Resolvendo revisitar postais que me foram endereçados, para trazer à luz alguns com mais interesse, seja pelo conteúdo seja pelas almas amigas que mos enviaram, e que em geral desapareceram da minha vista e conhecimentos, encontrei também uma dúzia de escritos por mim e não enviados, ou então recuperados dos familiares a quem os dirigira, e dois ou três escritos por outros e para outras pessoas, um deles mais valioso e que nem sei como me chegou às mãos, mas que só pode ter sido dado pela Dalila, ou estar dentro de algum livro que a Dalila me deu, ou que me retornou, já que ora lhe dei ora lhe emprestei alguns
Como é um postal com conteúdo relevante do tão humano padre e investigador de cultura, religião e mística portuguesa Mário Martins e dirigido à Dalila Pereira da Costa, que era sua amiga e que me apresentou a ele, resolvi transcrevê-lo e assim preservá-lo com o que ele contém da personalidade de Mário Martins e sobretudo da sua compreensão das místicas portuguesas.
O
místico poeta Frei Agostinho da Cruz, num azulejo do séc. XVII-XVIII do
convento da Arrábida, fotografado por mim, e reproduzido com
autorização do conde da Póvoa. |
Anote-se que nos anos circundantes do postal, Dalila Pereira da Costa investigava e escrevia uma obra importante sobre os espirituais portugueses, que saiu em 1986, na Lello, no Porto, com o título Místicos Portugueses do século XVI e que levava a dedicatória inicial: «Ao Padre Dr. Mário Martins, S. J., a quem devo o pedido de escrever sobre os místicos portugueses do século XVI», e em cujo prefácio agradecia ao P. Mário Martins os seus estudos sobre Frei Sebastião Toscano e D. Manuel de Portugal, a Quirino Catita a indicação de escritos inéditos da freira carmelita Maria Perpétua da Luz existentes na Biblioteca Municipal de Beja, e a mim por lhe ter emprestado quatro livros antigos de mística portuguesa, três deles biográficos das freiras Soror Isabel de Menino Jesus, Soror Maria Joana e Soror Brízida de Santo António, e sobre as quais, com mais outras, recentemente escrevi um artigo para o I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística realizado no sacromonte do Bom Jesus, em Braga.
É natural que ela tenha lido o livro recomendado pelo P. Mário Martins, a Autobiografia (1652-1717) da madre Antónia Margarida de Castelo Branco, saído à luz pela 1ª vez apenas em 1984 em Lisboa, bem apresentada por João Palma Ferreira, o qual embora não fosse um espiritual ou um místico e passasse ao lado dos aspectos mais espirituais da obra, mesmo assim inquiria antropológica e sociologicamente a verdade e seus contextos bem.
No breve postal o Padre Mário Martins mostra a sua preferência por uma mística equilibrada da elevação das capacidades anímicas cognitivas e afectivas para com Deus, embora tendo eu lido a obra tenha sentido alguma pusinamilidade, uma certa desconfiança exagerada de si próprio e logo dependência dos confessores. Quanto à menor predileção de Mário Martins pelo visionarismo, sem dúvida que algumas foram vítimas da imaginação emocional e projectiva, enquanto outras não: simplesmente viram com o seu olho espiritual...
Agradecido e Boas Festas da Páscoa. Antes que me esqueça: Aí no Porto, devem estar à venda as edições da Biblioteca Nacional de Lisboa. Entre elas, vem lá uma obra que tem logo ao cimo na capa: Autobiografia... Não o tenho aqui, mas é uma autobiografia notável (embora já posterior ao séc. XVI) de mística serena e sem visionarismos. E dramática. Essa senhora nobre separou-se do marido e fez-se freira. O marido converteu-se depois e fez-se frade. Mas ela fala pouco do marido. Não é uma exaltada. É uma vida mística, serena e sem imaginação no mau sentido da palavra. Eu li-a num dos 2 manuscritos (o melhor) que vendi depois à Biblioteca Nacional. Adeus e reze por mim, Mário Martins.»
Que a Dalila e oP. Mário Martins, e os místicos e místicas referidos, possam estar muito activos na Luz e Amor da Divindade e, com os seus espíritos celestiais, nos possam inspirar e fortalecer! Aum, Amen, Amin!
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