domingo, 21 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XVI. Da Morte. Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

 

                             Da Morte.   Cap. XVI   

«Estamos agora diante do portão escuro, através do qual os seres humanos têm de caminhar, quando se despedem para sempre da Terra.
Muitas foram as promessas, e muitas as ameaças,  acerca do que  deve existir por detrás deste portão.
Não sei a qual desses ensinamentos irás oferecer a tua crença?
Mas todas eles, - forçados pela experiência quotidiana,- concordarão num ponto: nunca poderás no teu actual corpo terreno regressar, assim que o tenhas deixado.-
Muitos dizem-te que regressarás num novo corpo, numa época futura, e conceberam esplêndidas "regras", segundo quais se deve reger a época do teu regresso num corpo terreno.
Outros deixam-te aniquilado para todo o sempre com a morte do teu corpo, pois só confiam na aparência visível, a qual lhes mostra após a morte do Homem terreno  apenas um "cadáver" rígido, e nada mais que lhes permita concluir, que tal pessoa esteja de alguma forma ainda em vida.
Erram ambas as crenças!
Tu próprio dificilmente regressarás, mas ninguém sabe quantas das tuas forças anímicas, contigo unidas, poderás conservar, quando te separares desta existência terrena.
As que não uniste a ti, terás de abandonar, tal como o teu corpo desta Terra e assim como as energias deste corpo, ao libertarem-se da sua forma temporária, transitam logo para outras formas de vida, assim também as energias anímicas por ti abandonadas, procurarão um outro campo de acção num ser humano na terra.
Também  estão hoje em ti muitas forças anímicas em acção, que agiram noutras pessoas, anteriores à tua época terrena.
Assim  pode-se, com toda a legitimidade, distinguir os seres humanos em "almas mais jovens" e "almas mais velhas", de acordo com a época em que as suas forças anímicas foram vistas em acção em pessoas do passado.
Entre as pessoas que  vivem hoje na mesma época da Terra, e têm o mesmo número de anos desde que nasceram, existem muitas com forças anímicas muito "mais jovens" do que as da maioria e, do mesmo modo, não são poucas aquelas cujas "forças anímicas" são muito "mais velhas"...
Cada um destes casos especiais pode-se logo reconhecer na vida exterior por a pessoa em causa sentir a vida de um modo surpreendentemente diferente da maioria dos seus semelhantes contemporâneos, por parecer algo "deslocada" da sua época, mostrando ou não inclinações que corresponderiam a uma época imediatamente anterior, ou tendências que tentam exteriorizar-se de acordo com os padrões de uma cultura muito anterior, o que não exclui que em ambos os casos as pessoas não ajam de acordo com a época em que vivem, sabendo muitas vezes transmitir-lhe valores elevados...
A abundância de forças, que constitui a especificidade da tua "alma", varia constantemente, enquanto vives no corpo terreno.
As forças anímicas em ti em acção são ora mais, ora menos...
Também dificilmente, durante o teu tempo na Terra, a morte te fará perder alguém cuja alma sentiste próxima da tua, sem que recebas uma "herança" das suas forças anímicas, - pois são extraordinariamente raras as pessoas que podem levar consigo para a sua vida depois da morte todas as forças anímicas que viram agir em si, unificadas em si próprias e unidas com o seu Deus...
A maioria dos "mortos" da Terra deixa atrás de si uma rica "herança".-
Para o olho espiritual a tua "alma" é uma "nuvem" luminosa e viva, formada de inúmeros "pontos" irradiantes: - as tuas forças anímicas, - e esta nuvem de luz está em permanente mutação, enquanto vives na Terra...

Não é, porém, a imensa abundância das tuas forças anímicas que cria a "riqueza" da tua alma, mas sim a unificação das forças anímicas realizadas em ti no teu "Eu", na tua Vontade gerada pelo espírito.--
Só manterás em posse durável cada uma das forças anímicas, que tu em ti uniste, quando chegar a tua hora de despedida desta vida terrena...
Se  não te uniste aqui na Terra ao teu Deus, então também depois da morte terrena do teu corpo não estarás unido a Ele!
Viverás então como um "Eu" no Espírito omni-abrangente, na tua forma substancial espiritual  e, consoante o que conseguiste espiritualmente na tua vida terrena, modelar-se-á essa forma, e possuirás o poder de nela te realizares...

Sob orientação superior progredirás no teu "caminho", até ao dia em que o teu Deus possa gerar-se em ti...
Mas o tempo que passará até essa união parecer-te-á como uma "eternidade", pois  no estado espiritual e livre do corpo terreno existe também algo equivalente à sensação do espaço e do tempo aqui na terra...
Faltar-te-á nessa altura o poder de modificares, segundo a tua vontade, o  tesouro das tuas forças anímicas que permanecem contigo, e pelo desenvolvimento das quais somente se torna possível a tua experiência espiritual...
Terás então que te conformar eternamente com as forças anímicas que soubeste unir em ti durante a vida terrena...
E no entanto, nunca um "Eu" humano, por muito pobre em forças anímicas que tenha entrado na vida do Espírito, para nela ultimar o seu "caminho" para Deus, sentirá qualquer "aspiração" a regressar à vida corporal terrena,- não importando o que teve de deixar para trás...
Mas semelhante e pouco usual regresso sob outra forma existe, embora apenas em três casos especiais:
Para os que têm de sofrer como consequência das suas acções maléficas no corpo terreno...
Para os que impediram o seu corpo terreno de continuar a viver e experimentar mais, porque julgavam poderem escapar pela morte a tormentos ou a quaisquer outros sofrimentos que lhes pareciam insuportáveis...
E, finalmente, para quem o tempo de vida terrena foi muito curto, para poderem unir na sua vontade algumas forças anímicas, de modo que teriam de permanecer incapazes de atingir a vivência espiritual, se não lhes fosse dada uma segunda possibilidade de adquirirem as forças anímicas, como só a vida terrena pode oferecer...
A mesma razão é também decisiva para ambas as primeiras categorias, ou seja, sempre que se trata de um "Eu" que, mesmo durante uma vida terrena suficientemente longa, não tenha tido em si autoridade sobre quaisquer forças anímicas, porque a bestialidade do seu portador terreno sufocou a sua vontade, - ou de um "Eu" que abandonou todas forças anímicas já integradas em si no momento em que sucumbiu à obsessão mental que iria destruir o seu portador terreno, isto é, o organismo de representação de si mesmo que lhe fora provisoriamente concedido...
Às pessoas, para as quais transcrevi aqui estes ensinamentos, pode bastar ficarem a saber que é apenas pela sua própria culpa que podem vir a passar segunda vez pelas dificuldades da vida no corpo terreno e animal, expostas a todas as contingências físico-materiais...
Mas a possibilidade concedida aos espíritos humanos, prematuramente privados do seu organismo de auto-representação terrena, de poderem readquiri-la uma segunda vez - ou mesmo várias vezes se, pela acção de leis físicas, também essa segunda vez for em vão, o que também se aplica às duas primeiras categorias -, pode ser sentida com o coração cheio de gratidão por cada um dos que começam a pressentir o que a vida terrena significa para o "regresso" do espírito humano outrora "caído", pelo efeito incontornável do Amor que abraça tudo o que é Espírito, por mais fundo que ele tenha caído...
Possa cada um que ler estas palavras guardá-las dentro de si, e aprender cada vez mais a reconhecer que a sua existência terrena lhe confere o tremendo poder de decidir ele próprio o seu destino!
Como este poder é exercido de modo certo é mostrado neste livro.
Mas que ninguém se inquiete com os que morreram na Terra, que "passaram para o outro lado", sem terem conseguido, na sua vida terrena,  que o seu Deus "tivesse nascido" neles, - que com as forças anímicas integradas do seu “Eu” pudessem ter-se unido ao seu Deus!
Também a eles  o Amor eterno abraça verdadeiramente!
Eles encontrarão em todos os que um dia chegaram a unir-se com o seu Deus os seus ajudantes mais fiéis, pois todas as forças anímicas se "tocam" no reino do Espírito substancial, e o que os unidos a Deus já alcançaram na Terra e o que alcançam no Espírito   continua a ser "transmitido" como forças também àqueles em cujo "Eu"  ainda não "nasceu” Deus!---
  Mas ao mesmo tempo essa ajuda é realizada pelos que nunca caíram, os quais no reino do Espírito reconduzem igualmente os espíritos humanos, outrora caídos, de regresso à Luz primordial, tal como já aqui na Terra o fazem, onde quer que encontrem a vontade de regressar...
Esforça-te por alcançar a tua meta mais elevada já aqui na Terra, mas não te inquietes pelos que ainda não a conseguiram alcançar!
Podes contudo oferecer-lhes  também a tua ajuda, quando pensas neles cheio de amor vivo!---
  Eles todos estarão um dia unidos a ti no seu Deus...
Em ti estarás um dia,- unido com o teu Deus,-  conscientemente unido a todos os que possas abraçar no teu Amor!--»

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