogam, resumem e intensificam espiritualmente o que ele sentira e escrevera...

Ó amigo e caminhante na senda,
que a música do Sermo Divino
te desperte e te erga à mística viva
dos que conhecem e sentem Deus.

Oh mestre querido, joia do Renascimento
incarnada na Lísia milenária,
vem tecer raios de Luz nas almas,
fazer galgar distâncias, vales e montes
e ascender à montanha da contemplação.

  Ó Deus, guia o nosso ser e viver,
leva-nos até à fonte de Teu Ser
  que com humildade  adoramos,
  invocamos e sintonizamos.
Vem, ó Mestre divino,
clamam os discípulos no caminho.

Saudaste Pascoaes, outra borboleta 
ardente na chama do conhecimento,
da Gnose, dos gnósticos e  amantes
dos alfarrábios quinhentistas,
dos Aldos aos Picos e Erasmos,
quantas estradas calcorreadas
com as afinidades electivas de
Eugenio Asensio, de Marcel Bataillon
ou ainda de Teixeira de Pascoaes
agora de Pedro Teixeira da Mota?

Olhos frementes, almas intensificadas,
invocando desesperadamente Deus
e rompendo o sono e a noite
com um tão forte desejo
que a Luz e o Amor de Deus
nos inundem e iluminem,
e Te desvendes em nós, ó Divindade.

Ó rio das águas brancas
que corres no mundo espiritual
e nos ligas à fonte Divina,
eu aqui te invoco entre mim
e o José Vitorino de Pina Martins,
escritor e bom amigo.

[E falta-me encontrar o exemplar para fotografar alguma folha, com o acrescento poético meu.]

Cavalos ao vento, crinas flamejantes,
nasçam desejos de transfiguração,
de consciencialização e revelação do espírito.

Caminhamos decerto pagando o preço da carne,
mas ainda assim Espíritos sempre renascendo.

Sê o amor compassivo e prestável para todos
e manso e humilde não critiques mas ajuda.

Rio interior, insatisfeito, sempre em busca
do oceano infinito de Deus
e querendo levar nele mais e mais almas.

~~~~

Deus é o centro do espírito de cada um no peito,
no centro da nossa alma habita.
Nuns como gérmen abafado pela ignorância,
noutros resplandecente como o sol.


Vós sois deuses, disse o mestre Jesus.
Vem pois, ó Deus, brota das entranhas
do meu ser, mostra-te, brilha,
ilumina-nos, guia-nos, torna-nos Amor.

~~~~~~~~~~~~
Dias em que o intelecto duvida,
meses em que a alma não brilha,
momentos de descrença em ti, ó Deus,
tal como um rio sem linfa, dizes tu.
Mas se eu sou um espírito luminoso,
um filho de Deus,
porque me hei-de de identificar
com as limitações acessórias
e não me reconhecer 
na minha origem divina?

Ó Deus, dá-me um verdadeiro
ardor de aspiração por ti,
uma confiança serena e certa
que Te hás-de revelar em mim.

Sim, no silêncio da alma
fala e ressoa o Verbo,
Sermo Divino em nós.
Ardam as escórias da personalidade,
morra o passado.
Aqui e agora, Eu e tu,
Deus brilhe em nós. 

Caminha da inocência infantil
para a curiosidade juvenil
na demanda aventureira de luz.
As austeridades do homem discípulo
são para se chegar agora ao intemporal.

   Água tempo que nutres minhas células
agora em amor e me ergues em ondas
  até à unidade com o Oceano divino,
alma nossa religada à Alma mundi Divina...

Que palavra sussurra a fonte da nossa alma:
- Amor, amor, amor és, são, somos!
Oh Unidade Divina... Aum...

Na olisiponense Biblioteca de Estudos Humanísticos, onde tantas vezes trabalhamos e dialogamos, sob  as bênçãos do mestre dos humanistas Desidério Erasmo, José V. de Pina Martins, já com 88 anos, e eu. Muita Luz e Amor nele e na Primula, sua mulher

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