domingo, 28 de julho de 2024

"O que é que a Índia nos pode ensinar", de C. G. Jung, 1939. Da evolução dos povos, da natureza não predatória da civilização Indiana, do valor da arte erótica dos templos. Leitura em tradução, em vídeo, e brevemente comentada por Pedro Teixeira da Mota, aquando dos 149 anos de Jung.

O que é que a Índia nos pode ensinar é o título dum texto de Carl Gustav Jung (1875-1961) escrito em 1939 em inglês e  inserido na Psychology and the East, publicada pela Routledge & Kegan Paul em 1978 e a partir das Obras Reunidas de Jung.

Entre os capítulos da obra distinguem-se alguns que já traduzi e comentei em gravação de vídeo, e que encontra no meu canal no youtube, nomeadamente a Psicologia da Meditação Oriental, os Homens Santos da Índia, e agora este O que a Índia nos pode ensinar. Consegui lê-lo em meia hora, infelizmente o tempo limite da minha máquina de fotografia, pelo que fui bastante breve nos comentários, mas ainda assim creio que ficou razoável e compreensível o texto e a leitura comentada, apesar de ainda o ir aprofundar agora por escrito.

 Foi gravado em 28 de julho de 2024, nas comemorações do 149º aniversário do nascimento do notável psicólogo, psicanalista e alquimista do inconsciente, e como tem sempre a mesma imagem de fundo,  pode ouvi-lo enquanto faz algo.

Um livro que deve ser bom...

No texto Jung apresenta algumas das ideias ou conceitos que formulou em contacto com a Índia quando a visitou brevemente uns meses antes em 1938, onde deixa transmite algumas compreensões quanto à evolução das ideias religiosas na Índia, valorizando bastante Budha, um pioneiro revolucionário, afirmando o seu ensinamento de que «o ser humano iluminado é até o redentor e iluminador dos deuses (não a sua negação estúpida, como o iluminismo Ocidental fez)», e passando depois de certo modo a criticar estar a estudar-se muito (então) os textos filosóficos clássicos hindus da Índia  e não tanto os ensinamentos budistas do cânone Pali, mais interessantes e desafiantes.
Em segu
ida lança a sua teoria mais original, mas que não está longe da que Rudolf Steiner alguns anos divulgara também, de que o indiano não pensa mas é pensado pelos seus pensamentos, de certo modo como os primitivos, ou seja recebe os seus pensamentos como resultados de um processo inconsciente. Talvez uma outra analogia explicite isto, segundo o meu sentir: as energias telúricas e do inconsciente e as celestiais do supraconsciente estão mais livres, activas, trabalhads e cultuadas na Índia e em qualquer 
indiano.
Em seguida expende o juízo valorativo talvez mai
s misterioso, já que não o explicita, e que me apanhou de surpresa ao traduzir o texto, pois quase sempre estas gravações são o modo de eu me obrigar a ler um texto, gerando ainda efeitos benéficos para os outros que as possam ouvir.
Escreveu
ele então assim: «o raciocínio primitivo  é sobretudo uma função inconsciente, e ele percebe os seus resultados. Devemos esperar tal peculiaridade de uma civilização que tenha gozado de uma continuidade quase inquebrada desde tempos primitivos.// A nossa civilização ocidental de um nível primitivo foi subitamente interrompida pela invasão de uma psicologia e espiritualidade pertencendo a um muito mais elevado nível de civilização. O nosso caso não foi tão mal como o dos Negros ou os Polinésios, que se encontraram subitamente confrontados com a infinitamente mais levada civilização do homem branco, mas em essência era o mesmo. Nós fomos parados no meio de um ainda bárbaro politeísmo, que foi erradicado ou suprimido no decorrer dos séculos ainda não há muito tempo
Eis-n
os com algumas afirmações algo fortes de Jung, uma das quais nos desafia: De quem era essa invasão de psicologia e espiritualidade bem mais elevadas? Será da Grécia e Roma, e ele então posicionou a mente ocidental como tendo a sua raiz ou centro na Europa central, na Germânia dita bárbara no seu politeísmo? Ou será a cosmovisão Cristã, também muito devedora da Grécia?

Jung, na sua casa e centro, com o busto de Homero...
Eis-nos com algumas questões quando à visão conceptual evolutiva europeia e dos povos, por parte de Jung, e que em seguida adopta uma posição bastante na linha do seus estudos do inconsciente e até humilde em relação à arrogância ocidental: dessa supressão das suas raízes primitivas ainda em desabrochamento, o ocidental ficou traumatizado e volta e meia explode em violência, ou  avança em invenção técnicas auto destrutivas, sendo-lhe necessário então "fazer um curso sério de auto-educação", no que lhe será muito útil o exemplo da Índia, com o seu modo do devir «de civilização sem supressão, sem violência [ahimsa], sem racionalismo [sahaj]», coexistindo nela os seres mais iletrados e meio-nus e os mais elevados intelectualmente, e em que mesmo os primeiros sentem e comungam «dum conhecimento inconsciente das misteriosas verdades» que os outros procuram pelas disciplinas e estudos. Realçará pois no Indiano a visão do Todo e a sua não-fixação nos detalhes infinitesimais, tal como o Ocidental faz, e que portanto o seu conceber, o seu alcançar compreensivo do que quer que seja não é um acto predatório num terreno a conquistar mas antes uma ampliação de visão. E terminará o seu valioso texto com a recomendação de quem viajar à Índia vá contemplar as esculturas eróticas dos templos de Konarak (onde eu estive também em peregrinação e meditação), para desse confronto do seu inconsciente individual com o colectivo e eterno indiano ali expressado tão artisticamente resulte alguma melhoria ou ampliação do seu auto-conhecimento e unificação do Ser.

Boas compreensões e unificações e, se viajar à Índia, aproveite para aprofundar alguns destes aspectos aludidos pelo nosso amigo Carl Gustav Jung. Muita luz e amor divinos nele!

                             

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