Natana
Gopal, ou de seu nome completo Sriman Natanagopala Nayaki Swamigal, foi
um notável místico, yogi, poeta e músico do sul da Índia, nascido a 9 de
Janeiro de 1843 na Palmal Cross Street, em Sourashtrapuri, parte sul da
famosa cidade de Madurai, em Tamil Nadu, filho de Rengariyar e Lakshimi
Ammal, uma família de bramanes Sourashtra,
os da profissão de tecelões, tendo então recebido o nome de Rama Bhadran.
Desde cedo foi muito atraído para o mundo espiritual não ligando muito à
escola, nem depois, aos dez anos, ao trabalho de tecelão que
naturalmente no modo de vida das castas lhe pertenceria, já que não
queria estudar. Aos dezasseis anos resolveu desprender-se do trabalho, para o
qual não sentia vocação, sentindo-se chamado para outros voos e,
despedindo-se dos pais ,retirou-se para a natureza e as montanhas a fim
de se dedicar mais plenamente à renúncia do mundo e à realização
espiritual. A
dado momento, por sonho, recebeu a indicação de procurar um guru, que
era Nagalinga Adigal, em Paramakuti, onde foi bem recebido, aprendendo
rapidamente o sindi e recebendo na iniciação o nome de Sadhananda
Siddhar.
Teve contactos com personagens públicas importantes que, atraídos
pela sua fama ou o queriam ver ou testar, saindo bem sempre dos testes.
Foi também iniciado na tradição já não dos Sidhas, mas dos Vaishnavas,
os devotos de Vishu. O mestre ou acharya foi Vadapathraararyar, que na
iniciação lhe deu o nome de Natana Gopal, com que ficará conhecido e manteve
por ele grande amor ou respeito, acrescentando o seu nome em quase todos os
poemas devocionais que foi compondo, e dos quais poderemos ouvir um no fim. Leu muito os poemas dos 12 místicos
Alvares, contidos na famosa compilação, do séc. IX, Divya prabandam, que alberga 4.000 versos de alta devocionalidade e espiritualidade yogi e vaishanava, isto é, devotos de Vishnu Narayana, Krishna, Radha, caracterizados por muita Ananda, beatitude...
A sua rotina diária em Madurai no seu ashram, onde recebia discípulos, devotos e visitantes, incluía, cantos, música e satsanga,
isto é, diálogo ou palestra em grupo e sob a invocação da verdade. Um
dos nomes divinos que mais utilizava e recomendava era Govinda, que significa tanto o Deus Krishna como o Senhor da terra e das vacas, ou ainda dos Vedas. Sendo levado
nos dois anos antes de morrer, no dia de anos, em procissão de
elefante e de palanquim, anunciou então que no próximo ano já o iriam
levar morto. E assim foi libertou-se do revestimento físico, no mesmo dia em que nascera, a 9 de
Janeiro, de 1914.
O meu mestre de Madras, Shudhanda Bharati, na fotografia em cima (em jovem, tendo-o eu conhecido já bem mais tarde), escreveu um livrinho sobre Natana Gopal, e começa-o assim: «Fui
convidado a escrever sobre um santo que viveu em Madurai, a cidade das
artes e da beleza, Eu vi este santo e os seus êxtases espirituais na
minha infância Ele vivia, movia-se e tinha o seu ser em Deus. Ele
despertara Deus na argila humana. Eram dias em que a educação inglesa
apressava-se a tornar os homens meros robos pragmáticos. O ozono do
fervor espiritual estava viciado pelo gás da impertinência agnóstica. O
sexo era em excesso. O espírito era enterrado no estômago. O estudo era
sem alma, a vida era sem espírito. A escola era enganar as pessoas
levando-as a pensarem que a vida era feita para ganhar e gozar, comer e
beber, guiar carros, e afirmar: Eu sou rico, e o que tenho é grandioso.
Os intelectuais estavam apanhados no beco sem saída de desespero moral. A
civilização era mecânica, como um carro guiada por um obstinado
condutor embebedado em direcção a uma crise grave. As pessoas estavam
hipnotizadas pelo colorido exterior da vida, pondo de lado as delícias
ontológicas e os níveis profundos de consciência psíquica.»
Narrando
depois como o irmão do seu avô, o yogi Purnananda o iniciara na via espiritual
e na busca do contacto com mestres, Shudhananda Bharati relembra-se de
tê-lo visto com Natana Gopal no jardim onde aquele dispunha de uma pequena
cabana, e conta o episódio quando tinha 11 anos: «de repente uma alma
emocional entrou no jardim, luminosa, ágil e cheia de vida. Tinha um
fogo subtil nos seus olhos e um encanto doce feminino na sua face. Era a
verdadeira imagem da devoção fervorosa a Deus. Hari Om, exclamou
o meu Mestre erguendo-se para o abraçar. Era Swami Natana Gopal. Eu já
vira este Swami. As suas canções devocionais e danças extácticas
tinham encantado a minha alma. Natana Gopal sorriu para o meu ser.
Durante cinco minutos, ele sorria e olhava-me e, batendo-me as nas
costas, disse: Lopala undi pandu, Recolhe-te interiormente e
amadurece. Falava num excelente Telugu com o meu Mestre e foi uma
festa para o coração escutar a conversa deles.»
Em
seguida narra parte da conversa e como o seu tio avô, e seu mestre
inicial, Purnananda, que afirmava que o caminho espiritual se deveria basear
na Gita, Jnana e Nama, algo bastante comum nos mestres indianos, ou seja, lerem-se e meditarem-se os valiosos ensinamentos do poema em diálogo Bhagavad Gita, depois Jnana, discernimento, conhecimento, sabedoria acerca de quem somos realmente e o que usamos transioriamente e, finalmente, Nama,
nome, subentenda-se de Deus. Ou seja, recomenda praticar a invocação de
Deus numa ou noutra face ou nome divino que nos mais atraia, pondo em
acção o amor e a aspiração, e conseguindo uma certa unificação das
forças anímicas e uma religação ao espírito e a Deus, que se manifestará
eventualmente por algum tipo de graça. Sem dúvida uma boa base
programática, por exemplo também muito praticada e recomendada por guru
Ranade, um mestre acerca de quem já escrevi neste blogue.
Por fim
«Natana Gopal cantou um Kirtan melodiosamente e emocionalmente e a sua
substância era: "Canta o nome de Hari ( Harinam) incessantemente e
caminha humildemente para os seus pés"», conselho que Shudhanada
Bahrati seguiu à letra, peregrinando muito e praticando bhakti e
kirtans, e que me transmitiu também, já que durante os três meses que
estive com ele encaminhou-me com cartas de recomendação para o ashram de
Tiruvanamali, de Ramana Maharishi, para a comunidade de Auroville e
para o centro de Aurobindo em Pondichery, onde dialoguei e meditei.
Alguns ensinamentos desse seu livrinho biográfico de Natana Gopal mostram bem a qualidade devocional da sua via yógica, a da bhakti,
ou da devoção, em que o amor a Deus na forma escolhida pelo discípulo é
perseverantemente dedilhado, cantado: «Pára a mente que passeia e fixa-a no
coração do amor... Medita no que habita no coração, noite e dia e
vencerás a morte... A repetição do nome de Deus (japa, namdev, satnam) abre o
coração... Mantém a Luz do Amor de Deus ardendo com brilho no coração...
O corpo murcha sem comida. A sabedoria tremeluze sem a devoção
amorosa...».
Nestes tempos em que tanta mentira e opressão política, científica e mediática nos envolve, saibamos acender e erguer mais em nós e à nossa volta, o amor, tanto em discernimento como devocionalmente, isto é, em aspiração aos seres celestiais, aos mestres, santos e santas, ao espírito, ao Amor e à Divindade, sob que forma ou nome mais A amarmos e adorarmos...
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