Estátua de Ferdowsi, junto ao seu túmulo, em Tous. |
Os versos da segunda participação na Antologia das Fontes da Sabedoria Persa são de Firdousi ou Ferdowsi (940-1025), o poeta da grande epopeia persa, de cerca de 61.000 coplas, o Shahnameh, uma obra tanto histórica e mítica tão cativante, poderosa e que foi ao longo dos séculos ilustrada com belíssimas miniaturas iluminadas de grande qualidade e também musicada, como podemos ouvir no fim num excerto, pela excelente Simorq orchestra.
Ferdowsi foi assim um preservador da tradição iraniana pré-islâmica, nomeadamente zoroástrica e da dinastia Sassânida (224-651), ao fazer a sua história e narrar os seus heróis e mitos, com ensinamentos como a Jam-e jam, a taça de adivinhação, grálica, e é considerada o pai da língua persa, graças em parte a ele fixada e mantida desde há mil anos, tendo um culto enormíssimo, a par de Saadi e Hafiz, no Irão e nos países e espíritos de cultura e língua persa.
«Eu atravessava uma noite única
Quando tu viestes, meu amor,
Transformar a noite num dia radioso.
Cantavas e graciosamente deste-me vinho
Dizendo tais palavras divinas inesquecíveis
Que a noite dissipou-se como fumo... »
Comentário saído de mim, e agora ampliado:
O encontro entre duas almas pode ser um acontecimento muito luminoso, quando há complementaridades e raios mais abundantes de certos assuntos, qualidades ou chakras de um partem e vão-se repercutir no outro, impulsionando-o, elevando-o, nem que seja apenas no momento, embora saibamos que há quem guarde na sua alma e memória encontros e diálogos que as marcaram, ou que nelas se incrustaram brilhantemente. Pena é não estarmos tão atentos e sensíveis a todos estes planos de interacção nem discirnamos o que poderá frutificar de melhor do face a face, alma a alma, ou então mesmo apenas pelos meios digitais.
Quando há mais amor no encontro, quando a chama da afinidade mútua para certos aspectos ou níveis elevados da realidade coexiste, então os efeitos podem ser mais duradouros e profundos, e há seres que caminham na vida com a alma do ser amado ou dos seres amados, na sua alma e com alguma ou mesmo constante interpenetração, influência, troca, na anima mundi unificadora, dependendo claro das afinidades e reciprocidades vibratórias, e independentemente das distâncias ou dos planos de vida em que se encontram na sua peregrinação eterna.
De igual modo as palavras e sons que brotaram, com as suas entoações e intenções, podem pelas suas dimensões poéticas e anímicas tornarem-se florescências anímicas por onde a seiva do amor cósmico, intensificado pelos dois corações e espíritos em uníssono, circula, aperfeiçoa, auto-consciencializa e espiritualiza.
Relembrar tais palavras, tais mantras por vezes, ao ter havido iniciações, e pronunciá-los, é intensificarmos a luz sobre a luz, a alma de um no outro, magicamente, iluminadora e libertadoramente.
Felizes dos que, se encantando, encantam também e nessa comunhão da unidade do Espírito e do Amor alcançam as fortificações das suas qualidades, desenvolvendo capacidades latentes da alma, diminuindo as limitações dos órgãos sensoriais e da mente ignorante, para assim melhor acolherem as bênçãos divinas e mais fraterna e harmonizadoramente agirem e viverem...
Todavia, os verdadeiros encontros de seres no Caminho deveriam ter os seus momentos de silêncio, de empatia e telepatia, de tal modo que as palavras, vindas das profundezas, e se tinjam do amor, esse vinho que nos exalta no culto ou adoração da Natureza, do companheiro ou companheira, da amada ou do amado, do mestre ou do anjo, ou mesmo da Divindade...
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