O conceito de Daena, ou Den na tradição espiritual persa teve vários sentidos cognatos tais como sabedoria, consciência, eu, essência, mente, e sobretudo personificação do espírito tutelar ou anjo da Guarda mas embora bem valioso e estudado por alguns, não conseguiu entrar na mentalidade e cultura religiosa ocidental, nem sequer nas correntezas do New Age angélico, em que pelo contrário foram as cabalices dos 360 nomes dos Anjos a tomarem conta da maioria dos best-sellers da mistificação angélica moderna. E contudo as obras de Henry Corbin (principalmente), Louis de Massignon e G. Widengren cumprem as melhores exigências.
Henry Corbin foi o que mais aprofundou a temática dos mundos e seres espirituais da longa tradição iraniana e numa das suas obras mais originais Corpo espiritual e Terre Celeste. De l'Iran Mazdéen à l'Iran shi'ite correlaciona abundantemente tal continuidade, afirmando logo no prefácio: «Há no Madzeísmo e em Sohrawardi os Anjos da Terra, com Spenta Armaiti e Daêna, figuras da Sofia eterna, e há na gnose shi'ita, a pessoa de luz de Fátima, filha do profeta [e casada com Ali, o 1º Iman shi'ita e a fonte dos outros], ela mesma figura da Sofia e da Terra Celeste». E em várias outras páginas elucidará magnificamente estas entidades e mundos espirituais:«Daêna é com efeito o Anjo feminino que tipifica o Eu transcendente ou celeste; ela aparece à alma na aurora que sucede à terceira noite após a sua partida da Terra, ela é a sua Glória e seu Destino, seu Aion».
Aos autores aludidos podemos juntar Raymond Kuntzmann, no seu Le Symbolisme des Jumeaux au Proche-Orient Ancien, de 1983, pois dá também contributos, tal o de apontar a provável dupla etimologia de Daêna, seja de day - ver, seja de dhena - alimentar, e o de lembrar que no texto pré-zoroastriano Hâdoxt Nask, na viagem da alma no post-mortem para o céu, esta «reencontra a sua daêna, a sua personalidade espiritual que permaneceu no céu e com a qual se deve unir para reformar o ser humano total», anotando que tal conceptualização, segundo a hermenêutica de Widengren n'As Religiões do Irão, pode ter derivado da muito cultuada Deusa das Águas ou Deusa Mãe Anahita, e realçando que tal contraparte celestial não está num estado supra-humano e de pureza imutável, já que depende das acções da alma humana, que a podem tornar bela ou feia e que tal tem portanto consequências fatais ou definitivas (ou melhor, purgativas e demoradas) para o ser humano. E sabemos que vários sábios e estudiosos têm realçado, nessa mesma linha, que as entidades benéficas ou assustadoras, deuses ou demónios que ao morrer possamos ver ou atrair dependem muito dos conteúdos psíquicos nossos, mais ou menos harmoniosos ou integrados, ou seja, do estado da nossa alma.
Raymond Kuntzmann escreverá mesmo que «a daêna, quando ela é bela, tem a forma ideal de uma jovem rapariga de quinze anos [idade que não é afirmada nos textos sagrados], que o Zoroastrismo valoriza como o «eu» superior da alma humana, esta própria idealizada sob a forma de um jovem. A alma pede à Daêna que ela serve. E esta responde-lhe que ela é a sua daêna [a sua contraparte angélica], e que a sua beleza provém das suas boas acções feitas na Terra; depois deste diálogo, as duas unem-se no paraíso».
Aos autores aludidos podemos juntar Raymond Kuntzmann, no seu Le Symbolisme des Jumeaux au Proche-Orient Ancien, de 1983, pois dá também contributos, tal o de apontar a provável dupla etimologia de Daêna, seja de day - ver, seja de dhena - alimentar, e o de lembrar que no texto pré-zoroastriano Hâdoxt Nask, na viagem da alma no post-mortem para o céu, esta «reencontra a sua daêna, a sua personalidade espiritual que permaneceu no céu e com a qual se deve unir para reformar o ser humano total», anotando que tal conceptualização, segundo a hermenêutica de Widengren n'As Religiões do Irão, pode ter derivado da muito cultuada Deusa das Águas ou Deusa Mãe Anahita, e realçando que tal contraparte celestial não está num estado supra-humano e de pureza imutável, já que depende das acções da alma humana, que a podem tornar bela ou feia e que tal tem portanto consequências fatais ou definitivas (ou melhor, purgativas e demoradas) para o ser humano. E sabemos que vários sábios e estudiosos têm realçado, nessa mesma linha, que as entidades benéficas ou assustadoras, deuses ou demónios que ao morrer possamos ver ou atrair dependem muito dos conteúdos psíquicos nossos, mais ou menos harmoniosos ou integrados, ou seja, do estado da nossa alma.
Raymond Kuntzmann escreverá mesmo que «a daêna, quando ela é bela, tem a forma ideal de uma jovem rapariga de quinze anos [idade que não é afirmada nos textos sagrados], que o Zoroastrismo valoriza como o «eu» superior da alma humana, esta própria idealizada sob a forma de um jovem. A alma pede à Daêna que ela serve. E esta responde-lhe que ela é a sua daêna [a sua contraparte angélica], e que a sua beleza provém das suas boas acções feitas na Terra; depois deste diálogo, as duas unem-se no paraíso».
Nesta forma simplificada de descrever o percurso no mundo espiritual da alma. indica-se que ela pode ficar unificada com a sua dimensão transcendente, a sua contraparte angélica e assim viver e movimentar-se nos keshvars ou mundos-orbes espirituais, no seu corpo glorioso, augoeides e doxa, na tradição grega e de certo modo o duplo luminoso, barzak, onde se manifesta mais o estado beatífico ou de farah, na tradição sufi iraniana.
Este contributo de Raymond Kuntzmann é valioso quando é consciencializado, pois sendo o Belo ou a beleza para cada vez mais pessoas um bem ou valor importante, seja nos outros seja nelas, podem a tornar-se mais atentas aos efeitos dos seus comportamentos, sentimentos e pensamentos na alma em vida e após a morte, sabendo que de tal dependerá o estado do ser angélico que se receberá, e na tradição ao atravessar-se a ponte (de Chinvat) ou túnel para os mundos subtis e espirituais.
A pluridimensional e de certo modo pouco definida (pela sua subtilidade) concepção ou visão da Daena é focada por Kuntzmann segundo a tradição zoroastrica muito praticamente, como que nos dizendo: - Quando morreres não penses que tens garantido uma contraparte angélica muito bela e doce, pois tudo depende do que fizeste ao longo da tua vida. Toma cuidado em cada dia e acto, pois cada má, mentirosa ou desequilibrada acção, pensamento ou sentimento, deixa marcas não só em ti, mas também na tua daêna. E assim se agiste mal, em vez de uma santa, musa ou amada podes encontrar uma alma desgrenhada e algo assustadora, como aparece nas tradições russas (conforme a pintura, baseada no folclore da alma russa, de Bilibin) ou tibetanas.
Este contributo de Raymond Kuntzmann é valioso quando é consciencializado, pois sendo o Belo ou a beleza para cada vez mais pessoas um bem ou valor importante, seja nos outros seja nelas, podem a tornar-se mais atentas aos efeitos dos seus comportamentos, sentimentos e pensamentos na alma em vida e após a morte, sabendo que de tal dependerá o estado do ser angélico que se receberá, e na tradição ao atravessar-se a ponte (de Chinvat) ou túnel para os mundos subtis e espirituais.
A pluridimensional e de certo modo pouco definida (pela sua subtilidade) concepção ou visão da Daena é focada por Kuntzmann segundo a tradição zoroastrica muito praticamente, como que nos dizendo: - Quando morreres não penses que tens garantido uma contraparte angélica muito bela e doce, pois tudo depende do que fizeste ao longo da tua vida. Toma cuidado em cada dia e acto, pois cada má, mentirosa ou desequilibrada acção, pensamento ou sentimento, deixa marcas não só em ti, mas também na tua daêna. E assim se agiste mal, em vez de uma santa, musa ou amada podes encontrar uma alma desgrenhada e algo assustadora, como aparece nas tradições russas (conforme a pintura, baseada no folclore da alma russa, de Bilibin) ou tibetanas.
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