Eis-nos com a primeira quadra de Omar Khayyam, na antologia francesa das Sources de Sagesse Persane que temos comentado, uma quadra muito rica de significações, ao realçar como a respiração ou sopro está em constante acção e logo podendo ser usada na transmutação de estados afectivos e psíquicos, os quais frequentemente nos escapam ao controle, ou não são os melhores para as harmonias do campo unificado de consciência e informação mundial.
Omar Khayyam é neste poema um mestre espiritual instruindo-nos a estarmos mais conscientes da nossa respiração e como ela é o factor neutral e puro que pode alterar a balança das polaridades, ou pelo menos evitar que as soframos desequilibrada ou inconscientemente, apelando antes a conseguirmos sentir a alegria, a felicidade pura de vivermos no presente tão frágil quão divino do aqui e agora. Eis o ruba'i:
Omar Khayyam é neste poema um mestre espiritual instruindo-nos a estarmos mais conscientes da nossa respiração e como ela é o factor neutral e puro que pode alterar a balança das polaridades, ou pelo menos evitar que as soframos desequilibrada ou inconscientemente, apelando antes a conseguirmos sentir a alegria, a felicidade pura de vivermos no presente tão frágil quão divino do aqui e agora. Eis o ruba'i:
«Entre a fé e a descrença, a respiração.
Entre a certeza e a dúvida, a respiração.
Alegra-te no sopro presente onde vives,
Pois a própria vida está no sopro que passa.»
Entre a certeza e a dúvida, a respiração.
Alegra-te no sopro presente onde vives,
Pois a própria vida está no sopro que passa.»
Há
um espaço ténue frequentemente entre as águas claras e as escuras,
entre a dúvida e a certeza, o amor e o ódio, a luz e a sombra, o qual pode ser facilmente alterado pelas circunstâncias ou o calor de uma discussão.
Discerne pois bem onde estás e respira com intensidade e o melhor
possível, para estares em paz ou poderes mesmo alcançar valiosas, belas e verdadeiras interacções e realizações.
Entre o céu e terra corre uma circulação ininterrupta energética e consciencial que liga também o teu passado ou futuro e é só no presente que a tua plena criatividade se pode exercer nos sentidos mais libertadores possíveis. Respirar então bem o presente, senti-lo, desfrutá-lo, ajuda-nos a determinar-nos bem conscientemente, amorosamente, sabiamente.
Entre o céu e terra corre uma circulação ininterrupta energética e consciencial que liga também o teu passado ou futuro e é só no presente que a tua plena criatividade se pode exercer nos sentidos mais libertadores possíveis. Respirar então bem o presente, senti-lo, desfrutá-lo, ajuda-nos a determinar-nos bem conscientemente, amorosamente, sabiamente.
Consultada uma versão em inglês, a
de Justin Huntly McCarthy, dada à luz em 1889, e onde ele narra tanto as
vicissitudes da primeira tradução ocidental, de 1858, de Edward FitzGerald,
como a génese da sua paixão pelos Ruba'iyat de Omar Khayyam e logo da sua demorada tradução em prosa,
encontramos a quadra da Antologia, no meio da XVI: «Only a breath
divides faith and unfaith, Only a breath divides belief from doubt. Let
us then make merry while we still draw breath, For only a breath divides
life from death». Tal como lemos, o final recebeu um tradução do persa
diferente da que transcrevi: «Gozemos enquanto ainda respiramos, Pois apenas uma
respiração separa a vida da morte».
Podemos então de novo realçar o estarmos alegres na vida, o vivermos harmoniosamente, e sabermos até desfrutar a riqueza da respiração que nos anima, e neste sentido tantas práticas espirituais assentam em consciencialização e realização de diferentes tipos de respirações e energetizações possíveis.
Podemos então de novo realçar o estarmos alegres na vida, o vivermos harmoniosamente, e sabermos até desfrutar a riqueza da respiração que nos anima, e neste sentido tantas práticas espirituais assentam em consciencialização e realização de diferentes tipos de respirações e energetizações possíveis.
Já na tradução de J. B. Nicolas, Les Roubaïates, editada na parisiense Seghers, em 1965, encontramo-la na quadra 20: «A distância que separa a incredulidade da fé é apenas a de um sopro, a que separa a dúvida da certeza é igualmente um sopro; passemos então alegremente este espaço precioso de um sopro, pois a nossa vida está separada da morte também pelo espaço de um sopro». Ou seja, despertemos e rejubilemos no presente e avancemos bem conscientes da preciosidade da respiração vital, amorosa e espiritual.
Omar Khayyam (1048-1131), nascido em Nishapur, no Khorasan, nordeste do actual Irão, foi um genial poeta e filósofo, matemático e astrónomo e a sua obra oscila entre o epicurismo e o espiritualismo, entre o cepticismo e a visão da unidade do Universo. Pouco após a primeira tradução ocidental ganhou grande reconhecimento nos meios de vanguarda da época, tal o dos pré-rafaelitas e espalhou-se por todo o mundo, a Portugal também chegando, nomeadamente com Gomes Monteiro, Alberto J. Jardim, Fernando Pessoa, que traduziu algumas quadras e se inspirou para várias suas, Fernando Couto, A. César Rodrigues, Maria Alhiete Galhoz (com as suas Canções de beber - Ruba'iyat na obra de Fernando Pessoa) e Halima Naimova (Umar-i Khayyam. Ruba'Iyat, com cinquenta e uma quadras traduzidas directamente do persa), com estas duas almas luminosas e tão dedicadas à cultura tendo eu ainda dialogado algumas vezes.
Omar Khayyam (1048-1131), nascido em Nishapur, no Khorasan, nordeste do actual Irão, foi um genial poeta e filósofo, matemático e astrónomo e a sua obra oscila entre o epicurismo e o espiritualismo, entre o cepticismo e a visão da unidade do Universo. Pouco após a primeira tradução ocidental ganhou grande reconhecimento nos meios de vanguarda da época, tal o dos pré-rafaelitas e espalhou-se por todo o mundo, a Portugal também chegando, nomeadamente com Gomes Monteiro, Alberto J. Jardim, Fernando Pessoa, que traduziu algumas quadras e se inspirou para várias suas, Fernando Couto, A. César Rodrigues, Maria Alhiete Galhoz (com as suas Canções de beber - Ruba'iyat na obra de Fernando Pessoa) e Halima Naimova (Umar-i Khayyam. Ruba'Iyat, com cinquenta e uma quadras traduzidas directamente do persa), com estas duas almas luminosas e tão dedicadas à cultura tendo eu ainda dialogado algumas vezes.
Discutir-se
a espiritualidade mística sufi ou não de Omar Khayyam tem dividido, como a respiração-sopro da quadra, o campo dos especialistas, tanto mais que o seu primeiro
tradutor considerava-o um epicurista, materialista e anti-religioso. Destaquemos
porém que um bom mestre da espiritualidade yogui tão afim da sufi,
consagrou-lhe de 1937 a 1944 uma série de artigos que se tornaram em
1994 um tratado bem ilustrado. Nada mais nem menos que o autor da famosa
e valiosa Autobiografia de um Yogi, o mestre indiano Paramahansa Yogananda: Wine of the Mystic. The Rubaiyat of Omar Khayyam.
A spiritual interpretation, na qual considera que Omar Khayyam tinha
uma elevada realização espiritual, assinalada pela sua visão interior e a
ligação à Divindade ou ao Um. Esperamos um dia trabalhar e partilhar
algo desta aproximação e visão, invocando as inspirações e bênçãos de
tão grandes almas da tradição persa e indiana... Segue-se um vídeo com algumas quadras ou rub'iyat, bem musicadas e cantadas...
Sem comentários:
Enviar um comentário