domingo, 10 de março de 2024

Da Sabedoria e do seu desenvolvimento vivo e imortalizante em nós.

                                                      

A Sabedoria pode ser discernida, vista, demandada e realizada por diversos caminhos, modos, estados de alma, e assim foi ao longo dos tempos entendida como uma característica ou qualidade dos seres derivada da sua psique, uma ideia ou um arquétipo, uma deusa ou um atributo divino, no fundo uma realidade subtil, imaterial, psico-espiritual pluridimensional, e vamos então invocá-la para que nos inspire e nos permita acolhê-la ou desenvolvê-la por entre a tão grande agitação de informação e de desinformação que reina nas mentes humanas, por entre a exposição a tantas visões contraditórias da vida e da missão e deveres de cada ser  na Terra, por entre tantas hipóteses de deliberação, de opção, de decisão.

Se a Sabedoria, Sophia, em Grego, pode ser vista como harmonia ou reflexo da Harmonia cósmica nos seres humanos,   também a Sabedoria pode-se apresentar muito simples e modestamente como o fazer bem manualmente, ou a aspiração humilde de querermos melhorar, de querermos avançar no discernimento e conhecimento do que é verdadeiro, justo, bom, esforçando-nos por viver sob a sua égide, ou manifestando-a, de uma forma fluida e equilibrada, atenta e criativa. 

Tal visão da Sabedoria desafia-nos a abrir mais a consciência à pluridimensionalidade de cada momento da vida e a estarmos atentos a não nos deixarmos envolver ou prender demasiado num nível, perdendo o todo, ou descurando o que é mais importante para nós, ou o que é justo e necessário para os outros, dentro da empatia universal e das regras da sociabilização de respeito, reciprocidade e amor.

Ora da mais importante actividade da Sabedoria que podemos desenvolver é cultivar o estado do coração, da nossa interioridade, e portanto da qualidade das energias psíquicas que nele habitam ou irradiam, nomeadamente a capacidade de discernimento, moderação, paciência, compaixão, abnegação,  aspiração, gratidão, adoração, amor.

Os seres que manifestam mais estas qualidades são os sábios, os sophoi, seres luminosos, estáveis na sua ligação tanto à sabedoria inata íntima como à harmonia cósmica, à musica das esferas planetárias ou mesmo ao nível de sabedoria que entendem provir ou fazer parte da misteriosa Divindade. São portanto fiéis do Amor, constantemente morrendo e renascendo, realinhando-se, orientando-se, esforçando-se, adorando, comungando de tal qualidade e unidade.

Há quem chame à Sabedoria a Luz do Oriente, pois tal como o Sol surge vindo do Oriente, assim a Sabedoria vem do Oriente espiritual Divino, do Sol da Divindade, e os que meditam e adoram mais esta Divindade flamejante, seja contemplando-a no nascer do Sol matinal seja apenas invocando-a interiormente, são aqueles que acabam por receber mais os seus raios, e que se tornam forças de sabedoria, de intuição, de agir bem, de trazer mais luz às vidas humanas e à Terra, a exemplo do Sol, diariamente dando luz, calor, vitaminas, forças, inspirações, glóbulos de prana, ouro filosofal.

Os sábios orientais mesmo que ocidentais são os que cultivam mais esta fonte primacial tanto externa e transcendente como íntima e imanente, e fazem a saudação com as mão juntas sobre o peito e fortificam-se nas suas meditações e comunhões com o fogo do Espírito e da Divindade que depois  emanam para os outros, partilhando essa ligação sentida interiormente e aprofundada na aspiração, na oração, no rito, na meditação, na comunhão, realizando-a, concretizando-a na pluridimensionalidade das suas vidas corporais, posturais, respiratórias, sentimentais, mentais e espirituais...

Assim a aspiração e o culto da sabedoria aguçam os sentidos e o discernimento e dinamizam o corpo e a vontade em harmoniosa acção, em justa intenção, em firme determinação, num processo de constante equacionamento, que brota do centro ou fonte de tal realização; a  auto-consciencialização interna, respiratória e meditativa, que permite o discernimento do posicionamento justo ou certo em qualquer nível e a determinação e acção que intensificaráa afluência ou a influência da harmonia, da verdade, do bem, da beleza e do Amor.

A Sabedoria atinge os níveis mais elevados quando o sábio, o sophos, controla a psique humana entretecida de pensamentos e sentimentos, e procura reconhecer-se e unir-se à sua essência mais íntima, ao espírito e ser nele ou por ele iluminada.

O ser que atinge a sua essência própria, subtil e íntima e se conhece e se vê como entidade espiritual, mergulhada por mil fios e ligações no oceano da existência  cósmica e dela recebendo eflúvios,  pode mais facilmente orar ou cultuar a Divindade, ou os seus mensageiros ou Anjos, e assim comungar com a Sabedoria e Amor e Poder divinos, e logo  irradiar ou partilhar mais a luz da harmonia, do bem, da verdade.

O ser sábio, o sophos da antiga Grécia, que cultua essa harmonia e mestria que se designa como sabedoria, e que tem a luz dela mais acessa em si, é naturalmente pela sua cosmicização e enraizamento no harmonioso, no beatífico, no sagrado,  uma pessoa mais calma, alegre, simples, confiante, pois sabe pela  sua vasta experiência que tudo é transitório no corpo e alma humana e que é a sua sintonia com a Sabedoria, a Inteligência, a Ordem e Amor Cósmico e Divino e   formação e destilação dum corpo espiritual, com os subtis sentidos internos desenvolvidos, o que lhe permite avançar melhor na Verdade, no Bem, na comunhão mais consciente com os seres espirituais, vivos ou mortos, os Mestres, os Anjos, os Deuses e até a misteriosa Divindade.

A paciência ou ponderação antes de agirmos ou reagirmos (precipitada ou desadequadamente) será nestes tempos tão agitados e conflituosos actuais uma das facetas brilhantes e importantes do cristal  da Sabedoria, em relação à  qual o dito "de manhã é oiro, de tarde prata  e de noite mata", quanto a comermos os pomos de ouro, tem uma analogia nas qualidades das nossas actividades, que são abençoadas mais na aurora, na luz matutina, do que nas horas crepusculares, seja em cada dia, seja no da duração da nossa existência terrestre, o que apela ao nosso trabalho espiritual de religação desde novos e não apenas quando já estamos enfraquecidos, idosos ou prestes a deixar a Terra.

A Sabedoria é assim uma  arte de saber viver e  morrer bem, uma luta  para conseguirmos trazer constantemente ao de cima o bem, o belo, o verdadeiro, o justo, seja na acção, no pensamento, na intenção, no sentimento e na palavra. 

De Nicholai Roerich, a Santa Sofia, a Sabedoria Divina, muito cultuada na Rússia (Soloviev, Berdiaef, Florensky), protegendo as terras, monumentos e pessoas em tempos de perigo.

Que saibamos então em todos estes níveis estar numa vibração de sabedoria, de  harmonia, de crescimento para mais luz, perfeição, força e beleza em todos os seres, é o desejo da santa ou hagia Sophia, Sabedoria,  Dona, Musa, Shakti e Deusa nossa.

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