domingo, 13 de dezembro de 2020

Contributos para a Tradição Rosicruciana, de Pedro Teixeira da Mota. Ditos meditativos sobre a simbólica da Rosa e a Cruz.

Embora a tradição Rosa Cruz tenha nascido nos princípios do século XVII, na Alemanha, com as publicações de Johann Valentin Andreae e o círculo de espirituais de Tübingen, atrás de si tanto houve grupos secretos e iniciáticos como os seus símbolos já tinham atraído religiosos, pensadores e artistas, e fermentações reformistas do mundo e das consciências e ciências cruzavam o vasto campo unificado da energia consciência europeia...

                                 

A partir desse início do séc. XVI a impulsão rosicruciana, com alguns mistérios (existira ou não o mítico fundador no séc. XV Christian Rosenkreutz, havia ou não essa Fraternidade Oculta), não mais deixará de habitar a espiritualidade e sucessivos seres serão atraídos a tal veio ocidental dedicando-se a certas práticas e estudos, formando grupos, e ora especulando e ensinando com seriedade ora mistificando iniciações, filiações e saberes,  ou  ainda pretendendo estarem em relação directa com os superiores incógnitos ou os misteriosos Irmãos Rosa Cruz que ocultos do mundo o influenciariam.

Entre nós Fernando Pessoa foi um leitor de obras de escritores participantes nas sagas ocultistas e rosicrucianas (tais Hargrave Jennings, George R. S. Meads, Franz Wittemans e Arthur Edward Waite), e embora reconhecendo que pouco se poderia dizer sobre as origens e a existência desses mestres ou irmão ocultos, escreveu vários textos e belos poemas acerca de tal tradição e simbologia, que aliás já em jovem muito o impressionara, como confessou em carta de 1915 ao seu dilecto amigo Mário de Sá Carneiro, tradição que ele veio a preferir, e em especial nas suas ligações à gnose, aos templários, à alquimia e à maçonaria,  em relação ao que os fundadores da Sociedade Teosófica e seus directos discípulos ofereciam de ensinamentos, e que ele teve de traduzir por encomenda de João Antunes, para a Livraria Clássica A. M. Teixeira. 

Em 1989 publiquei no livro Rosea Cruz o que no espólio de Fernando Pessoa, sito na Biblioteca Nacional, encontrara com ligação à tradição rosicruciana. Na parte final da obra juntei em seis páginas, sob o título Inspirações da Rosea Cruz trinta citações,  sete das quais de sete autores que podemos chamar os primeiros rosicrucianos, anteriores e posteriores aos Manifestos Rosacruzes,  tais como Paracelso, Jacob Böehme, Johanes Frizius, Robert Fludd, Thomas Vaughan e Heinrich Khunrat e vinte e três minhas, sem indicação de autor, provenientes das meditações realizadas na época da gestação do livro.  Logo na altura uma investigadora pessoana criticou-me numa revista importante por não ter assinalado nessas frases as cotas dos documentos de Fernando Pessoa, e já neste Outono de 2020  também um rosicruciano as leu e citou, pensando que eram de Fernando Pessoa. Como são belas resolvi reler as primeiras, gravando e comentando brevemente, o que pode ouvir no vídeo no final deste texto. Vou todavia transcrevê-las, com pequenos aperfeiçoamentos em relação ao original, ficando as restantes para a próxima incursão rosicruciana...

«A rosa marca um centro de quatro direcções do espaço. Cada ser humano pode despertar ou tornar-se este centro. E é-o quando se liga verticalmente com o espírito, o anjo da guarda, os antepassados, santos e mestres e finalmente com Deus,  desabrochando a Rosa...

A Rosa do Coração para estar bem viva deve ser protegida de influências negativas, ou então irradiar muito fortemente pelos braços teus ou da Cruz.

Cultivar o desabrochar botões no tronco da nossa coluna vertebral, é a arte alquímica.  De modo a transformar-se  a árvore do bem e do mal numa árvore-cruz onde brilha a rosa do Espírito.

A Rosa Cruz, o duplo Dorje Tibetano ou a Cruz Templária, são em diferentes tradições  símbolos do ser humano no caminho iniciático, seja quando no centro do seu ser o fogo do espírito se epifaniza como a bela rosa imortal, seja nas cruzes com terminações ígneas que fendem magicamente as trevas que nos possam rodear.

A cruz é um símbolo da existência dum eixo no mundo e dum caminho que leva para além dos conflitos, agonias e horizontes limitados, de consciência desperta rumo tanto ao centro dos seres como  aos mundos espirituais...

A cruz marca o encontro num centro de todas as direcções do espaço, de múltiplos raios do Cosmos, de muitos seres e energias do Universo. Quem conseguir retirar-se da dispersão e concentrar-se nesse ponto silenciosa verá, na caverna obscura da alma, começar a despontar, qual Rosa, a Luz.

Para que nos lembremos que por detrás de Jesus Cristo está um estado de ser onde o Coração e o Amor universal podem ser vivenciados, se ergueu a bandeira reformadora Rosa Cruz. Mas só nos corações humanos é que ele pode voltar...

As rosas, as flores de lótus das almas, crescem frescas porque os vasos, as auras e desejos, estão abertos ao alto, ao Divino... 

Na Cruz da Vida a Rosa do Amor... Isto é, nas dificuldades do nosso dia a dia saibamos erguer  a aspiração amorosa à fraternidade, à Unidade e à Divindade...

                                     

 Na cor rosa ou vermelha da rosa está o sangue de Jesus Cristo e dos mártires do Bem e da Verdade, tal como a energia ígnea do Espírito clarificador ou santificador,  inspirando-nos e purificando-nos de erros, fortalecendo-nos nos embates da vida. E se damos de nós próprios, ela cresce e torna-se uma grande floração, nosso corpo-aura de braços abertos como as cinco pétalas no traje das núpcias alquímicas.

No meio do traçar do sinal da cruz realiza a rosa da consciência ígnea. Isto é, seja enquanto traças, seja no meio ou centro do teu ser, aí onde o mestre Jesus disse que "onde dois ou três se reunissem no seu nome ele estaria"; ou seja, na vibração de luz e amor, tal, Luz e Amor ou Rosa desabrochada estaria, no meio de nós, como aqui entre nós...» 

Segue-se o vídeo, 23 minutos, com algumas aberturas e forças luminosas...

                   

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