![]() |
Como terá sido animicamente a desincarnação de Jung? Estava desperto para avançar logo no além em corpo psico-espiritual? Receberam-no, ou acompanhou-o alguém? |
Pedro Teixeira da Mota
Efemérides, Livros, Arte, Amor, Religiões, Espiritualidade, Ocultismo, Meditação, Anjos, Peregrinações, Oriente, Irão, Índia, Japão, Índia Mogol, Rússia, Brasil, Renascimento, Simbolismo, Tarot, Não-violência, Saúde natural, Ecologia, Gerês, Nuvens, Árvores, Pedras. S. António, Bocage, Antero, Fernando Leal, Wenceslau de Morais, Pessoa, Aug. S. Rita, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva, Dalila P. da Costa, Pina Martins. Pitágoras, Ficino, Pico, Erasmo, Gior. Bruno, Tolstoi, Tagore, Bô Yin Râ
sexta-feira, 26 de julho de 2024
Jung, na demanda da Luz do inconsciente, foi um shaman? Marie-Louise von Franz: "C. G. Jung, o seu mito no nosso tempo". Nos 149 anos do seu nascimento.
quarta-feira, 24 de julho de 2024
Das jaculatórias, aspirações ou exclamações, orações breves e intensas. Exemplos da tradição espiritual portuguesa, e da universal.
Emblema 1 da Pia Desideria, desenhada e gravada por Boetius Bolswert, em 1624. Do peito da alma partem as flechas dos desejos ígneos, piedosos, iluminantes. |
Jaculatórias: Todas
as exclamamos ou exprimimos, em todos nós afloram, do nosso interior brotam e
desaparecem, e o que fica dos seus efeitos entretecido na nossa alma e cérebro, além da melhoria de claridade interior e transformações anímicas,
pouco sabemos ao certo, apenas em alguns rasgos de clarividência se discernindo padrões e floreados atingidos ou emanados...
Certamente na vida espiritual de cada um e de cada dia há altos e baixos, tempos em que elas surgem e exclamam-se mais naturalmente e eficazmente, outros em que temos de as escolher e praticar, perseverando mesmo contra securas, desânimos, desalentos.
Como as exclamamos, ou seja como as sentimos e com que sentimentos, intenções e consciência as pronunciamos, influencia bastante o seu alcance e efeitos e por isso se não há sincera adesão, sentimento ou comunhão com elas, se não correspondem mesmo a aspirações nossas, duram pouco, desvanecem-se, afogam-se sobre as ondas incessantes dos pensamentos e preocupações.
As
jaculatórias, as orações curtas, tanto abrem um caminho interior
como exterior de elevação energético-consciencial e há que estar bem atentos para conseguirmos discernir o tingir ou modelar do espaço subtil e anímico.
As jaculatórias ora
invocam ora afirmam um ser ou um estado de energia-consciência, e tanto o pedem, como trabalham, como adoram, como irradiam.
Elas correspondem em muitos casos ao japa ou repetição de mantras indianos (em geral recebidos na iniciação), ao zikr ou repetição do nomes divinos islâmicos, e cada pessoa devia escolher algumas e cultivá-las com regularidade e perseverança, nem que seja uns minutos, para depois se poder entrar em estados mais silenciosos, contemplativos, de amor pacificante ou fortificante...
Podemos
ter algumas orações breves ou jaculatórias específicas para certas ocasiões ou situações. Por
exemplo, ao sair de casa, assumir-se uma e ver até se há
outras que se afirmam posteriormente mais. Ou quando tomamos banho e limpamos a casa, ou peregrinamos nos campos e subimos montanhas. Ou ao deitar-nos e ao acordarmos, alturas em que podemos observar como elas se encadeiam com outras, ou como se geram com originalidade e se desvendam.
As jaculatórias tanto nos defendem de negatividades e agitações dispersivas exteriores e reforçam certas energias ou qualidades como num dos seus níveis funcionais importantes tendem a elevar-nos a níveis mais próximos da nossa identidade ou ser íntimo, o espírito e, consequentemente ao mundo intelectivo, espiritual ou mesmo divinal e podem comparar-se, ou considerar-se, uma aproximação ao estar na presença de Deus, ao caminhar diante de Deus, como algumas das nossas místicas antigas tanto tentavam alcançar.
A jaculatória, dirigida a qualidades, seres espirituais ou à Divindade pode ser praticada, observada ou desenvolvida ao nível do corpo, da respiração, da palavra, da mente, do intelecto, do coração e da visão, e é importante tanto o sentir ou mesmo contemplar da sua acção dentro de nós e ou acima de nós, como também o afecto, o sentimento, o amor dinamizados, já que têm a ver com a vontade, com a intensificação sentida de todo o nosso ser e que, por vezes, no seu máximo, ressoa e desperta tanto o nosso querer mais profundo de alcançarmos o nível do que a jaculatória exprime, como também o nosso próprio ser-espírito, sobretudo se a jaculatória o exprime ou invoca mais especificamente, tal: "Viva o espírito imortal", ou a afirmação-oração-mantra dos espirituais indianos de Sat Chit Ananda, eu sou Ser Consciência Felicidade.
Quando pronunciamos as jaculatórias com todos os níveis do nosso ser em acção a
eficácia dela é maior no colorir ou qualificar a nossa aura nessa
ligação ou caracterização específica, no unificarmos mais as nossas potências, no abrir-nos mais ao espírito e ao divino, em tingir-nos ou encher-nos mais das forças espirituais e
divinas. E o irradiarmos tais energias, quando as proferimos em prol de pessoas com problemas ou que já desincarnaram.
As
representações dos santos e santas aureolados exprimia em certos artistas a consciência que tinham dessa unificação ou plenificação anímica, desse brotar da semelhança de Deus, ou seja
do corpo de Glória, o xvarnah iraniano, o augoeides grego, que todos possuímos em potencial e que nos seres mais luminosos e abnegados resplandece mais, embora certamente com o tempo tais aureolas e esplendores passaram a ser símbolos indispensáveis da representação dos santos e não correspondendo a uma intuição ou conhecimento do artista que os pintava ou desenhava. Mas ao contemplar-se o ícone e ao pronunciar-se (silenciosamnte ou não) a palavra, invocação ou jaculatória diante dele, tais estados luminosos eram mais facilmente vivenciavéis pelos fiéis.
Suponhamos esta oração ou jaculatória brotar sentidamente de nós: - "Meu Deus, eu aspiro ardentemente a ti". Ela indica já uma certa ignicidade da alma, ou seja, o centro do coração está em acção, em irradiação, o que se vai intensificar se ela é mantida, usufruída, aprofundada. Na tradição portuguesa, embora seguindo a tradição europeia rosa cruz, um mantra desta linha ígnea foi pesquisado e afirmado por Fernando Pessoa ao parafrasear ou desdobrar as iniciais que encimavam a cruz de Jesus Cristo, INRI, como significando In nobis regnat Ignis, ou ainda In nobis ressurget Ille, ou seja, "Em nós reina o Fogo", ou "Em nós ressurge Ele", o Cristo, Deus, ou o fogo do Espírito.
Viva Deus, santo Amor, é outro mote, tal como o Non nobis, Domine, non nobis sed nomini tuo da gloriam, dos cavaleiros templários, ainda hoje operativos como jaculatórias. Mas certamente as melhores jaculatórias são as que tendem a exclamarem-se, a suspirarem-se, a arderem de dentro de nós, por vezes para serem mantidas secretamente, apenas emanadas silenciosamente, outras vezes para serem partilhadas em cantos ou meditações e orações grupais.
Na tradição religiosa e espiritual portuguesa houve vários autores que escreveram sobre elas (tais como P. Diogo Monteiro, P. Manuel Bernardes, Frei António das Chagas) e místicas e místicos que trabalharam mais especificamente certas jaculatórias e transmitindo-as aos seus próximos, umas vezes criando-as por si mesmas, outras vezes adaptando orações tradicionais, tal como a Soror Ignês de Jesus que abreviara o Pai Nosso e a Avé Maria, ao rezá-las como jaculatórias, dizendo apenas "Pai Nosso que estais nos Céus" e "Avé Maria cheia de graça". Bastava-lhe tal, para em pouco tempo entrar em estados de interioridade e profundidade de consciência, em sintonia sagrada e divina.
Por vezes as jaculatórias estabilizam-se ritmicamente seguindo a inspiração e a expiração e acalmando o mental, outras vezes entretecem-se e geram escadas ascendentes e ritmicas de sentidos e invocações fecundantes, transfigurantes,
Das jaculatórias cristãs ou portuguesas mais conhecidas poderemos relembrar ainda: "Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos", o "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, Amen", o "Eu amo-vos de todo o meu coração, de toda a minha alma, de todas as minhas forças", e ainda a clássica da tradição hesicasta e peregrina russa, na sua forma mais extensa (que pode ser abreviada): "Senhor Jesus Cristo, filho de Deus Vivo, tende piedade de mim que sou um pecador".
Para finalizar, oiçamos e recebamos algumas jaculatórias da seiva ardente de duas das nossas sorores místicas. Da Madre Brízida de S. António (1576-1655): "Imensa Bondade", "Eternidade para sempre, para sempre glória a Deus", "Mãe de Deus valei-me", "Meu Santo, lançai-me a vossa bênção". E da escalabitana Soror Inês de Jesus, (1641-1728):"Ó Bondade infinita, ó Pai da minha alma" e "Ay Amor, Amor, Amor!"
Boas jaculatórias, meditações, unificações, irradiações...
segunda-feira, 22 de julho de 2024
"Pia Desideria" ou "Desejos Piedosos": o III Livro, e os seus 15 emblemas reproduzidos e brevemente comentados.
Com os seguintes quinze emblemas levemente comentados, concluímos a transcrição das gravurinhas devotas do mais editado livro de emblemas do séc. XVII, a Pia Desideria emblematis Elegiis & affectibus SS. Patrum illustrata, isto é, Desejos piedosos ilustrados por emblemas, elegias e sentimentos dos santos Padres, escrita pelo sacerdote e humanista Herman Hugo (1588-1629) e impressa pela 1ª vez em 1624 em Anvers ou Antuérpia, então o grande centro tipográfico do livro religioso de imagens na Europa dilacerada pela Reforma, quando os religiosos católicos tentavam transmitir as suas ideias publicando tanto em latim, como em francês, flamengo ou em outras línguas europeias, em Portugal publicando-se a 1ª versão em 1688.
Frontispício da 1ª edição da Pia Desideria, de 1624. |
A obra foi ilustrada por notáveis gravadores, tais como Boetius Bolswert (a 1ª edição), Christoffel Sichem (a 2ª), Antonie Wierix, ora sobre cobre ora sobre madeira. Debaixo de cada emblema estava inscrita em latim a legenda, que era um pequeno excerto da Bíblia (a maioria do Cântico dos Cânticos), desenvolvida depois numa reflexão meditativa em forma de poema e, por fim, comentada com múltiplos excertos (referenciados) de Padres da Igreja e da Bíblia.
Emblema, legenda com versículo bíblico e poema comentário. No emblema um andarilho anímico: quantos de nós não precisamos deles (...) e do apoio-estímulo dos espíritos celestiais? |
Dividida em três Livros num caminho ascendente de purificação, santificação e união da alma (com o Anjo que simboliza tanto o Amor, como o mestre Jesus, como Deus), tal como os títulos indicam Gemitus Animae Poenitentis, Gemidos da alma penitente, Desideria Animae Sanctae, Desejos da Alma Santa, e Suspiria animae amantis, Suspiros da alma amante, cada um dos livros contém quinze emblemas. Tendo publicado já os primeiros trinta, passamos a reproduzir os do último ciclo, Suspiros da alma amante, na realidade o mais pleno de amor unitivo:
O apaixonado deseja saber do ser amado e reencontrar-se com ele. A alma ferida pelo Amor a quem seja, ao mestre ou a Deus sofre enquanto não os vê ou encontra. |
A bússola do coração aponta para quem ele ama e guia-nos na sua direcção. |
A Alma que ama profundamente facilmente se derrete e alegra sob o fogo do coração e da palavra do Amado. |
O Amor em mim não me deixa presa aos bens da Terra ou do Céu, e só a ti aspiro e suspiro, ó Amor, ó Anjo, ó Mestre, ó Divindade |
- Longe do mundo espiritual, até quando peregrinarei por terras alheias em vez de estar mais unido a ti? |
"Sou como uma ave presa por um fio à Terra e quero elevar-me livremente e ascender para Ti", exclama a alma nos seus momentos de maior devoção amorosa e aspiração divina. |
"Livrai a minha alma da gaiola e prisão, permiti-me dar testemunho do teu nome e ser", exclama a alma para o seu espírito, anjo, mestre e forma pessoal da Divindade... |
Tal como a gazela ou o veado anseiam pela fonte fresca, assim a minha alma te deseja, ó espírito, ó Amor, ó bem Amado, ó Divindade. |
Aspirar a conseguir aproximar-nos da mestre ou da Divindade e podermos contemplar a sua face, deve ser uma prece incessante, um fogo latente no coração... |
Que a nossa oração seja a de pedirmos asas para podermos elevar-nos acima das transitoriedades e inutilidades e podermos comungar mais com a realidade espiritual, perene, divina. |
Fujamos das multidões e agitação, meu amor, e vamos para os montes e montados, onde as aves e os animais se exprimem livre e harmoniosamente por entre os aromas das ervas e flores. Saibamos elevar-nos aos montes ou estados expandidos de consciência e transfiguradores em Luz, Poder e Amor. |
domingo, 21 de julho de 2024
Da demanda da vera efigie de Jesus Cristo e da sua óptima contemplação...
![]() |
Jesus trinitário, e não triteísta, no museu de Folclore de Salzburg, séc. XVII. |
Descobrirmos a vera efígie de Jesus Cristo é certamente uma das mais difíceis demandas da história religiosa, artística e cultural da Humanidade, pois apesar de haver milhões de representações de Jesus, ninguém tem conhecimento e autoridade suficiente para afirmar que esta é a mais próxima ou fidedigna, a que se poderia considerar quase feita ao vivo e, portanto, que quem a contemplasse, mais do que as indulgências costumeiras antigas (100 dias de absolvição para quem rezar um Pai nosso e uma Avé Maria diante delas), ficaria com o acesso facilitado ao Mestre, no sentido de tanto ele poder mais adequadamente manifestar-se dos mundo espirituais através de tal imagem, como igualmente os contemplantes conseguissem sentir mais as correntes do seu amor, paz, serenidade, certeza e sabedoria.
Sim, em verdade, se alguém sente que está diante da vera efígie ou face de Jesus, que alegria, que responsabilidade, que intensificação energética e consciencial brotam em si por estar diante do Mestre?
Pensar-se-á mesmo: Que responsabilidade, o Mestre estar na nossa casa, na minha alma. Está ela digna da sua presença, ou a desarrumação ou impureza aqui e acolá não é muito consentânea com a sua radiação sublime?
Ícone português da vera efígie. |
Que privilégio admitirmos, aceitarmos, sentirmos que uma certa pintura, ícone, gravura ou desenho retrata provavelmente muito fielmente o mestre, ou que pelo menos lhe serve de canal de comunicação para connosco, e portanto podemos sentir os seus olhos e a sua boca falarem-nos....
Que fortificação e enriquecimento do nosso coração e alma, que aperfeiçoamento moral e ético ou ainda alegria e graça se geram na nossa alma pela contemplação da vera efígie?
Pois tudo isto é experimentável e vivenciável quando selecionamos uma ou outra imagem que se nos configura como um bom canal para as energias, bênçãos ou mesmo a presença etérica do Mestre.
![]() |
Ícone ortodoxo... |
Para quem não tem tanta inclinação para a meditação interior, ou mesmo para orações mais demoradas, quão mais fácil é apenas contemplar a vera efígie e desfrutar de tal visão abençoadora, na Índia chamada darshan.
O objectivo da contemplação é tornar-nos um com o ser ou realidade apresentado ou representado, e é o coração, a dimensão afectiva e amorosa, que sinaliza a osmose alcançada, com alegria, delícia ou, como dizem na Índia, com beatitude, isto é, ananda.
Um dos últimos verdadeiros espirituais da Índia, sSri Ramakrishna Paramahansa (1836-1886), mestre do mestre de um dos meus iniciadores, Swami Ranganathananda (1908-2005), disse mais de uma vez nos seus inolvidáveis satsang ou companhia da verdade, que nos tempos modernos o método principal de realização espiritual e divina era repetir-se o nome (nama) de Deus que mais gostarmos, sentirmos, ouvirmos ou sobretudo o nome incluído no mantra que recebermos numa iniciação.
![]() |
Fotografia ao vivo de Sri Ramakrishna Paramahamsa, em Calcutá. |
Pois nos tempos ainda mais modernos de hoje, em que o predomínio das imagens como fontes de conhecimento (e alienação) é extraordinário, podemos afirmar que a contemplação duma imagem sagrada, na Índia denominadas nas suas formulações geométricas yantra e mandala, e murti, imagem duma forma Divina, é certamente um dos melhores meios de acalmarmos a dispersão mental, purificarmos o seu conteúdo e unificarmos a nossa consciência com o que contemplamos e portanto avançarmos no caminho da religação espiritual e divina.
Entre nós, na Tradição Espiritual Portuguesa, religiosos e sobretudo as nossas sorores conventuais, cultivaram muito a devoção ao mestre Jsus e a Deus através de gravuras ou registos que tinham nas suas celas ou que inseriam nos seus livros de orações, por vezes entrando mesmo em estados intensificados de amor unitivo ao contemplarem-nos. A soror Mariana da Purificação, no preclaro convento da Esperança em Beja, talvez demasiado na peugada de S. Teresa de Ávila, foi uma das que relatou tais estados derivados da contemplação de uma imagem do seu querido mestre e Deus, que lhe intensificava a sua energia anímica e amorosa forte e exuberantemente, qual shakti da Índia.
Pintura de Bô Yin Râ. Original na sua Fundação em Massagno, Suiça. |
Nos nossos dias de tanta desinformação e manipulação, conseguirmos abaixar os olhos em relação ao mundo e aos seus media, e antes os dirigirmos para a vera efígie que mais nos apraz, e em alguns minutos nos determos diante dela em respiração, sentimento, adoração, gratidão é extremamente benéfico para nós e para todos os que animicamente estão em relação subtil connosco, mortos ou vivos.
Contemplar uma imagem de Jesus Cristo, ou de um outro mestre, mais demoradamente é como erguer um canal de Luz que faz descer sobre nós e os que estão ligados connosco valiosas vibrações, melhorando as nossas inspirações e conexões superiores.
Escolha então a vera imagem que mais sinta que gosta, pratique e verá então os bons resultados que gera...
Dia 21 de Julho de 2024, e XXI no Tarot, o Mundo, a carta da harmonia ou mesmo da perfeição possível. Boas contemplações!
sábado, 20 de julho de 2024
Os shamans, e seus poderes, vistos por Marie-Louise von Franz, Carl G. Jung e Mircea Eliade. Reflexões a partir de "Jung, seu mito no nosso tempo."
O capítulo V, a Viagem no Além, foi o que nos atraiu e, da pequena travessia das suas letras, ideias e vivências, eis alguns dos aspectos questionáveis ou notáveis:
No primeiro parágrafo encontramos logo uma afirmação bem discutível: «Ao lado do sacerdote, que vela sobre o ritual e as tradições da sociedade, encontra-se a figura do shaman, que se distingue por uma experiência individual dos espíritos (ou seja do que nós chamamos hoje o inconsciente) e que é especialmente responsável pela cura de indivíduos e de problemas da colectividade».
A fonte adoptada por Marie L. Franz é Mircea Eliade e o seu livro o Chamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase.
Ora é enganador, ou então reducionista, considerar que os
espíritos são o inconsciente. Podemos quanto muito dizer que o
mundo dos espíritos não nos está consciente, ou que quase sempre
estamos inconscientes deles, mas considerar que entidades individuais
e determinadas são apenas aspectos ou configurações que brotariam
do inconsciente é errado.
Tal perspectiva só poderemos considerar útil se pensarmos e
admitirmos que, no nosso mundo inconsciente e pelos sonhos os espíritos podem-se
manifestar mais, uma vez que a nossa racionalidade diminui e um
funcionamento psíquico acontece no qual, para além de meras
associações e limpezas, pode haver um ver, agir e ser influenciado
por entidades nos mundos subtis, os quais se subsumiram no termo inconsciente,
na linguagem de Freud e de Jung.
Jung e Marie-Louise von Franz diminuem assim o discernimento duma visão de entidades seja no plano astral seja no espiritual e propõe antes uma espécie de saco vago e amplo, o inconsciente, acessível pelos sonhos, as imaginações, os desenhos e não tanto pela visão determinada espiritual sobre certos níveis do pluridimensional universo.
Neste sentido também o enaltecido caminho para a individuação, de Jung e da sua escola, não é tanto o da ligação directa com o espírito, ou ao
espírito, mas antes uma estruturação psíquica segundo certos
moldes arquétipos e que não implica um eu espiritual como a meta e
essência de cada ser, mas antes um vasculhar, compreender e ordenar os conteúdos psíquicos internos de modo a que um eu mais são e total se afirme.
Maria-Louise von Franz diz-nos ainda que «é o shaman que cura os doentes pelo
seu transe, que acompanha os mortos no reino da sombra e
quem serve de mediador entre eles e os seus deuses. Num certo sentido ele
vela pelas suas almas».
Eis afirmações algo mistificantes, possíveis em vários shamans, sobretudo os
mais dotados de poderes psíquicos, mas de modo algum com o tipo de domínio pleno ou
absoluto como nos tentam apresentar.
Quantos shamans antigos ou actuais conseguem ver a ascensão das almas, quantos conseguem acompanhar na visão, ou pela energias que consigam enviar, uma alma no caminho ascensional post-mortem, tão individual, tão subtil?
Uns poucos, os que conseguem ter a visão psico-espiritual aberta, limpa, algo difícil pois as ervas e poções que ingerem podem distorcer os seus finos sensores psico-espirituais...
Bem podem clamar de novo Mircea Eliade e Marie-Louise von Franz que o shaman serve de mediador entre eles e seus deuses, quando em geral os
deuses representam entidades subtis de planos bem próximos da Terra
e que nem exigirão grandes mediações, embora certamente quem faz
as danças ou orações trabalha com energias que podem alimentar entidades ou deuses, e impulsionar a
elevação dos mortos, facilitando a abertura dos sentidos das almas dos que
partiram para os planos de vida desses deuses, desses anjos da
Natureza e de tradições regionais ou tribais.
Um
pouco mais à frente encontramos mais uma afirmação mitificante ou
exagerada de Mircea Eliade, algo frequente, e em geral diminuindo a
força espiritual de cada ser: «O shaman, diz Mircea
Eliade, é o grande especialista da alma humana: só ele a vê, pois
ele conhece a sua forma e o seu destino».
Afirmação exagerada e algo absurda: primeiro, como se só ele tivesse
clarividência; segundo, como se a vidência que ele possa ter seja assim
tão segura que veja a essência do ser, o seu estado presente e o seu futuro, que dependem de tantos factores. Sabe-se que a maior parte dos shamans tem uns vislumbres (maiores ou menores) dos planos do
Cosmos mais próximos do físico terrestre, frequentemente ligados a
espíritos elementais e de animais e aos seus antecessores. Como poderá ele discernir tão
facilmente a essência espiritual de cada ser e adivinhar o
desenrolar da sua vida, nomeadamente nos planos subtis que tão íntimos são, a não ser que tenha recebido da tradição um mapa arquétipo no qual deduz ou intui a estação da alma desencarnada?
Em seguida refere Marie-Louise como certas viagens no além podem ser vividas em sonhos e como desmembramentos e mortes sucedem nessa linha iniciática de morrer e renascer, que Mircea Eliade e muitos outros antropólogos têm encontrado por toda a parte. Este aspecto é correcto, e os contos tradicionais de enfrentamentos com lobos ou outros seres que nos tentam desmembrar, comer ou matar reflectem iniciações transmitidas por oralidade e vivenciadas nos mundos subtis e em sonhos, e que visam despertar a força de vontade dos jovens, o discernimento do mal e capacidade de lhe resistir.
Faltará ainda discernir com mais exactidão em que níveis se peregrina no além, e se os espíritos que falam pela boca do shaman podem ser guias elevados inspirando, ou mesmo imagens do Eu espiritual dele, ou apenas possessões interiores por entidades menores ou mesmo imaginações do seu inconsciente dinamizado nessas sessões por vezes bastante intensas e emotivas
Um dos aspectos mais interessantes, pelo que pode apontar para a alma complementar ou gémea, ou ainda mesmo para um mestre como guia, será o que narram Eliade e Marie-Louise: «Muitos shamans possuem assim uma esposa celeste invisível, outros têm como auxiliar supremo o espírito de um grande shaman defunto, um velho sábio que os conduz, e que frequentemente, durante o transe fala directamente através da sua boca». E assim pode suceder, sobretudo em sociedades tradicionais, com ligações que perduram de mestre a discípulo, mas, repetimos, o entrar em transe, as incorporações de entidades (que podem ser de todo o género), o alguém falar por nós, são métodos que não levam necessariamente a planos e conhecimentos elevados, nem a estados de harmonia e saúde...
´«Ter a visão dos espíritos, no estado de vigília ou de sonhos, é o sinal mais importante da visão shamanica, diz-nos Marie-Louise, acrescentando que frequentemente o shaman compreende igualmente a linguagem secreta dos espíritos ou dos animais, em especial das aves».
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOIoK1d5eLo-8wd_VSNT-MvALYyTnSi2b86mymXEAmUdlrWH6wIL9f1YEajlun2SVkqtwZz9atDN1PI4mbZL8MhozBj7e-tRFTXPdUirBIh136NHVpzhk-S-0n_It1_h7i-WAXf3pP-ebz4GPHgMBwaqEjlVnkwE8m8WLklMWVqsbhXBTDTuM-grXCe1Yo/s1600/images.jpeg)
Uma shaman na Coreia, povo onde ainda se conserva bastante tal tradição.
Estas afirmações de Mircea Eliade e Marie-Louise von Franz, embora reconhecendo a importância da clarividência, ou uma ligação tradicional, acabam por ser superficiais pois, mais do que ver espíritos, importa é o nível e o controle que se tem, pois pode ser apenas uma vidência de origem atávica ou genética, e portanto muito terrestre e que não foi obtida por merecimentos e realizações próprias.
Entender que a fala dos espíritos e dos animais e aves é algo ao mesmo nível é pouco exacto, pois são níveis e linguagens diferentes, embora certamente o amor do coração emanado, a empatia e harmonia com eles seja o mais importante. Mircea Eliade e Marie-Louise von Franz são em vários aspectos mais teóricos, esotericistas do que conhecedores, iniciados e provavelmente pouco ou nunca dialogaram com animais e aves, nem sentiram a unidade com eles, seja individualmente seja em grupo. Nem viram com o terceiro olho a Luz espiritual que nos banha.
Para concluir este breve apontamento a um livro ainda assim com valor, destacaremos do que relatam ou especulam a afirmação que os shamans inventam as suas canções e orações, pois tal é certamente algo que todos devemos fazer, de modo a libertar-nos de padrões e a conseguirmos orar e elevar-nos da mente para o coração e deste para o espírito, os mundos espirituais, a anima mundi onde vivamos, para o divino que cada um possa alcançar, e a Verdade que possa discernir e realizar.