sexta-feira, 31 de maio de 2024

Do Diário de Lisboa de 1925, carta inédita de Antero de Quental sobre a sua instabilidade psico-somática, e como vivia os momentos de menor força de vontade.

 No Diário de Lisboa, de 7 de Abril de 1925, numa homenagem a Antero de Quental, deu-se à luz a transcrição de uma carta até então inédita enviada pelo vate ao seu amigo e publicista Oliveira Martins, de 17 Dezembro  [de 1872] e não de 1873 como o jornalista identificara, conforme Ana Maria Almeida Martins veio a esclarecer na sua edição de Antero de Quental. Cartas. Houve ainda outros  erros na transcrição da carta para o jornal e que corrigimos (a negro), aproveitando para transcrever outras linhas pelo valor das ideias e imagens expressas, algumas delas que sublinhamos. Anote-se que a valiosa revista Bipolar, da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) no seu nº 51, por ocasião do seu 25º aniversário, em 2015, partilhou igualmente esta carta incorrendo também em alguns erros ou gralhas.

                   «17 de Dezembro

Caro amigo.

Deve ter estranhado não ter recebido ainda os números do Popular com os meus folhetins a respeito do seu livro. Encarecidamente lhe peço me desculpe. Sei que é uma obrigação que tenho a cumprir, não só por termos ficado nisso, mas sobretudo, independentemente da nossa amizade, pela minha posição de publicista-socialista a respeito de um qualquer livro que se intitule Teoria do Socialismo. Mas, se eu tenho o sentimento imperioso dos meus deveres, o que não tenho infelizmente (por ora; espero vir a tê-la) é a escolha do momento em que os cumpra: não é quando eu quero, mas quando não sei quê quer. É deplorável isto, mas tenho notado ultimamente que não é opondo-me de frente ao meu desgraçado temperamento que hei-de vencer, mas sim ladeando-o, transigindo razoavelmente com ele e como que por meio de mútuos compromissos entre a natureza e a razão: só assim me transformarei com o tempo, até fazer do meu quero subjectivo  inerte, uma vontade objectiva real.»

Como vemos ou lemos Antero tece considerações valiosas sobre o drama psico-somático de sofrer momentos de grande falta de vontade, por vezes duradouros, e como os ia ladeando, diminuindo e preenchendo com actividades que evitavam eles tornarem-se mais entranhados e enfraquecedores, nomeadamente pensando e estudando, tentando que a parte racional se animasse nele e agisse até no seu somatismo e tónus energético e sentimental.
Na parágrafo final da carta há um outro pequeno erro na transcrição jornalística  e vamos passá-lo todo, até com o anterior, pelo seu valor de compreensão do inconsciente e pela visão das folhas brancas como tristes à espera que ele se inspire  ou seja inspirado e as encha do seu Logos ou Palavra, o Sermo, como lhe chamava Erasmo:

«Aqui está, amigo, a razão porque tenho há bons 20 dias em cima da mesa o seu livro, e ao pé algumas folhas de papel branco, que esperam melancólicas o momento em que me volte a inspiração e a vontade, e que todos os dias me lembram o cumprimento dos meus deveres, sem que eu lhes possa responder senão com um desalentado amanhã, talvez! Desculpe-me pois: deixemos passar esta crise, e volveremos depois ao trabalho com mais ânimo e força. Não me esquecem as minhas obrigações; o que porém não está na minha mão é marcar o dia e a hora em que as cumpra. Paciência!
Depois disto, escusado será dizer-lhe que o meu
Programa [dos Trabalhos para a Geração Nova, que não chegou a concluir] dorme há mais de mês com o sono pesado dum animal que hiberna. Mas nesse sono não haverá sonho, alguma forma de vida latente, e uma concentração de força que se armazena para rebentar depois com energia? Sinto, com efeito, que o meu espírito, apesar do sonambulismo actual, vai sempre ruminando e dispondo insensivelmente certas ideias, alargando certos pontos de vista, obscuramente é verdade, e quase sem consciência (passivamente e como que hanté) mas com uma surda continuidade que não pode ser de todo infecunda – que até seja talvez uma fase necessária da evolução do pensamento.
            Adeus,
                  seu do Coração,
                                     Anthero »

Destaque-se nesta parte final uma certa gnose optimista do inconsciente, do sono, do sonho e da fermentação que ocorre por si mesmo, e ainda de que o seu espírito possa ir trabalhando as ideias e melhorando os pontos de vista do seu ensaio, uma questão ainda hoje, pesem os trabalhos das psicologias das profundezas, ainda pouco clarificada objectivamente.

Muita luz e amor divinos na alma espiritual de Antero de Quental!

O que é o Espírito? Ensaio escrito no caderno diário, quando tinha 32 anos e ensinava meditação e yoga no restaurante e centro alternativo Suribachi.

Texto escrito no caderno diário quando tinha 32 anos e ensinava Agni Raj Yoga no Porto, no restaurante e centro dietético e alternativo Suribachi, ainda hoje activo, com escassos acrescentos.

«O que é o Espírito?

Há milhares e milhares de anos que o Homem se encontra na Terra. Vestígios históricos com 7.000, ou ósseos, com 500.000 anos. Houve Atlântidas e Lemúrias? Provavelmente. E o ser humano evoluiu? Certamente. Fala-se porém nas mitologias e religiões duma Queda, dum Pecado original. Será esta a descida do Homem Espiritual ao mundo da carne, ao plano físico terrestre? E o que distingue o Espírito do Homem? Será o Homem o Espírito e o homem-corpo apenas uma imagem animal chamada a espiritualizar-se?

Homem condenado a ser Espírito ou a ser [um com] Deus?
E dos caracteres que tem o Espírito não será ainda a liberdade o principal?
O Espírito em cada um de nós, como é? [Centelha, partícula ou onda?] Como podemos tomar contacto com ele? Como podemos despertá-lo noutras pessoas? Qual a razão de ser de nós, a partir do Espírito? Ou será antes o Espírito que é o sujeito de cada um de nós, e é ele que toma contacto connosco quando for a altura própria? Por isso se falava da inspiração divina, da descida do Espírito Santo, [não se sabendo quando nem donde vinha]?

Há um culto interno secreto no peito de comunhão com o Espírito Divino. [Nele se iniciam alguns...]
O Espírito é eu. O Espírito é Divino. Logo eu tento também remover as limitações corporais e psíquicas, para deixar o esplendor e acção justa do Espírito Divino se manifestar,

Doze anos a trabalhar na procura do Espírito e da Verdade. Na ligação maior com Deus. Com o Fogo Divino, Yoga, teosofismo, Alice Bailey, Macrobiótica, Ani Yoga, Cristianismo esotérico e gnóstico, Antroposofia e tantas outras escolas, ashrams e mestres, na certeza em todos que a liberdade e a aspiração a Deus e a comunhão sábia e amorosa são as grandes linhas do Espírito.
Espírito que transborda do corpo, ou que o enche repentinamente em certos momentos.
O Espírito que está tenuamente ligado a nós. Porque temos uma personalidade atenta mais a corpo, às emoções, aos instintos e aos pensamentos do que à realidade viva dinâmica profunda libertadora do Espírito.

O Espírito é assim diferente da consciência. E é quem está por detrás dela e que não deixa o Eu ser uma entidade caótica, desgovernada ou multidilacerada.
O Espírito é a generalidade ou universalidade do bem, do belo, do verdadeiro irradiando, rompendo limites, criando novos estados de ser e de consciência em nós e nos outros.[O Espírito é uma correnteza dinâmica ainda que muito subtil.]
O Espírito é a fonte que liga o homem com Deus. E os homens e mulheres entre si.
Homens e mulheres portadores do Espírito! Como nos entusiasma esta realidade ígnea dos silenciosos adoradores e irradiadores da Presença Divina, a qual vai crescendo neles até brilhar no Eu espiritual.

Os yogis e yoginis, os que se esforçam e meditam, são os que começam esta aventura de romper as rotinas, inconsciências, fantasias e determinismos e principiam a reconhecer-se como Homens e Mulheres Espíritos.
Que maravilhosa época a de hoje, em que crescem os centros e as pessoas interessadas das mais diversas maneiras e sensibilidades nesta aventura tremenda do despertar consciencial face aos perigos, desânimos e conflitos que nos rodeiam [e tentam envolver e alienar da procura e realização espiritual e divina...]

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Um valioso poema da activista Alice Moderno, de 1893, e publicado em 1916, na revista "Escola Móvel", sobre a Humanidade livre e luminosa.

    Um belo poema da Alice Moderno (1867-1946), de 1893, publicado em 1916, na revista Escola Móvel. À beleza e idealidade, ao facto de ter namorado alguns anos um ilustre companheiro e discípulo de Antero de Quental, o infausto Joaquim de Araújo (sobre quem já publiquei alguns artigos no blogue, nomeadamente o seu fabuloso poema à morte de Antero como iniciação), junta-se o quase desconhecimento do poema desta notável açoriana numa das muitas revistas em que colaborou ou dirigiu, para além de inicialmente o ter enviada para o o jovem poeta André Louro pelo seu amor a ela, fez-me autonomizar o poema neste artigo do blogue.

 
 

«A Humanidade é o Ahasvero errante,
Vitima estranha de um destino escuro;
Na interminável senda do futuro,
Não repousa, não pára um só instante.

 O seu ideal é cada vez mais puro,
A luz que fita é sempre mais brilhante;
E segue, e segue, activo caminhante,
Na senda interminável do futuro!

Começou a imperar a força bruta:
Venceu-a à luz do dia, em franca luta,
O pensamento humano—esse arrebol!

 E hoje, apenas, em voo alevantado,
Orgulhosos herdeiros do passado,
Nos curvamos ao Génio—eterno Sol!»

  Ponta Delgada, 1893. Alice Moderno.

Imagem do Ahasvero nas cartas de Épinal. É possível que o arcano do Louco, ou Mat, do Tarot, seja uma manifestação da mesma lenda da ignorância e irresponsabilidade dos que negam a luz e o amor.

 Realcemos apenas o considerar a Humanidade uma espécie de Judeu Errante, Ahasvero, uma tradição cristã de remota origem, quanto a um judeu que nos instantes dos passos da cruz de Jesus lhe teria dito para se despachar em vez de o ajudar, recebendo como karma, destino ou paga ficar condenado a permanecer na Terra errante e desassossegado, havendo várias versões desta trágica insensibilidade egoísta ou falta de amor de um ser por um mestre, messias ou ungido sacrificial. 

Contudo, evolutivamente, ad astra per aspera, Alice Moderno, como extraordinária trabalhadora, escritora, poetisa, professora, e como pioneira activista da educação, dos direitos da mulher, dos trabalhadores e da República, vê, intui, a Humanidade avançar para estágios de cada vez mais luz e despertar do seu génio solar ou espiritual, fazendo assim que as trevas da ignorância, insensibilidade e egoísmo, se vão dissipando e dando lugar à progressiva e esforçada luz da psique criativa e fraterna...

Uma sibilina imagem, que Alice Moderno certamente apreciaria, da Humanidade mais liberta, das sombras e opressões da velha ordem mundial, e mais plenificada.        Muita luz e amor na sua alma de pioneira feminista, dos direitos dos animais e dos humanos, numa sociedade mais justa, fraterna, amorosa e multipolar.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Instrução que o Marquês de Valença, D. Francisco de Portugal, dá ao seu filho D. Miguel, impressa em 1746 e plena de Sabedoria actual, perene..

     Impressa três anos antes do seu autor (1679-1749) deixar a Terra, a Instrução que o 2º Marquez de Valença  Francisco de Paula de Portugal e Castro, 8.º conde de Vimioso; deu ao seu filho...  é obra que transparece o seu carácter e vida, e está animada pelo seu amor à sabedoria e à virtude,  com uma boa escolha de exemplos antigos sobre os vícios e as virtudes, com conselhos na forma de ditos que se assimilam facilmente, mas não se destina a gerar  grandes sentimentos ou entusiasmos, mas antes transmitir uma súmula sábia da sua vasta leitura e experiência. Lemo-la já na sua 2ª edição, um in-12º de 93 páginas, de Lisboa, de 1756, Instrução que o Marquez de Valença  D. Francisco de Portugal, do Conselho de Sua Majestade,  dá a seu filho segundo D. Miguel Lúcio de Portugal e Castro, Cónego da Santa Igreja de Lisboa, e se consultarmos a Biblioteca Lusitana de Diogo Barbosa de Machado apercebemo-nos melhor  como D. Francisco de Portugal sentiu a obrigação de redigir um testamento anímico, que aliás já escrevera  para o seu primogénito,  pois era da nobreza culta palaciana dando ao estudo diariamente seis horas, dominando várias línguas e o manejo do cavalo, sendo ainda um hábil e sábio orador na Academia Real da História Portuguesa (1720-1776) ou mesmo no Paço Real, pronunciando por obrigação dezenas de orações e elogios e manifestando plenamente ser um benemérito e estoico cortesão e pensador. 

Também encontramos informações sobre ele no investigador portuense José Adriano de Freitas Carvalho, que recentemente lhe dedicou um estudo valioso bio-bibliográfico, algo compacto, que está em rede, contextualizando-o até com o movimento de reforma e conversão interior denominado então Jacobeia, e que incidiria também nesta Instrução e na outra para o seu primogénito.

O frontispício da 2ª edição da obra.
 A obra valoriza acima de tudo o amor a Deus (transcendente e imanente) e em segundo o amor ao próximo, exemplificado sobretudo na partilha dos bens e na esmola («se tiveres muito, dá com largueza; se pouco, procura dá-lo de boa vontade») e segue uma linha de aproximação das virtudes e vícios («a soberba é vício tão poderoso que arruinou os Anjos: vede que estrago fará nos homens!», exemplificando-os com figuras e textos da Bíblia e de autores cristãos, a que junta ainda muitos casos exemplares e citações de gregos e romanos. E se sabemos que durante dezenas de anos se especializou na leitura dos grandes autores latinos, tais como Cícero, Séneca e Plínio, devido ao seu interesse na filologia, retórica e ética, já não temos a certeza se terá compulsado algum dos manuais de sabedoria e de provérbios da época, tais os Adágios de Erasmo (1466-1536), ou a Officina de Joannes Ravisius Textor (1492/3-1522).

Claro que a sabedoria normal do Cristianismo corre com abundância na obra, e até se pode estranhar serem tão poucas as citações de Jesus e  as duas de S. Paulo, ou mesmo dos padres da Igreja, pois só uma ou duas vezes surgem S. Jerónimo e Agostinho. Será que destinando-se a um filho religioso, familiar com tais veios tentou alargar a sua visão aos sábios anteriores da Grécia e Roma? Com interesse nacional são as citações de ditos ou feitos dos reis portugueses, ou o que deixa de transparecer em relação aos reis portugueses e à casa de Bragança.

Os conselhos de ética e moral  reflectem os valores de honestidade, honra, sobriedade, justiça, discrição, prudência e piedade.  E estão divididos em duas partes, a primeira geral, para todos os seres, até à página 62, e concluída assim:«Meu filho matam-se os pais, por muitos modos. Não só se matam com o punhal e o veneno, como também se matam com os desgostos, e com as injúrias. Tirar a vida natural o filho ao pai é grande desatino, mas tirar um filho a um pai honrado a vida da fama é maior impiedade. A vida natural acaba em breves anos, a vida da fama acabará com o mesmo mundo. Imitai pois a obediência, o respeito, a submissão, o amor, a ternura, a fidelidade que se deve aos pais, trazendo sempre diante dos olhos, impresso na memória, estampado no coração, gravado nas palavras, esculpido nas obra a inaudita veneração, e incomparável afecto dos nossos suavíssimos príncipes para seus augustos pais [Reis], mas de tais pais tais filhos se esperavam, porque as águias não geram pombas».

Na segunda parte, mais pequena e endereçada especificamente ao filho enquanto sacerdote, escrita de igual modo numa forma quase de aforismos ou ditos sábios,  destacaremos o "não só evitar escândalos, mas dar bons exemplos", "os justos caiem sete vezes ao dia mas logo se levantam", «um sacerdote não só há-de ser virtuoso, mas parece-lo. Esquece-me o nome da virgem Vestal, que foi castigada, porque os seus exteriores não concordavam com a modéstia que professava», o ser-se dedicado à religião ou «ao templo, não consiste só no hábito Clerical, se não nos hábitos das virtudes» e aqui D. Francisco de Portugal ecoa o o famoso e pouco apreciado dito de Erasmo monachus non est virtus, isto é, ser-se monge, ou usar as suas indumentárias, não significa que se é virtuoso, esta dependendo de uma douta piedade vivida e perseverada.

Criticando a vida profana seja dissoluta seja delicada, realçará a sobriedade e dirá que a comida é para sustentar o corpo e não para o regalar, e que está-se em erro se é «uma livraria mais preciosa pelas encadernações, e estantes, que pela escolha dos livros. E os livros mais para entreter o tempo, que para regular as paixões».

Nestes tempos de tanta quantificação, de tanto viral, de tanta manipulação, alienação, vulgarização e massificação valerá a pena cogitarmos bem o que nos transmite: «Não vos governeis pelo que vedes fazer a muitos, antes pelo que fazem os poucos, que costumam ser os melhores. Os poucos na língua Latina valem o mesmo que escolhidos. Há mais ferro do que ouro, há mais cristais que diamantes», e umas linhas mais à frente continua a escrever para os dias de hoje: «É mui diferente o que agrada aos olhos do que agrada à razão, o que aprova o vulgo do que aprovam os sábios. Aparelhai-vos para ouvir trocar os nomes às coisas, e não vos atemorize esta troca: assim começou o mundo, assim há-de acabar a sua carreira. Ouvireis chamar hipócrita à virtude, miséria à moderação, insensibilidade ao sofrimento, grosseria à temperança, altivez ao respeito e rigor à gravidade. As virtudes em toda a parte são estimadas dos bons, e em todo o tempo odiosas aos maus.»

Relembrará o símbolo pitagórico "nada em excesso",  a que chamara «a sentença de Sócrates celebrada por todos os Filósofos»,  a necessidade de se aconselhar sempre antes de se tomarem decisões ou acções importantes e o valor da perseverança, pois «não basta começar bem, se não continuares, e acabares melhor», concluindo a sua obra assim: «Perseverai pois nas virtudes, que Deus vos deu para lhe seres grato, e agradecido, e para lhe mereceres a liberalidade de outras maiores, para responderes às muitas, que exercitaram os vossos antepassados, para servires a vossa pátria, para agradares aos nossos Príncipes, para consolares a vossos pais vendo bem lograda a sua doutrina, premiados os seus trabalhos, cumpridos os seus desejos na perpetuidade da vossa boa fama.»

 Seguem-se após o "Fim", as oito páginas de três licenças de Censura: a do Santo Ofício, a do Paço e a do Ordinário, destacando-se um dos censores por chamar à obra  "enchiridica", uma palavra  raramente empregada entre nós e que provém do latim enchiridion, que significa tanto manual como punhal e que foi utilizada celebremente por Erasmo, quando escreveu o Enchiridion milites Christiani, o Manual do Cavaleiro (ou do soldado) cristão e que teve um sucesso na época enorme, chegando a ser traduzido e publicado em Espanha e em Portugal, quando as forças mais ortodoxas e reacionárias da Igreja, em especial dos dominicanos e de Zuniga,  atacavam e tentavam proibir a leitura das suas obras. Será que esse censor, Manuel dos Campos, jesuíta e membro da Academia Real, que assina o seu parecer datado de 4-VII-1745, na casa professa de S. Roque, teria simpatias erasmianas?

Erasmo num pequeno altar devocional ou invocativo lisboeta, quando eu escrevia sobre ele no seu Modo de Orar a Deus.

Oiçamos a sua aprovação,  transcrita após as licenças do qualificador do Santo Ofício (ou Inquisição) Frei Bernardo do Desterro e, pelo Desembargador do Paço, o Padre Joseph Barbosa, Académico de número da Casa Real e cronista da Sereníssima Casa de Bragança: 

«É pois esta Instrução uma Ética abreviada, e um como novo livro dos Provérbios (se não canónico, de suma autoridade) em que se acham todos os ditames morais, e políticos, que se podem desejar em um Cavalheiro Eclesiástico: e sendo tanta a importância da obra, concorrem nela tantas circunstâncias para a fazer familiar, e enchiridica, como são a elegância do estilo, a pureza da língua, a escolha dos exemplos, a energia das reflexões, o toque oculto das mais recebidas autoridades, e sobre tudo a brevidade, e clareza, que totalmente alivia os mais senhores de seguir outro método, ou buscar outra arte de educação, mais que fazer decorar esta tão adequada para o intento», e anote-se que melhor do que "decorar" seria ter escrito "compreender, assimilar e vivenciar"...

Poderemos interrogar-nos se D. Francisco de Portugal dera ao filho ao longo da vida alguns destes conselhos, ou lhe falara  do seu projecto  e se este correspondeu frutiferamente a tais instruções.  Mas parece que sim, pois no fim são inseridos seis sonetos do seu filho Miguel, com uma interessante e erudita apresentação anónima (iniciais ER.M.), que pode ser de alguém ligado ou representando o Colégio de Jesus  de Meninos Órfãos, de Lisboa, que recebera os direitos do livro, o jovem sendo ao lado do pai bem elogiado e até através da tradição pagã:  «Em quanto não recordamos a lição desta eruditissima e elevadíssima obra, nunca cabalmente louvada, vejamos o talento do segundo génito de Sua Excelência na Instrução, que lhe pertence; observaremos que é filho da Águia, porque fitando no sol Apolíneo se sublimou, e exorna com esplendor singular de Artes e Ciências, e valido do mesmo Apolo, lisonjeando [ou cultuando e invocando as inspirações subtis] as Musas, bebe na [fonte, tão celebrizada pelos poetas inspirados] Castália, cujas cristalinas [ou subtis e espirituais vibrações e] águas lhe incitam tão preclaras poesias, que sabe aplicar aos mais soberanos assuntos, repetindo o seu excelso e inacessível voo até se remontar na imortal fama».

  Após este belo voo às fontes da inspiração seguem-se seis sonetos de D. Miguel Lúcio de Portugal e Castro e, para acolhermos o seu lado poético e algumas metáforas valiosas fotografamos o soneto  platonicamente dedicado à um retrato da Sereníssima Rainha de Hungria, depois de vários sucessos gloriosos na guerra, e à sua formosura imortal, e um outro a S. João Baptista e ao rei D. João V. Anote-se antes porém que Barbosa Machado no IV volume da sua Biblioteca Lusitana, de 1759, biografa Miguel Lúcio, `nascido a 13-XII-1722, indicando o seu grau de Mestre em Artes, em 1742 na Universidade de Évora, e seu doutoramento em Direito Pontifício em Coimbra, em 1746, e registando como dados à luz um elogio fúnebre de D. João V, recitado na Academia dos Ocultos, uma oração panegírica à coroação de D. José, e umas coplas à Marquesa de Távora ao acompanhar o marido na viajem para a Índia, onde ele serviria como Vice-Rei.


Podemos considerar que a obra não aprofunda especulativa ou hermeneuticamente muito mistérios  religiosos, filosóficos ou espirituais, e que é mais um condensado de sabedoria moral e ética, assente numa boa compreensão psicológica dos seres e das suas psiques, em tempos e meios sociais diversos mas na unidade do género humano. Mas, tal como para muitos sábios humanistas, de Marsilio Fino a Erasmo,  a religião era sinónimo de sapiência, ela bem merece ser lida  e meditada, tanto mais que nos nossos dias, no meio da  desinformação e desnorte dominantes, muitos conceitos e comportamentos errados ou nocivos ao corpo e alma são vistos como acertados ou tornam-se mesmo as narrativas oficiais e as mentalidades vigentes, pelo que as considerações suas ou os ditos de antigos, plenos de sabedoria moral ou ética,  valem bastante ao ajudar à harmonização da personalidade, à religação espiritual e divina e a uma melhor vida na terra e nos mundos subtis do além. Oiçamos então alguns sábios e ditos:

Do sábio Lactâncio (240-320), que se convertera da filosofia pagã à cristã:«Em que difere o justo e o sábio dos maus e ignorantes, senão em que aqueles tem uma invencível paciência, que falta aos estultos, e em que sabem governar-se, e moderar a sua ira, e estes não podem refreá-la, porque carecem de virtude. O certo é, que os vingativos imitam os animais, e as feras, que se as provocam, ofendem com as armas que lhe deu a natureza».

«Horácio bem desenganou os negligentes, dizendo, que nada se deu aos mortais sem grande trabalho da vida»  

«Diz no Plínio no seu Panegírico, que Trajano nunca despedia as pessoas, com quem conversava; que elas, e não ele eram as que punham o termo à sua prática. Mais fez António Pio para ostentar a sua urbanidade, quando vendo a casa de um seu vassalo ornada de excelentes colunas, lhe perguntou onde as achara. A resposta foi: Quando fordes às casas alheias, sede surdo e mudo. E não conta, que este Imperador o castigasse por tal ousadia.» p. 19.

«Em quanto Alexandre [da Macedónia] foi sóbrio, foi herói, tanto que foi delicioso, e cuidou nos regalos da Ásia, logo fez acções indignas de um homem particular, e alheias de um Príncipe soberano. Quem mais sóbrios  moderados, que Cúrio, Fabrício e Catão, que colhiam com as suas mãos as hortaliças, e as comiam em pratos de barro e não de ouro? Augusto César senhor do mundo só admitia na sua mesa iguarias vulgares. Diz Ovídio falando dos tempo, em que reinava a parcimónia, e não a gula: "Ainda o peixe nadava sem engano, e os mariscos estavam seguros nas suas conchas". A Escritura nos recomenda, que não queiramos ser apetitosos de todas as iguarias, porque nas muitas está a enfermidade, e continua; pelo excesso de comer muitos morrerão, mas quem é parco dilatará a vida». p. 32

A diferença entre a liberalidade justa e a prodigalidade é bem afirmada por D. Francisco de Portugal, e certamente continua a ser de grande actualidade e necessidade face ao esbanjamento absurdo do dinheiro público: «A prodigalidade quase merece o mesmo ódio, que a miséria, e avareza, por impedir o heróico exercício da liberalidade. É vício, que o não parece, e por esta causa mais difícil de remediar, como são todos os que têm aparência de virtude. Destrói a caridade bem ordenada, pois por enriquecer os outros se empobrece cada um a si mesmo. Como é vício proveitoso para muitos, há poucos, que o condenem, e fica o vicioso sem emenda, e às vezes com a vaidade da mesma culpa. Nem se compadece com um ânimo liberal dar de tal sorte o preciso, que se venha a pedir o necessário, sendo favorável aos estranhos para ser cruel com os domésticos.»

E como foi sobretudo um grande estudioso, finalizemos esta homenagem a tradição moral e espiritual portuguesa na pessoa de D. Francisco de Portugal,  transcrevendo alguns parágrafos da sua súmula sábia acerca do estudo:

«Os grandes filósofos andaram pelo mundo consultando os maiores sábios do seu tempo. Parece-me, que diz Séneca, que a causa porque os homens se não adiantam no saber, é, porque logo se persuadem, que tem sabido. O certo é, que o que se ignora, é muito mais, que o que sabe. Daqui nasceu, que os sábios antigamente se intitulavam só Filósofos, que vêm a ser amantes da Sabedoria, para mostrarem, que a amavam, e não que a possuíam.»...

Saibamos pois ser Filósofos, conceito e palavra nascido publicamente com Pitágoras, Aamigos da Sabedoria, isto é, procurando viver em harmonia e despertando mais a alma espiritual e a sua comunhão com santo Graal do Bem, do Amor, da Justiça, da Tradição Espiritual Portuguesa e Perene, dos Mestres e Anjos, do Céu e do Cosmos e da Divindade.

O santo Graal, no frontispício dos Adágios de Erasmo e sobre a empresa Festina Lenta, Apressa-te lentamente, do sábio impressor veneziano Aldo Manutio.

terça-feira, 28 de maio de 2024

"Palestina Livre (1º vídeo). Concentração. Fim ao Genocídio! Fim à Impunidade!" Rossio, Lisboa, 28 de Maio.

                          

                          

Uma concentração, ou manifestação lançada por vários grupos e instituições, tais o Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC) e o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), fez afluir cerca de 300 a 400 pessoas de boa vontade no Rossio, que vieram testemunhar corajosa e dinamicamente a sua adesão a uma causa tão justa quão necessária - a do reconhecimento do Estado Independente da Palestina - denunciando a brutalidade e desumanidade sionista da governação de Israel, que lamentavelmente continua a perpetrar o genocídio, e é ainda apoiada pelos governos mais corruptos ou escravizados à alta finança, da oligarquia mundial, onde infelizmente se inclui Portugal...

                                    




Tendo terminado os valiosos discursos e testemunhos que ficaram gravados, as ligações para o Youtube estando no fim, captei alguma imagens fotográficas:














Oremos para que o Estado da Palestina seja rapidamente reconhecido pelos desgovernantes de Portugal e que sobretudo termine o genocídio perpetrado pelos neo-nazis sionistas, liderados pelos já considerados pelo Tribunal Internacional Penal criminosos de guerra Netanyahu e Galant... Veritas, Pax!

Segue-se o 1º vídeo de três, o segundo sendo esta a sua ligação:  https://youtu.be/T2blFsfEYpU. E o terceiro e último: https://youtu.be/G1S5nvzHozE

                       


segunda-feira, 27 de maio de 2024

Em actualização: Macron, um dos mais mentirosos, hipócritas, traiçoeiros e ambiciosos. Actualização última, 27.VIII

Emmanuel Macron, um ambicioso avençado da CIA e da oligarquia mundial...

Um dos políticos mais alinhados ou vendidos à elite oligárquica e imperialista, Emmanuel Macron (n. 1977), insensível e hipócrita, ambicioso e traiçoeiro como poucos, afirmou a 27-V-2024 num discurso em Dresden, durante a visita à Alemanha,  que “nós, os europeus, não estamos em guerra com a Rússia e o povo russo”, escrevendo ainda tal declaração na conta X (ex-Twitter) do Palácio do Eliseu.
George Soros, Klaus Schwab, do Fórum Económico Mundial e o Director da Goldman Sachs são os principais patrões de Macron
No entanto, em contradição, afirmou que os países da UE tencionam continuar a prestar assistência à Ucrânia durante o tempo que for necessário, enviando todo o tipo de armamentos, e não mencionou nem os militares da Legião Estrangeira da França que já estão a lutar e a morrer na zona russa da Ucrânia (nomeadamente a 30-V, Borzzikman mostra imagens de oficiais mortos: https://www.youtube.com/watch?v=KzJGgwYPGhM),   nem as suas propostas de envios de militares da NATO e da França para combaterem ao lado dos extremistas de Zelensky, para além de ter declarado que as armas fornecidas pela França podem, ou estão autorizadas por ele, a atingir o interior do território da Rússia...
O sábio militar norte-americano Scott Rieter, muito dinâmico no Youtube,  explicou que as últimas declarações do regime de Kiev de atacar a Rússia no seu território com as armas europeias são fruto da decisão dos países da NATO de desejarem que a Rússia seja ferida no seu solo, entrando-se portanto uma escalada perigosa: https://www.youtube.com/watch?v=LF34_nLcIDI
Uma amizade estranha entre dois políticos bastante psicopatas
 
A hipocrisia deste vaidoso agente da oligarquia mundial é grande, pois é notório estar em guerra, e em certos aspectos bastante declarada, com a Rússia, destacando-se tanto nas sanções que USA e a União Europeia têm imposto, como na confiscação de bens e ataques às suas infraestruturas e projectos, tal como fizeram ou apoiaram com a sabotagem do oleoduto do North Stream, que nem tiveram a coragem de assumir, e que tornou a Europa mais dependente energeticamente dos norte-americanos, para além da perseguição e opressão dos meios de informação e jornalistas que defendem a justiça da operação militar russa ou simplesmente a Rússia.
Um ambicioso e vendido muito perigoso, Macron: completamente insensível ao sofrimento dos outros. Um psicopata, capaz (e talvez decidido) a alargar o conflito na Europa.
O presidente francês, detestado crescentemente pela maioria do seus cidadãos pela forma como semi-cegou cerca de um milhar de manifestantes coletes-amarelos, ou como tem privatizado  certos serviços, e com uma baixa de popularidade pela sua incapacidade de diminuir a sua mentalidade arrogante e a política neo-colonial em África, procura por estes modos tanto exprimir a sua ambição e vaidade como ganhar mais visibilidade e reputação na cena mundial.
 Macro-Micron disse ainda hipocritamente que os dirigentes europeus  apoiam os esforços para uma solução pacífica duradoura na Ucrânia:“A paz não significa a capitulação da Ucrânia. Será uma paz que os próprios ucranianos escolherão", mais uma vez mentindo, pois a maioria dos ucranianos há muito que quer a guerra terminada, e lhes está a ser imposta pelo regime extremista Zelensky, sob lema dos norte-americanos (os principais interessados no enfraquecimento da Europa e da Rússia) "até ao último ucraniano", e que terá como consequência a diminuição crescente do território de Donbas na posse do regime de Kiev, quem sabe tendo mesmo que perder Odessa, onde norte-americanos, NATO e franceses procuram estabelecer uma base naval ameaçadora da Rússia...
 
Esperemos que Zelensky e os seus mais próximos se retirem para a Flórida, os warmongers da Nato-USA aceitem as vitórias libertadoras russas, Macron termine o seu péssimo governo, e se possa estabelecer uma concórdia eslava, europeia e mundial, dentro de uma sociedade multipolar e livre da opressão e corrupção do dólar e do euro da arrogante oligarquia e corrupta classe política ocidental, tal como o grupo dos dez países do BRICS tentam realizar, ao qual sintomaticamente o traiçoeiro Macron há uns tempos pediu para participar numa reunião como observador e certamente corruptor...

       Entretanto Macron aproveitou os discursos em Dresden para fazer propaganda da escravização à oligarquia e ao imperialismo  ocidental que ele representa, fazendo-se de democrata e criticando os partidos e governos de extrema direita, que ele própria apoia totalmente na Ucrânia, com Zelensky e os neo-nazis, dando exemplo da Hungria de Victor Orban, exactamente um dos que tem resistido ao globalismo e escravização sob a nova Ordem Mundial,  recusando-se a apoiar a guerra da USA, NATO e União Europeia à Rússia, seja pelos armamentos, sanções e outras formas... 
 
Já em Junho Julho, 2024, Macron protagonizou um golpe teatral que parece que lhe vai correr bem, pois na noite da derrota do seu partido para as eleições francesas  face ao partido Rassemblement National de Marine Le Pen, resolveu como Presidente da França dissolver o Parlamento e antecipar as eleições legislativas francesas. Ora na 1º volta foi derrotado, tanto por Marine Le Pen como pela coligação da esquerda, a Nova Frente Popular,  e tudo ficou em aberto para uma 2ª volta  que certamente acentuará o enfraquecimento do seu partido e um provável posicionamento do Parlamento francês, que mesmo sem a maioria absoluta de Marine le Pen será menos apoiante da russofobia da oligarquia ocidental e de Macron. Aguardemos pelos resultados e pela lição que Macron receberá. 
E assim aconteceu: na 2ª volta das eleições foi derrotado pela esquerda unida de Melanchton, criando um certo caos no Parlamento francês, agora  mais dividido. Contudo, entrou em modo de governação ditatorial visível, mantendo o governo que se demitira em funções. Os meses passam e mantém-se o seu desrespeito total pela democracia directa dos votos....
Entretanto recuperei um vídeo que mostra em Macron a miséria de ser um avençado, vendido, seguindo o demente Biden: https://youtube.com/shorts/PGadN_IcYVk?si=1IVeuLb7gsmCjddQ

A 8 de Setembro Macron tem a ousadia anti-democrática mas astuciosa de recusar um governo liderado por quem ganhou percentualmente, a Nova Frente Popular, de Melanchton, (192 deputados) e escolhe um candidato a  1º ministro, Barnier,  do quarto partido mais votado (42 deputados) e muito abaixo dos outros, a aliança de Republicanos e outros de direita. A tentativa é evitar a todo o custo um governo de esquerda ou que pare a sangria do apoio estadual à guerra contra a Rússia e até eventualmente ou a breve prazo contra o Irão, como Israel e a oligarquia tanto desejam e vão provocando. Resta ver que votos de confiança e apoios de participação no governo, receberá.
                         Lux, Veritas, Justitia, Pax!

terça-feira, 21 de maio de 2024

Como estar numa "consciência contínua"? Algumas vias para a auto-consciência espiritual...

                                   

A "consciência contínua", tão difícil de ser mantida no dia a dia, dada o aparecimento ou a intromissão dos pensamentos, manifesta-se apenas em momentos de maior interiorização, de maior auto-consciência, de maior silêncio, de maior paz?

A "oração sem cessar", o "estar na presença divina", são designações no Cristianismo diferentes de "consciência contínua" mas na sua essência ou fundo iguais?

O que facilita a "consciência contínua" a um nível de entendimento?

O conseguir distinguir a consciência  dos pensamentos, e portanto o focar-se mais na plena consciência de si própria - como simples consciência, ou na de si mesmo - como sujeito consciente?  

Distinguir a consciência da memória e aceitar que esta exista em simultâneo com a consciência, como uma vasta massa de impressões e que não tem necessariamente de se manifestar sob a forma de pensamentos?

Focar a consciência numa atenção plena ao silêncio e ao seu som sem som, e nesta captação subtilizar a consciência pelo seu desprendimento de pensamentos e outras impressões sensoriais?

Focar a consciência em todo o nosso ser energético e espiritual e entrar em unidade com a sua fluidez energética? 

Focar a consciência na observação da respiração? 

Fazer coincidir a consciência com todo o nosso ser e ficar pura e simplesmente em tal unidade, a qual pode ser estendida à unidade seja do Cosmos seja da Divindade? 

Despertar mais ou fazer coincidir mais o espírito, a consciência e a mente? 

Ter a visão plena e o coração mais abertos, despertos, unificados?

Atravessarmos as dualidades e transitoriedades da vida numa estabilização consciencial espiritual, constantemente afirmada ou retomada?

Eis algumas interrogações e vias para a auto-consciência espiritual...

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Ali, o 1º Imam Shia, conduz a ascensão aos mundos espirituais; em sintonia com a de Ebrahim Raisi e

Ali ibn Abi Talib

 Encontra no fim deste texto a gravação da 1ª parte dum excerto lido e traduzido da valiosa obra de Henry Corbin En Islam iranien. Aspects spirituels et philosophiques. IV. l'École d'Ispahan, L'École Shaykkie, Le Douzième Imâm", Paris, 1972, da página 157 em diante. Trata-se da narrativa (hadith) A Nuvem Branca e a partir da qual o filósofo e mestre espiritual shia, da escola de Isfahan, Qazi Sa'id Qommi (1639-1661), graças a uma notável hermenêutica simbólica espiritual (ta'wil), transmite-nos valiosos ensinamentos.

Fátima al-Zahra
Nesta narrativa Ali, ou Ali ibn Abi Talib, o I Imam Shia (dos doze), casado com Fátima al-Zahra, a filha do Profeta, abre aos seus filhos e companheiros a visão interior ou espiritual e condu-los, num tapete nuvem, a uma ascensão ao mundo subtil (Malakut) e ao espiritual (Jabarut), com muitos ensinamentos valiosos, realçados como já dissemos pela hermenêutica de Qazi Sa'id Qommi, e resumida por Henry Corbin. 

Qazi Sa'id Qommi, isto é de Qomm, a cidade santa onde morrera com dezasseis anos Fátima, a imaculada (ma'sumeh) filha do VIII Imam Ali Reza ou Ali al-Rida, e onde estive em peregrinação há uns anos para proferir uma conferência sobre os místicos iranianos, os sufis da Península Ibérica, os encontros inter-religiosos na corte mogol de Akbar e o trabalho pioneiro de comparativismo religioso do seu bisneto Dara Shikoh.


Esta tradução-leitura foi realizada e gravada na noite de vigília de 19 para 20 de Maio de 2024 em sintonia ou em oferenda a Ebrahim Raisi e a Hossein Amirabdollahian, duas grandes almas iranianas na altura desaparecidas após a queda do helicóptero em que viajavam vindas do fatídico Azerbaijão. Confirmou-se já de manhã que elas estavam já mesmo na ascensão espiritual... Muita luz e amor para almas lúcidas e luminosas, libertas da terra tão precocemente e rumando para Jabarut, o mundo espiritual e querubínico.! 

 Gravei outra meia hora, continuando a leitura dos ensinamentos do Imam Ali, na narrativa A Nuvem Branca, e esperamos brevemente concluir a narrativa e sua hermenêutica numa terceira gravação. Ligação à segunda: https://youtu.be/85aKQ95HK74