Nesta breve história Sa'adi leva-nos a viajar numa caravana que se estende na
travessia do deserto, com uns mais apressados e outros mais lentos,
todos procurando chegar às zonas mais apropriadas para descansar, de
preferência algum oásis, com água fresca e palmeiras, e por fim chegar à casa ou Meca do destino da
viajem.
Lembra-nos então Sa'adi que a corrida contra o tempo em que
muita gente se deixa levar pode ser contraproducente, pois podemos desgastar-nos demasiado e não estaremos prontos depois para os momentos decisivos.
Ou ainda podemos no fundo perder o desfrutar e aprender durante a peregrinação, só com a pressa de se chegar à finalização da obra, trabalho ou viagem. O preceito grego antigo, Speûde bradéōs, "Apressa-te lentamente", latinizado como Festina lenta e amplamente desenvolvido por Erasmo de Roterdão nos seus Adágios, tanto mais que o seu grande amigo Aldo Manutio, usava tal dito como a letra da marca ou empresa da sua famosa tipografia, a aldina, na Veneza do começo do Humanismo, diz-nos o mesmo que Sa'adi: o golfinho rápido (e em nós a mente veloz) sabe também enlaçar-se quando é a altura certa na âncora que o prende, limita e poupa, ou mesmo tem ou assume essa conta e peso em si, como discernimento e controle do que diz, pensa, faz, se movimenta. Para assim estar mais integrado no fluir certo da vida, que é o Tao dos Chineses ou o Dharma dos indianos...
Há aqui também algo do símbolo da Rosa e da Cruz, fazer desabrochar da gravidade e matéria a beleza e o movimento e a elevação apropriada e transformadora.
Sabermos prosseguir os objectivos maiores espirituais da vida, bem como os criativos, os familiares e os profissionais de modo harmonioso é então uma grande arte, que deve ser prosseguida e trilhada, mais do que com rapidez ou lentidão, com harmonia, gentileza e calma.
Oiçamos então a história de Sa'adi: «Um dia, na irreflexão convencida da
juventude, eu viajara dando tudo por tudo e chegara ao anoitecer
completamente exausto à base da encosta de uma montanha. Um ancião
já frágil, que viera atrás da caravana, chegou e perguntou-me porque é que
eu estava a dormir, não sendo aquele o lugar mais apropriado para isso. Eu
repliquei: “Como é que eu posso caminhar mais, se perdi o uso dos meus
pés?” Ele respondeu-me então: “Não ouviste dizer que é melhor caminhar calmamente e
parar aqui e acolá do que correr e ficar-se exausto?”
Ó tu que desejas chegar ao fim da viagem,
Toma o meu conselho e aprende a paciência.
Um cavalo árabe galopa duas vezes uma corrida,
Um camelo move-se gentilmente noite e dia.»
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