segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O Rosto e a Obra (1ª p.).12 entrevistas de António Paiva: a do Pedro Teixeira da Mota, 1ª p.

António Paiva acaba de dar à luz, na editora da Espiral, o livro O Rosto e a Obra, com doze entrevistas a pessoas ligadas à new age, astrologia, ocultismo, esoterismo, espiritualidade. Realizadas primeiro oralmente em 2014, com limitações, os entrevistados foram convidados em 2019 a ampliá-las como quisessem e eis um livro volumoso, com alguns contributos valiosos. E como o António Paiva se lamentou de a venda confinada não estar a decorrer amplamente, eis-me a partilhar o princípio, ou as primeiras páginas, da minha participação, sugerindo O Rosto e a Obra como um bom presente de Natal.
António Paiva – Boa tarde Pedro Teixeira da Mota. Muito obrigado por teres aceitado o nosso convite para integrares esta rubrica, O Rosto e a Obra. Licenciaste-te em Direito, foste professor de Meditação e de Yoga, tens sido investigador, praticante e autor em áreas diversas da espiritualidade. Vivestes cerca de dois anos e meio na Índia. Fostes peregrino de diversos caminhos e tradições, entre os quais o de Santiago de Compostela. Com certeza também peregrino na busca da verdade, da autenticidade e do sentido da vida. Pedro, podemos começar por aí?

Pedro Teixeira da Mota – Sim, desde cedo me interessei pela verdade histórica e até arqueológica e, ao longo das décadas já peregrinadas, sinto que a partir dum estado natural puro na infância, com o avolumar da geometria dos anos, vai-se desenvolvendo a auto-consciência espiritual, a capacidade de discernimento do verdadeiro e do falso, do essencial e do menos importante, bem como uma intuição do sentido dos seres e acontecimentos, o que vai gerando em nós tanto claridade e serenidade como aspiração e determinação e, portanto, que estamos de algum modo a realizar algo dos sentidos desafiantes e elevados da vida, ou seja, no Caminho... Face à peregrinação infinita em que estamos, os anos de vida corporal no plano físico são também um prelúdio ao que encontraremos quando nos libertarmos do corpo físico e nos elevarmos nos planos subtis e espirituais. Ir-nos preparando ou fortificando nessa direcção faz parte da demanda da verdade, aquela que interroga e tenta responder aos mistérios maiores da vida: quem somos, quem é Deus, o que é o mundo espiritual, como devemos trabalhar e viver para conhecer melhor estas realidades subtis, que sentimos como essenciais e que, ao nos chamarem por dentro, por vezes mesmo lancinantemente, ardentemente, não podemos mais deixá-las. Quando sentimos tal fogo de aspiração, e eu senti-o desde a adolescência, não podemos contentar-nos com as conversas superficiais, com a alienação dos desportos, de muitos dos espectáculos, de muito do conteúdo dos meios de informação, nem com a vida semi-alienada que as pessoas levam, tão manipuladas, tão controladas que pouco tempo têm e mal podem sentir as dimensões espirituais de si mesmos e da vida.

AP – Mas tens certeza dessas dimensões, sentes que tens memórias de outras vidas?

PTM – A certeza espiritual é tanto uma evidência interior que se patenteia na nossa mente, razão e coração, resultante de conversas, leituras, estudos, reflexões e meditações como também uma força e um sentir interior. E também uma consciencialização resultante das luzes e toques que recebemos dos mundos subtis e espirituais, nos sonhos, nas meditações, nos sentidos físicos e subtis e nos encontros, onde por vezes o contacto com seres mais infundidos pelo espírito se destaca pelo impacto, a luz e a desvendação que causa.     Não se trata de uma memória das outras vidas. Não assumo que certas imagens que nos apareçam interiormente sejam necessariamente uma experiência anterior, ou que sejam suficientes para nos sugerirem e nós admitirmos que fomos romanos ou celtas numa suposta vida anterior.                    Podemos ter na nossa constituição anímica energias que já estiveram noutras épocas e não fomos nós que vivemos nessa época, mas apenas partículas que pelas mais diversas razões estão na nossa constituição anímica, da qual aliás se sabe pouco, pois a distinção entre alma e espírito é pouco conhecida e trabalhada (e neste sentido vai o meu último livro, Da Alma ao Espírito), e assim as pessoas ficam muito reduzidas ao corpo animal e à sua parte genética, e à alma e mente de grande potencialidade, tão mutável no seus pensamentos e emoções como tão subtil nas suas partículas e emanações, que conseguirmos estabilizá-la e aprofundá-la, para ela reflectir níveis mais elevados e espirituais, é do mais essencial na demanda de conhecimento e no Caminho.»
 Aum...

          Junto às Tágides, os caramanchões, cachos de cores sobre nós, para nós, em nós: Amor!

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