quinta-feira, 18 de julho de 2024

"Pia Desideria" ou "Desejos Piedosos": o II Livro, e os seus 15 emblemas reproduzidos e comentados.

A Pia desideria, Desejos piedosos, de Herman Hugo, dada à luz em 1624 em Antuérpia, num in-12º de (28)-412-(3) páginas, foi a obra religiosa de emblemas que teve mais sucesso nos séculos XVII e XVIII, com dezenas de edições em latim e nas línguas vulgares,  constituindo um repositório de imagens de mensagem moral e espiritual que podemos admitir ou considerar como já bastante introduzido no inconsciente colectivo ocidental, sobretudo cristão, e logo operativo ao ser contemplado, lido, meditado, assimilado...

Tendo apresentado num artigo anterior mais historicamente a Pia Desideria, que está dividida em três livros, cada um com 15 emblemas e seus comentários, e tendo reproduzido os emblemas do I Livro, comentando-os, resolvi prosseguir com os quinze emblemas do II Livro, comentados brevemente. Anote-se que houve noutras edições outros artistas a gravarem com simbologias diferente os motes dos versículos bíblicos, as que reproduzo sendo as da 1ª edição, de 1624, em Antuérpia, realizadas pelo notável Boetius Bolswert (1580-1633), na tipografia de Henrick Aerstsfen (1586-1658). Não transcrevemos nem traduzimos os versículos bíblicos que constituem a legenda ou letra do emblema, que pode ler sob cada gravurinha em que a alma dialoga com o Amor Divino, ou o Anjo da Guarda, ou o Cristo, sob a forma de um Anjinho.

                                        

Neste emblema vemos a alma afastando as sugestões amorosas dum Anjo Cupido (ao fundo, um cavalo aos pinotes) e olhando antes para as leis ou mandamentos sócio-religiosos (ao fundo, o touro manso), patenteados pelo Anjo aureolado, que pode simbolizar o mestre Jesus, ou o Amor Divino, preceitos que a podem orientar para se tornar justa ou justificar perante Deus e a sua consciência ética mais elevada.

A alma, vestida como uma peregrina do caminho de Santiago, exprime o seu desejo em prece de ser guiada pelas inspirações mais elevadas e divinas e assim avançar no labirinto de cada jornada diária.
                                                             
A alma, num andarilho, algo partida e cansada, aspira e tenta avançar segundo as instruções do Anjo algo fisioterapeuta, que ecoa a sabedoria divina, o Mestre, a Divindade interna: porfia, persevera, usa a tua vontade conscientemente.
  
A alma, em dúvidas, pede que a severidade, o castigo, o temor, o medo, lhe sejam mostrados, sentidos, para se decidir pela via correcta e agradável ao Mestre, à Providência Divina.
    
A alma pede  ao Anjo da guarda que a faça evitar as tentações de vaidades e aparências, e que os seus olhos e a mente não sejam tão curiosos face aos estímulos diversos do mundo.
       
A alma pede ao seu Anjo e voz da consciência que a ajude a manter o seu coração conformado com o arquétipo divino e portanto sem manchas, limpo, puro, aberta apenas a inspirações do Bem.
                                                     
- Onde estamos melhor é nos campos, no meio das árvores e das aves, longe da agitação e poluição citadinas. Partamos, peregrinemos e desfrutemos a Natureza.
A alma pede ao Espírito, ao Anjo, ao Cristo, que a ajudem  a segui-los e a desfrutar das suas fragrância perfumadas.
 
A alma aspira a manter uma relação fraterna com o espírito, com o Anjo, com o mestre, como se fosse uma irmã mais nova, amada e protegida por eles. E promete amá-los, lembrar-se deles durante o dia a dia. pedindo-lhes inspirações, comungando com eles.
Não é fácil deitar-nos e descobrirmos o Anjo, o Espírito. Há que trabalhar, levantar-nos, orarmos e meditarmos e então talvez o possamos encontrar e sossegarmos.
A alma muitas vezes, deve decidir-se a deixar os seus confortos e ir à procura do Divino espírito pela noite a fora.
Nesta busca do Amado, que nos leva para além dos muros e guardas, subitamente podemos encontrá-lo, quem verdadeiramente mais nos ama. e  devemos então abraçá-lo, cingi-lo, estabilizarmos na unidade,
É bom caminhar às cavalitas dos que nos precederam no caminho, dos grandes seres e mestres que deixaram testemunhos que aumentam a nossa confiança no Anjo, na abertura ao espírito divino  em nós.
A alma que sabe sentar-se diante das árvores e à sombra do ser sagrado, respirar conscientemente, orar e contemplar o Divino, harmoniza-se, ilumina-se, serena.
Mesmo ignorantes de tantos aspectos misteriosos da vida na Terra, podemos sentir a comunhão interior com o amor, o espírito, o anjo, a Divindade  nisso desfrutarmos a paz e amor divinos e cooperarmos melhor com a Providência divina.

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