domingo, 21 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XV. As Energias Superiores de Conhecimento.


   As Energias Superiores de Conhecimento Cap. XV do Livro do Deus Vivo, de Bô Yin Râ, 2ª  tradução em português, por Pedro Teixeira da Mota.

«Acreditais no vosso "Progresso" e não dais conta que girais a maior parte do tempo à volta.--
Esforçai-vos incansavelmente por tudo desfibrar, tudo desintegrar, tudo dividir, - e como é certo que nada disso se deixou negar, e desse modo obtivestes muitos conhecimentos, parece-vos certo que a vossa acção deva-vos conduzir um dia à solução de todos os enigmas desta Natureza perceptível aos sentidos.
Mas: - tudo o que foi dividido, dividir-se-á até ao infinito, tudo o que foi desintegrado pode continuar infinitamente a ser desintegrado, e descobrireis sempre que o que pensavas ter desfiado até ao último filamento ainda permite soltarem-se novos filamentos...
A fronteira das vossas investigações  só é estabelecida aqui pela vossa incapacidade, condicionada pela vossa condição terrena, de dividir e desintegrar cada vez mais .-
A obrigatoriedade de parar determina os resultados das vossas investigações!
Eu sei verdadeiramente o que a Humanidade deve a este tipo de investigação, e longe de mim depreciar aqui o modo do vosso pensamento.
Só que também vejo o lado na sombra dessa acção e vejo que vos deixais ofuscar pelos resultados das vossas investigações, pelo que vos afastais cada vez mais de um outro e verdadeiramente mais importante modo de investigação...
Haveis já descoberto à vossa maneira maravilhas e inventado coisas admiráveis.
Mas isso não vos deveria levar a ter a certeza presunçosa de que é possível desse modo chegar um dia  ao conhecimento em domínios que troçarão eternamente da decomposição mecânica e que não se deixam alcançar por nenhum instrumento.--
Quando tiverdes finalmente conseguido destrinçar as mais ínfimas partículas de uma formação física, haveis certamente conquistado a possibilidade de o vosso entendimento tirar então dos dados mecânicos conclusões e de, em última instância, poderdes encontrar, descobrir e inventar coisas importantes para a nossa vida terrena exterior. 
Contudo,  da imagem deste modo assim decifrada a Essencialidade mais primordial permanece-vos tão alheia como dantes.--
Reconhece-se certamente tal trabalho e os resultados que ele pode deixar amadurecer; só que não estais assim mais próximos da "Coisa em si", mesmo quando conhecendo todas as coisas deste mundo visível em todas as suas partículas mais ínfimas e a sua  ordem maravilhosa, - mesmo quando sabeis o modo de agir de cada uma de tais partículas e aprendeis a dirigir as suas forças de modo tal que elas têm agir segundo a vossa vontade...
Não é sob a lente do microscópio que se encontra a "Coisa em si", e jamais um telescópio vos revelará o que "mantém coeso" uma longínqua formação celestial.---
O instinto da investigação é inato em vós e exige ser satisfeito.
Haveis no entanto confiado o trabalho de investigação apenas ao "animal" mais requintado de vós, e as energias superiores da vossa alma, que vos poderiam servir no caso, deixastes negligentemente na penumbra crepuscular, sem as desenvolver...
Assim o "animal requintado" constrói para si os seus métodos de pensamento e os seus instrumentos visíveis, para levar o vosso pensamento e investigação ao infinito, - mas os resultados só levam a novas questões, perante as quais tereis então de quedar-vos perplexos...
Houve todavia na Antiguidade pessoas para quem o vosso modo de investigar não passava de uma tolice, e que, com as suas energias anímicas superiores integradas em si, sem o vosso aparato instrumental, resolviam as mais profundas questões últimas.
Encontraram ali "o Fundamento de todas as Causas",- mas vós - alargais-vos só na superfície.---
Sabeis falar inteligentemente de todas as coisas, porque é que são, como se manifestam, porque é que o seu efeito se produz uma vez e outra vez já não, e muitas outras coisas mais,- mas nunca penetrais até às Causas últimas, pois o que chamais "causas" são apenas os efeitos das Causas primordiais, e é atrás destas que se escondem as verdadeiras Causas, que nenhum de vós conhece por experiência...
Mas as energias da alma, - quando do interior do vosso "Eu" aprendereis a dominá-las, como elas querem ser dominadas – aclarar-vos-ão também as Causas últimas, pois são do mesmo género, mesmo quando não actuam da mesma forma...
Certamente este tipo de "Causas" só será demonstrável pelos que já sabem empregar as suas forças anímicas, - enquanto que as vossas demonstrações são em todo o caso bem mais fáceis de realizar, embora só sejam compreensíveis para os que já assimilaram as premissas sobre as quais assenta o vosso género de demonstrações.
Qualquer força só se desenvolve através de acções comprovativas.
Quando portanto não sabeis usar logo no princípio nas pequenas coisas as vossas energias anímicas, nunca elas se tornarão tão fortes que possam mostrar-vos as suas maravilhas mais elevadas.
Trata-se de reconhecer aqui muitas coisas que em verdade valeria  a pena uma pessoa consagrar-lhes a vida inteira, mesmo que essa vida aqui na Terra tivesse que durar cem anos...
Mas tereis primeiro que vos tornar simples, como são as próprias coisas últimas, antes que o mais simples de tudo se vos revele...
Tornaste-vos demasiado complicados no pensamento para que, sem "desaprender", possais compreender a Realidade no seu sentido mais profundo.---
Possa aqui a experiência terrena acessível a todos oferecer-vos instrução: muitas coisas pareciam-vos ainda não há muito tempo como "superstições muito incultas", - até que a vossa própria investigação permitiu-vos reconhecer que tais superstições se baseavam num conhecimento que  vos fora vedado até agora, enquanto que cérebros de pensamento muito simples sabiam como alcançá-lo.--
Cada um terá certamente exemplos suficientes à disposição, pelo que posso negligenciar mencioná-los agora.
Assim também muito do que ainda hoje se esconde em lendas e mitos, em crenças populares e mesmo em muitas das consideradas "superstições" do povo, emergirá numa época posterior como conhecimento muito maduro .-
A razão de estas coisas não serem ainda do conhecimento dos que as procuram "cientificamente", por vias completamente diferentes, reside na gigantesca complexidade da nossa habitual mentalidade "profissional", que já não quer acomodar-se a representações simples, porque já não é capaz de o fazer sem ter que esquecer a maior parte da sua antiga formação - mesmo que essa formação desenvolvida tenha sido apenas a da "instrução primária".---
Eis como muitas coisas estão frequentemente como que "seladas" à investigação exterior, e só com muito esforço se consegue saber algo.
Às forças anímicas, porém, desde que sejam suficientemente desenvolvidas, nada disto tudo pode permanecer vedado.
Cabe-vos a vós decidir, se os vossos netos deverão mais tarde e forçados a isso, inclinar-se perante os factos que vós poderíeis conhecer, ou se querereis legar-lhes um saber que não terão primeiro que rectificar...
Também cada mensagem de Verdade, submergida hoje em lendas e superstições, provinha na sua origem de pessoas que sabiam utilizar as suas forças anímicas, mas a obscuridade interior dos que se seguiram a eles não os deixou mais compreender o que tinha sido oferecido, pelo que assim a Verdade original foi rapidamente sufocada pelo joio selvagem dos confusos sonhos de vigília, e agora já quase não se a pode extrair limpa do joio que cresce por cima.-
A demanda na alma assídua e cheia de confiança abrirá porém a todo aquele que procura o mesmo Poço, do qual os Sábios dos tempos mais remotos já se abasteciam, de modo que possuirá desde logo em si com toda a claridade o que é praticamente irreconhecível sob o manto da superstição, mas que  reconhecerá então através do seu próprio Conhecimento.-- 
Mas sem uma persistente procura no vosso íntimo,- conduzida com a mesma coragem e resistência com que hoje ainda procurais no exterior, - nunca vos poderá ser revelado o que aquelas forças podem, e que em vós próprios estão escondidas.--
Vós sois os portadores das mais elevadas "energias maravilhosas", - todavia esforçais-vos exteriormente por um escasso ganho! 

As  energias superiores do Conhecimento, das quais procuro aqui focar a essência, estão contidas em cada Ser humano, - só que dormem um sono profundo, até que o seu dono as ressuscite em si mesmo e as una à sua vontade...
A maioria dos homens preparam-se para o último sono, sem nunca terem suspeitado dos tesouros que a sua alma lhes oferecia...
Bem-aventurado aquele ser que souber ainda no tempo certo despertar em si as suas energias de Conhecimento!
Encontrará já aqui na Terra a sua verdadeira vida, e já aqui, na sua condição mortal, conhecerá a sua imortalidade.---

Ora esta é a finalidade última de toda a instrução espiritual, pois de que serviria aqui falar do Espírito, que permanece eternamente em nós, - se esse Espírito estivesse tão afastado da capacidade de vida interior do ser humano terreno, que ele não se pudesse aperceber dele durante a sua vida terrena!--
Só o que, neste plano terrestre,
se tornou  para nós  vivência, poder-nos-á guiar numa nova Vida, quando um dia abandonarmos esta existência terrena
Om Mani Padme Hum. Pintura de Bô Yin Râ.

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