sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Sabedoria Persa (3), popular, traduzida e comentada por Pedro Teixeira da Mota.

A terceira frase da Antologia da Sabedoria Persa ou Iraniana exprime uma percepção do devir causal da vida humana que encontramos em todo os povos e tradições. Basta lembrar-nos do nosso "quem semeia vento colhe tempestades", ou "o que semeias colhes". Na tradição indiana a palavra Karma (da raiz Kr, que significa fazer), foi mesmo aplicada a uma via de união ou yoga, o Karma Yoga, yoga da acção, e valorizado no seu aspecto de acção desinteressada, abnegada, sendo com muita frequência citado o verso tens direito à acção, mas não aos frutos dela, no sentido de aumentar o nosso desprendimento e da nossa possessividade, sem dúvida características que nos podem dificultar o Caminho de avanço e realização espiritual.
O dito Persa da Antologia, naturalmente anónimo, é a coalescência de uma sabedoria natural e simples da lei do karma aplicada à palavra, sem dúvida um dos meios principais da interacção humana e diz-nos:

«Quem fala, semeia
Quem escuta, colhe»

                                  

Comentário meu.
Sabermos ouvir com sensibilidade, atenção e persistência é indispensável para conseguirmos tanto compreender bem os outros como alcançarmos as ligações subtis ou superiores e, portanto, em
ambos os casos gerar ou colher frutuosamente.
Saber ouvir interiormente implica tentarmos alcançar o silêncio, ou seja, aquietarmos as ondulações mentais, para que possamos receber transparentemente o que possa chegar aos nossos ouvidos físicos e psíquicos, este infelizmente muito ignorado e não cultivado, pesem algumas tradições espirituais bem importantes que o mencionam ou implicam mas que a civilizacionice ocidental desdenha e até dificulta com o seu culto ao ruído. E poderíamos mencionar a música das esferas, a voz da consciência ou do silêncio, e yogas como o Shabda e o Nada .
Pelo lado já não feminino da receptividade e da audição, mas domasculino e da acção, devemos consciencializar-nos bem que cada acto nosso é uma sementeira e ainda que o vejamos apenas como um acto isolado, efémero e transitório, ele dá contudo sempre frutos, tem consequências maiores ou menores, pelo que deveríamos de algum modo intuí-las, prevê-las, para evitarmos o que não seja bom para nós, para os outros, para o ambiente, para o Cosmos.
Na realidade cada um de nós é como uma árvore, que conforme as raízes, a nutrição e crescimento irá dar folhas, flores e frutos, benéficos ou destrutivos...
Neste provérbio persa a sementeira expressa é a da palavra, falada, escrita ou pensada, pois por todos estes meios a nossa energia psíquica afectiva, mental e intencional transmite-se e gera efeitos em quem a sente, ouve ou lê.
Ora sendo tão grande a responsabilidade, como é que há tanta gente a escrever barbaridades ou o que tem tantos efeitos negativos nos outros, para já não falarmos dos que o realizam por actos ou materialmente?
Creio que é sobretudo o egoísmo e insensibilidade aos outros, e a ignorância da lei do Karma e que há uma vida depois da morte na qual estaremos muitíssimo condicionados pelo que fizemos no corpo físico enquanto estivemos na Terra, as causas principais de tal erro e ilusão. Será então ouvindo a Sabedoria perene, a Perennial Philosophy, como lhe chamou Aldous Huxley na antologia que o meu mestre Swami Kaivalyananda, de Rishkesh, me fez ler como introdução ao Advaita Vedanta, nomeadamente persa-iraniana- indiana, entre outras, seja dos livros seja directamente de pessoas que
a tentam estudar e meditar, aprofundar e viver.
Hajam então muitas semeaduras biológicas, puras, luminosas para que as colheitas sejam mesmo boas para a Ordem do Universo e os seres e campos unificados de energia consciência informação.

Xvarnah

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