Um papagaio, tendo sido aprisionado numa gaiola com um corvo, sentiu-se vexado pela vista dele e disse: “Que aspecto tão feio tem este. Que figura odiosa. Que coisa amaldiçoada, com hábitos tão rudes! Ó corvo da separação, como desejaria que a distância entre o Oriente e o Ocidente estivesse entre nós.”
Para quem quer que te veja quando se levanta de manhã,
A alvorada de um dia seguro torna-se um entardecer.
Só uma pessoa de mau augúrio como tu é que te deve fazer companhia,
Mas onde é que no mundo inteiro há alguém como tu?
O que é mais bizarro ainda é que o corvo estava igualmente desanimado pela proximidade do papagaio e, desgostoso, berrava “La hual” e lamentava as vicissitudes do tempo. Esfregando as garras da tristeza uma contra a outra, dizia: “Que má sorte é esta? Que destino tão baixo e que tempo tão de cameleão é este, quando eu estava de acordo com a minha dignidade a pavonear-me num jardim murado na companhia de outro corvo.
É já um emprisionamento suficiente para um devoto estar no mesmo estábulo com desregrados. Que pecado cometi eu nesta vida, para ter já caído, como punição, nas limitações desta calamidade que é a companhia de tão convencido, incoerente e destravado tolo?”
Ninguém aproximará o seu pé do muro
Sobre o qual pintarem o teu retrato,
Pois se o teu local fosse o Paraíso,
Os outros escolheriam o Inferno.
Eu acrescentarei ainda a seguinte parábola para que saibas que não importa quanto um homem sábio possa não gostar de um ignorante pois este último há-de igualmente de o detestar:
Um homem devotado a Deus (zahid) viu-se no meio de depravados,
e eis que um deles, uma bela mulher de Bhalki [Afganistão], lhe disse:
Se estás cansado de nós não o sintas amargamente
Pois és tu próprio o mais amargo entre nós.”
Uma assembleia juntara-se como rosas e tulipas!
Tu és como uma madeira seca a crescer no meio,
Ou como um vento contrário e uma geada desagradável
Ou como neve inerte ou gelo preso firmemente. »
Breve comentário: Nestas histórias, parábolas e poemas Sa'adi estimula-nos a reconhecermos que ninguém é perfeito, que não podemos agradar a todos e que é melhor aceitarmos os outros tal como eles são, sobretudo se estamos na sua companhia, para não sermos quem azeda a refeição comum que é cada encontro ou convívio de pessoas. Daí que se recomende sabiamente juntar-nos de preferência com os que têm mais afinidades connosco, pois podemos estimular-nos nas criatividades, descobertas e realizações. É a famosa satsanga indiana, a companhia da verdade, ou ainda seres que se reúnem verdadeiramente pelo amor com que aspiram ao conhecimento e pelo amor e unidade que entre si sentem, comunicam e comungam... Para que estejamos mais em amor e sabedoria e possa crescer a nossa ligação e consciência espiritual e divina...
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