1 de Maio. Quarta-feira. Dia muito activo, agora passando mesmo já uma hora da meia noite. No Irão, foi o dia da Mãe e da Professora.
Recebi
de manhã pelas 11:15 a visita de Nader Agahi, engenheiro agrónomo que viveu profissionalmente 27
anos na Índia tendo participado na trágica guerra do Irão-Iraque (1980-1988).
Conversamos bastante, em especial à volta da religião e do Alcorão e
presenteou-me com um livrinho contendo a sua explicação dele.
Agahi
é um grande devoto das Escrituras Sagradas de todos os povos, que vê
originadas ou enviadas por Deus através dos profetas. Deus falou em
todos os tempos a todos os povos, e por isso devemos ler todas as
Escrituras para termos a informação completa em vez de ficarmos
acantonados, limitados ou até fanatizados numa só. Cita-me Buda,
Confúcio, Rama, Krishna e Jesus, confessando a maravilha que foi para
ele a descoberta e leitura dos Evangelhos, onde Jesus e o Amor surgem tão forte e claramente.
Diz-me
isto com uma tal expressão na face e nos olhos que sinto bem como
Jesus, ou o Amor divino, terá tocado este ser de outra seara ou mansão , a islâmica,
mas tão aberto à verdade, bem de acordo com o que o mestre da Palestina
declarou nos Evangelhos que recolheram partes do seu ensinamento: “onde dois ou três se reunirem em meu
nome, eu estarei no meio deles.”
Gravei uma parte da conversa e ele dedicou-me o seu livro, The Last Sripture, a theocratic translation,
que é uma teocrática tradução (acrescentada…) dos dois primeiros
capítulos do Alcorão e em cujo prefácio vem as fotografias de três
lutadores pela libertação do homem: o russo Karl Marx, o indiano Swami
Vivekananda e o iraniano Ayatolah Khomeini, cada uma delas com uma
citação significativa, sendo a do Imam Khomeini a de que “sempre que
encontremos um problema vejamos qual é a palavra de Deus e ajamos de
acordo”. E, esta “palavra”, Nader Agahi explica-a como sendo a de
qualquer Escritura sagrada de qualquer religião, algo que alguns
seguidores do autor da frase, o Imam Khomeini, não entenderão ou
interpretarão tão alargadamente…
É
por isso que Agahi publicou o seu livro do Alcorão alargado ou
explicado, independentemente de receber autorização de um departamento
oficial da religião e cultura, considerando mesmo que embora a
democracia seja frequentemente um “demoniocracia”, também a
“sacerdoteocracia” reinante em alguns povos ou áreas de religiões não é
verdadeiramente a Teocracia que deveria orientar os povos, sendo esta
assente ou dependente da leitura, conhecimento e valorização de todas as
Escrituras e Religiões. Agahi considera o Islão a última e portanto a
mais perfeita e completa.
Crê ainda que virá ou emergir do seu ocultamento o Madhi, o 12º e último Imam,(1)
para limpar a atmosfera terrestre e purificar a Humanidade, abrindo
caminho para Jesus vir instaurar o Reino dos Céus na Terra.
Porei em causa alguns aspectos das suas crenças e discursos, aceitando o amor, o bom senso, o sermos práticos e úteis, mas desvalorizando as escrituras tão cheias de patranhas e visões limitadas do Divino. Realização espiritual interna e maior abertura do olho espiritual são indispensáveis para o despertar interior e a melhoria da humanidade.
Porei em causa alguns aspectos das suas crenças e discursos, aceitando o amor, o bom senso, o sermos práticos e úteis, mas desvalorizando as escrituras tão cheias de patranhas e visões limitadas do Divino. Realização espiritual interna e maior abertura do olho espiritual são indispensáveis para o despertar interior e a melhoria da humanidade.
Transcrevo
para este diário, para maior fidelidade ao diálogo, uma parte da
gravação realizada:
N- A aproximação às religiões deve ser o que está
expresso numa palavra: Bayena.
P. - Em que Sura do Alcorão está? - Está em todo o Alcorão. Deus diz lá, “Dei Bahena através de Jesus. “
P- Significa então bençãos?
N- Vou dar uma história, para compreender Bayena.
E mostra-a em Jesus quando ele quebra a lei de Moisés de não se poder trabalhar ao Sábado, para curar um doente, dizendo-lhe: “Vai, estás curado”. Os judeus zangados questionam-no “como é que és um profeta e seguidor de Moisés e não respeitas a Lei?” Jesus replica-lhes: Bayena”, e interpela então os que o criticam: “Quem é que tendo um burro e caindo ele a um poço ao Sábado vai esperar pelo dia de amanhã?” Sim, Jesus trouxe Bayena, o ensinamento de como utilizar o bom senso.
N- Vou dar uma história, para compreender Bayena.
E mostra-a em Jesus quando ele quebra a lei de Moisés de não se poder trabalhar ao Sábado, para curar um doente, dizendo-lhe: “Vai, estás curado”. Os judeus zangados questionam-no “como é que és um profeta e seguidor de Moisés e não respeitas a Lei?” Jesus replica-lhes: Bayena”, e interpela então os que o criticam: “Quem é que tendo um burro e caindo ele a um poço ao Sábado vai esperar pelo dia de amanhã?” Sim, Jesus trouxe Bayena, o ensinamento de como utilizar o bom senso.
P- Então significa bom senso, ou seja, amar num modo prático e justo? -
N - Sim, lógica básica.
N - Sim, lógica básica.
P.
- Logicamente, com compaixão, com justiça. E aspiração à fraternidade
com os outros seres. E penso que isto, a irmandade, é também muito forte
no Alcorão.
N- Oh, sim, Deus ensina muito no Alcorão. Se o começar a ler entusiasmar-se-á para lê-lo.
P-
Tem razão, já li algumas partes mas tenho de o ler todo. Então qual é a
sua ideia acerca do futuro ou como vê a evolução da Humanidade? - É um
processo natural…
P.
- Haverá mais gente mais pura, que lê o Alcorão ou os Evangelhos e
torna-se melhor, ou haverá tanta confusão que as pessoas não sabem o que
fazer? Qual é a sua expectativa?
N.
- Também noutras Escrituras sagradas, além do Alcorão, tal como o
Mahabharata indiano se encontra muita sabedoria [interrupção da
gravação, mas conhecia a Bhagavad Gita, lera-a, achava excelente e ainda citou uma frase] (….) Jesus era um homem de mente aberta a Deus e não era uma
pessoa dogmática.
P.
- Então é um optimista quanto ao processo da humanidade. Tem esperança
que Deus terá algumas pessoas a receber as suas bênçãos?
N.-
Temos de ser realistas e não optimistas… Realista é ver que a
humanidade segue os processos naturais. O homem nasce, vive e morre de
um modo natural. E porque na Natureza não há orientação (guidance), Deus
envia orientação, para a humanidade viver não só de um modo natural mas
também de um modo sensível e civilizado. Similarmente, as Escrituras
são dadas por Deus.
P - Lê todos os dias as Escrituras?
N - Sim. Leio e li muito, estudo-as e estou a trabalhar nelas.
N - Sim. Leio e li muito, estudo-as e estou a trabalhar nelas.
P - Então para si, mais importante do que orar, ou adorar ou meditar é ler as Escrituras e meditá-las? -
N - Deus
manda orar mas um pouco e não estar todo o dia. Ele quer que gaste o
dia, não para orar, mas para manter a sua vida. Manter uma vida
dignificada, uma vida justa e de serviço para os outros, resolver os
seus problemas e os problemas dos outros. Isto é o que Deus gosta.
P -
Então para ter força e ter discernimento para tal, é bom, como o Imam
Komeini diz, quando tivermos dúvidas, ver qual é a palavra de Deus e
agir.
N -
Quando estamos num beco sem saída, ou um dilema, deve-se procurar qual é
a palavra de Deus. E agir de acordo. E estar certo ou seguro que é
correcto.
P - Então, de tempos a tempos devemos ir às Escrituras, para procurar a solução para os nossos problemas?
N - Como é que podemos saber qual é a palavra de Deus? Porque nesse
momento não podemos consultar todas as Escrituras. A nossa fraqueza não
consegue descobrir a palavra de Deus. Então, em cada dia deve-se ler um
pouco, seja uma página ou um verso. Mas façamos disso um hábito diário.
Se é um cristão leia os Evangelhos, se é um islâmico leia o Alcorão, se
for…
P. – Se for uma pessoa universal, leia o que quiser!
N.
- Não, não, se é Cristão deve ler primeiro os Evangelhos, depois as
outras. Se é um Islâmico lê primeiro o Alcorão. E depois as outras.
Porque Deus diz: “Não és um crente senão lês as outras Escrituras.” E
Jesus no Evangelho de S. João diz:”Tenho muito mais coisas para vos
dizer, mas vós não tendes capacidade para comprendê-las. Alguém virá
depois que vos explicará tudo o que eu não vos disse.” Os Cristãos têm
de ler as outras Escrituras, tal como os Islâmicos têm de ler os Livros
anteriores. Isto dará bom senso, e o seguir-se a religião de um modo correcto, construtivo e lógico e não destrutiva e dogmaticamente.
P. – Certo. Quando eu estiver a ler o Alcorão lembrar-me-ei de si…»
Depois
virá Nasrin buscar-me para darmos uma volta de carro por Teerão e
almoçarmos. E seguimos para Book City Institute, onde converso um pouco na sala do director Mohammadkhani com
um poeta que apresentará um seu livro com outras pessoas.
E regresso a casa cedo, vendo sempre novos aspectos do belo e arrojado urbanismo de Teerão, cidade "resguardada" a norte pela vasta e elevada mítica montanha de Alburz, ainda tão bela e purificadora com a neve em Maio:
Nota:
Nota:
1- A
partir de Ali, o marido de Fatimah, a filha do profeta Maomé, houve mais 11 Imãs
(líderes escolhidos por Deus), que foram sendo conhecidos como os
seguidores ou a família de Ali, donde vem o nome de Shiitas, os quais foram sendo
assassinados pelos califas sunitas ou outros opositores. O 12º, Al-Madhi, para evitar ser
morto, desapareceu, enviando algumas mensagens durante alguns anos e,
por fim, ficou oculto. Crê-se, a partir de uns hadith, ou ditos,
do Profeta Maomé, que virá no mítico fim dos tempos ou, segundo alguns
místicos e visionários, a qualquer momento para os
fiéis que o invocam e merecem. Ao longo dos séculos houve alguns seres que se
proclamaram o Madhi, outros apenas afirmaram que a qualidade do Imanato ou que a liderança divina estava neles.
Em Portugal, no tempo do Al-Andaluz e de D. Afonso Henriques, houve um, o famoso governador de Silves Abû al-Kâsim Ahmad Ibn Qasî, que morreu em 1151 durante a sua luta contra a dinastia violenta almorávida, já depois de se ter proclamado Imam e Madhi, e ter gerado um movimento sufi e guerreiro, os Muridinos, ao estilo templário, sendo talvez por isso aliado de D. Afonso Henriques. Fora um dos mestres de Ibn Arabi, um dos maiores místicos de sempre do Islão, o qual relata alguns aspectos da sua vida em livros, tais como As Iluminações de Meca, o Fusûs al-Hikam e num Comentário ao Descalçar das Sandálias, a obra sufi de Abû al-Kâsim Ahmad Ibn Qasî que lhe sobreviveu, autor que em Portugal tem sido bem estudado e divulgado por Adalberto Alves.
Em Portugal, no tempo do Al-Andaluz e de D. Afonso Henriques, houve um, o famoso governador de Silves Abû al-Kâsim Ahmad Ibn Qasî, que morreu em 1151 durante a sua luta contra a dinastia violenta almorávida, já depois de se ter proclamado Imam e Madhi, e ter gerado um movimento sufi e guerreiro, os Muridinos, ao estilo templário, sendo talvez por isso aliado de D. Afonso Henriques. Fora um dos mestres de Ibn Arabi, um dos maiores místicos de sempre do Islão, o qual relata alguns aspectos da sua vida em livros, tais como As Iluminações de Meca, o Fusûs al-Hikam e num Comentário ao Descalçar das Sandálias, a obra sufi de Abû al-Kâsim Ahmad Ibn Qasî que lhe sobreviveu, autor que em Portugal tem sido bem estudado e divulgado por Adalberto Alves.
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