Há pessoas que embora tenham os corpos bastante volumosos ou fortes são leves porque se enchem constantemente de vibrações de amor, de abnegação, de devoção, de adoração. O seu conteúdo interior material de ossos e de carne é como que subtilizado, aligeirado, desvanecido, sublimado e por isso elas avançam harmoniosamente, menos pesadamente no caminho da vida.
Também podemos ver a imponderabilidade da sua massa corporal resultar de estarem a ser atraídos para os planos subtis e espirituais que penetram e envolvem a Terra e que assim os roubam à maior densidade e peso no plano físico e mesmo de certos planos psíquicos conflituosos e plenos de vibrações negativas, hoje em dia muito insidiosos e absorventes pelas manipulações das notícias do mundo pelos meios de informação. Por isso o recolhimento, a menor exposição possível aos canais televisivos é fundamental para nos conseguirmos elevar um pouco acima da horizontalidade infrahumanizadora que predomina...
Caso extremo e raro, e ainda hoje pela maioria duvidado, passava-se com os místicos e místicas antigos que foram vistos elevados do solo, centímetros ou metros, parados ou em voo, arrebatados pelos seus estados intensificados de amor à Divindade ou ao Bem. Dos mais conhecidos devemos nomear S. Teresa de Ávila e S. José de Cupertino, mas em Portugal houve também os que conseguiam derrogar a lei da gravidade e foram vistos a levitar, caso de S. Pedro de Alcântara, na Arrábida, ou de místicas como a soror Maria Francisca da Conceição, clarissa em Trancoso, e a Madre Brízida de Santo António.. Podemos pensar que o desprendimento do mundo terreno, e as asas com que aspiravam aos céus e à Divindade nas orações e contemplações as conseguiam arrebatar no corpo e na alma, de certo modo testemunhando assim mais visivelmente a força do espírito, num corpo espiritual em acção.
Noutras pessoas é a comunhão com a natureza, o ar, o infinito, a beleza que os faz sair da densificação-coisificação corporal separada do Todo que eles ainda sabem sentir, assimilar e unir-se. Foram muitas as almas poéticas que se elevaram e extasiaram com os lírios do campo, os rouxinóis do Mondego, as serras de Sintra e da Arrábida, e lembramo-nos de Frei Agostinho da Cruz, o místico da Arrábida, tal como já no século XX o professor liceal e malogrado poeta Sebastião da Gama, que tão bem a cantou na Serra-Mãe.
Há quem considere que o coração de tais almas, ao perseverar na humildade e oração, na paz e na alegria, ao estar quase sempre flamejante e confiante, liga-se incessantemente a uma correnteza espiritual que se intercomunica e de algum modo as eleva e subtiliza, uns chamando-lhe Alma do mundo, outros Espírito Santo, outros Campo unificado de energia consciência informação...
Para outros seres mais dedicados ao estudo e à meditação, o principal factor será a consciência desenvolvida ou apurada da presença espiritual Divina nas suas almas e corações que as eleva em relação a muitas das horizontalidades e pesos da vida, fazendo-as entrar em estados de amor, suavidade, alegria e leveza grandes. Nas místicas portuguesas dos séc. XVI, XVII e XVIII acontecia bastante essa forte consciência da Presença Divina no centro do peito e da alma, e deram testemunho disso várias delas, ora vendo-a, ora sentindo-a até queimá-las como fogo de Amor, tais como Brízida de Santo António, Mariana da Purificação e Mariana do Rosário.
Muitos mais seres, se orassem e meditassem, poderiam alcançar tal consciência através dos sentidos espirituais, mas na maioria dos seres estes sentidos não estão despertos e activos devido à vida demasiado materializada e exteriorizada, e poucos conseguem confirmar por experiência própria o que lê ou ouvem de tais casos de maior despertar espiritual, e em geral deixam-se envolver em grupos e práticas de esoterismo duvidoso e perigoso pensando que por magias, ritos sexuais e cabalas conseguem dominar forças e até entidades e atingir estados a que chamam transcendentes mas que frequentemente os tornam desequilibrados, vítimas...
Algumas pessoas que oram e meditam mais simplesmente conseguem ver algumas luzes ou imagens nos seus momentos de interiorização mais conseguidos, e mesmo que venha tal dos planos subtis astrais e não dos mais elevados espirituais, numa clarividência que pode provir de herança genética ou dos antepassados, ou por desenvolvimento voluntários, isso sempre os harmoniza e lucidifica, em vez de luciferizar. Embora o mais importante seja a nossa sinceridade no caminho do bem e da verdade e da aspiração e adoração da Divindade, certamente que é sempre valioso ver símbolos, os planos espirituais, os santos, os mestres e anjos, ou mesmo a presença espiritual e Divina, embora poucos obtenham tais graça, bem mais fácil de acontecer nos mosteiros (das várias religiões) em que as almas abnegadas, ao entregarem-se à vida tão difícil quão valiosa de recolhimento, oração, e santificação, viam frequentemente o mestre Jesus ou outros seres espirituais.
Já quanto ao sentido da audição subtil, pese a tradição imaculada de Pitágoras ouvindo a música das esferas e de na mística portuguesa ter havido uma ou outra monja que conseguira ouvir a música celestial ou dos Anjos, caso da soror Mariana do Rosário, em geral apenas ouviram as locuções internas do Mestre, hoje pouquíssima gente o consegue, pois a barulholatria em que se vive na sociedade moderna é um factor impeditivo forte para conseguirmos sentir mais os ritmos cósmicos, os sons subtis internos, os diálogos com o ser amado divino.
Já na tradição indiana , ainda se valoriza nos nossos dias a meditação no som, palavra ou verbo divino, Vak, Sat Naam, e do qual o Om é a sonorização audível mais apresentada e recomendada, embora certos mestres prefiram as quatro mahavakyas, as grandes afirmações, para se interiorizarem e despertarem espiritualmente, as quais remetem para a nossa íntima ligação com a Divindade, Brahman. E muitos meditam num nome divino, o ishta devata nama, aquele com que sentem mais acessível a ligação à Divindade, interna e do coração.
Assim na Índia há milhões de pessoas que diariamente pronunciam o Om muitas vezes, ou concentram-se no som do silêncio, o nada, mas poucos resultados e testemunhos surgem, além de um ou outro yogui dar algumas descrições. Os gurus actuais mais conhecidos destacam-se sobretudo pela grandeza de vaidade exterior e pobreza de realização interior. Mas falam de tudo, abençoam e deixam-se adorar com uma facilidade impressionante, e mesmo Portugal não tem escapado a tais patranhices dada a fraca qualidade do nosso esoterismo e yoguismo.
Tais promessas gregas ou indianas eram infundadas, ou não soubemos qualificar-nos para aprofundar os caminhos para tal audição da música das esferas de que Pitágoras falava e teria ouvido, ou não é tal necessário?
Se lermos ou estudarmos algumas referências da sabedoria indiana vemos que fazem corresponder o som com o elemento éter ou akasa ou espaço e que ouve-se pelo órgão do ouvido. Mas pouco falam do ouvido subtil, um órgão subtil contraparte do ouvido físico, tal como olho espiritual o é dos olhos físicos. Como o poderemos ligar os dois ouvidos, como discernir e cumprir melhor as suas mais elevadas funções?
Podemos pensar que é ouvindo com bastante sensibilidade e recolhimento interior a música e a voz, que iremos despertar o ouvido espiritual. Ou pensar que falando e cantando luminosa e harmoniosamente, o ouvido espiritual se harmonizará e afinará. Mas também há técnicas em que se fecham os ouvidos físicos, e se repete interiormente uma oração, uma jaculatória, um mantra e se tenta interiorizar a consciência por uma audição interna dessa vibraçao pronunciando-se dentro de nós.
Como os órgãos do sentidos são influenciados pelo que experienciamos, despertaremos ou pelo menos harmonizaremos o ouvido espiritual se cantarmos, orarmos harmoniosamente, vendo ou imaginando tal na sua subtileza e essencialidade. Entre nós, uma ou outra soror portuguesa, tão activas nos cantos e orações, conseguia, talvez pela sua sensibilidade e devoção maior, receber a graça de ouvir acompanhamentos subtis às suas actividades nos coros das missas, tal a Soror Mariana do Rosário, em Évora.
Assim, se nos interrogarmos, porque é que os nossos sentidos espirituais estão tão adormecidos, porque não conseguimos ver tanto com o olho espiritual, nem sentir com o coração, nem ouvir a voz do Mestre, talvez devamos reconhecer que eles estão cobertos ou soterrados de imagens, de impressões, de sons, de partículas karmicas (geradoras de influências) que obscurecem a visão ou a audição para dentro e para fora. As purificações visam remover essa matéria indesejável e por isso as pessoas no caminho místico e espiritual sujeitavam-se a muitas asceses e limpezas, embora hoje menos, pois também se abusava outrora do castigar do irmão corpo, como lhe chamava S. Francisco de Assis.
A utilização predominante dos sons nasais nas práticas de oração, respiração e meditação orientais (e não só pois ao Aum indiano corresponde o Amen cristão, o Hum budista, o Amin islâmico) visa, ao ressoarem mais na cabeça, provavelmente estimular a energia dos centros superiores cerebrais, e limpar os canais ou antenas mais altos da alma, de tal modo que sentimentos e emoções são gerados e as lágrimas ou risos, físicos ou só psíquicos, podem ser a contraparte da intensificação da circulação da energia psico-espiritual do amor e do coração, seja ela auto-emanada, seja ela também recebida por graça de circulação de ligação do céu e da terra, ou mesmo de descida do mundo espiritual e Divino....
Todavia a graça da
contemplação de Deus nasce da perseverante adoração e amor com que possamos aspirar a religar-nos a Ele e não das técnicas, sendo certamente a leveza da circulação energética no microcosmo humano e a fé justificada ou seja a confiança mais fundamentada da sintonização do
ser humano com Deus o que abre mais as portas da alma e do coração às graças divinas e à consciencialização delas
Escassas são porém as pessoas que se dirigem ao coração, que lhe falam, ou interrogam ou meditam, para que espírito, almas do corpo místico da Humanidade, Anjos ou mesmo a Divindade possam ser através dele sintonizados e inspirações deles acolhidas.
O culto do sagrado coração de Jesus e depois, historicamente (já só no final séc. XVIII) de Maria, deve ser assumido também dentro de nós, seja porque temos o influxo de um ou ou outro desses grandes seres em nós, seja porque a nossa própria centelha divina está mais desperta e irradiante. Nomeadamente quando, apesar das dificuldades da vida, há estabilização da presença espiritual ou quando a graça mais forte da presença Divina se manifesta.
Assim quando os seres e os seus corações estão mais purificados, leves e receptivos, eles podem seja desferir votos e flechas benéficas para os outros como receber informações ou sinais do seu eu espiritual, dos mestres e anjos, e do universo subtil e espiritual. Comunicam assim acima das limitações do tempo e do espaço circulam mais ligeira e harmoniosamente nos mundos subtis e imaginais, ou mesmo voando ou levitando, pelo menos nas legendas vivas que nos deixaram para emular.
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