domingo, 24 de março de 2019

"Em redor de Antero", pelo padre António Maria Pereira Barros, em 1995. Crítica de Pedro Teixeira da Mota.

Qualquer ensaio sobre um escritor e a sua vida e obra é sempre, por maiir imparcialidade objectiva que se queira assumir, uma projecção das nossas ideias e conhecimentos, pensamentos e sentimentos, desejos e ideais, ou mesmo preconceitos e intencionalidades...
Quem  o vier a ler, ainda que  tente discernir os véus postos ou as distorções efectuadas, vai recebê-los, sorê-los  e acrescentar os seus, e de tal modo se adicionam influências e possíveis distorções que o melhor meio de conhecimento ainda será lermos directamente o autor e estudarmos os factos históricos da sua vida, ainda que isto, novamente, seja  indirecto, a menos que seja nosso contemporâneo ou haja gravações e filmagens...
Como a compreensão da vida e obra de alguém depende de muitos factos e circunstâncias, desejamos investigar melhor quem foi, como dialogou e viveu, o que compreendeu ou realizou, disto resultando acerca de certos autores quase infinitos estudos, por vezes apenas repetindo as mesmas informações ou opiniões, e pouco ou nada acrescentando de lúcida observação, de comparação sincrónica de afinidades e influências e de subtil intuição do interior de tal ser, mas como há sempre devotos e curiosos de tais autores, qualquer publicação é apreciada, ou pelo menos consumida, imediatamente por tais admiradores...
Ora quando um autor por vários motivos, activos, afectivos e intelectuais se destaca e deixa uma obra magnífica e com aspectos misteriosos na sua vida, que como sabemos é sempre única e fugidia na sua essencialidade e totalidade, mais natural é multiplicarem-se as hipóteses explicativas, os livros, os colóquios, os debates. Estão neste caso entre nós nos últimos séculos sobretudo Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Antero de Quental e Fernando Pessoa, e antes referiremos sobretudo Gil Vicente e Camões.
Em redor de Antero chamou ao seu ensaio interpretativo, publicado em Matosinhos, em 1991, o Padre António Maria Pereira Barros, e se em alguns aspectos vê e ressuscita (como ele próprio afirma) bem Antero de Quental, noutros, levado pela sua premissa de que Antero saindo da fé Católica, recusando a existência de Deus, ficara na escuridão e sujeito ao desânimo, conclui que foi isso que o levou ao suicídio. Assim talvez acabe por acrescentar mais  véus e não chegar à visão mais profunda e completa possível, essa a que todos aspiramos...
Também por  outras caracterizações de Antero de Quental, o padre António Barros parece exagerar ou errar. Todavia, como respeitamos a sua obra e cada um deve discernir o que é a verdade, questionaremos apenas certas afirmações ou conclusões, sem querermos ser dogmáticos e afirmar que a nossa visão ou compreensão, ou a de outros, é a melhor. Transcreveremos então aspectos mais significativos do que foi pensado, sentido, imaginado e escrito pelo padre António Barros acerca de Antero de Quental, ora elogiando ora contrapondo a nossa ou outra interpretação ou hermenêutica.
Antes demais apresentemos da obra, um in-4º de 164 páginas de amplas margens e letra grande, com a seguinte divisão em capítulos: 1 - O Berço de Antero. II - A Aventura do Continente. III - O Lutador Inconformista. IV - Antero, Filósofo? V - O Sonetista, desdobrado em: 1 - O Drama de Deus, 2 - O Drama do Amor, 3 - O Enamorado da Morte, 4 - O Idealista da Morte; e, finalmente, o VI e último - O Soneto mais trágico.
Açores, ilha de S. Miguel. Furnas. Com Alfredo Cunhal Sendim e Joakin Malik. 2018.
No 1º capítulo, após uma bela descrição da força vulcânica e da beleza natural da ilha de S. Miguel, interrogando-se sobre o que  teria Antero de Quental sentido  em criança face a tais maravilhas, destaca ter sido ele, aos quatro anos de idade, aquando de um terramoto, encontrado a rezar no quarto; e aos 10 anos a sintonia e arrebatamento que vivenciou ao ler a longa e solene Ode a Deus de Alexandre Herculano, que transcreve na sua totalidade, considerando um sinal «da alma tenra e pura de Antero». A mãe é apresentada como a grande influência carinhosa e de educação cristã na vida de Antero, embora seja algo pintada por António Barros, padre: «E com que solicitude o não acompanhava à igreja! Ela, mais por intuição que por razões, previa que o seu filho não podia ser feliz sem a aceitação, pela fé, das verdades que Deus revelara ao homem. Sem essas verdades, efectivamente, tanto o homem, como a vida, como o universo se reduzem ao absurdo. A alma converte-se em noite sem estrelas. Que o digam os últimos Diários de Miguel Torga.»
É inegável que seria interessante sabermos que intuições teve a mãe da singularidade ou mesmo genialidade do filho, entre os outros filhos. Ou até, acerca do seu misticismo e da sua veia revolucionária. Mas daí a pensar, ou nós, que quem recusa a doutrina ou a dogmática católica se condena ao absurdo e desespero é um salto desmentido pelos biliões de seres de outras religiões, ou fora de religiões, que tiveram vidas plenas de amor e de luz sem nada saberem do Cristianismo. Quanto aos últimos diários de Miguel Torga, aliás até comentados neste blogue, nada dessa tragédia niilista se sente, antes pelo contrário um homem visceralmente religioso nos sentidos mais telúricos e fraternos.
Também  exagerará ao pensar que  o seu misticismo era frequentemente alimentado na leitura da ode de Herculano, o qual «ia-o prendendo a Deus, a quem pensou servir no sacerdócio», embora saibamos que Antero tinha uma forte veia mística e contemplativa e afirmou por vezes em jovem o seu desejo de se tornar religioso. E que também ao longo dos anos valorizou a contemplação e meditação como meios de se resistir à brutalidade dos tempos modernos, expressando o desejo, no plano imaginal, de se criar  uma Ordem dos Mateiros, a qual é referida poucas vezes expressamente, mas várias em termos do que lhe está implícito de recolhimento face à dispersão e barulho, superficialidade e falsidade da vida social moderna.
No II capítulo, A Aventura no Continente,  depois de evocar bem o sortilégio da cidade de Coimbra, da sua luz e luar, António Barros descreve os nove anos estudantis de Antero, dos preparatórios e da Universidade, com bom conhecimento de causa pois,  tendo sido professor e padre, tanto apoia Antero de Quental na crítica aos programas e metodologias do ensino e mesmo às autoridades educativas locais e nacionais, como escreve mesmo: «A esperança de um povo reside efectivamente, no fulgor, na pujança, na actualização constante do ensino universitário (...) Daí, a responsabilidade tremenda do governo na escolha do ministro da Educação. Se este não estiver dentro dos problemas da cultura, se não for homem muito inteligente e de grande poder de decisão para resolver os problemas que, neste sector, surgem de momento a momento, converte-se em deplorável frustração e sujeita o país  a perder o comboio do progresso. Foi o que aconteceu no tempo de Antero e o que aconteceu, infelizmente, nas décadas seguintes, até aos nossos dias»...
Destaca no período estudantil a dificuldade de separar o trigo do joio nas imensas leituras em que Antero se envolveu, a  prisão por oito dias em 1859, a criação da Sociedade do Raio, entre 1861 e 1862, o sarau literário de recepção a António Castilho em Maio de 1862, a mensagem de recepção lida por Antero diante do rei Humberto de Itália em Outubro,  e a saída dos alunos da sala dos Capelos quando o reitor se preparava para discursar, em Dezembro e o consequente Manifesto dos Estudantes da Universidade de Coimbra à opinião ilustrada do país
De 1864, sintetiza bem a épica Rolinada, em Abril, e assinala a sua formatura em 8 de Julho. Dramatiza talvez, contudo, a agitação desta época recorrendo à descrição que dela faz Antero de Quental na carta a Wilhelm Storck em 14 Maio 1887: «o facto importante da minha vida, durante aqueles anos e provavelmente o mais decisivo dela, foi a espécie de revolução intelectual e moral que em mim se deu ao sair, pobre criança arrancada  do viver quase patriarcal de uma província remota e imersa no seu plácido sono histórico, para o meio da irrespeitosa agitação intelectual de um centro onde mais ou menos vinham repercutir-se as encontradas correntes do espírito moderno. Varrida num instante, toda a minha educação católica e tradicional, caí num estado de dúvida e incerteza, tanto mais pungentes quanto, espírito naturalmente religioso, tinha nascido para crer placidamente e obedecer sem esforço a uma regra reconhecida. Achei-me sem direcção, estado terrível de espírito partilhado, mais ou menos, por quase todos os da minha geração, a primeira que saiu decidida e conscientemente da velha estrada da tradição» concluindo desta confissão de Antero que este excerto da carta constitui a mensagem mais sentida de Antero aos descrentes de todo o mundo, ou ela não esteja  orvalhada de lágrimas e sangue».
Sem dúvida Antero parece confessar-se nessa carta, levemente mitificante, crente num destino temperamental de obediência sua a uma regra religiosa, algo que contudo não nos parece muito  compatível com o seu verdadeiro génio, daimon ou individualidade. E diz ainda que caíra num estado pungente de dúvida e incerteza mas,  se ele estava em grande demanda ou batalha pelo conhecimento, o que custaria deixar crenças consideradas inúteis, erradas ou desnecessárias? Quem quer certezas nessa idade? Não estava ele todo entusiasmado com os ideais da revolução, da justiça, da igualdade?
A carta de Antero de Quental a Wilhelm Storck não deverá ser tomada tão à letra....
 No 3º capítulo, O Lutador Inconformista, embora reconhecendo a validade das propostas de Antero  de transformações na Educação e no Estado, o padre Barros considera que, quanto à Igreja Católica, Antero confundiu os homens, falíveis, com a Instituição e a Revelação Divina, e que Antero, trocando-a pelo Naturalismo e Materialismo, pelos filósofos apóstatas e ateus, e ainda por Buda e o Não-Ser, sofreu a consequência de perder-se, pois o deicídio intelectual levaria ao suicídio do homem. Pode haver aqui alguma razão, sobretudo quanto a perder certa ligação via Jesus ao Divino embora Antero tenho seguido outros intermediários, ao longo dos anos, autores místicos da Igreja, como o da Theologia Germanica, o que é bem melhor que a pretensa Revelação Divina tão violea todo Antigo Testamento, e com uma concepção de Deus tão tribal e vingativa, que de modo nenhum cabia na sua alma idealista...
Ainda assim valoriza as revolucionárias Odes Modernas publicadas em 1865, "poesia de combate contra a sociedade corrupta e corruptora do seu tempo", bem como a polémica do Bom Senso e Bom Gosto e os escritos de então, considerando tais sacudidelas necessárias, tanto mais que defendiam o progresso, a liberdade e a dignidade do pensamento do povo português. Pena fora (diz) que, em vez de se fundamentar em Jesus, fizesse Antero a escolha fatal de tais autores perdidos e que acabaram por o tornar seja descrente e logo atormentado pela dúvida. 
Mas relembrando as dificuldades sentidas na luta de modernização da literatura e do pensamento nessa polémica que teve reacções fortes dos conservadores e amigos de Feliciano Castilho, elogia-o: «Antero possuía uma alma  grande,  porque cheia de grandes ideais.»
Já quanto à experiência de tipógrafo, primeiro em Portugal e depois França, para onde segue para "poder falar com mais verdade e conhecimento", António Barros falha quando o considera impersistente, valorizando porém o seu credo de justiça social e depois de socialismo, mencionando a fundação do jornal República em 1870 e, pouco depois da eclosão da Comuna de Paris em 1871,  as Conferências do Casino e a reunião com os enviados espanhóis no rio Tejo para fundação do núcleo da Internacional Portuguesa. Bem como os partidos dos quais surgirá em 1875 o Partido Socialista, e em 1879 o Partido dos Operários Socialistas, ao qual Antero concorre como candidato a deputado. A desilusão de Antero dos meios e movimentos  políticos é conhecida mas o Padre Barros não estará a ver bem quando afirma que Antero de Quental se isolou narcisisticamente, sabendo nós das suas fragilidades psico-somáticas, da sua forte exigência de sinceridade, verdade e absoluto e do seu amadurecimento psico-espiritual, o qual o fez desvalorizar de certo modo a sua função de ideólogo ou activista político e socialista, onde também constatava bastantes defeitos.
O 4º capítulo é talvez o mais pequeno e discutível pois o padre António Barros não considera Antero um filósofo, já que pensa que ele não criou um sistema filosófico e apenas conheceu e assimilou os diferentes sistemas. Como sabemos, Antero confessou  as dificuldades que sentia em escrever o seu sistema, ou ainda que se sentia mais Sócrates falante que Platão escrevente, mas  temos de reconhecer que todos eles foram filósofos, tal como Antero diz numa carta de 28-3-1885: «continuo pois especulando e tenho lido e pensado bastante, possuindo hoje um conjunto definido e ligado de ideias, como quem diz, o meu Sistema».  
Talvez devamos ver que Antero Quental foi antes um espiritual que discernia as incapacidades do materialismo de explicar seja a subtil consciência, seja a mais elementar sensação,  e o Padre Barros realçará e explicitará bem as posições desenvolvidas nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, resumindo-as em algumas páginas, destacando a sua defesa da imortalidade da alma, afirmada desde cedo com a famosa carta a Anselmo de Andrade, em 1866, ainda muito romântica, embora depois não fosse tão desenvolvida por efeito das influências da noção do Inconsciente de Edward von Hartmann e do Não-Ser do Budismo, sobretudo via Schopenhauer, que o impediram de ter uma consciência e vivência mais clara do espírito individual (o jivataman da Índia) que somos, ainda que tão identificados ao corpo que usamos e à alma e mente que desenvolvemos.
Talvez possamos acrescentar que se pode ser filósofo apenas pelas qualidades psíquicas de aspiração, sensibilidade,  seriedade e questionamento e sabedoria, ou não signifique a palavra filósofo, etimologicamente, amigo ou amante da sabedoria...
Talvez o padre António Barros esteja a ver mal quando acha que só nos Sonetos atingiu a imortalidade e transcendeu o seu tempo, pois embora o próprio Antero de Quental reconhecesse que seria por esse livro que ficaria na História da Literatura, não há dúvidas que o seu vasto epistolário é valiosíssimo e por ele se imortalizou tanto no efeito anímico nos destinatários como agora em todos nós que o lemos...
Açores, 2018. Comunhão das almas no infinito...
 No V capítulo, depois de muito bem identificar a alta qualidade dos sonetos por serem representativos das dores e aspirações do Homem Universal, e por haver lume na sua poesia, o padre Barros passa a analisar alguns sonetos, segundo quatro critérios ou temáticas: 
1 - O Drama de Deus. Comentando o último verso do soneto Mea culpa, "É de crer que só eu seja o culpado", escreve acerca dele: «E não se diga que era o destino de Antero. Não há destino traçado. O homem, sendo projecto porque inteligente e livre, constrói, responsavelmente, seu próprio destino. Voluntariamente aos dezoito anos, fechou à luz seus olhos heréticos, fascinados pela vã glória e alimentados por vão narcisismo. Vítima da sua decisão, enveredou por uma vida feita de noite, de dor, de desilusão, de lágrimas inconsoláveis, de tormentos, de angústia de que os seus sonetos são o cântico lúgubre».
Na verdade, se há sempre livre arbítrio e se os muitos condicionamentos que podem pesar sobre uma pessoa não a irresponsabilizam do seu projecto e percurso, já a ideia que por ter saído das crenças católicas e ter enveredado por linhas heterodoxas ou heréticas, devido ao seu pretenso "narcisismo", Antero fatalmente mergulharia no sofrimento que tinge muitos dos seus sonetos, parece exagerada pois há muita gente que sai e continua bem ou até crente em algo de Divino, assim como há muita gente que se conserva na Igreja, ou acredita em Deus, e sofre depressões e angústias. 
Mesmo imaginar a vã glória e o narcisismo de Antero como as causas do seu desvio ou fuga de Deus não me parece  correcto, embora possa haver alguns episódios da sua vida que tenham algo da hybris, da ousadia, tão criticada pelos gregos, tal como quando teria desafiado, no meio de uma tempestade de raios, Jehová a fulminá-lo, se existisse, embora até neste caso devemos relativizaros a pretensa arrogância ou vã glória de Antero de Quental, lembrando que Jehová é apenas uma concepção bem limitada, cruel e vingativa até, de Deus, e que mesmo a Divindade para Jesus, ou o Pai (seja Ele quem for...), nada tinha a ver com o tribal e violento Jehová, bem contestado não só nesse episódio como em vários outros textos e sonetos, aliás numa linha na qual já Bocage, companheiro de seu avô André da Ponte, se iniciara.
 António Barros, como religioso e católico, elogia muito dois  sonetos Na Mão de Deus e o «não menos maravilhoso soneto, soneto de esperança, e Solemnia verba, composto no dia em que fez quarenta anos, marcando sua passagem do pessimismo para o optimismo (...)», e assim seria uma homenagem a D. Vitória, mulher de Oliveira Martins «muito distinta e fervorosa católica. O soneto em causa pretende ser uma homenagem à sua fé. Daí não termos dúvidas de que ao escrevê-lo, Antero o fez recordando, pelo menos, o tempo em que era crente. Não esqueçamos  que o autor dos Sonetos, navegando embora, muitas vezes, em mares de dúvida, no fundo nunca deixou de ser uma alma profundamente religiosa. Viveu o drama de Deus. Quem não o vive? Que o diga, nos nossos dias, Miguel Torga?»  
 
 Acrescentemos apenas que o Solemnia Verba foi escrito em Paris, em 1877, quando Antero se apaixonou pela baronesa de Seillières, e é realmente autobiográfico, provavelmente a mais do que um nível, na sua sensação-intuição-reconhecimento forte do Amor. Quanto ao soneto Na Mão de Deus, embora posto como o último dos Sonetos Completos, sabemos que foi redigido em Março-Abril de 1882, e enviado em Maio a Alberto Sampaio, no fim de uma carta e antecedido da seguinte explicação: «Fiz, depois que aqui estiveste, mais um soneto, que aí vai. Não te assuste a palavra Deus. É um símbolo e ainda o melhor para exprimir uma certa coisa, que doutro feitio não caberia em verso. Pura liberdade poética.»
 A explicação sem "dúvida" do padre Barros fica assim relegada para um desejo seu e provavelmente só foi dedicado a Dona Vitória aquando da impressão dos Sonetos Completos prefaciados pelo seu marido  Joaquim Oliveira Martins, em 1886. 
 2 - O Drama do amor. Menciona ao de leve (e porque Antero era muito discreto quanto aos seus amores e logo pouco se sabe) os cinco apaixonamentos, nomeadamente o de 1877 nas termas francesas de Bellevue, com a baronesa de Seillière. E traz à liça as citações de Oliveira Martins, belas, sobre a qualidade do seu coração e amor, e como ele sofreu com isso. 
                         
3 - O Enamorado da noite: António Barros tenta explicar a predominância da noite na poesia e cosmovisão de Antero seleccionando três sonetos Luta, Nox e Consulta e tece algumas considerações ora muito prováveis ora muito simplistas, de dualismo radical e discutíveis. Oiçamos-lo:  «Desde que deixou extinguir-se a luz da fé, Antero mergulhou em infinita escuridão. Abandonou a crença que é luz para se refugiar na descrença que é noite.// Interrogou o mistério da vida, do sofrimento e da morte mas não encontrou a resposta luminosa que só a fé lhe podia dar. Ardia e tremia com o gelo do Infinito. A noite poisava, como asa negra, no coração do poeta.»
Esquece que crença e fé podem ser cegas e absurdas. E que além da fé sempre houve a via do conhecimento, da gnose, da iniciação, na qual Antero se ligou  por leituras, conversas e meditações intermitentemente, já que poucos na sua época compreendiam e se interessavam por tal, e referiremos Vasconcelos d'Abreu, Jaime de Magalhães Lima e Cirilo Machado.
Que diferença para os nosso dias, em que a relatividade das fés, crenças e religiões é cada vez mais evidente e como a divulgação de ensinamentos e práticas espirituais de todos os tempos e povos permite as pessoas saírem de crenças ou dúvidas para as vivências e visões.
E continua:«Na noite da desilusão forja-lhe a dor sua poesia metafisico-sentimental, única na História da Literatura Portuguesa. Odiava a luz que lhe mostrava as misérias da existência e a pátria humilhada e apática que ele queria despertar, da terrível sonolência em que a lançara a loucura dos políticos, para uma vida nova que a tornasse digna aos olhos dos portugueses e estrangeiros. Entre o ideal longínquo e o real cruel que continuamente presenciava, seu coração balançava e tremia de frio, deixando-se envolver pela noite do desânimo e do pessimismo. Odiando o dia, quantas vezes não levantava voo nas asas da sua imaginação, pela noite dentro, pelos espaços sidéreos, alucinado, à procura do segredo da vida, para regressar à terra, desiludido, com os mesmos sonhos, fantasmas e espantos. Seu pensamento voava no escuro, por entre desilusões de fogo. Amaldiçoando a claridade, iluminava o desencanto e a morte, agitando um facho de lágrimas na noite que o fascinava como podemos ver no soneto Lucta...»
                                     
Absurdo pensar-se, como o padre Barros se deixa levar, que Antero odiava o dia, amaldiçoava a claridade e andava alucinado à procura do segredo da vida, em voos imaginários nocturnos, ele que tinha tão grande aspiração de conhecimento, de justiça, de amor, de verdade...
 4 - O Idealista da morte, embora  o sub-capítulo tenha este título,  segundo o padre Barros, Antero de Quental temia a morte e amava a vida loucamente, interpretação que me parece errada, tão visível é o seu namoro com a morte e o não-ser, bem como o desprendimento em relação à vida, algo que foi amadurecendo ou fortificando-se ao longo dos anos e de algumas desilusões. Realça ainda a arrumação dos Sonetos completos terminar com um soneto cristão, "na mão de Deus", e não budista, como se tal expressão simbólica de entrega a Deus se limitasse a metáfora do cristianismo. E atreve-se a clamar em conclusão «que só à luz do Cristianismo conseguimos decifrar tão grande mistério da morte». Com as míticas ressurreição dos mortos e a última vinda de Jesus, perguntaremos? E tantos outros povos onde a certeza da vida espiritual era ensinada por iniciação ou religião, como na Grécia, na Índia, no Irão?
Todavia, termina bem o capítulo, ou não fosse ele um sacerdote portador do graal da comunhão: «A tal luz [do Cristianismo], esta [a morte] não é o ponto final da vida, mas um renascer para a comunhão com o eterno Bem», frase esta copiada quase de Antero, e estando tal possibilidade aberta a todos os seres de todos os povos e religiões e não só em termos tão fáceis e plenos, como ele sugere para a tradição seja paradisíaca seja purgatorial cristã...
No VI capítulo e final,  o Soneto mais trágico, António Barros metaforiza a morte de Antero de Quental como sendo tal soneto, e especula um pouco sobre as  causas remotas e próximas que contribuíram para tal acto, mencionando correctamente a doença enfraquecedora e desgastante, a morte da mãe a quem amava tanto, depois a do seu irmão André e a de Germano Meireles, por fim a da mulher deste, a que o obriga a separar-se relativamente das duas crianças adoptadas. Não nomeia porém a separação final delas, já nos Açores, uns dias antes de se matar.  Erradamente, e repisando a tecla do narcisismo de Antero, considera mal que teria tido uma desilusão  por os seus sonetos traduzidos para alemão não terem obtido sucesso...
Transcreve por fim a última carta de Antero de Quental, já nos Açores onde tencionava terminar os seus dias,  a Oliveira Martins, onde explica verdadeiramente o que se estava a passar de problemas, a preocupação imensa que sentia pelas crianças de que se tinha de separar, o não sentir melhoras de saúde e não se conseguir adaptar, terminando com a confissão da sua dualidade: «peço a minha razão que comunique aos meus nervos o estoicismo que ela tem, mas de que eles não parecem susceptíveis»...
De algumas confidências de Antero nesses últimos dias recolhidas por José Bruno Carreiro na sua monumental biografia de Antero de Quental, transparece grande desânimo, tal como a transmitida a D. Maria de Conceição Machado, "sou um vencido da vida. Já nada pode distrair-me" e "a felicidade não se fez para mim"...
As considerações que faz do suicídio são também  discutíveis, ou mesmo risíveis, tal como quando diz que nesse momento «o gelo do seu vazio existencial faz nascer nele saudades da serenidade do túmulo», numa coisificação da morte e do cadáver a repousar, quando Antero se sabia espírito, ainda que pouco o tivesse cingido na sua individualidade própria. Talvez o melhor neste final do P. António Pereira Barros seja quando se interroga mais humildemente:«Voluntário, este acto tresloucado de Antero? Creio que não. Talvez as forças do inconsciente e subconsciente, por enquanto desconhecidas, estejam por detrás de semelhante tragédia». E de facto quem conhece a sua alma, como já os iniciados de Delfos eram chamados a demandar: Gnothi seauton?
Muita luz e amor nas almas de Antero de Quental e do padre António Barros. Que  possam até dialogar luminosamente...
                                             Vista dos mundos espirituais por Bô Yin Râ...

segunda-feira, 18 de março de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. III: A Experiência Supra-Sensorial.

                                     
                                               EXPERIÊNCIA SUPRASENSORIAL. 
«Qualquer pessoa pode fazer experiências supra-sensoriais, em determinadas ocasiões, quando se encontrem reunidas certas condições de sensibilidade supra-sensorial e não existam obstáculos fortes no mundo físico.
As mais propensas a isto são as de natureza mais simples e - os artistas, desde que possuam talentos originais, - criadores autênticos, - verdadeiramente "dotados de coração".
A "recepção-concepção" interior de uma ideia criativa, - de uma representação genuinamente artística, - é em si mesma uma forma de "experiência suprasensorial".-
No entanto, existe uma diferença abismal entre as várias formas de "inspiração" artística, ou as esporádicas experiências supra-sensoriais superiores, que qualquer pessoa pode vivenciar e que naturezas especialmente dotadas podem conhecer com mais intensidade, e o tipo de experiência supra-sensorial que é praticada apenas por alguns, para os quais o património do Homem-Espírito é na verdade muito mais do que um mero objecto de satisfação da vontade de saber, - que sabem, pelo contrário, ter-lhes sido confiado apenas a fim de que das altas montanhas possam dar os sinais do caminho aos seus irmãos "mais novos".
Não falo aqui, por exemplo, daqueles que o mundo entende por "místicos"!
A "Mística" e a "Arte Real" dos guardiões, somente no Reino do Espírito substancial confiada como tal aos “iniciados”, são coisas muito distintas!
O místico experiencia semelhantemente com o artista....
Tanto a um como a outro a "inspiração" chega-lhes de uma esfera desconhecida, na qual nunca poderão entrar conscientes de si mesmos e com os sentidos despertos.
“Ela” apodera-se dele, domina-o, e ele torna-se o porta-voz desta força desconhecida, ou vive apenas o seu efeito num "ver sem palavras".

Para o iniciado no Reino do Espírito substancial, para o guardião iniciado na Arte Real, o Filho e o Irmão dos "Irradiantes" da "Arqui-Luz ", - as coisas passam-se de modo muito diferente!
Ele vive, consciente de si mesmo, sempre contínuamente nos três mundos, que se encontram unidos no mundo da realidade, como mundo da matéria física, mundo das forças anímicas supra-materiais mas substanciais, e mundo do Espírito substancial e puro.
Ele não está e nunca estará em êxtase, nem em qualquer realização de pretenso "transe", e está longe de todas as práticas misteriosas, já que dessa forma jamais poderia pertencer ao círculo dos seus Irmãos espirituais e Pais augustos.
Enquanto concentra a sua experiência na região supra-sensorial, permanece consciente do seu ser nos três mundos, e é assim, portanto, que a sua consciência do mundo sensorial exterior, claramente presente aos olhares de todos os Homens, não se encontra, em momento algum, nem sequer um pouco diminuída.
O seu conhecimento das coisas "exteriores" é – ao contrário - expandido e elevado à grande clareza, que enche o seu olhar no suprasensorial...
Enquanto "fala" no plano supra-sensorial com os seus irmãos espirituais, - e eles mantêm "conversas" consigo, - é igualmente capaz de ver e sentir o mais ínfimo incidente ocorrido no mundo material circundante não menos nitidamente do que aquilo que só se pode distinguir com os sentidos espirituais.
Não entra em nenhuma "limitação", mas antes numa expansão quase infinita da consciência...

Muito do que é “falado” no mundo essencial do Espírito, que por sua vez engloba em si inúmeros "mundos", nunca poderá ser descrito com palavras de uma língua humana, - mas mesmo assim é uma "linguagem" clara, em ritmo e forma, cheia de sentido e verdade, pelo que seria perfeitamente possível encontrar para ela palavras apropriadas de línguas humanas, não se conseguindo todavia: - transmitir simultaneamente com essas palavras a visão espiritual, que no Espírito substancial permite conhecer tudo directamente de todos os lados.-
O que se pode "traduzir" para uma linguagem humana, é determinado pela individualidade particular do irmão actuante, bem como pela época em que age e o ambiente cultural que o rodeia na Terra.
Tudo porem que ele transmie corresponde em todas as circunstâncias à mais límpida das verdades,- é a comunicação inalterável da Realidade absoluta, tal como se apresenta sempre aos olhos de todos os "Iniciados na Arte Real", livre de todas as possibilidades de ilusão e das variadas fontes de erro típicas nas investigações no mundo físico material.-
Para "especulações" e subtilezas filosóficas do pensamento humano, atado terrenamente, não há nenhum lugar nos mundos do Mundo substancial do Espírito.
Não se trata aqui, - como nas tentativas de conhecimento terrenos condicionadas pela mente, - de "deduzir" uma "verdade" de outra!
Todos os lados da Verdade oferecem-se no plano substancial puro do Espírito  como realidades diante de quem as contempla!---
As "contradições" puramente aparentes que, por incapacidade de verificação, sempre se tentou encontrar nas afirmações dos verdadeiros "iniciados" de todos os tempos, explicam-se simplesmente pela maneira como se exerce a contemplação suprasensorial, que permite conhecer todas as coisas de todos lados simultaneamente, pelo que o anunciador é obrigado a mostrar só ora um ora outro desses aspectos, se quiser ser minimamente entendido pelos seus semelhantes que não contemplam da mesma forma, - tanto mais que trata-se frequentemente de coisas em relação às quais qualquer comparação é como um “coxear das duas pernas”, já que nada de terreno tem a semelhança correspondente com a constituição substancial-espiritual a demonstrar.-

A cor local do estilo no qual um Irmão dos "Irradiantes da Luz Primordial" dá os seus testemunhos, depende pelo contrário sempre do seu julgamento pessoal, sendo determinada pela sua devoção face aos seus antigos mestres, pela sua própria inclinação, ou por causa da sua forma de configuração.
Se bem que o coração da Ásia albergue ainda hoje, tal como há milénios, o lugar terreno do Templo das forças substanciais do Espírito, nenhum dos irmãos, que considera esse centro espiritual do nosso planeta como a sua verdadeira pátria terrena, é obrigado a usar nos seus ensinamentos os conceitos religiosos e filosóficos do Oriente.
Mas se um membro desse círculo, como homem do Ocidente,  usar o falar dos povos orientais, tal brota  da sua escolha livre, - da predileção pela poesia oriental, - do Amor por certas metáforas que transmitem melhor ideias espirituais do que as formas ocidentais de discurso, - e finalmente até: para manter o colorido original das experiências inesquecíveis que viveu...
Até o mais evoluído dos Irmãos actuantes é um homem que se alegra do coração pela sua humanidade, - nomeadamente não livre de inclinações humanas,- nem um asceta morto para o terreno, - - mesmo quando tantos fanáticos da negação de toda a natureza terrena não o conseguem de modo algum entender, uma vez que não se conseguem libertar do sortilégio que os prende às crenças e doutrinas recebidas do sub-mundo...
Qual é a pessoa bondosa e sensível que não se sentirá inclinada a falar livremente das coisas que lhe são queridas usando as formas pelas quais os iniciadores benevolentes em tempos lhe falaram delas pela primeira vez!?
As mesmas coisas poderiam facilmente ser expostas sob um modo retórico local completamente diferente, sem perderem de modo algum a veracidade.
Perigosa é apenas a "transmissão" feita por não-chamados a tal.
É muito mais difícil do que se pode imaginar, por exemplo, passar uma frase em roupagem cristã de um verdadeiro "Iniciado" e pô-la sob um turbante hindu, ou igualmente moldar numa forma de pensamento europeu o  pensamento chinês!
Muitas vezes porém é necessário reunir conceitos retirados dos cosmovisões dos povos mais diversos, para que uma verdade espiritual, distante do pensamento ocidental, possa ser compreendida pelos ocidentais.-
Que ninguém que procura se deixe iludir de modo a crer que, através desta livre utilização de diferentes meios de representação, fosse intenção do anunciador propagar as doutrinas religiosas ou filosóficas, de cujo tesouro de conceitos retirou o que se demonstrou ser útil ao avanço do conhecimento da Realidade eterna!

É conhecido nas comunidades humanas, que propõem aos seus membros objectivos distantes da vida temporal, haver o costume, no seio do seu cenáculo, de se renunciar ao nome temporal dos seus associados e  conferir-lhes  outros "novos" nomes.
Donde proveio originalmente este costume e que ele chega aos tempos primitivos deve ficar evidente através do seguinte.
Não é sem fundamento que se recordam aqui aquelas palavras do Génesis:
"E o teu nome não deve ser mais Abrão, mas deves chamar-te Abraão."
E da mesma forma:
"Não te deves chamar mais Jacob, mas Israel deve ser o teu nome." 

"O Nome" de um ser espiritual individual é algo completamente distinto do derivado de circunstâncias externas que o costume do povo e a língua local atribui a um homem da terra.
Além disso o ser humano terreno é uma individualidade espiritual, mas, com muito poucas excepções, presentes em todas as épocas, desconhece ainda o "seu Nome".
Só quando se tornar consciente da sua espiritualidade substancial é que ele saberá também o “seu Nome”.
Assim também o "Nome" de um verdadeiro "iniciado" no Espírito, o qual antigamente era muitas frequentemente mantido em segredo absoluto, por se recear que fosse "profanado" se chegasse a todas as bocas, não é em verdade, uma designação arbitrária, tal como já o é o chamado nome "civil", o qual se deve a um domicílio ancestral, a uma profissão ou a uma característica de antepassados longínquos e por fim ainda ao arbítrio dos seus pais!-
É atribuído  ao Filho e Irmão "admitido", pelos "mais Velhos" dos Irmãos, e denomina nas letras da língua  empregue pelos Irmãos na Terra, essas forças que no Ser espiritual do Irmão vêm para impactar...
A sua força decisiva assenta porém em determinadas "letras", de forma que o Actuante também poderia ser chamado por outras palavras, desde que as mesmas contivessem as "Letras" que compõem o seu "Número cósmico", - o seu "Nome" substancialmente espiritual, que existe desde os primórdios na eternidade do espírito...
  Está assim sempre  preservado num véu em si já santificado o "Nome" de eterno valor espiritual , de tal modo que ninguém pode "pronunciar", - mesmo conhecendo as "letras" portadoras, - a não ser o que é em si esse "Nome"...-
No seu "Nome" o irmão é uma "Palavra" na Palavra primordial: - como a auto-pronunciada Palavra Primordial num forma individual, consciente de si próprio, substancial, espiritual... 
^^^~~~~~~~
O emprego de "métodos científicos de investigação" com o objectivo da pesquisa espiritual é tão desconhecido da comunidade dos "Irmãos na Terra" como de seus "Pais" espirituais que nunca "caíram" da Luz primordial.
A sabedoria do verdadeiro iniciado não consiste numa acumulação e multiplicação contínua, do que ele "sabe" em termos intelectuais, mas na posse de certas forças sagradas pelas quais ele sempre pode reconhecer realmente o objecto do seu conhecimento, - em si mesmo - 
O seu conhecimento acumulado, obtido de modo terreno, é-lhe inteiramente negligenciável e só em escassos casos é conciliável com a sabedoria espiritual.
Quantos mais conhecimento desse tipo possuía, mais difícil se lhe tornava, quando era "discípulo", ultrapassar as dificuldades causais, que devem anteceder cada  “iniciação” justa...
Não se devem pedir "razões", quando se quer continuar neste "treino formativo", que abre finalmente ao que se tornou digno a porta que nenhuma erudição terrena jamais poderia abrir.
O verdadeiro "iniciado" também nunca anuncia um "sistema" de sabedoria ou de crença.
A realidade das coisas no Mundo espiritual apresenta-se-lhe completamente visível ao seu olhar e, ao ensinar, ele fala apenas e sempre dessa realidade, que nenhum sistema de pensamento ou religioso poderia conter em si.
Tais "sistemas" são, na medida em que atingem as coisas do reino espiritual, sempre apenas criações secundárias de outros cérebros, que se apoderaram dos ensinamentos de um dos que chegaram ao conhecimento através da contemplação e da auto-transformação.
  Os pretensos "investigadores de mundos superiores" que com " formulações científicas", provam os "resultados das suas investigações", não devem ser considerados de modo algum como "iniciados" no Espírito
Todos esses "investigadores" no "oculto" não são mais do que escravos enganados da sua fantasia plástica, - uma das forças mais funestas e perigosas do Homem que, sempre que é violentamente incitada à acção, deixa ver representado à sua pobre vítima, tudo o que esta antes lhe apresentara em pensamentos, desejos e receios, - com frequência inconscientemente, - como modelo.
Deste modo nasceram todas as monstruosas "viagens nos planos superiores" e representações de "mundos superiores", que proporcionaram a fama a "investigadores do espírito" e a "instrutores do oculto", entre os seus seguidores, de serem "videntes" cheios de segredos, os quais se devem ainda investigar nos seus pormenores, nomeadamente sobre o que se prova ser um condimento e acrescenta, o que na maioria dos casos se deixa reconhecer com facilidade. 
 
Uma vez que estas construções da "fantasia plástica" são facilmente transmissíveis por contágio psíquico, crêem os seguidores e alunos de tais "profetas" e fundadores de seitas, que eles próprios se asseguraram espiritualmente da veracidade das revelações dos seus "grandes mestres", assim que um deles consegue, através das suas misteriosas "disciplinas ocultas", transferir as suas próprias elucubrações para a consciência dos seus discípulos, - não de modo diferente como cada hipnotizador talentoso pode deixar a pessoa objecto de experimentação ver e viver tudo, o que ele deseja manifestar-se. 
Um resgate posterior dos assim ludibriados é quase impossível.
Inúmeráveis são os que deste modo de boa fé se enganam a si próprios, inumeráveis os que irremediavelmente foram enganados! 
Se eu falo clara e nitidamente de todas estas coisas, onde a narrativa é sobre as experiências suprasensoriais possíveis, tal acontece para providenciar a todo o ser que procura com sinceridade os critérios de um juízo seguro.
Falo de coisas que não precisam de qualquer véu, e devo ao mesmo tempo falar das que devem ser desveladas no interesse das almas que procuram a Verdade enquanto Realidade.
Possam as minhas palavras não serem ditas em vão!
Possam as pessoas aprender a compreender, que nunca um dos Homens que vivem plenamente conscientes no Espírito substancial e puro, poderá profanar, através de tentativas de comprovação “científica”, a Sabedoria da Luz que ele apresenta ao seu próximo.-
O que ensina o "iniciado" no Espírito  a destina-se  ser validado por actos e abnegação!
O que ele tem para dar como mensagem aos seus irmãos "mais novos", às almas das gerações que com ele ou depois dele viverão na Terra - sejam elas de homens ou de mulheres, - não deverá ser decomposto pelo pensamento mas revivido animicamente, a fim de que os inumeráveis buscadores encontrem o seu caminho para o Espírito - o seu caminho para a Realidade!»
    Versão da responsabilidade de Pedro Teixeira da Mota, e ainda passível de algumas melhorias. Pinturas de Bô Yin Râ...
                                    

sexta-feira, 15 de março de 2019

Greve Climática Estudantil. 15-III-2019. Lisboa. Mil almas desabrochando em aspirações ambientalistas.

Realizou-se a 1ª grande manifestação ecológica da classe estudantil portuguesa, em 15 de Março de 2019, dentro da jornada europeia "Greve Estudantil Climática", participando nela umas 1.500 pessoas, na sua grande maioria jovens do Ensino Secundário, que se reuniram no mítico Largo de Camões, um dos mestres da Tradição espiritual portuguesa, e se encaminharam para o largo diante da Assembleia da República, onde mostraram o seu descontentamento pelas fracas políticas ecológicas ou ambientais da classe política, nacional e mundial, e a sua apreensão pelo futuro, propondo várias medidas ou linhas de força mais harmonizadoras.
Foi já diante da Assembleia que me juntei à manifestação e que fiz uma gravação em movimento de cerca de 12 minutos, a que juntam a maior parte das fotografias tiradas, que ficam como testemunho do magnífico activismo dos jovens que vieram de muitas escolas secundárias, não só de Lisboa (o Passos Manuel em força)  mas também dos arredores (como da escola Reinaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira), com muita consciência dos problemas actuais, bem patentes nos cartazes muito criativos e esclarecedores empunhados.
Encontrei algumas pessoas amigas, tal como o Paulo Trigo, como eu grande amigo do prof. Agostinho da Silva, deputado independente e muito sensível às questões ambientais e éticas, que estava em diálogo com  jovens estudantes e acompanhado da sua assessora e do assessor, com quem dialoguei, o João Prates, artista e director do Centro de Serigrafia Portuguesa, que estava acompanhado de um artista francês, e o professor de Economia e notável activista ecológico ou ambiental Álvaro Fonseca, que estava com um amigo, artista e ecologista. Boas conversas com todos. E uns breves diálogos com quatro dos manifestantes, tudo convergindo para um optimismo de esperança em relação às novas gerações, gente com muita sensibilidade, aspiração, discernimento e força.
As imagens, e serão muitas, dispensam comentários, embora tenha ainda assim comentado algumas. 
As fotografias finais são já no Jardim da Estrela onde a peregrinação-marcha, do Amor de mãos verdes e de um Oceano de peixes e não de plásticos, ainda chegou diante de Antero de Quental, ou da sua estátua evocadora, vate e líder estudantil dos mais fulgurantes da nossa história. No fim de tudo, o vídeo...
A mão que espera a outra mão, as mãos dadas, a mão invisivel do Alto, avancemos unidos
As forças policiais do Estado e dos políticos, o verde e a liberdade que nos restam....
Um dos cartazes mais certeiros, profundos e exigentes, curiosamente empunhado por um dos mais novos dos manifestantes.
O deputado independente Paulo Trigo e a sua assessora, também ela boa conhecedora da fragilidade dos eco-sistemas perante as mentalidades do sistema social e económico actual.
Muito dinamismo estudantil puro, apartidário, cívico, de coração e partilha, futurante...
                                  
  Mil faces juvenis, mil almas desabrochando, quantos ideais se concretizarão, como chegarão ao fim das suas vidas?
                                    
Em sintonia ou na linha em que entre nós vários grupos se encontram, tal como o grupo ecológico TOLERÂNCIA ZERO PARA IRRESPONSÁVEL GOVERNAÇÃO (E GESTÃO) AMBIENTAL (TZpigA) a preocupação pelo excesso de plástico, a poluição dos mares e o sofrimento da fauna marítima esteve interpelante em vários cartazes e gritos de alma...
                             
Almas bem auto-conscientes e determinadas, como dizia Antero de Quental: «O que deseja o coração, o que quer a inteligência é uma coisa só: luz e amor: a verdade que se e a verdade que se sente»
Seres com grandes qualidades anímicas perfilaram-se perante o horizonte e a Assembleia da República em aspiração de maior consciência ecológica, justa e fraterna sociedade portuguesa e no Mundo...
                              

                                     

                                    

                                      

                                     

                                  

                              

                             

                                       

                                           

O legendário activista dos direitos humanos e músico dos Pink Floyd, Roger Waters, presente em algumas almas não vãs mas fans do Wall?
                                                                               
No cartaz, uma fundamental preocupação e aspiração da alma que sente e pensa, lê, dialoga e evolui, manifestada por jovens já conscientes de serem elas as transmissoras da tradição cultural espiritual, pelos autores e poetas que lêem e que passam aos filhos, por vezes logo na gravidez ou no berço, assim os fadando para um futuro mais profundo e luminoso, como magistralmente exprimiu o poeta amigo de Fernando Pessoa, Augusto de Santa Rita, na sua justificação prefacial da revista modernista Exílio, em 1916, logo após Orpheu...
Paulo Trigo, o deputado exemplar, que desceu do alto da escadaria e foi às bases ouvir, dialogar e ensinar, com grande atenção de um grupo de jovens...
                                       
       
Boa auto-consciência da importância de assumires o nosso dever, o swadharma, da tradição indiana. Ou dela ainda (Bhagavad Gita), "tens direito a acção mas não necessariamente aos seus frutos". Por isso luta desprendidamente, no amor e perfeição do aqui e agora...

Valiosa aspiração, serena determinação, na linha da Mãe do Mundo, ou das Mães da Terra, guardiãs...
 
                              
   Paulo Trigo continuando a dar a sua satsanga, ou partilha da verdade, nele certamente bastante melhor que a dos vulgares deputados...
                               
Uma estudante com a alma bem decidida e esperançosa..
Boa referência às águas e mares do Algarve e as tentativas graças a Deus frustradas, de poluir e dizimar os eco-sistemas e seus maravilhosos seres, em prol das multinacionais petrolíferas e dos seus agentes e gestores...
Novos mantras, embora o antigo continue a ser bem necessário, em especial devido ao imperialismo inepto e tão violento da USA e seus coligados e aliados... Paz e Amor, e não Poluição e Destruição, no Médio Oriente e no Mundo...
Almas puras e de um futuro mais luminoso, desafiando as políticas egoístas de visão a curto prazo e de interesses partidários ou corporativos, nacionais e multinacionais, em vez de se trabalhar pelo Bem Comum, sustentável e duradouro...
Uma das críticas mais certeiras  a muitos deputados semi-inúteis em relação ao essencial e ao Bem Comum

Grandes questões metafísicas numa das pontas da manifestação: Quem é Deus, que concepção fazemos dele, está Deus vivo em nós, conseguimos sentir as suas energias na natureza, estamos a cuidar dela suficientemente, ou antes sobretudo a explorá-la ou a destrui-la por múltiplas razões, desculpas, interesses, egoísmos?
A má visão e gestão florestal, apenas norteada pelo lucro a curto prazo, posta em causa...
Mudanças conscienciais, éticas e de modos de vida, consumo e fontes energéticas, eis a proposta ressoante e desarmante desta jovem bem auto-consciente e irradiante...
Pequenos grupos bem unidos por aspirações comuns, boas fundações para o futuro...

O apreciado chocolate, sobretudo negro com pouco açúcar e de comércio justo, ou de agricultura biológica, que substitui muito bem o café e que é mesmo bom para estimular o cérebro, foi trazido à linha da frente da defesa da Natureza que o gera naturalmente e não artificialmente...
Um jovem já bem decidido na prática da "meditação universal", acima das linhas das religiões,  como me dirá no vídeo
A questão da alimentação carnívora e dos seus defeitos foi posta em causa por algumas pessoas...
Álvaro da Fonseca, um dos activistas ambientais e sociais de melhor formação, à direita em diálogo com o amigo

A força ascensional e de aspiração bem manifestada por estes jovens no alto de um placard, lúcidos a criticarem um ingrediente alimentar barato, o óleo de palma, mas trágico para as florestas
Crítica bem apontada, pois a maior arte dos políticos, sobretudo os que chegam a deputados têm o futuro garantido, já não precisam de mais motivações do que a sua ambição ou os empenhos que lhes fazem ou apoios que lhes pedem, em geral pouco se importando com o Bem Comum
Da juventude portadora do Graal do futuro de Portugal
Um grupo com muitas preocupações ecológicas, como nos explicou o jovem, a querer tornar-se um partido. Assinei. O que resultará? Meditemos e vigiemos...
Não foram os coletes amarelos, ou campinos verdes ou benfiquistas. Apenas um jovem mais pirotécnico e lembrando os ataques criminosos norte-americanos, da coligação, dos israelitas e da Arábia Saudita que estão sempre a poluírem e ensanguentarem o planeta
João Prates e Bruno, dois artistas, visionários, eternos estudantes, tal como Goethe aprofundando o mistério e as metamorfoses da serpente verde...
  Almas jovens, belas, puras, apreensivas quanto ao futuro que a classe política está ineptamente a criar...

Jovens mandálicas, do futuro, plenas de harmonia pura..
Outra crítica muito certeira aos crimes "ambientais inauditos", impunes, que tanto pioraram as condições de vida dos portugueses



Almas de cor azul, defendendo o seu planeta...


O Grande Buda da parede parece que gerava pela sua boca sábia os conteúdos dos cartazes e pela suas narinas e o "prana" os movimentos das almas estudantis, por vezes mais entusiasmadas até...
A grande questão da ganância do dinheiro verde, do corrupto dólar fabricado ilimitadamente para favorecer guerras e imperialismos, ou não nos vendermos ao capitalismo selvagem e antes amarmos mais a Natureza, os seus seres e eco-sistemas, e cultivarmos e consumirmos biologicamente, harmoniosamente?
Da agitação caótica, ou descontrolada ou criativa, até à unificação de todas as forças anímicas no grande ser, no mais iluminado, um Budha..

  A tendência vegan, de diminuição do sofrimento animal na Terra e do consumo de produtos derivados de animais tem vindo a crescer, equilibrando o carnivorismo, certamente cheio de defeitos...
Descanso das cavaleiras do Amor planetário e ambiental


Antero de Quental também participou, ou não tivesse sido ele um dos maiores líderes estudantis portugueses de sempre...
«Só as obras do bem são verdadeiras na sua totalidade», diz-nos Antero. «Talento de bem fazer» já pediam o Infante D. Henrique e Fernando Pessoa. Aos estudantes e a todos nós de os continuarmos...
A manifestação seguiu por algumas alminhas até ao jardim da Estrela, ou não fosse uma delas uma Alice no país das maravilhas, e assim comungamos com o insular Antero de Quental, cavaleiro do Amor que vence a Morte...
 
Defensoras da Natureza e logo "discípulas" muito jovens de Antero de Quental, crescendo harmoniosamente, seguindo seu  testamento expresso nas Tendências Gerais da Filosofia: «Na consciência temos o sentimento claro e evidente de que a nossa verdadeira individualidade é essa energia, simples, autónoma; sentimos que em esfera algum o seu ser , ainda nas mais inferiores, em momento algum do seu desenvolvimento, ainda nos mais elementares, o espírito é puramente passivo. A espontaneidade é a sua essência...»