Um pensador, escritor, professor, pedagogo, ministro e orador dos mais fulgurantes de Portugal (nascido a 29 de Dezembro de 1883) foi Leonardo
Coimbra, e na sua vida curta mas tão fértil de 52 anos atreveu-se a sondar a
morte, em escritos específicos mais de uma vez, talvez algo na esteira de Antero de Quental mas naturalmente num nível superior filosófica e esotericamente, pois teve acesso a mais informação e a sua alma não teve os problemas psicosomáticos de Antero.
Transcreveremos, para esta apresentação e contextualização do vídeo, a própria apresentação do livro por Leonardo, dedicado "A MINHA ESPOSA":
«Minha querida amiga:
Muito enleados, árvores destroçadas pelo ciclone, fomos para o quarto onde dez anos antes quase nos meus braços morrera meu pai.
A tua dor era toda do nosso filho, a minha dor era a dele e a tua; nunca senti tão claramente que o homem é o protector da mulher, que lhe cumpre trazê-la ao colo e no coração.
Como eras dolorosa - os cabelos caídos, a tua desolação. o frio do teu mortificado corpo!
Eu tinha escrito o meu primeiro livro. Era uma síntese filosófica, chegando a conclusões optimistas sobre o mundo como sociedade de seres espirituais imperecíveis.
Acabara esse livro num sábado, no domingo lera as conclusões ao poeta Teixeira de Pascoaes, na segunda-feira adoecia o nosso filho bruscamente e para morrer.
Era a grande experiência, o meu pensamento à prova crua e insofismável.
O livro aí anda - "O Criacionismo" - a mostrar o heroísmo e a honestidade do meu pensamento.
Tu, minha querida amiga, pedias-me que abrisse os teus olhos à minha severa e melancólica esperança.
Por ti trabalhei, para ti muito especialmente procurei provas experimentais e acessíveis do meu pensamento metafísico.
O meu livro - "A Morte" - é um compromisso entre o meu método e os teus desejos.
Foi escrito naquela terra, tanto da minha saudade, para onde fomos escorraçados pela má vontade dos reitores dos liceus do Porto - a Póvoa do Varzim.
Aqui absolvo os meus inconscientes inimigos (tanto que hoje um é amigo) e aqui deixo a nossa infinita gratidão aos bons amigos, ao delicado carinho que na Póvoa encontrámos.
Um Domingo saímos os dois, e, diante do arcos partidos do aqueduto de Vila do Conde, arcos escondidos debaixo do abraço vegetal da hera, disse-te eu que o meu coração era uma ruína verde.
Lembro o teu abraço, promessa de ressurreição - é o nosso filho que mesmo agora te está beijando!
A minha promessa aí está também - é este livro, que viste nascer sob o doce e claro olhar da tua Alegria.
O Teu
L.C.»
Oiçamos então o flamejante Leonardo Coimbra, com alguns comentários religantes ou unitivos meus:
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