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terça-feira, 15 de dezembro de 2020
Swami Ranganathananda, da ordem de Ramakrishna: vida e ensinamentos. No seu aniversário. Com vídeo.
Swami Ranganathananda nasceu em 15
de Dezembro de 1908, no sul da Índia em Kerala, e ainda na escola (na qual gostava mais das pessoas e dos jogos que dos estudos), recebeu um dia, aos 10 anos, um sonho forte no qual viu o deus, ou a forma divina de, Shiva no cimo de uma montanha, o que intensificou muito a sua devoção. E ao ler aos 14 anos o Evangelho de Sri Ramakrishna(1836-1886) ficou tão impressionado pela pureza e espiritualidade da vida desse mestre, o que aumentou ainda depois ao ler os discursos do seu discípulo Swami Vivekananda, que resolveu entrar na Ordem de Ramakrishna
aos 17 anos, sendo ordenado monge pelo swami Shivananda (1854-1934, na fotografia) que era um discípulo directo de Sri Ramakrishna Paramahansa.
Desenvolveu depois
tanto uma prática espiritual intensa como uma demanda psicológica, filosófica e
científica que o levou a publicar mais de 50 livros acerca da
espiritualidade indiana, em especial a Vedanta, e a universal, e as suas relações com a educação, a
ciência e a sociedade, sendo ainda muito apreciado como organizador ou
director de centros da Ordem (em Rangoom, Karachi, Delhi, Calcuta e Hyderabad), como dinamizador de actividades de integração social (escolas, hospitais e prisões) e como orador em várias partes do mundo, estando no Youtube bastantes gravações das suas conferências. Em 1988 tornou-se vice-presidente da
Ordem, tendo-me transmitido a diksha ou iniciação na linha de
Ramakrishna, em 1995, em Cossipore, Calcutá, quando estive um ano na Índia, seis meses deles no centro de Cultura de Ramakrisna em Calcutá. Em 1997 tornar-se-á Presidente, o 13º, da Ordem, posição que ocupou até partir da Terra em 2005. Neste
seu dia de aniversário, o 112º ano, resolvemos traduzir e gravar em vídeo uma parte de um
dos seus livros, Ciência e Religião, comentando-a singelamente, e
transcrever neste blogue alguns parágrafos da obra, invocando a Graça Divina, louvado e adorado seja...
Oiçamos então este notável Jnani Yogi, que tanto valorizou uma espiritualidade prática, de desenvolvimento de valores e qualidades que vençam o egoísmo genético e a separatividade e conflitos sociais: «A
filosofia desenvolvida pelos sábios nos Upanishads conhecida como
Vedanta, que eles descreveram como Brahma-vidya [conhecimento ou
ciência de Deus], ou Adhyatma-vidya, e que definiram como
sarva-vidya-pratistha, "a base de toda a ciência ", em virtude da sua
visão da pura consciência imutável e não dual que está por detrás de
todos os fenómenos mutáveis e diversos do mundo. E o filósofo Gaudapa, do
7 séc., que foi o guru do guru de Sankaracharya, proclamou a glória da
sua visão unificadora, a qual é sabedoria, num famoso verso da
sua Mandukya Karika (IV. 2) - «Eu saúdo esta filosofia que ensinou a
Aspara Yoga (ou yoga da não separatividade), que conduz à felicidade e
bem estar de todos os seres, e que está livre de toda a luta de disputas
e contradições» p. 152. Também
valioso é o resumo que Swami Ranganathananda dá das bases e do caminho yoguico: «A luta para ultrapassar os impulsos e as limitações orgânicas e
realizar a liberdade do espírito na Auto-Realização, necessita de ser
suportada e sustentada por uma vida moral estável; só quando esta base
está assegurada é que o ser humano pode levar para diante a luta directa
para o mundo interno e modelar disciplinas apropriadas e forjar novos
instrumentos a partir do seu sistema de energia psico-física, entre os
quais uma manas (mente) resistente e uma budhi (razão e vontade) pura são o mais importante.» O
estado em que a mente consegue silenciar o clamor dos órgãos dos
sentidos e se torna pura, firme e calma, é chamado yoga. Esta é a
condição interna que os que procuram espiritualmente através dos tempos
tem-se esforçado por atingir e que muitos atingiram, e na qual muitos
realizaram Deus, o Eu mais íntimo de todos, tal como é afirmado por Sri Krishna na Bhagavad Gita (IV. 10):
"Livre
de apego, medo e raiva, absorto em Mim (o Eu um em todos), e tomando
refúgio em mim, muitíssimas pessoas , purificadas pela tapas da jnana [fogo da austeridade do conhecimento], ou disciplina do conhecimento espiritual, atingiram a unidade comigo". Esta mesma verdade é também afirmada por Gaudapa na sua Mandukya Upanishad Karika (II.35).
"vīta-rāga-bhaya-krodhaih munibhih veda-paragaih,
Nirvikalp hyaym drstah
prapancopasamo' dvayah."
"Este estado transcendental não dual, no qual a existência relativa é ultrapassada, foi atingida pelos sábios que estavam livres de apego, de medo e de raiva, e que ultrapassaram ou foram para além (do mandato) dos Vedas (isto é de todas as escrituras tendo em vista entrarem no campo da experimentação, e obtendo a experiência da espiritualidade)." Desde a época dos Upanishads, cerca de quatro mil anos atrás, e mesmo provavelmente antes, o nosso país desenvolveu uma ciência e técnica bem equipada e a acerca deste assunto, o do Yoga. Nas palavras de Yama no ensinamento dado ao jovem Naciketa (Katha Upanishad, VI, 10-11):
"Yada pancavatisthante jnanani manasa saha; buddhisca na vicestate tam ahuh paramam gatim. Tam yogam iti manyante."
"Quando os órgão dos cincos sentidos de conhecimento permanecem firmes, ao mesmo tempo que manas (mente), e mesmo quando budhi (razão-intelecto) não age - tal é o supremo estado, dizem (os sábios). Os sábios consideram que este estado é Yoga."
Ramakrishna, um ser que atingiu altos estados unitivos espirituais
Swami Ranganathananda acentuará em vários livros como a
cultura ocidental tem desenvolvido a sua dimensão profunda graças também
aos contactos com a sabedoria milenária do Oriente (desde a época em que os Persas chegaram ao Ocidente e Alexandre da Macedónia entrou na Índia), pois a Humanidade é
una, e na obra Ciência e Religião afirma: «O ambiente moderno e os
problemas ecológicos talvez estejam a tornar impopular a tecnologia, ou
melhor a tecnologia a mais, especialmente nos países avançados; mas
ciência pura, com a sua paixão pela verdade e pelo bem estar humano,
permanecerá sempre como uma das mais nobres demandas do ser humano; e o
nosso país que nutriu este amor e demanda da verdade nos campos das
ciências físicas, religião e filosofia no passado, deve continuá-la a
alimentar em todos os campos na idade moderna. Religião e Filosofia na
Índia, como nos são dados pela nossa tradição dos Upanishads, são
apenas a continuação da procura científica da verdade ao nível dos
dados sensoriais, nos níveis de experiência mais elevados de estética,
ética e espiritualidade». Esta complementariedade entre o conhecimento
mental e objectivo e o intuitivo e espiritual é indispensável ao nosso
desenvolvimento harmonioso de seres espirituais incarnados em sociedades
cada vez mais regidas pelos parâmetros realistas, pragmáticos, e mais recentemente tão opressivos, para não
sermos alienados e massificados por eles, e para abrirmos espaço anímico para novas energias, informações e valores, e que tanto a meditação unitiva com o espírito (ou Atman) como a acção dharmica, ou baseada no dever que está acima do egoísmo genético e animal, proporcionam ou geram bem criativamente...... Oiçamos agora então outro texto valioso de Swami Ranganathananda num vídeo brevemente comentado:
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