terça-feira, 2 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XI. Karma.

                                            Cap. XI.   KARMA

«Em ambos os reinos deste mundo físico: - no visível, como no invisível, - cada acto produz  as suas consequências tanto visíveis como invisíveis. --
Cada impulso da vontade, cada pensamento e cada palavra é aqui qualificado como um "acto"...
Permanecerás preso às consequências dos teus actos até que tenhas  unificado as forças da tua alma, e te tenhas tornado unido com o teu Deus.--
Só então poderás destruir as consequências dos teus actos, se assim o quiseres.
Desde tempos imemoriáveis estavas outrora unido ao teu Deus, como um “Homem” puramente espiritual numa configuração (gestaltung, constituição) espiritual, entrelaçado ao “Espírito” substancial e essencial da Vida universal.
Também todos os vastos reinos da parte invisível do mundo físico, - uma imensa zona do universo,- se encontravam então ligados à tua vontade actuante, e tu eras o seu soberano...
Um campo de actividade estava-te aberto, estendendo-se para fora do mais puro estado espiritual, em configurações cada vez mais densas.
Assim chegaste até à fronteira,  onde as coisas físicas invisíveis se condensam em materiais visíveis, perceptíveis aos sentidos terrenos.
Viste as forças tenebrosas do caos eterno em acção,- as forças de repulsão do "Nada" absoluto, rígido e petrificado, - e sucumbiste ao seu rancor contra todo o  "ser existente"...
Nunca terias de te sujeitar a elas se, antes, no delírio do teu poder, não tivesses caído do teu Deus.--
Assim ficaste desamparado e tendo perdido o teu poder mais alto.
Deste modo ficaste presa das forças inferiores que,- sempre no seio dos efeitos de repulsão do "Nada" absoluto,- procuram em permanente hostilidade  aniquilar tudo, transformar  conforme o "Nada" tudo o que penetra nelas vindo das esferas do Ser eterno e puro:- que "cai" no seu tenebroso campo de acção.---
Também as forças, que antes conseguias dominar, com as quais poderias facilmente ter subjugado os poderes "hostis", de modo a que se transformassem em humildes servidores da tua vontade, se haviam tornado para ti muito grandes, muito poderosas...
Foste assim tomado pelo medo das tuas próprias forças que antes dominaras, e desse medo resultou a aspiração a uma vida nova e diferente nos reinos da matéria palpável, nos reinos deste universo perceptível aos sentidos físicos, que encobrem essas Potências assustadoras dos olhares de quem aqui não rompe o limite traçado.---
A tua vontade caíra do sublime esplendor, e queria agora estar contigo no mundo da matéria física...
Tu estavas como em casa no "Mundo das Causas", - mas o teu medo impulsionou-te para fora no "Mundo dos efeitos".---
Esta é a verdade na lenda de um "Paraíso" e da "Queda" do Homem desse Paraíso por causa de um "Pecado original"!---
Antes desta queda, já havias criado o teu "karma", tal como o Oriente designa a árvore genealógica das causas do destino de cada Homem, - mediante o "grau" do teu "afastamento" do teu Deus, - mediante o "grau" do teu delírio louco, que queria levar-te a veres em ti próprio um "Deus".
"Eritis sicut Deus..."
O momento em que deverias nascer neste mundo terreno e a linha de ascendência na qual ele se deu, assim como os meandros do destino da tua vida terrena, foste tu próprio quem os determinou quando, do senhor que eras pela força do teu Deus no mundo espiritual, te tornaste escravo de poderes inferiores, num mundo que, a cada acto, impõe e tem de impor uma "consequência", porque ele é em si apenas o reflexo da acção, e sem força para fazer terminar voluntariamente a corrente do devir no seu domínio.
Também o facto de teres nascido aqui neste planeta, é uma consequência do teu primeiro acto no domínio das consequências fatais, - porque na verdade, - existem, no espaço insondável, inúmeros planetas habitados por "pessoas" e por seres também exteriormente semelhantes às bestas humanas da Terra, e poderias muito bem ter encontrado a tua pele animal num outro desses corpos celestes.
Todos os seres humanos que vivem nos planetas habitados de outros sistemas solares "caíram" um dia do Esplendor, do mesmo modo que tu!
Há entre os teus remotos companheiros de viagem encarnados na matéria, uns mais felizes e outros profundamente mais infelizes do que tu...
Nem tens que imaginá-los decerto com configurações monstruosas, porque a forma do corpo do Homem terreno não constitui uma manifestação arbitrária apenas presente no nosso pequeno satélite do sol, mas foi determinada por uma ordem superior que se aplica a todo o imenso universo material e que, no final,- são de Origem espiritual...
A "Queda" do espírito humano do mundo do Espírito substancial e puro para o campo de actuação do "Nada" absoluto, não só se deu em tempos remotos, mas sucede continuamente desde a eternidade e por toda a eternidade, tal como o cosmos físico e material, apesar da constante alternância da sua evolução e da sua involução, subsiste e subsistirá também eternamente no seu conjunto ao mesmo tempo que o reino eterno do Espírito, enquanto "reacção extrema"  a este último...
Sempre existirão, porém, uns escassos seres humanos espirituais, que não estão sujeitos à "Queda" e que não "perdem" em si o seu Deus.
Já falei deles, como os "mais velhos", ou os elevados "Pais" dos Irradiantes da Luz original, e já não precisas que te digam agora o que a tua intuição te poderá revelar: - que os esforços espirituais desses "não caídos", assim como os dos "Filhos" e "Irmãos" que formaram, têm por objectivo a libertação dos que, caídos da esfera luminosa do mundo espiritual, se debatem nas malhas da animalidade, objectivo esse que não se estende certamente apenas à nossa humanidade terrena...
Em todos os planetas habitados do universo infinito é possível encontrar estes Auxiliares que permanecem na vida consciente do Espírito substancial, e que para cada um destes mundos criam entre os caídos os seus "filhos" e "irmãos" espirituais, através dos quais eles procuram aqui e agora alcançar-te nesta Terra e querem arrancar-te da tua miséria.
O teu objectivo não é de modo algum tornares-te um dos seus "Filhos" ou "Irmãos", pois para isso é já demasiado tarde, já que tal aptidão revela-se logo após da queda, unicamente através de um livre impulso da vontade própria, e exige então uma "Educação" que requer milénios, assim como uma renúncia de igual duração à encarnação num corpo material físico de animal humano...
Não se quer de ti outra coisa, senão que consigas hoje, nos teus dias terrenos, chegar ao reconhecimento de onde partiste e ao qual podes regressar.--
É o "Caminho" para este regresso que queremos mostrar-te.
Queremos conduzir-te ao teu Deus, com o qual te deverás unir de novo.--
Por mais fundo que tenhas caído, ainda assim todas as forças, a partir das quais, - desde o seu estado de actuação caótica até ao seu modo de representação mais sublime,-  a Divindade incessantemente se configurando a si mesma – estarão à obra em ti numa elevadíssima forma de acção...
Sempre permanecerá também escondida em ti pelo menos uma "Centelha" de consciência espiritual, mesmo quando a tua consciência cerebral não se tenha fundido com ela, em ti de novo escondida,  como o elevado condutor dessas forças, - e: - como a tua "Consciência"...
Não podes perder esta "centelha", por mais fundo que tenhas caído na tua vida terrena!
Mesmo que estejas morto animicamente para ela, terá de permanecer latente em ti, até ao teu último sopro de vida...
E é também ela, e só ela, que conhece o teu "karma"...
Poderás melhorar ou piorar esse "karma", mas só poderás extingui-lo quando tiveres unido em ti todas as vontades que continuam a actuar caoticamente no teu íntimo.--
Quando todas elas na consciência espiritual da Centelha de Luz, que é em ti o teu "Espírito humano" verdadeiro, substancial e eterno,- se tiverem unido, então nascerá em ti do Espírito o teu Deus, e libertar-te-ás finalmente do teu "Karma",- da cadeia de consequências do teu Acto Primordial,- como um novo  retornado Homem da Eternidade. -
Feliz de ti, quando conseguires já isto na Terra!
Não conseguindo isto, então, mesmo depois de te despojares deste corpo terreno não chegarás a ti mesmo, à tua "paz ", enquanto não encontrares a tua paz no teu Deus, consciente das tuas forças anímicas unidas e de te teres tornado para elas a sua Vontade...
"Lá", porém, chegado pode durar muito tempo até seres capaz de o fazer, pois então já não podes mudar ou mesmo melhorar o teu "karma",- e de forma alguma poderás viver em ti a Luz eterna até se esgotarem todas as consequências do teu acto original.--
A Sabedoria Indiana aconselha os homens a não criarem  "novo Karma", - e na verdade esse aviso é fruto de Conhecimento muito verdadeiro!
Só tens de saber, que o conselho apenas te quer prevenir contra um "Karma" pior!-
Não poderás encontrar a tua libertação no reino do Espírito substancial, antes de se esgotar o último impulso de natureza terrena que em tempos partiu de ti.--
Procura assim com toda a tua energia ainda nesta vida terrena unires-te ao teu Deus, para que com a sua Força consigas cortar a cadeia do teu "Karma", para que ela não possa manter-te preso através dos aeons...»

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