sábado, 26 de dezembro de 2020

Dos caminhos para se vencer a ignorância e a violência: para uma religião do Espírito e do Amor. Um contributo de Pedro Teixeira da Mota.

 Do caminhos religiosos, espirituais e cívicos para se vencer a ignorância, o ódio e a violência. Da Religião do Espírito e do Amor...

I - Uma das questões culturais e cultuais  sempre actual é a de saber se devemos manter-nos simplesmente nas Religiões em que nascemos, ou que viemos a escolher mais tarde, e apenas dialogarmos com as outras, reconhecendo ou não entre elas insuperáveis diferenças ou se, pelo contrário, quer nos mantenhamos numa Religião ou não, deveremos reconhecer que por detrás delas, e das suas diferentes crenças e ritos, visões, concepções e adorações, encontra-se (ainda que pouco a procuremos sondar, compreender encontrar...) tanto a mesma Realidade, Fonte, Origem  Divina, qualquer que seja o nome ou a ideia que Dela façamos, como também um conjunto ou núcleo de teorias, práticas e objectivos, nomeadamente o 
da religação ao espírito e a Deus, com muitas semelhanças...
Ora esta última hipótese ou posição parece-me a mais
correcta, ou seja, que há uma Unidade das Religiões e dos seus conteúdos e preceitos, pesem as muitas diferenças nas letras e costumes, e daí a actualidade e perenidade da admissão ou abertura a uma posição religiosa em que a Fonte ou o Ser Primordial seja reconhecida como o fundamental, "relativizando-se" de certo modo todas as Religiões pois foram e são aproximações históricas, bastante limitadas e condicionadas, a Ele, Ser, ou Ela, Fonte...
Talvez pudéssemos mesmo denominá-la a Religião da
Divindade Primordial, ou ainda a Religião do Espírito Primordial, a Religião Universal, a Religião do Espírito, a Religião do Amor, estas caracterizações e afirmações  feitas com humildade mas na esperança de avançarmos mais tanto no seu sentimento e reconhecimento como na diminuição das ignorâncias, exclusivismos e ódios responsáveis por  conflitos, assassinatos e sofrimentos na Humanidade...                            
                      

II - Quanto à existência de diferenças insuperáveis nos princípios, crenças e práticas das Religiões haverá a considerar se elas são tão fundamentalistas e exclusivistas, ou se deveremos  reconhecer que circunstâncias e condicionalismos diferentes forçaram  as revelações e ensinamentos religiosos a adoptar formas e conteúdos peculiares mas em geral em todas elas, apesar das interpolações e modificações, subsistindo um núcleo comum e essencial e que é tanto o do Bem, da Verdade e do Ser Espiritual Eterno, como o das metodologias semelhantes ou próximas para nos religarmos a tal essência espiritual, tanto do ser humano como da Divindade, e assim nos libertamos da inconsciência e da alienação em relação às tão importantes e decisivas realidades e fins últimos do ser humano.
Deveremos então reconhecer que, presente e ligando todos os
fundadores, profetas e mestres, há um Espírito comum, o Atman da tradição indiana, e que em todo o Cosmos perpassa e providencia (inspirando) um Logos (Intelecto, Razão, Inteligência, Amor animante) comum, provavelmente a primeira emanação da Divindade Primordial...        Contribuindo para a diminuição do exclusivismo e fanatismo religioso, está o próprio evoluir intelectual e consciencial da Humanidade pois, graças ao expandir dos conhecimentos e das consciências e da sua divulgação generalizada, seja em relação à génese, transformações e desvios das religiões, seja em relação aos mistérios da existência humana e do sentido da sua vida, naturalmente certas formulações, crenças e dogmas deixam de ter o sentido imperativo ou absoluto e passam a ser compreendidos na sua contextualidade e relatividade...

 Estão neste caso muitos aspectos do legendário, miraculoso, tenebroso e apocalíptico que as Religiões Reveladas ou do Livro usaram e abusaram. E assim, menos oprimidos ou limitados por essas cinturas e balizas, cargas e nacionalismos, poderemos caminhar em diálogo permanente com qualquer tradição ou religião, numa demanda de abertura perseverante à religação mais consciente com a Verdade ou Fonte, ou Sabedoria Amor que se possa discernir nelas, já que tal é a essência da Religião Universal, da Divindade, do Espírito e que será sempre, mais do que pregada sincera ou hipocritamente,  será sempre apenas na realidade intuída e comungada interiormente pelos verdadeiros devotos ou iniciados, para depois ser manifestada criativa e fraternalmente na vida quotidiana...                                             Seria também muito importante que as Nações Unidas ou a Unesco e representantes das religiões e vias espirituais se reunissem e chegassem à formulação de um manual básico da Religião da Humanidade e do Espírito que, lido e estudado nas escolas, abrisse as crianças e jovens para o estudo e conhecimento da Unidade das Religiões, e logo para o aprofundar da dimensão espiritual e unitiva do ser humano, e idealmente não só por teorias mas também por vivências, visitas de estudo, contactos com a Mãe Natureza e agricultura natural, práticas espirituais e de culto, etc.                                Estejamos pois mais auto-conscientes e bem abertos à Tradição Perene que perpassa por todos os verdadeiros fiéis do Amor e mestres das diversas vias e religiões, bem estudadas e praticadas por alguns sábios e em livros acessíveis, e saibamos escolher e praticar o melhor possível numa ampla base, de modo a que a Presença Espiritual e Divina em nós, base flamejante e iluminante da Religião Universal ou do Espírito, desperte e brilhe mais ou, se quisermos, esteja mais presente e activa em nós, como a tradição do Santo Graal anunciou. 

 Assim se diminuirá  a ignorância e o ódio (que tanto grassam em conflitos de interesses, por vezes mascarados ou inflamados religiosamente) e aumentar-se-á e intensificar-se-á  a compaixão e a fraternidade, o conhecimento e o amor, que ainda tanto precisam de desabrochar, de arder luminosamente no nosso corpo espiritual e planeta, com tantos eco-sistemas e animais, espíritos da natureza e anjos maravilhosos, necessitando da nossa acção justa e protectora, receptiva e evolutiva...

III . Nos nossos dias, nos quais a violência mortífera continua a imperar em diversos regiões do planeta, frequentemente devido a potências ditas modernas ou democráticas, quando a manipulação das populações é também imensa, de que o vírus de 2020 é um paradigma sombrio para o futuro, e em que os posicionamentos religiosos não conseguem dissuadir ou impedir a opressão e a violência, como poderemos ser e agir correctamente, sabendo nós que a interconectividade de todos os seres é um facto a todos os níveis da multidimensionalidade da realidade, tal como a moderna física refere como o Campo unificado de energia informação,  mas que  as barreiras ou muros da ignorância,  insensibilidade,  racismo e ódio bloqueiam nas consciências circularidade fraterna e amorosa?                                                                                          Que posicionamento religioso e espiritual, mas também cívico e planetário, devemos aprofundar, assumir, partilhar? Que consciência ética e prática, ecológica e harmonizadora devemos desenvolver?

 É fundamental a investigação constante e destemida da verdade em todos os campos que sintamos importantes, bem como viver com sentimentos fraternos e amorosos, que se fortalecem nas práticas religiosa ou meditativas (em que vamos despertando os sentidos espirituais e recebendo a luz transformadora),  para se intensificar a auto-consciência sobre o que vivemos, fazemos e pensamos e, consequentemente a harmonização das nossas vidas, ambientes, ritmos e relações, seja pessoais seja para com países e o mundo.

 Só assim escaparemos à alienação, corrupção, caos e violência que nos possa chegar ou afectar, ou que vemos no mundo em especial pelo imperialismo norte-americano e dos seus coligados. Corajosamente,  pensando e falando a verdade, denunciando a mentira, a opressão, a violência, o ódio,  propondo e apoiando o diálogo para a resolução dos conflitos pela sabedoria justa e não pela lei corruptora imposta pelos mais fortes e ricos,  para que diminua esse egoísmo dos mais fortes, em geral impunes e apoiados entre si e por forças mercenárias. Na linha de Pitágoras, Buda, Jesus, Mahatma Gandi, Vinoba, Lanza del Vasto e de Martin Luther King e Nelson Mandela, Xanana Gusmão, resistindo mesmo em desobediência civil quando for necessário, só, em grupos afins ou mesmo nacionalmente.

Realçaremos que a transformação é primeiro informativa e logo emotiva e mental e por fim na consciência e ética, reforçando-se nas vivências e expandindo-se para outras pessoas e grupos, acabando por mudar mesmo a realidade exterior, a qual sabemos estar muito negativa ainda  em geral em relação ao Bem Comum da Humanidade e às suas melhores potencialidades. Há pois que abraçar e desenvolver com urgência o Amor Divino e criativo em acção...

                                

Saibamos acender a chama ardente do Amor Divino e da Humanidade nos nossos corações (desenho de Anna Zap) e vivamos criativamente e sem medos (muito importante, evitando por isso os telejornais...) nesta demanda ou caminho de vida mais verdadeiro, saudável (sistema imunitário bem alimentado) justo, belo e bom, e pelo qual testemunhamos que em todas as Religiões o Divino se pode aproximar, e que em todos os templos, santuários e mesquitas podemos orar ou meditar e assim irmos manifestando mais o Amor e a Sabedoria que O caracterizam...                                                   Para isto é fundamental acolhermos, assumirmos mais aa Religião Universal do Espírito e do Amor, e da fraternidade humana, animal e celestial, que é a essência das religiões e que é também no fundo o objectivo filosófico da vida, conforme o dito milenário dos gregos: “Gnosti se auton", "conhece-te a ti próprio”.                                                                                          Devemos assim não só estudar e respeitar cada Religião como manter  vertical o eixo da coluna, da coragem, da sinceridade, da aspiração e da ligação com os espíritos afins, os mestres e Anjos, para que o Espírito Primordial esteja mais activo e poderoso em nós, e saibamos assim vencer os enfraquecimentos e lutas, harmonizar a Natureza e a sociedade, renascendo e crescendo pela Luz do Alto e do Espírito, constante, criativa e amorosamente, na Unidade Divina...

1 comentário:

Paulino Iñigo Sánchez disse...

Las religiones no son tan comunes como pueda parecer. Ya que unas niegan el yo y el alma personal eterna; con lo cual matan o por lo menos no desarrollan el alma. En esa línea está el budismo, ateo o no, el vedanta advaita y otras formas de hinduismo. Nada que ver con el Cristianismo; salvo en su humanismo... Humanismo que también tienen los ateos.