Foi a 3 de Julho de 1886, da mesma geração mundial que Leonardo Coimbra e Fernando Pessoa, que nasceu em Jamkhandi, na Índia, Gurudev Ranade, um dos mais brilhantes yogis e filósofos indianos do século XX, no verdadeiro sentido da palavra, pois juntava ao trabalho intelectivo, um modo de vida harmonioso e uma prática e experiência espiritual, assente na devoção a Deus. Foi professor de Filosofia e chegou a vice-Chanceler na Universidade de Allahabad, desincarnando em 1957. Consagrámos-lhe já uma biografia: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/07/guru-ranade-um-verdadeiro-yogi-e.html Dentre os seus ensinamentos escolhemos alguns para esta breve apresentação.
«A minha filosofia não é diferente da minha vida... As dores e as misérias que possa vivenciar ajudarão a purgar a mente das suas impurezas...
Uma vez gerada a devoção, a qualidade torna-se mais importante que a quantidade...
A miséria pode ser suportada; os ataques de tentação, o ódio, podem ser tolerados; mas a dor física torna-se insuportável a partir de certo limite. Em tais ocasiões a única via que permanece aberta é orar a Deus para nos permitir meditar...».
«A minha filosofia não é diferente da minha vida... As dores e as misérias que possa vivenciar ajudarão a purgar a mente das suas impurezas...
Uma vez gerada a devoção, a qualidade torna-se mais importante que a quantidade...
A miséria pode ser suportada; os ataques de tentação, o ódio, podem ser tolerados; mas a dor física torna-se insuportável a partir de certo limite. Em tais ocasiões a única via que permanece aberta é orar a Deus para nos permitir meditar...».
Valorizava pois o suportar as dores e as provações e ainda muito a aspiração e a determinação dos yogis, considerando porém indispensável a ligação com um mestre:
«A forma (subtil, vista no olho espiritual) de Deus deve descer sobre nós, e para isso acontecer deve haver um instrutor ou mestre de elevado nível espiritual. Só então ele pode fazer descer tal [visão de forma pessoal da Divindade] para o nível inferior do discípulo. Se o mestre nada tem, o discípulo nada recebe. Por vezes pode acontecer o discípulo receber algo, mesmo que o professor nada tenha. Mas havendo um limite para isso, o discípulo pode deixar de fazer progressos», se continuar ligado a esse instrutor, o que sucede frequentemente ao criarem-se laços nos grupos e em relação ao instrutor os quais tendem a prender as pessoas neles.
Para o gurudev Ranade, o brâmane [o membro da casta religiosa] é quem realizou Brahman, a Divindade, ou seja, aquele que conseguiu estabelecer uma comunicação fácil com Deus e para quem nada é mais querido ou amado que a forma com que Deus se lhe manifesta.
A sua sadhana, ou caminho de prática espiritual, assentava sobretudo na devoção ou sentimento amoroso (bhava) para com Deus e depois na meditação no nome (nama) de Deus e na sua forma (rupa). E nessa prática desenvolveu notável sensibilidade e profundidade, fazendo a dança da mente cessar (conforme os Yoga sutras, I-2: Yoga citta vritti nirodha), e chegando ou estabilizando na atmaswarupa, a sua forma espiritual (conforme Yoga sutras, I-3 Tada drashtuh svarup evasthanam), e discernindo até particularidades da fisiologia subtil, tal a necessidade de abrir a abertura existente no ventrículo do coração espiritual, algo que já o poeta santo Kabir cantara. Ou que o pôr em movimento simultaneamente os oito chakras ou centros-órgãos do corpo subtil, era um bom sinal de avanço no caminho para Deus.
Numa das suas cartas, quando doente, dizia ao seu guru: «Estou a tentar praticar a sadhana o mais possível. Muito raramente tenho a visão suprasensorial da lua crescente em luz azul. Se recuperar a saúde praticarei a repetição do nome de Deus pelo menos uma hora duas vezes por dia», referindo assim cores e formas típicas da meditação
«A forma (subtil, vista no olho espiritual) de Deus deve descer sobre nós, e para isso acontecer deve haver um instrutor ou mestre de elevado nível espiritual. Só então ele pode fazer descer tal [visão de forma pessoal da Divindade] para o nível inferior do discípulo. Se o mestre nada tem, o discípulo nada recebe. Por vezes pode acontecer o discípulo receber algo, mesmo que o professor nada tenha. Mas havendo um limite para isso, o discípulo pode deixar de fazer progressos», se continuar ligado a esse instrutor, o que sucede frequentemente ao criarem-se laços nos grupos e em relação ao instrutor os quais tendem a prender as pessoas neles.
Para o gurudev Ranade, o brâmane [o membro da casta religiosa] é quem realizou Brahman, a Divindade, ou seja, aquele que conseguiu estabelecer uma comunicação fácil com Deus e para quem nada é mais querido ou amado que a forma com que Deus se lhe manifesta.
A sua sadhana, ou caminho de prática espiritual, assentava sobretudo na devoção ou sentimento amoroso (bhava) para com Deus e depois na meditação no nome (nama) de Deus e na sua forma (rupa). E nessa prática desenvolveu notável sensibilidade e profundidade, fazendo a dança da mente cessar (conforme os Yoga sutras, I-2: Yoga citta vritti nirodha), e chegando ou estabilizando na atmaswarupa, a sua forma espiritual (conforme Yoga sutras, I-3 Tada drashtuh svarup evasthanam), e discernindo até particularidades da fisiologia subtil, tal a necessidade de abrir a abertura existente no ventrículo do coração espiritual, algo que já o poeta santo Kabir cantara. Ou que o pôr em movimento simultaneamente os oito chakras ou centros-órgãos do corpo subtil, era um bom sinal de avanço no caminho para Deus.
Numa das suas cartas, quando doente, dizia ao seu guru: «Estou a tentar praticar a sadhana o mais possível. Muito raramente tenho a visão suprasensorial da lua crescente em luz azul. Se recuperar a saúde praticarei a repetição do nome de Deus pelo menos uma hora duas vezes por dia», referindo assim cores e formas típicas da meditação
Muito era o seu amor por Deus, e pela iluminação das almas, alegrando-se quando sabia que elas avançavam na devoção e assim, uma vez, começou a chorar ao pensar que eram tantas as almas que desperdiçavam o seu tempo terreno sem tentarem conhecer ou ligar-se a Deus, exclamando: «O que sucederá a esses pobres seres?» Vemos bem como gurudev Ranade se diferenciava dos que pensam que as pessoas logo que morrem são encaminhadas por um túnel de luz para planos elevados e são recebidas por familiares ou guias.
Crítico era também da ilusão da Ciência como nova religião, apontando o exemplo de Descartes pois, apesar dos seus conhecimentos científicos e matemáticos, duvidava ainda da existência de Deus, que para Ranade era e é a única Realidade verdadeira e perene, e com a qual comungava diariamente nas suas meditações silenciosas, por vezes bem longas.
A sua compreensão dos avataras, ou incarnações de Deus, não era a tradicional (tal como é expressa na Bhagavad Gita, IV.7), segundo a qual Deus avatariza ou desce num corpo físico para proteger os bons e os seus devotos e derrotar os inimigos, mas uma mais subtil: o avatar é uma visão de Deus que desce do alto e manifesta-se diante de alguém numa forma específica, sem ser num corpo físico, sugerindo mesmo que tal se pode considerar análogo ao Espírito, o Atman, que assume luminosamente a forma do corpo do indivíduo. E é pelo fogo da aspiração devocional que o discípulo consegue receber do guru, do espírito ou da Divindade a percepção beatifica da unidade, ou da presença unitiva divina, entre eles.
É a repetição do nome da Divindade o meio principal que fará aumentar a visão da luz divina e diminuir a identificação ilusória à personalidade, permitindo que a unidade da alma espiritual com Deus seja sentida e realizada.
Acerca desta repetição do nome de Deus, Ranade deixou alguns ensinamentos valiosos, tal o de dizê-lo e simultaneamente ouvi-lo, primeiro em voz alta e depois só silenciosamente, conseguindo ao fim de algum tempo que o nome Divino se pronunciasse interiormente sem esforço da sua parte.
Mas outro nível mais completo da meditação acontecia quando a luz, a cor e a forma do seu Atman, a sua swarupa, também chamado o Antaryamin, eram por ele vistas no olho espiritual, conforme até o ensinamento dos dois primeiros sutras de Patanjali já referidos, ou quando olhava para o vasto espaço de dia ou de noite, e unia o seu Antaryamin (o habitante ou regente interior) com Bahiryamin (o transcendente, Brahman, a Divindade), crescendo por essas percepções meditativas interiores (por vezes bem prolongadas e acima de fomes e dores) a devoção (bhava), o amor (prema), a adoração, a beatitude (ananda), a unificação divina.
Possamos nós persistir mais nas meditações, nas repetições devotas dos nomes sagrados, e estabilizar mais na harmonia e paz do nosso ser espiritual, atman, na unidade divina. E possam o guru Ranade ou outros mestres, santos e santas guiarem-nos na intensificação relacional sábia e amorosa com o espírito, a Divindade e a Humanidade harmoniosa.
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