sábado, 8 de fevereiro de 2025

Antero de Quental, desenhado por Domingos Rebelo, na Revista ilustrada Os Açores, de 1922.

              Na revista ilustrada Os Açores, nº 3, de 1922, encontramos um belo desenho e texto anteriano: 
         
O porto de Ponta Delgada, desenho da capa da revista, com 35 páginas, dirigida artisticamente por Domingos Rebelo (1891-1975), notável pintor, que se formou durante seis anos em Paris e conviveu com Santa-Rita, Amadeu Sousa Cardoso e &, prosseguindo depois uma carreira de grande criatividade, perfeição e sucesso.
                                                         

 O artigo, escrito em duas páginas,  sobre Antero de Quental, provavelmente foi escrito por Domingos Rebelo, e valoriza e elogia o culto dos antigos,nomeadamente dos gémio e o esforço de reapresentar o poeta aos seus conterrâneos. Destaquemos: "Interessar o público no preito de admiração que é devido às altas faculdades intelectuais de Antero de Quental, arrancar do olvido a sua figura de pensador e a generosa bondade do seu coração de poeta, lembrar que um dos maiores  e dos mais legítimos orgulhos destes ilhas é o prestígio do seu nome universalmente admirado, era uma campanha que se impunha porque o culto dos mortos é a lição dos vivos.
É com o culto dos mortos que se cimenta o sentimento nacional, porque a alma dos vivos é a continuação da obra dos que se foram e os sentimentos dos mortos perpetuam-se no coração dos que deles vieram e para eles caminham." 
Observemos a referência à grande alma portuguesa, fortalecida pelos sentimentos que acolhemos dos que nos antecederam e pelos sentimentos e pensamentos que se dirigem para eles, numa verdadeira comunhão no corpo mística da humanidade ou no campo unificado de energia-informação-consciência em que estamos entretecidos.
A segunda página do artigo, incluindo textos do Correio dos Açores.
 
E continua o articulista: "Esta gloriosa campanha de colocar em relevo os mortos ilustres do nosso arquipélago foi brilhantemente iniciada no diário micaelense Correio dos Açores. à pena incansável do seu ilustrado director snr. dr. José Bruno Tavares Carreiro se deve a vulgarização de tantos nomes notáveis  que um injusto esquecimento apagara da lembrança dos que os deviam admirar ou venerar."  

Ampliação ou recorte da homenagem ao Dr. José Bruno Carreira (1880-1957), que uns meses antes  celebrara os XXXI anos da desencarnação de Antero de Quental, no Correio dos Açores, ressuscitando-o para os seus conterrâneos um pouco, o que conseguiria mais plenamente com a sua incontornável obra Antero de Quental: Subsídios para a sua Biografia.
Do desenho  de Antero de Quental, por Domingos Rebelo, diremos: Antero puro, lúcido, desprendido, enfrentando os mistérios da vida e da morte!
 
 Esperemos que apreciem, tanto mais que o desenho não é facilmente visível na web. Que estejam Antero, Domingos e José bem luminosos e na comunhão Divina,  nos planos espirituais, e nos possam inspirar!        
Domingos Rebelo. Lux! Amor!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O ícone da Virgem Santa de Melikia, na Grécia, que fora atingido por cinquenta e cinco balas em 1947, reapareceu...


O jornal grego “Parapolitika” voltou a falar do ícone milagroso da Virgem Maria de Melikia, que durante mais de 50 anos se pensou estar desaparecido e que agora “reapareceu”, na igreja de Santa Paraskeva, através do padre George. Os habitantes locais tomaram este achado como um sinal de Deus. O Todo-Poderoso não os abandonou.
A primeira coisa que quem olha de perto para a rara imagem da Virgem Maria de Melikia vê são 55 balas no ícone, que não atingiram o rosto da Virgem Maria....
Isto aconteceu a 17 de março de 1947. A guerra civil tinha manchado toda a Grécia com sangue humano. Na igreja de São Nicolau, 55 soldados, mulheres e crianças tentam esconder-se das balas para se protegerem da fúria da guerra.
Mas entre eles há um traidor. Pouco antes do amanhecer, ouviram de repente tiros na sua direção. Eram os rebeldes que tentavam entrar no templo, quebrando a porta de madeira da velha igreja. Mas não conseguiram. Por isso, começaram a disparar em rajadas, sem olhar, até ficarem sem balas. Quando os rebeldes entraram na igreja em ruínas, ficaram espantados com o facto de nenhuma das pessoas estar ferida. Todas as balas tinham at
ingido a imagem da Virgem Maria.
Ela continua a olhar para tod
os com amor maternal: tanto para os “seus” como para os “estranhos”. Este milagre chocou toda a Grécia. O folclorista e jornalista George Melikis registou uma série de acontecimentos históricos milagrosos, chamando a estes fenómenos “factos inexplicáveis”.
[E agora eis um] Kondak [tipo de hino bizantino] à Santíssima Virgem Mari
a:
À Voivoda (Líder) vitoriosa, escolhida [por Deus] e que nos libert
aste dos ímpios, nós com gratidão proclamamos ser teus fiéis [discípulos, servos], ó Mãe de Deus [Jesus o Cristo]. E como tens  um poder invencível, livra-nos de todos os nossos problemas, para que possamos invocar-Te: Alegra-te, ó Noiva do Noivo.»

Extraído através do Vk.com, do site Ortodoxo de  Chelyabinsk, Православные Челябинска, traduzido do russopelo DeepL, e em seguida corrigido, sobretudo na oração, com maior ou menor felicidade, dirão...  

O facto ocorrido só pode ser explicado por uma intervenção do mundo espiritual, seja dum modo natural e as balas teriam ido bater naquela zona da pintura, ou dum modo sobrenatural e as balas, ainda que atiradas em diversas direcções, foram bater no escudo em que se tornou a pintura, para os fiéis que, atemorizados, orariam por um milagre... Lux-Amor...

Ora cum nobis, ora pro nobis...

 Православные Челябинска:

 55 ПУЛЬ, ПОПАВШИХ В ОБРАЗ ПРЕСВЯТОЙ БОГОРОДИЦЫ МЕЛИКИЙСКОЙ
В греческой газете "Параполитика" вновь зашла речь о чудотворной иконе Богородицы Меликийской, которая более 50-ти лет считалась пропавшей, и теперь "снова появилась". В церкви Святой Параскевы у священника отца Георгия. Местные жители восприняли эту находку, как Божий знак. Всевышний их не оставил.
Первое, что видят те, кто внимательно присматривается к редчайшему образу Богородицы Меликийской - это 55 пуль на изображении, которые не задели лица Пресвятой Богородицы…
Это произошло 17 марта 1947 года. Гражданская война обагрила человеческой кровью всю Грецию. В церкви Святого Николая 55 солдат, женщин и детей пытаются укрыться от пуль, дабы защитить себя от ярости войны.
Но среди них оказался предатель. Перед рассветом они вдруг услышали выстрелы в свою сторону. Это мятежники пытались ворваться в храм, ломая деревянную дверь старой церкви. Но это оказалось им не под силу. Тогда они стали стрелять очередями, не глядя, куда попало до тех пор, пока пули не закончились. Когда мятежники вошли в разрушенный храм, то были ошеломлены, что никто из людей не пострадал. Все пули попали в образ Пресвятой Богородицы. Она продолжала смотреть на всех с материнской любовью: и на "своих", и на "чужих". Это чудо потрясло всю Грецию. Фольклорист и журналист Георгий Meликис зарегистрировал ряд таких чудесных исторических событий, называя эти явления " необъяснимыми фактами".
Кондак Пресвятой Богородице:
Взбранной Воеводе победительная, яко избавльшеся от злых, благодарственная восписуем Ти раби Твой, Богородице, но яко имущая державу непобедимую, от всяких нас бед свободи, да зовем Ти: радуйся, Невесто Неневестная.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Dos dialogos e discussões, interpenetrações e harmonizações, elevações, meditações e iluminações.


 `É natural que a nossa alma, a nossa totalidade de ser, sempre que estivermos mais próximo ou mesmo íntimo de outra pessoa, interaja subtilmente com ela e passe energias e simultaneamente receba, o que altera ou afecta o estado geral psico-somático, sobretudo o aspecto criativo, vertical, espiritual, o qual, como sabemos ou intuímos, é bastante difícil de ser mantido com qualidade, profundidade do coração e elevação consciencial. Pelo que devemos desenvolver uma certa auto-consciência do que se está a passar na junção de dois (ou mais) oceanos dos biliões de partículas dos diversos níveis e corpos de que estamos constituídos.

Certamente as alterações podem ser para o bem, para o aumento da criatividade e do amor, da esperança e da abnegação e há encontros entre as pessoas em que a intensificação vertical é bastante forte e luminosa. Mas noutros casos não,  e somos centrifugados, expostos a correntes adversas ou superficiais, mais ou menos ignorantes, de acordo com o tipo e estado anímico da outra pessoa e da harmonia energética e astral do ambiente em que as pessoas se encontram ou dialogam.

As pessoas em geral tendem a considerar como certas, firmes ou garantidas as suas posições morais, filosóficas e espirituais, ou mesmo políticas, mas só se vivêssemos num sistema fechado de crenças e ideias, dogmatismos e auto-sugestões é que tal sucederia, já que a nossa ligação com as pessoas e mesmo a subtil mentalidade colectiva envolvente condiciona-nos, e a ela aderimos ou resistimos sem nos apercebermos bem da passividade ou, então, da luta férrea que acontece  quando tentamos não ser manipulados nem controlados pelas forças instintivas, sociais, partidárias, mediáticas dominantes. Nos sonhos, por vezes, observamos fortes reflexos, repercussões, reacções e repulsões resultantes de tais interacções.

Ora a um nível psico-espiritual as nossas ligações com os mundos subtis, arquétipos e  espirituais dependem da solidez das nossas fundações, as quais se enraízam ou assentam em actos, leituras, sentimentos, pensamentos, meditações, contemplações, os quais não são assim tão facilmente mantidos ou conduzidos espiritualmente, ou fluindo para tal pelo menos na intencionalidade, a não ser que desenvolvamos uma auto-consciência forte, lúcida e o mais constante possível, discernindo bem as forças ou emanações ou intenções subtis envolventes

Ora quando nos envolvemos demasiado horizontalmente, seja na exteriorização factual ou virtual com muitas pessoas, seja no diálogo ou relação mais demorada ou prolongada com alguém, temos de tentar discernir se não estamos a perder as nossas linhas de força e realização próprias, ou a dificultar e enfraquecer as das outras, e se estamos realmente a contribuir para o verdadeiro bem dessas pessoas e de nós. 

As pessoas discernem pouco os efeitos das conversas, das palavras e dos sentimentos (confessados ou expressos ou não) nas almas, nos campos psico-somáticos dos outros. Discernem pouco as trocas de energias vitai e psíquicas que estão acontecer constantemente e sobretudo entre as pessoas que se dão mais, ou se amam, ou vivem juntas e assim não se conseguem iluminar reciprocamente, não desenvolvem o seu corpo de glória ou de imortalidade, que poderia ser desperto, reconhecido e intensificado nas amizades, no amor, na relação amorosa unitiva.

Teria que haver mais silêncio, mais paz, mais contemplação nos diálogos e nas relações humanas  em vez da rapidez, superficialidade, distração e competição com que em geral se caracterizam. Mas muitas pessoas, como já é difícil conseguirem acalmar o frenesim das redes sociais, superficializam-se e dissolvem-se mais ou menos na massa consumista e manipulada por tanto desinformador e alienador profissional, avençado aos grupos de pressão da oligarquia ocidental, e tornam-se uma energia colectiva obcurecedora das melhores potencialidades que deveríamos desenvolver na curta passagem terrena.

Talvez a melhor solução para sairmos deste estado de sítio será reforçarmos a oração-meditação matinal, mas também a outras horas, pois por ela verticalizamo-nos e abrimo-nos ao Logos, à Inteligência divina que permeia o Universo e que nos pode então inspirar pessoalmente, de tal modo que, no seu nível mais elevado, a pessoa se torna uma aspiração, uma comunicação, uma comunhão com o espírito e a sua luz, com o mundo espiritual  e as suas ideias e formas geométricas,  com a Divindade e o seu Amor.

Nas, ou após as, orações e cantos, meditações e contemplações podemos ser banhados pela luz espiritual em sucessivas vagas ou frentes luminosas, podemos contemplar os raiozinhos subtis, e vamos sendo harmonizados e recarregados pelo coloridos raios cósmicos e a Luz e Amor divinos, e  deste modo a nossa alma e  canais interiores de comunicação são limpos, clarificados e fortificados e podemos então ser mais fiéis a nós próprios, ao nosso dharma ou dever, e à própria Ordem multipolar do Universo, que sempre depende de cada um de nós, pelo menos na Terra, Gaya, para que ela se torne menos terra e árvore seca mas mais Boddhi Gaya, Gaia iluminada...

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Uma carta e um apontamento sobre cartas poéticas. As amizades como manifestação do Amor divino, e o Lume perene da carta poética.

Do lume perene das cartas...

 Uma carta, mais precisamente um aerograma, uma relíquia nos dias de hoje, recebida de Inglaterra, em 1986, do padre Fisher, um amigo da bióloga  Joana Warden, uma senhora polaca, de olhos verdes transparentes como a bondade  e espiritualidade da sua alma, pesquisadora na Faculdade de Ciências de Lisboa, no Jardim Botânico, muito dada ao naturismo e à espiritualidade, e que o fizera vir até Portugal para tentar curar uma comum amiga, a Maria Rosa, e conhecer mais algumas pessoas, para isso contribuindo eu organizando no Porto  - no restaurante e centro Suribachi, no Porto, onde ensinava yoga e o caminho espiritual -, um sessão de oração, meditação e cura com ele. Ei-la:

                             The Rectory, Shirland. NR Alfreton, Derbshire,
20 June 1986.

      Dear Pedro
     Thank you for your friendship and love whilst I was in Porto those 2 days. Friends are God's way of showing his love to us on this pilgrimage of life.
      I hope you will enjoy your break of project and study and I hope we shall meet again.
      Everyone was glad to see me back and I start to work tomorrow. May God bless you.
                                                                         Fr. Fisher. 

        20  de Junho de 1986
            
Querido Pedro
         Agradeço-lhe pela sua amizade e amor durante os dois dias que estive no Porto. Os amigos são a forma de Deus nos mostrar o seu amor nesta peregrinação da v
ida.
        Espero que apro
veite bem a sua pausa de projeto e estudo e que nos voltemos a encontrar.
        Toda a gente ficou contente por ver-me de volta e começo a trabalhar ama
nhã. Possa Deus abençoá-lo.
                                                              P. Fish
er. 

O apontamento sobre cartas foi escrito já em 2020, e resultou de ter trabalhado e descrito na leiloeira lisboeta Correio Velho um espólio com cartas que dizia respeito a João de Deus (8-III-1830 a 11-1-1896) e à sua família, e neste texto refiro a sua filha mais nova Clotilde Rafaela. É um bilhetinho escrito no meio da decifração e descrição, na conjunção auspiciosa de estar a findar a semana de trabalho e de segurar e ler a carta com um poema da jovenzinha Clotilde, nascida em 1882, e que se iniciava com extraordinária delicadeza, sensibilidade e amor, qual andorinha saindo do beiral algarvio do grande poeta e educador João Deus.   

                                  

«As maravilhas da escrita,
quando o amor da sexta-feira,
e fim duma semana de trabalho,
mais nos abençoa,
tocando nas cartas de João de
Deus e das suas filhas, limpando-as
dos fungos do tempo, beijando a
da jovem Clotilde.
E destes amores passados
fazemos o vulcão do nosso coração
explodir para Deus, para
o Sol Primordial Amor.»

                                                                                              17h. 24/7/20. 

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Karl Pavlovich Bryullov, 1799-1858, um pintor da Rússia com Génio. Breve aproximação à sua vida e obra. A tela "A Esperança alimentando o Amor."

Auto-retrato de Karl Pavlovich Bryullov, 1872. 

 O 225.º aniversário do nascimento de Karl Pavlovich Bryullov - um notável pintor e desenhador de cenas históricas monumentais, de pessoas e da vida quotidiana, um pintor da transição do neoclassicismo para o romanticismo, e já com algumas intuições  do impressionismo - que conheci através de Daria Platonova, uma amiga russa na rede alternativa VK.com, celebrou-se recentemente, pois nasceu a 23 de dezembro de 1799 em São Petersburgo, numa família de artistas. O seu pai, Pavel Ivanovich Briullov (Brulleau, 1760-1833), um académico de escultura ornamental, foi o seu primeiro professor. Karl formou-se na Academia Imperial de Artes de 1809 a 1821, recebendo  o Diploma de 1º grau e  a grande Medalha de Ouro, partindo em 1823 para Itália, que sempre admirara e o atraíra. 

Inserindo-se de alma e coração na vida italiana, as suas primeiras obras manifestam a atração pela vida simples, suburbana ou rural e pura, tal como observamos em pinturas como Manhã Italiana, de 1823, e outras.

 

A sua abertura ao simbolismo, ou a sua sensibilidade simbólica e o conhecimento da filosofia cristã e greco-romana e do platonismo e neoplatonismo,  está presente em algumas telas, tal como observamos na Esperança alimentando o Amor, de 1824. 

Este Amor ou cupido é gerado ou nutrido pela Esperança - humana e arquétipa - que o tem em si,   é de alguém que lhe enviou ou  são ambos que o geram? 

                               

Talvez o que  transborde mais seja a confiança plena com que a Esperança, qual Psyché, qual Vénus, olha para o Céu da Providência  Divina e dos seus mais íntimos. Há pouco ou nenhum erotismo no pequeno Eros, adormecido junto aos seios da Esperança, belos, firmes, puros, e com as asas brancas a sugerir o Amor celestial, urânico, mas é difícil caracterizarmos ou definirmos a poesia e mensagem que se desprende desta pintura e somos levados a admitir  influências platónicas, ou que a pintura remete para arquétipos, ideias, um eidos, uma imagem no Logos  divino,  bastante subtil, mas em que se congraçam no fundo a fé, a esperança e o Amor...

A criança, o Amor em pequeno, eros, que faz lembrar as crianças de Rubens, está desfalecido de amor, ou está apenas entregue na confiança, à Alma cheia de Esperança (e Fé e Amor), à mulher sublime, à Deusa e que nos faz lembrar ainda as Virgens, de Rafael? 

O Amor rechonchudo nasceu dela ou chegou até ela e com as asas descansa, para depois partir de novo, ou antes aninhou-se onde quer autogerar-se, crescer, irradiar como Amor protaico e sempre renascendo como fogo do coração?

É  uma pintura simbólica bem difícil de ser cingida na hermenêutica e na sua origem: em que pensava, sentia e queria transmitir Karl Briullov com esta pintura tão numinosa e no seu título consagrada a uma ou duas das três Virtudes teologais, - a Fé, a Esperança e a Caridade (Amor) -, e que poderemos  ler como "quero, persevero e amo ou sou amor, e, portanto, nesta pintura pode contemplar-se a Esperança perseverando com Fé, ou confiando na ordem Divina do Universo, na gestação e manifestação do Amor, o puer eternus, que ela tem em si mesma e é... 

O conhecimento e amor à sabedoria Greco-romana de Karl Bryullov será consagrado pela encomenda que em 1825 a Embaixada Russa lhe  pede de uma cópia da icónica obra de Rafael, a Escola de Atenas, e que realizará certamente bem, embora eu não tenha conseguido obter imagem dela.

Em 1832 pinta outra obra que, pela sua qualidade, acurácia e vivacidade, alcança grande sucesso, Mulher a cavalo, que a sua amiga e musa, a Condessa Yuliya Samoylova, lhe encomendara e que depois de muitas peripécias se encontra hoje na fabulosa galeria Tretyakov, em Moscovo, capital da santa Rússia, sendo considerada uma obra-prima da pintura equestre.   

Mas será o enorme (4,56 x 5,61) óleo O Último Dia de Pompeia (pintado de 1830 a1833, sobre a cidade  que estava a ser escavada e que conhecia desde  1827), o que o tornará mais conhecido, sendo enaltecido por meio mundo, nomeadamente Alexander Pushkin (que foi seu grande amigo) e Nikolai Gogol, e que lhe permitiu receber o Grande Prémio em Paris e retornar em 1836 como um consagrado à Rússia, tornando-se professor na Academia Imperial de Artes.

                             

O seu gosto pela cultura, a literatura e as tertúlias com amigos foram bem realçadas por Svetlana Kazakova quando escreveu em 2008 um artigo, Karl Briullov e Nestor Kukolnik: Uma história de duas ilustrações, sobre as relações do pintor com o escritor então famoso, Nestor Kukolnik, o qual retratou, e a propósito de uma pintura onírica que esperamos um dia abordar.

Nestor Kukolnik (1809-1868).

«Segundo os seus contemporâneos, Briullov tinha a reputação de ser um interlocutor fascinante, estava sempre bem informado sobre as novas obras literárias, lia muito e gostava que lhe lessem enquanto descansava. Pavel Nashchokin, numa carta de referência a Alexander Pushkin, caracterizou Briullov: “Há muito tempo - nem sequer me lembro há quanto tempo - que não conheço uma pessoa tão engenhosa, culta e inteligente”. Alexander Turgenev escreveu que “com este artista, pode-se falar sobre a sua arte, e ele leu Plínio, e pede que lhe emprestem a Teoria das Cores, de Goethe...” Não é de admirar que, ao trabalhar nos seus quadros, Briullov recorresse frequentemente a romances, novelas e baladas famosos e populares na época.»
As obras românticas de Briullov abriram uma  etapa na história da pintura russa, e os seus retratos, pinturas e esboços foram reconhecidos pelos seus contemporâneos como excelentes, destacando-se uns no domínio do mundo
íntimo das almas, dos sonhos,  dos anjos,  outros pela sua alegria, naturalidade e vivacidade da vida do quotidiano e, finalmente, outros evocando temas e seres históricos, religiosos e míticos.

A maioria  dos artistas principais da segunda metade do séc. XIX admirou-o ou foi influenciado por ele e poderemos citar V. G. Perov, V.I. Surikov, A. I. Kuindzhi, A. K. Savrasov, I. I. Shishkin, V. D. Polenov, I. I. Levitan, V. M. Vasnetsov, I. M. Pryanishnikov, N. A. Yaroshenko.

          -A pintura é a língua em que as nações falam entre si” - disse este  artista da grande Rússia, tão atacada injustamente nos nossos dias de decadência acentuada do Ocidente pelos seus dirigentes avençados e desgraçados. Saibamos antes dialogar e comungar multipolarmente através da verdade, da cultura  e em especial da pintura, e em sintonia com Karl Pavlovich Bryullov que, na sua comunhão com a grande Alma Europeia (e em 1988 escrevi eu A Grande Alma Portuguesa, a partir de alguns textos inéditos de Fernando Pessoa) conseguiu unir pelo coração ígneo as duas extremidades da Europa - Portugal e a Rússia - , numa dramática pintura consagrada a uma das mestras mártires do Amor perene, ou da união "até ao fim do Mundo": Inês de Castro...:  

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Cartas de cura, transmutação e gratidão intensificam sempre o fogo do coração perene.

                                     

Outrora pelas cartas circulavam muitas energias valiosas das almas, e quando eram abertas derramavam os seus eflúvios magnéticos e anímicos e causavam reacções fortes.  Depois, passam os anos, as décadas, os séculos, e tudo isso que se depositou nas profundezas das almas, se as cartas escaparam à sua fragilidade material e foram preservadas, pode subitamente renascer e provocar conversas, estudos, impulsões, transmutações. Certamente há as mais modestas nos seus efeitos, fazendo relembrar  momentos mais difíceis ou mais felizes, mais criativos ou mais esperançosos, frequentemente amorosos, familiares, espirituais. Todos nós as escrevemos, todos nós as recebemos, pelo menos até começo do séc. XXI, quando a comunicação digital as relegou para os museus públicos, particulares, imaginários mas todos desfrutámos (e poderemos desfrutar) de tal comunicação animada pela mão quente e o coração ardente, e como isso encantava, agia subtilmente...
Esta carta foi escrita pela Manuela, que conhe
ci quando ensinava Vedanta e Agni Raj Yoga no Porto há já bastantes anos, no restaurante macrobiótico Suribachi, à rua do Bonfim, ainda hoje a funcionar e bem, mas o tempo encarregou-se de nos afastar e já não sabemos se ainda peregrinamos em simultâneo na Terra, como então realizámos nas aulas, meditações e "visitas de estudo" ao Sant'Anna Dionísio, à Dalila Pereira da Costa e à Natureza. Patenteia a fase difícil mas bem introspecionada que a Manuela passou, com vários choques, o apoio que lhe dei com livros, cartas e meditações e a sua transmutação anímica, saída para a luz e abertura à unidade perene, numa vontade aprofundada de viver grata, harmoniosa e amorosamente.
Oiçamos a Manuela, e muita Luz e Amor na sua alma:

           Querido amigo:
Já consigo respirar, andar e sorrir. Estou novamente em paz Sofri um pouco, mas quão bem me fez espiritualmente. 
O seu livro " O Caminho" é extraordinário. Ajudou-me muito.
A vinda do Pedro a minha casa foi determinante no processo da minha cura, assim como as cartas que me escreveu. Obrigado pelas algas e pelo livro sobre a Macrobiótica.
Estou muito gorda (70 Kg). Espero que em breve comece a perder um pouco desta gordura porque me incomoda bastante. Os remédios abrem o apetite e engordam um pouco. Além disso, o meu estado de abatimento levou-me a uma super-alimentação como compensação. Os choques foram muito fortes e simultâneos, sofri mais do que poderia pensar que um ser humano tivesse capacidade de suportar. Meditei muito sobre o significado da vida. 

Agora só quero respirar e ter saúde para  poder viver aqui e agora, no eterno sempre presente. Eu, consciência, impessoal, unido ao todo, abarcada por este. Viver aqui e agora, mas como se estivesse já no outro lado, na outra margem. A vida às vezes quase me sufoca. Sei que existe algures algo que me poderá dar essa religação espiritual que tanto anseio. Agora, assim, sinto-me por vezes alheada de mim mesma e um pouco só.
Mas como
é bom estar vivo! Quero tanto viver! Amo tudo o que existe. Passo pelas flores e pelas árvores e toco-lhes suavemente como se acariciasse uma velha amiga. Olho para tudo como se fosse pela primeira vez porque os meus olhos vêm realmente de uma maneira diferente. Sinto-me mais perto de tudo e de todos e principalmente estou mais preparada para partilhar o sofrimento dos outros.

Se não existisse o Pedro, eu não estaria neste momento com esta vontade de crescer, criar e amar. Por tudo o que me doou, ser-lhe-ei 
eternamente grata.
                                                        Com todo o carinho
                                                             e estima,
                                                                       Manuela.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

As Cartas de Amor são sempre perenes, pois os sentimentos vividos são ainda hoje ensinamentos vivos.

 As Cartas de Amor são sempre perenes, pois os sentimentos vividos são ainda hoje ensinamentos vivos, vivenciáveis...

Nem sequer importa muito a qualidade literária, mas sim o que emana animicamente delas, o que vai ressoar em nós e impulsionar-nos ao amor e à música das suas esferas: dó, ré, mi...

Eis uma carta que subitamente me saltou dum opúsculo, e que me projectou para esta notícia e texto, para esta comunhão com almas já partidas da Terra mas que deixaram sinais que permitem comunicações subtis e iluminantes....

A carta, simples, anónima, ou seja, não assinada, é verdadeiramente um bilhete de amor, uma sorte grande sentida e saída com toda a simplicidade, para o ZéZé, e proclama: 

«Meu querido Zézé

O ver-te foi um mero acaso, porém amar-te foi uma coisa muito simples. Pela primeira vez que te vi, o meu coração fez   ré mi sol la si »

Está ainda animada por duas flores, rosas rosadas me parecem, outrora fragrantes, agora apenas com grande esforço de concentração, com sucessivas respirações profundas e de olhos fechados, é que deixarão desvendar-se alguma subtil imagem ou sensação da origem, colheita, tratamento, envio e recepção.  Pétalas que miraculosamente, na sua fragilidade, atravessaram mais de um século para nos chegarem às almas, com o seu amor e perfume secreto, com tudo  que se associou a esta pequena folha florida amorosa, ainda irradiante, ondulante, como as pétalas denotam...  


Não podia deixar de homenagear este amor misterioso e as duas almas que o encarnaram, e a esta mensagem lançada no oceano agitado da manifestação, de Maya e de Narayana, adicionei a minha hermenêutica e saudação:

                                  

«As cartas de amor, mesmo anónimas, são perenes. O sentimento que as animou outrora, deixou as suas vibrações na matéria subtil da cartas e quando as lemos ressuscitamos as suas misteriosas origens, características e ensinamentos: uma mulher firme, simples, musical, alegre e consciente do coração espiritual - aquele que ora, canta, irradia, ama - está connosco e comunga na eternidade, mas com que cores e flores cada um que o sinta ou intua...»

Possa o Amor Divino brilhar mais neles e em nós, pois cada escrita, aspiração ou acção de Amor é eterna, é perene, é benéfica...