Em geral é apresentado no Ocidente como o guru de Putin quando na realidade não há certezas ou fotografias de tal encontro e em muitos aspectos têm visões diferentes, para além de que Putin procurou muito tempo amizade e compromissos com os Ocidentais e entrar até na NATO, e foram estes que o foram enganando com acordos de papel, e armando e preparando a Ucrânia para entrar em guerra com a Rússia, ao contrário de Dugin, que embora cristão ortodoxo, sempre foi muito crítico da degeneração do Ocidente e dos males do neo-liberalismo oligárquico anti-tradicional, anti-valores morais e nacionais, contrapondo uma educação tradicional firme na Rússia.
Nós não nos preparamos para esta guerra, não entendemos com o que estamos lidando, não criamos tal imagem do inimigo. Portanto, não compreendemos plenamente o que está a acontecer. Talvez seja correcto não termos seguido esse caminho, mas a gravidade do que está a acontecer está a ser claramente desvalorizada.
Estou convencido de que a Rússia não deve deixar este processo seguir por si só; se o deixarmos, o ódio da frente espalhar-se-á gradualmente para a rectaguarda e tornar-nos-emos mais como o inimigo, ou seja, o ódio entrará em nossos corações. Ele entrou nos corações dos ucranianos há muito tempo. Agora depende de nós. Afinal, não podemos deixar de notar que, à medida que a guerra avança, gradualmente adoptaremos os traços do inimigo. Relutante e tardiamente, mas ainda assim.
Precisamos de um caminho diferente, precisamos de uma verdadeira ideologização da guerra. Uma ideologização completa e sistemática. Não fragmentada e fragmentária, como é o caso agora.
O verdadeiro inimigo
Em primeiro lugar, a guerra é travada com o Ocidente. Portanto, o principal inimigo é o Ocidente. Os ucranianos não são o principal inimigo; é portanto o Ocidente que deve ser verdadeiramente odiado, e aqui Konstantin Simonov [herói da 2ª grande guerra e escritor] é relevante. Devemos, portanto, expulsar o Ocidente de nós mesmos, caso contrário teremos uma duplicidade de padrão: ele mata-nos e nós adoramo-lo. O liberalismo é mais perigoso do que o nazismo ucraniano, porque foram os liberais ocidentais que lançaram, criaram e armaram o nazismo ucraniano. É necessária uma desliberalização consistente (pois é mais importante do que a desnazificação que está a acontecer do país). A desnazificação também é necessária, mas é uma consequência, não uma causa, um sintoma, não a essência da doença. Além disso estamos a lutar contra o nacionalismo, mas não nos devemos tornar em nacionalistas. Nós somos o Império e como herdeiros da monarquia e como sucessores da URSS, somos mais do que uma nação.
A nossa ideologia deve ser imperial, aberta, clara e agressiva. O Império deve ser representado de forma carismática. Nosso império, Roma, está travando uma batalha mortal com o "Império" oposto, e em essência o Anti-Império, isto é, com Cartago.
Só quando o exército, o povo, o Estado e a sociedade estiverem em guerra com Cartago, com o Ocidente liberal, é que derrotaremos o nazismo ucraniano. Tudo o que faremos é calcar com os pés a Ucrânia. Diante desse terrível e sério inimigo, essa pequenez obsessiva parecerá insignificante.
Se disser a um russo "a Rússia não existe", ele encolherá os ombros. Se disser a um americano "a América não existe", ele encolherá os ombros. Se disser a um ucraniano "a Ucrânia não existe", ele se tornará violento e gerará uma altercação. Porque a Ucrânia existe, mas não existe quando somos o Império, e nossa consciência é imperial, uma consciência firme, forte, auto-confiante, ofensiva.
A forte identidade do inimigo pode ser esmagada não pela forte identidade em si (nacionalismo russo), mas por uma identidade mais forte que é a identidade imperial.
Esta transformação ideológica da sociedade é inevitável. Ela pode ser adiada por algum tempo, mas não pode ser evitada. Estou convencido de que o nosso governo não queria esta guerra. Eles tentaram tudo para adiá-la. Ela pode ser adiada, mas não pode ser impedida e agora não pode ser detida. Ela pode ser ganha ou pode desaparecer. É compreensível que uma parte da elite esteja em pânico. Eles não podem aceitar a fatalidade do que está a acontecer, e esperar, contra todo o senso comum, que possam de alguma forma retornar a situação ao passado, é impossível; adiar e procrastinar sim, é possível.
Parar e voltar à estaca zero não é possível; tudo o que nos espera é a guerra e uma vitória difícil, incrivelmente difícil. Nosso país será alterado irreversivelmente ao longo do caminho. O Estado terá mudado, a sociedade terá mudado.
Ninguém desesperadamente quer mudar por conta própria, mas isso já é impossível. É o destino. A mudança será imposta por uma necessidade de ferro. A todos e em tudo.»
Eis-nos com uma ante-visão que desagradará a muita gente: uma visão bem dramática, guerreira, imperial e de luta frontal com o neo-liberalismo autocrático e excepcionalista Ocidental, que arma o exército ucraniano, quer explorar a sua população "até ao último ucraniano", como alguns políticos norte-americanos afirmaram.
Também a sua visão de que haverá, ou é necessária, uma mudança radical da educação e das mentalidades dentro da sociedade russa, no sentido de se compenetrarem de que estão numa guerra difícil, ou quase total, com o Ocidente e o seu liberalismo corruptor e desvirtuador e que portanto não podem pactuar com ele, não agradará a muita gente, com mentalidades de mais compromissos e menos cortes radicais.
Por isso mesmo, face a um futuro que ninguém sabe prever com exactidão, é valioso ouvirmos uma das grandes almas da Rússia que, ainda que traumatizada pela morte da sua filha Daria (e muita luz e amor no seu ser), ecoa grandes pensadores cristãos e espirituais como Soloviev, Berdiaev, Florensky, ou ainda Julio Evola, e transmite aqui e na sua já vasta obra uma compreensão e visão profunda metafísica, espiritual e geo-estratégica do devir da Rússia, da Europa e até da Humanidade, nomeadamente pela sua defesa e valorização da multipolaridade que o BRICS vai concretizando, sob a liderança da China, da Rússia, da África do Sul, do Brasil e do Irão...
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