Jesus trinitário, e não triteísta, no museu de Folclore de Salzburg, séc. XVII. |
Descobrirmos a vera efígie de Jesus Cristo é certamente uma das mais difíceis demandas da história religiosa, artística e cultural da Humanidade, pois apesar de haver milhões de representações de Jesus, ninguém tem conhecimento e autoridade suficiente para afirmar que esta é a mais próxima ou fidedigna, a que se poderia considerar quase feita ao vivo e, portanto, que quem a contemplasse, mais do que as indulgências costumeiras antigas (100 dias de absolvição para quem rezar um Pai nosso e uma Avé Maria diante delas), ficaria com o acesso facilitado ao Mestre, no sentido de tanto ele poder mais adequadamente manifestar-se dos mundo espirituais através de tal imagem, como igualmente os contemplantes conseguissem sentir mais as correntes do seu amor, paz, serenidade, certeza e sabedoria.
Sim, em verdade, se alguém sente que está diante da vera efígie ou face de Jesus, que alegria, que responsabilidade, que intensificação energética e consciencial brotam em si por estar diante do Mestre?
Pensar-se-á mesmo: Que responsabilidade, o Mestre estar na nossa casa, na minha alma. Está ela digna da sua presença, ou a desarrumação ou impureza aqui e acolá não é muito consentânea com a sua radiação sublime?
Ícone português da vera efígie. |
Que privilégio admitirmos, aceitarmos, sentirmos que uma certa pintura, ícone, gravura ou desenho retrata provavelmente muito fielmente o mestre, ou que pelo menos lhe serve de canal de comunicação para connosco, e portanto podemos sentir os seus olhos e a sua boca falarem-nos....
Que fortificação e enriquecimento do nosso coração e alma, que aperfeiçoamento moral e ético ou ainda alegria e graça se geram na nossa alma pela contemplação da vera efígie?
Pois tudo isto é experimentável e vivenciável quando selecionamos uma ou outra imagem que se nos configura como um bom canal para as energias, bênçãos ou mesmo a presença etérica do Mestre.
Ícone ortodoxo... |
Para quem não tem tanta inclinação para a meditação interior, ou mesmo para orações mais demoradas, quão mais fácil é apenas contemplar a vera efígie e desfrutar de tal visão abençoadora, na Índia chamada darshan.
O objectivo da contemplação é tornar-nos um com o ser ou realidade apresentado ou representado, e é o coração, a dimensão afectiva e amorosa, que sinaliza a osmose alcançada, com alegria, delícia ou, como dizem na Índia, com beatitude, isto é, ananda.
Um dos últimos verdadeiros espirituais da Índia, sSri Ramakrishna Paramahansa (1836-1886), mestre do mestre de um dos meus iniciadores, Swami Ranganathananda (1908-2005), disse mais de uma vez nos seus inolvidáveis satsang ou companhia da verdade, que nos tempos modernos o método principal de realização espiritual e divina era repetir-se o nome (nama) de Deus que mais gostarmos, sentirmos, ouvirmos ou sobretudo o nome incluído no mantra que recebermos numa iniciação.
Fotografia ao vivo de Sri Ramakrishna Paramahamsa, em Calcutá. |
Pois nos tempos ainda mais modernos de hoje, em que o predomínio das imagens como fontes de conhecimento (e alienação) é extraordinário, podemos afirmar que a contemplação duma imagem sagrada, na Índia denominadas nas suas formulações geométricas yantra e mandala, e murti, imagem duma forma Divina, é certamente um dos melhores meios de acalmarmos a dispersão mental, purificarmos o seu conteúdo e unificarmos a nossa consciência com o que contemplamos e portanto avançarmos no caminho da religação espiritual e divina.
Entre nós, na Tradição Espiritual Portuguesa, religiosos e sobretudo as nossas sorores conventuais, cultivaram muito a devoção ao mestre Jsus e a Deus através de gravuras ou registos que tinham nas suas celas ou que inseriam nos seus livros de orações, por vezes entrando mesmo em estados intensificados de amor unitivo ao contemplarem-nos. A soror Mariana da Purificação, no preclaro convento da Esperança em Beja, talvez demasiado na peugada de S. Teresa de Ávila, foi uma das que relatou tais estados derivados da contemplação de uma imagem do seu querido mestre e Deus, que lhe intensificava a sua energia anímica e amorosa forte e exuberantemente, qual shakti da Índia.
Pintura de Bô Yin Râ. Original na sua Fundação em Massagno, Suiça. |
Nos nossos dias de tanta desinformação e manipulação, conseguirmos abaixar os olhos em relação ao mundo e aos seus media, e antes os dirigirmos para a vera efígie que mais nos apraz, e em alguns minutos nos determos diante dela em respiração, sentimento, adoração, gratidão é extremamente benéfico para nós e para todos os que animicamente estão em relação subtil connosco, mortos ou vivos.
Contemplar uma imagem de Jesus Cristo, ou de um outro mestre, mais demoradamente é como erguer um canal de Luz que faz descer sobre nós e os que estão ligados connosco valiosas vibrações, melhorando as nossas inspirações e conexões superiores.
Escolha então a vera imagem que mais sinta que gosta, pratique e verá então os bons resultados que gera...
Dia 21 de Julho de 2024, e XXI no Tarot, o Mundo, a carta da harmonia ou mesmo da perfeição possível. Boas contemplações!
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