Luís de Magalhães (13-IX-1859, Lisboa, a 14-XII-1935, Porto) foi um amigo de Antero de Quental, embora dezassete anos mais novo do que ele, que se destacou como escritor, poeta, governador civil, deputado e ministro dos Negócios Estrangeiros, sendo monárquico e tanto apoiando e colaborando na Liga Patriótica do Norte, presidida por Antero e coadjuvada por ele, Basílio Teles e Jaime Magalhães de Lima, em 1890, contra o Ultimato do imperialismo inglês, como mais tarde com a revolta da Monarquia do Norte, em 1919, algo corajosamente pois era uma aventura quase que, no seu anti-republicanismo, condenada ab initio. Na Frota dos Sonhos, de poesia bem valiosa, a parte Os Cantos do Prisioneiro, com onze sonetos, retrata o seu profundo e indomável carácter, embora encarcerado físicamente.
Dedicatória e assinatura de Luís de Magalhães. |
Filho do famosíssimo tribuno e jornalista José Estêvão (1809-1862), tinha também o dom da palavra, escrita ou falada, e destacar-se-á ao tempo de estudante em Coimbra fundando e colaborando em revistas e jornais, tais como A Sátira e A Província, um jornal sobretudo político fundado por Joaquim de Oliveira Martins, em 1885, e por fim na Revista de Portugal, ao lado de Antero, Eça, Moniz Barreto e outros. Publicou os seus primeiros livros de versos em 1880 e 1881, Primeiros Versos e Navegações.
Embora aderindo inicialmente ao Positivismo e à escola Realista, com o tempo foi desenvolvendo a sua doutrina numa linha tradicional, patriótico-nacionalista, patente no longo poema D. Sebastião, 1898, em textos político-económicos, e nos sonetos da Frota dos Sonhos, 1924, dos quais seleccionamos um por abordar a temática angélica, o subtil e misterioso Anjo da Guarda. Quanto à temática psico-espiritual há vários sonetos, nomeadamente nas partes Ara íntima e Em Face da Esfinge, onde a leitura e meditação de Antero de Quental está mais visível. Pareceu-nos ainda que Fernando Pessoa terá lido o soneto, e eventualmente nele se inspirado, como aliás noutros da parte Tuba Épica, que cantam os heróis da Pátria, embora a obra Frota dos Sonhos não esteja no que resta hoje da biblioteca do autor da Mensagem.
Mesmo na ausência, andas a meu lado,
Que bem te vê, amor, meu coração,
Sombra amiga, adorada aparição,
De que sou, de contínuo, acompanhado.
Fluido vulto, de etérea luz nimbado,
Tal, adiante de mim, segues então;
E assim no mundo, pela tua mão,
Perto ou longe que estejas, vou levado...
Por isso, ao abordar os precipícios
Da vida, em cujo fundo, horrendamente,
Rugem quais feras, as paixões e os vícios,
Marcho confiante, olhando o abismo em face,
Como se caminhando à minha frente
Algum Anjo da Guarda me guiasse!
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