segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Uma carta do Prof. Manuel Ferreira Patrício, um espiritual, agradecendo o "Modo de Orar a Deus", de Erasmo. E a sua última entrevista, em vídeo.

Muita luz e amor na sua alma e coração espiritual!
Manuel Ferreira Patrício nasceu em Montargil, Portalegre, a 23 de Setembro de 1938. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa  em 1966.  Foi professor do Ensino Primário e do  Liceal até 1984, quando se doutorou em Ciências da Educação. Exerceu numerosas funções na Universidade de Évora até chegar a professor catedrático ( 1993 -2006) e a reitor (2002-2006).
Escreveu várias obras de Filosofia, Pedagogia, Educação, Música, e Cultura portuguesa, nomeadamente sobre Leonardo Coimbra e Fernando Pessoa, e deixou muita colaboração em jornais, actas e revistas, tendo fundado e dirigido algumas destas, para além de ter fundado um coro e ser um bom conhecedor de música e canto.
Encontrei-me com ele algumas vezes ao longo dos anos, e
m especial em exposições, colóquios e conferências, e em alguns dos meus diários anuais tenho registos de diálogos, que espero um dia transcrever.
Partiu pa
ra os mundos espirituais de Elvas 2021, com 82 anos. Uns meses antes, em Setembro de 2020, fui visitá-lo com a sua colega no Liceu Normal de Évora, e hoje também doutorada em arte pela Universidade de Évora com uma pioneira tese Percursos Têxteis em confronto, continuidade e roturas, Maria Dulce Santana a sua vasta casa ajardinada e com notável salão biblioteca, em Montargil, tendo gravado uma parte, fragmentada mas substancial,  do nosso diálogo, com confissões muito valiosas da sua espiritualidade, como pode ouvir no Youtube: https://youtu.be/cD11Ars02Nw 

                                   

«Montargil, 30 de Janeiro de 2009

Estimado Amigo:
Conforme me
tinha anunciado, recebi a semana passada o livro Modo de Orar a Deus, do nunca esquecido Desidério Erasmo. Agradeço-lhe a oferta.
Até agora, só havia
lido de Erasmo o Elogio da Loucura, editado entre nós pela [Editora] Guimarães do Francisco Cunha Leão. Só o facto de a presente obra vir enriquecer a estante erasmiana na língua portuguesa basta para tornar o seu aparecimento como acontecimento memorável.
Depois, Erasmo está
ligado a nós com alguma profundidade. Logo a seguir, através da sua amizade com Damião de Góis. Depois ainda, por via indirecta, através da sua amizade com Thomas More, em cuja UTOPIA estamos presentes explicitamente. Finalmente, para mim, através dos estudos longamente continuados de José Pina Martins, que culminaram há uns anos - tanto quanto me é dado saber - com a sua obra UTOPIA II, no meio do qual vejo palpitar o espírito crítico de Erasmo (e, como entende António Lopes [?], também o de [P. António]Vieira).
Mas esta obr
a tem um interesse excepcional, pois [é, (não decifrei..) ?] do Erasmo religioso. Ora, afinal, é muito mais religioso do que muitos dos seus intérpretes me têm dito e, de igual modo, muito menos ambíguo. Ao que me parece, evidentemente. Lembro-me neste caso de que a certa altura escreveu André Malraux, o autor da Condição Humana: " O homem do século XXI será religioso, ou não será". Eis como Erasmo, com a presente obra, chega a tempo, talvez, só com o atraso dos oito anos já passados [do século XXI]
Estou a ler a sua obra com todo o inte
resse. A edição agora publicada entre nós deve-lhe a si, só, muito. Pela participação na tradução, pela valiosa Introdução e, finalmente, decerto pela iniciativa de a publicar.
Por tudo queira receber o meu obrigado
O brev
e texto da carta das publicações Maitreya que acompanha a oferta da obra é de uma simpatia imensa para comigo. Não mereço uma palavra, evidentemente, mas gostava de a merecer. Mas assim fiz na vida até aqui: procurar, de facto, a verdade, a seriedade e o bem dos outros, tudo no horizonte do sentido da transcendência. Fiz, todavia, bem pouco. Cheguei, todavia, bem perto de aonde estou e bem longe de aonde está o que  [mais]  importa.
Muito obrigado pela simpatia com que m
e tenho sentido sempre acolhido por si. Essa simpatia é retribuída.
Peço-lhe, finalmente, que transm
ita os meus agradecimentos à Maitreya.
Um ab
raço do Manuel Patrício.»

 Realcemos para concluir, o ambiente tão simpático e pleno de amor que Manuel Ferreira Patrício transmite na relação de amizade comigo, as referências admiradoras de Erasmo e de José V. de Pina Martins, nosso comum e excelente amigo (e sob a sua égide nos encontramos uma ou duas vezes na Academia das Ciências) e, sobretudo, no que sentimos na carta quase como já o testamento da sua vida ética e espiritual, sobretudo agora que ele já partiu para o além: «procurar, de facto, a verdade, a seriedade e o bem dos outros, tudo no horizonte do sentido da transcendência. Fiz, todavia, bem pouco. Cheguei, todavia, bem perto de aonde estou e bem longe de aonde está o que  [mais]  importa.»  Que beleza de sabedoria humilde e profunda...

Enviemos pois as nossas orações e raios anímicos para Manuel Ferreira Patrício, desejando que vá estando agora cada vez mais próximo, no seu interior, da Divindade, "que é o que mais importa"....

                                   

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