Leonardo Coimbra (1883-1936) homenageou Sebastião de Magalhães Lima (1850-1928), outro grande tributo ou orador, como ele, da passagem do séc. XIX para o XX, quando este morreu, no In-Memoriam que lhe foi dedicado, e realçou não o aspecto de possuir o dom da palavra mas sim os traços mais valiosos da sua personalidade, tais como os da sinceridade, esforço, lealdade, ainda a luta pelos ideais do socialismo e pacifismo, que Leonardo Coimbra considerava cristãos.
Sebastião de Magalhães Lima fez um percurso típico da época: estudante de Direito em Coimbra (1870 a 1875), escritor, advogado, jornalista e fundador do Século, defensor dos ideais republicanos e socialistas, com um pendor forte de livre pensador e anti-religioso, ao contrário do seu irmão Jaime, ou mesmo de Antero de Quental e de Leonardo Coimbra, que embora passando por fases mais revolucionárias, se elevaram depois a demandas mais filosóficas e espirituais, Leonardo chegando mesmo a converter-se ao catolicismo por acção do popularmente santo padre Cruz, uns meses antes de morrer.
Já Antero apenas admitiu, cremos que a instâncias de Oliveira Martins, concluir os seus Sonetos com o famoso Na Mão de Deus, no que pode ser visto como uma aceitação do Deísmo ou de aspectos do Cristianismo, embora evidentemente Antero tenha sido sempre um ser em demanda da Luz, um espiritual, de certos modos místico na sensibilidade e aspiração e embora algo limitado pelas ideias-forças alternativas na época ao materialismo e ao catolicismo que se lhe ofereciam e que eram as doutrinas do inconsciente, do budismo, do panpsiquismo e do espiritualismo, tanto imanentista como transcendentalista, nestas estas últimas, as melhores, por fim se inserindo .
Oiçamos então Leonardo Coimbra elogiando Sebastião deMagalhães Lima, com alguns comentários meus inspirados no momento, do qual transcrevemos agora os primeiros parágrafos:
«A vida do homem é testemunho da realidade, como, pelo menos, qualquer outro acontecimento da realidade fenoménica. E esse testemunho é tanto mais valioso quanto
mais essa vida se apresenta sincera, esforçada e leal.
Foi Magalhães Lima um servidor do Ideal e a sua vida foi o combustível dessa chama, que acende os astros do destino humano.
Socialista e pacifista, eis a forma simples do seu cristianismo de realizações.
O seu testemunho sobre a vida é, pois, o da existência duma vontade de amor, duma unificação de instintos e tendências no grande abraço da sociabilidade consciente, perfectível e progressiva. (...) »
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