sexta-feira, 26 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XXI. Fé, Talismã e Ídolo. Trad. de Pedro Teixeira da Mota,

                                                   
                            Cap. XXI. Fé, Talismã e Ídolo.
 
«Simples como o fundamento Primordial são os últimos segredos da Natureza.
Não dissocies pela arbitrariedade dos teus pensamentos, o que germina da mesma raiz, e descobrirás em toda a parte as mesmas leis...
Ensinaram-te  porém a edificar um segundo mundo, um mundo sem fundamento nem causa primordial, e a essa edificação do não existente a partir do Nada chamaram os teus instrutores:- "Fé".--
Não é deste tipo de "fé" que devo conversar aqui, quando te falo da Fé!-
Esta não é a fé necessária à felicidade da tua alma!--
Queremos  abrir antes a tua sensibilidade para uma força eterna, que vive em ti, e que,  incessantemente em movimento vivo, constantemente criadora, reúne as Forças da tua Vontade na acção formada.-
A Fé é  força criativa no Espírito!
A Fé modela a forma, através da qual se define a acção da tua vontade!
A Fé é a forma de acção da Vontade!
Não podes verdadeiramente querer, sem acreditar,- pois uma vontade informe é uma força diluída e como tal desperdiça-se sem efeito.--
A partir do instante porém em que, pela tua Fé, conferes uma forma precisa à tua vontade, ela tornar-se-á uma força poderosa, capaz de transformar de tal modo os elos, aparentemente ligados solidamente, da corrente do devir exterior, que estes se podem moldar como a cera segundo a forma da tua Fé...
A tua alma suspira, enquanto não consegues ter fé, e na necessidade é capaz de te desviar para a superstição!--
A "Vida" da tua alma é Vontade, e toda a Vontade deseja ganhar a sua forma precisa na qual possa chegar a ter efeito.--
Quando sentires pela primeira vez, o que a “Fé” realmente é, então poderás verdadeiramente acreditar...
A tua Fé é o modelo, segundo o qual adquire forma o minério fundido do teu destino.-
A tua Fé precisa de liberdade absoluta!
Tu próprio és a norma da tua Fé!---
A tua Fé forma  para ti numa imagem o teu Deus, tal como ela formou os vossos Deuses...
Informe é a Divindade no seu Ser insondável...
Só formada é que ela se torna para ti sondável!--
Só se te revela a ti na tua forma! 
Por isso não podes mostrar o teu Deus ao teu irmão, pois ele não pode contemplar o teu Deus na eternidade ...
Ele vê a mesma Divindade, mas formada à sua imagem...
Acreditas ainda poder conduzir o teu irmão para o teu Deus mas, se ele se deixasse seduzir, tornar-se-ia um adorador de "imagem", e alienar-se-ia do seu Deus.---
O Um manifesta-se em infinitas desvendações e ai dos que O querem negar mesmo que seja numa só das Suas formas!
No mesmo piscar de olhos, em que descobrires impudicamente a outro ser a tua imagem íntima do teu Deus, terás perdido o teu Deus!-
Não acredites que, entre os milhares que se agrupam à volta de um nome de Deus em altos louvores, haja sequer dois crentes sinceros que acreditem do mesmo modo nesse Nome!-- 
A própria Fé pode contudo, servir-se de qualquer dos nomes de Deus - ou do Diabo...
O poder formador da Fé, que determina a tua vontade, é a única causa de toda a acção "mágica".
Magia "branca" e a magia "negra" enraizam-se no mesmo poder!
Tal como a força natural, que o relâmpago te anuncia, se torna utilizável para o Homem, se ele a souber cativar na forma, - ao poder ser retida e conservada em metais e recipientes, - assim também se deixa o poder da Vontade, que encontrou a sua forma através da Fé, aprisionar em objectos da matéria...
Em todos os cultos e em todos os povos encontras a mesma crença em objectos "consagrados", que têm em si forças elevadas.
Escarneces dessa crença e chamas-lhe "superstição".
Se queres atingir unicamente as fábulas que serpenteiam como trepadeiras em volta de tais coisas, tens toda a razão, - mas guarda-te de menosprezares a Realidade que está aqui velada!---
Qualquer objecto que tenhas “carregado”, pela tua vontade, claramente formada pela Fé, é um "Talismã", e já experimentaste frequentemente a acção de tais "talismãs", mesmo que nunca tenhas tido consciência da causa da sua acção e que nem em sonhos te tenhas apercebido que tu próprio te rodeaste de "talismãs"...
 O objecto é certamente apenas o portador e guardião de uma força livre em si,- agora cativa nele.---
Ele próprio não a possui!
A tua Fé formou a tua força de vontade e dirigiu-a, a maior parte das vezes sem um conhecimento racional, para esse "portador", que agora a guarda até que ela se esgote.---
Então a tua nova Fé  “recarrega”  o  "talismã", mesmo quando não o tenhas considerado como tal...
Qualquer objecto que uses para  dar bom resultado nisto ou naquilo, sem que ele seja absolutamente necessário para a tua acção, - é um "talismã", mesmo quando tu como um "esclarecido" troças da "superstição" ao ouvires falar de pessoas que se servem desses objectos plenamente conscientes, certas da sua eficácia constante.--
Tu -   és apenas "descuidado", - mas eles "sabem"! 
Semelhante a tal são as imagens dos Deuses!
O fetiche na cabana de um ser da selva, tal como a sublime imagem do culto de Atena.-
A estátua do santo na grandiosa catedral, tal como também a "imagem milagrosa" da capela antiga do mosteiro.-
Todas elas são "suportes" de forças de vontade concentradas de inúmeras pessoas, que através da Fé deram forma à sua vontade e a souberam impregnar nessas esculturas, - ou mesmo em pobres restos materiais provenientes, real ou apenas supostamente, de um  "santo" homem.---
É a Fé dos que rezam diante dessas coisas que "solta" as forças nelas reunidas.-
Por isso ninguém pode soltar essas forças, se não acreditar nelas,- pois só a Fé cria a elevada tensão das tuas correntes de vontade, que obriga essas forças da vontade, acumuladas e claramente formadas através da Fé, a fluir para a tua vontade e unidas a ela a agirem segundo a tua aspiração.---
Nós não queremos todavia influenciar-te a utilizares os "talismãs" de todos os cultos.
Também não queremos sugerir que devas comprovar em ti próprio as elevadas forças das imagens divinas ou "milagrosas", - embora devas manter essas coisas livres da tua troça, se queres conhecer em verdade a Lei, a que elas devem a veneração.-
Deves reconhecer apenas essa "Lei", e o que ela te oferece de possibilidades, se queres aprender a torná-las úteis na tua vida.--
Não estarás sempre com a mesma força de Vontade, - mas, se em tempos de maior vigor criares conservadores das tuas forças, então nos tempos de fraqueza viverás em ti verdadeiros "milagres"...
Qualquer objecto, que gostes de usar, ou que  te rodeia diariamente, poderá tornar-se o portador e o amplificador das tuas forças da Vontade, e poderás então, em momentos que não te sintas à tua altura, "accionar" desse conservador por ti criado as forças que nesses momentos precisas...
Servem idealmente, contudo, para conservadores ou guardiões as coisas de maior beleza !---
O que já deve a sua existência a uma elevada força de formação, será o que melhor conterá para ti a força formada em si.--
Rodeia-te de tais objectos de modo aque, diariamente em horas de maior elevação, possas encher e saturar com o tipo de força formada pela vontade, que necessitarás em horas de fraqueza!
Leva  sempre  esses objectos  contigo, para onde quer que vás!-
Acredita que podes transmitir a tua melhor força a essas coisas, e que as receberás de novo, logo que  necessitares delas!
Verdadeiramente,- esta fé não é nenhuma "superstição"!
Ainda não presentes, quão "reais" são as forças da tua vontade, e quanto poder tens nas mãos, quando aprenderes a "formar" a tua vontade através da Fé!-- 
Não destruas porém a tua Fé com reflexões vãs: - tal como o modo de  a “explicar psicologicamente"?!-
Se alguém te vier falar de "auto-sugestão", não te deixes confundir!
Com tais palavras nada é "explicado"!
Apenas se usa uma  palavra nova, mas com tal não se pode tornar compreensível a actividade que assenta em  forças superiores.--
A Natureza age de acordo com a sua estruturação [art] e não espera que tudo possas "explicar" a sua acção.---
Como  nós vemos as coisas, aprendes nestas minhas palavras.
Se partilhamos a verdade, só poderás certificar-te quando quiseres empreender a prova.---»

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