domingo, 9 de maio de 2021

Das exigências do diálogo e do ensino filosófico, por Sant' Anna Dionisío. "Diálogo no Jardim" da Estrela, sob a estátua de Antero de Quental

Sant'Anna Dionísio (1902-1991) foi um ensaísta, jornalista, polemista e professor liceal, licenciado em Filologia Germânica (1924, dissertação sobre Nietzche) e em Filosofia (1926, dissertação sobre Bergson), pela famosa Faculdade de Letras do Porto, fundada e orientada (1919-1928) por Leonardo Coimbra. Destacou-se enquanto discípulo dos antigos filósofos gregos (tendo traduzido algumas obras), de Antero de Quental e do seu professor Leonardo Coimbra, manifestando uma busca constante de conhecimento e de comunicação, tendo por isso, além das aulas,  dado à luz vários livros e colaborado em jornais, em especial o 1º de Janeiro e o Diabo, e revistas, tais como a Águia (onde foi nos últimos números ainda co-director com Agostinho da Silva), Prisma, Seara Nova, Tempo Presente, Mundo Literário, Revista 57, Nova Renascença

Tendo sido professor liceal em Guimarães, Funchal, Vila Real e  Lisboa, na capital exerceu o seu magistério no D. João de Castro e sobretudo no Pedro Nunes, ao lado do Jardim da Estrela,  publicando em 1960, quando já tinha mais de trinta anos de escritor (1º título Cépticos, 1929), um opúsculo in-4º de 16 páginas intitulado Diálogo no Jardim,   no qual, esclarecendo como se deve dialogar e interrogando-se quanto à filosofia poder ser objecto de pedagogia, delineia duas linhas de força da tradição espiritual portuguesa, a que ele pertenceu discretamente: a da busca  do diálogo despertante ou presentificante autêntico e a da relação mestre a discípulo, na qual o mestre desperta, intensifica ou ilumina este, cabendo depois ao último aprofundar e perseverar as luzes geradas nos diálogos e eventualmente partilhá-las. 

Neste Diálogo no Jardim serão mencionados tanto Leonardo Coimbra, directa e indirectamente ("sei de ciência certa", referindo-se a algumas experiências, pois Sant'Anna conviveu com ele), como Antero de Quental, quanto ao seu anseio confessado de ter um verdadeiro discípulo.  Mas como o Diálogo, com quatro interlocutores, se desenrola no Jardim da Estrela, junto à escultura de Antero de Quental (reproduzida em fotografia em folha preliminar) há várias referências a ela e a ele, sendo ainda assinalada a presença do som ritmado dum liceu próximo, o Pedro Nunes, onde curiosamente fiz eu o sexto e sétimo ano do Liceu in illo tempore. Mais tarde, quando ensinava Agni Raj Yoga no restaurante Suribachi no Porto, dialoguei muito com Sant'Anna Dionísio em sua casa, nos últimos anos da sua vida na Terra física, tendo ainda feito algumas pequenas peregrinações com ele, duas das quais com a Dalila Pereira da Costa, no Minho e no Douro.

Oiçamos então desse invulgar folheto, recentemente adquirido numa livraria alfarrabista portuense, a Candelabro de Luís Moutinho,  as passagens mais valiosas quanto a possibilidade do diálogo pedagógico e filosófico dar à luz uma intensificação auto-consciencial, metafísica e espiritual, começando com a descrição do cenário inicial:

                            DIÁLOGO DO JARDIM

«Três homens relativamente novos, passeiam na alameda de um jardim conversando. É uma manhã luminosa de meados de Junho. Através da folhagem do arvoredo, entreve-se a massa de mármore de uma bela basílica, com o seu grande zimbório recortado no azul. Um pouco cansados talvez da demorada conversa deambulatória, os interlocutores deixam a alameda e vão sentar-se num recanto de penumbra, junto da estátua do Poeta-Filósofo. É nesse momento que surge um companheiro que os três conversadores parecem esperar e festivamente saúdam. Interlocutores: António, Afonso, Luís e Abel (Luís é o que acaba de chegar). (...)»

                                 

    «António. -  Neste momento, o assunto que eu estava a tentar esclarecer era simplesmente este: o de que a arte de de discutir requer uma severa disciplina que envolve, em primeiro lugar, o saber ouvir e não interromper senão quando o pensamento que se nos opõe se possa dizer bem definido.

Luís. - Por esse princípio, nunca se devia interromper ninguém que se nos opusesse, - e todo o diálogo se tornaria solilóquio.

António. - A verdade é que tu mesmo estas a verificar o malefício de toda a interrupção extemporânea ou intempestiva. Precisamente no momento em que eu tentava demonstrar em que consiste essa disciplina, tão rara, de saber ouvir, cortaste-me o fio com um comentário sardónico, que a inutilizou. Ora isto é o que se verifica constantemente em todas as conversas que falham.

Luís. - Queres então dizer que toda a conversa, para ser proveitosa, deverá submeter-se rigorosamente a uma espécie de regimento?

António. - E porque não? Uma discussão é uma partida que requer o devido vagar, os devidos períodos de silêncio, as devidas esperas do trabalho dialéctico do opositor.»


Mais à frente, após ter distinguido o ensino da filosofia e o ensino liceal ou secundário da filosofia, e de ter advertido que «em qualquer conversa, mesmo na mais desperta, há sempre uma certa dose de automatismo verbal a corroer constantemente a substância sincera do objecto da discussão», volta à questão de a filosofia autêntica, ou "superior reflexão metafísica" poder ser ou não "objecto de uma didáctica" e, depois de aludir a Agostinho da Silva e a Leonardo Coimbra (crítico do progresso cousado ou coisificante), reconhecerá «que o único progresso» bem substancial e todavia sempre precário) que concebo é o que se poderá chamar afinamento da consciência de problematização [e, acrescentaremos, de silenciosa sensibilidade subtil-espiritual) e esse, segundo julgo, não se pode obter senão pela oferta de experiência e esclarecimento que se faz e terá de fazer sempre com relativo espírito de gratuitidade, de geração para geração, sob pena de colapsos análogos aos dos dois ou três primeiros séculos da Idade Média».

Valorizando a demanda filosófica em todo a pessoa, desde o pastor da serra da Estrela, admitindo mesmo que uma maiêutica especial poderá trazer à fala sensibilidades e intuições das crianças, confessará contudo que «não obtive ainda, infelizmente, da minha experiência docente, já longa, sinal algum de ter influído a fundo no destino intelectual de alguém, dentro das dezenas de cursos e centenas de ouvintes que tenho tido. Essa satisfação íntima não a tive ainda, e não sei se a terei. São obras do ocaso e não do querer. Um discípulo é sempre uma avis rara; para não dizer uma graça. Quantos espíritos dados, com seriedade profunda, ao magistério, não têm vivido sem lhes ter sido dada tal «graça»! É ver o caso de Antero, aqui presente. Vejam o seu silêncio. Um dos mais íntimos pesares, com nitidez traduzido em algumas das suas confidencias do fim da vida, foi o de não ter tido a ventura de encontrar um ou dois discípulos, que sobre si tomassem a tarefa de cristalizar o inefável do seu pensamento discursivo espalhado e perdido em tantas conversas de noctâmbulo. É o próprio Eça quem o diz, no seu contributo para o In-Memoriam.

Afonso. - Mas, afinal, aonde queres tu ir com a tua divagação?

Luís. - Quero chegar a este ponto: que, embora não tenha tido, conforme desejas saber, uma prova patente de que o magistério da filosofia seja «decisivo» no destino deste ou aquele, dentro os que tenho tentado esclarecer ou despertar, sei de ciência certa que tal magistério, se for feito com intensidade, exerce uma discreta e verídica acção de presença.»  

Concluirá assim afirmativamente quanto à questão fundacional, pois: «Se ninguém ensinasse, nem quisesse ajudar a esclarecer, nem oferecesse a sua reflexiva experiência aos que vão emergindo do limbo da Vida e da Ingenuidade, o homem em breve se tornaria uma criatura taciturna como tantos seres que vivem a seu lado, sobre a terra, à superfície da terra e nas estranhas da terra». 

E admitirá ainda, face às dificuldades de acordos nos diálogos: «Será caso para se pôr termo a todas as discussões? Teremos de viver como as pedras dos montes ou, conforme diz a gente ingénua e vulgar, como Deus com os anjos; - isto é, em perfeito silêncio? (...) Os seres humanos entendem-se como podem. O desentendimento sempre foi e será uma necessidade dialéctica para novo esforço de entendimento.»    

Sant'Anna Dionísio fechará o seu breve diálogo ao modo socrático, quando já publicara três livros sobre Antero de Quental e dois sobre Leonardo Coimbra,  com um nota paisagística de que ele foi um artista, seja como continuador do Guia de Portugal, de Raul Proença, seja nos livros, editados pela Lello no Porto, consagrados aos Norte de Portugal, mais concretamente com uma pequena impressão anteriana e do Jardim da Estrela: «A pouca distância, ouve-se o rumorejar da população escolar do Liceu, no breve intervalo das aulas. Luís afasta-se nessa direcção. Os outros interlocutores levantam-se e dirigem para os lados do pavilhão do pequeno lago, deixando a sós o Poeta-Filósofo, na sua branca imobilidade, recortada no verde escuro do montículo de musgo que lhe serve de fundo».

                                                        

Quanto à estátua de Antero, por Barata Feyo, Sant'Anna Dionísio dirá ainda: «A presença da estátua branca de Antero parece que vos inclina hoje mais ainda que de costume para o devaneio poético». E talvez mais brincando, apesar de amante da Grécia, «sabemos que tens, como Antero, aqui defronte, todo embrulhado no seu pesado roupão, uma espécie de pudor de elefante.»
        
   "Aos pés do mestre" significa humildemente  curvar-nos sobre os que nos antecederam, nomeadamente os mestres, e intuirmos as comunhões correctas que com eles devemos cultivar, num caminho de realização humana e espiritual humilde e amorosa, sábia e corajosa, com aspiração, criatividade ou luta pelos ideais de maior justiça, fraternidade e liberdade, coroados intimamente com o despertar espiritual e o amor divino.

sábado, 8 de maio de 2021

Da essência perene da aspiração da poesia do coração e do amor. Um poema.

Este poema foi escrito hoje 8-V-2021, pela tarde. Hesitando depois nas imagens ou iconologia, acabou por entrar a bela fotografia de Isabel Moura partilhada para o grupo no Facebook "Núvens e Céus de Portugal" e, no fim, uma gravura de livro do séc. XVIII, da Tradição Espiritual Portuguesa...

                                       

Quem escreve deseja sempre ser apreciado,
Mas se é ego ou altruísmo é difícil deslindar,
 tal querer ser lido e acolhido, em que futuro seja,
pois imaginamos até do outro lado da vida
    ainda sentir comunhão com as almas leitoras.

Cada poema é mensagem escrita numa garrafa
que lançada no oceano da manifestação
pode chegar ou não a um coração receptivo
e suscitar a comunhão numa emoção.

Quantas vezes não escrevi pensando em ti,
e que, tu me lendo e sentindo tanto a luz,
 os nossos corações se comunicariam
e distâncias intransponíveis se venceriam?

Assim, cada escrito é uma escada para o céu
mas com travessas e ligações à Terra.
É um coração que aspira tanto a Deus
Como às companhias afins frutíferas.

Nestes tempos de tantas ganâncias e opressões,
quando os Estados e financeiros se tornaram bárbaros
é na poesia, luta e meditação que se comunicarão
as almas cultoras da beleza,  do bem e do coração.

Assim não desanimes, esforça-te, persevera,
Sê fiel cavaleiro ou cavaleira do Amor,
capaz de vencer o medo, a morte e a dor,
Como a nós Antero de Quental apelou.

Lanço assim este poema do coração
para que chegue ao teu e o anime
daquela vontade indómita de vencer
 e de realizar os teus mais altos fins.

O que é a poesia no fundo senão
uma íntima aspiração e oração
a que se realize maior união
e a justa paz e iluminação?

 Valete Fraters, Valete Sorores! 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um poema oração de Rabindranath Tagore, muito actual, no seu dia de aniversário. Aum...

                                                        

Um poema muito actual em inglês de Rabindranath Tagore (1861-1841) e traduzido para português por Pedro Teixeira da Mota, neste 160 ano do seu aniversário. Possam as forças negativas do egoísmo, ganância e violência desaparecerem cada vez mais da Terra, dos financeiros, dos governos, das empresas e das mentes e corações humanos, graças aos esforços, purificações, aspirações, meditações e bênçãos, dando lugar à fraternidade, à justiça, à compaixão e ao amor divino e à Divindade. Foi publicado pela 1ª vez postumamente em 1942, sendo o 88º dessa selecção então inédita intitulada Poems, com o desenho inicial de Gaganendranath Tagore, e o final deste artigo já da autoria de Rabindranath, que nos últimos anos pintou bastante.


«O mundo está hoje bárbaro com o delírio do ódio,
os conflitos são cruéis e infindáveis na angústia,
tortos são os caminhos, emaranhados seus laços de ganância.
Todas as criaturas apelam por um novo nascimento de ti.
Ó Tu da vida ilimitada,
salva-os, ergue a tua eterna voz de esperança,
Que o lótus do Amor com seu inesgotável tesouro de mel
abra as suas pétalas na tua luz.

Ó Sereno, Ó Livre
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

Tu doador dos dons imortais
dá-nos o poder da renúncia
e retira de  nós o nosso orgulho.
No esplendor dum novo nascer do sol da sabedoria
possam os cegos ganhar de novo a sua visão
e possa a vida chegar às almas que estão mortas.

Ó Sereno, Ó Livre,
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

O coração do ser humano está angustiado com a febre da inquietação
com o veneno da procura egoísta,
com uma sede que não tem fim.
Por toda a parte países ostentam na suas frontes
a marca de sangue-avermelhado de ódio.
Toca-os com a tua mão direita,
Torna-os um no espírito,
trás harmonia às suas vidas,
trás o ritmo da beleza. 

Ó Sereno, Ó Livre,
na tua incomensurável misericórdia e bondade
faz desaparecer todas as manchas escuras do coração desta terra.

                                      

Nos 160 anos de Rabindranath Tagore. Um poema, com tradução minha, e um vídeo de então.

                                  

 Comemoram-se hoje os cento e sessenta anos do nascimento de Rabindranath Tagore, 7-V-1861 a 7-VIII-1841) o grande poeta, pedagogo, político e espiritualista, de Bengala, criador de uma vasta obra maravilhosa de poesia (Prémio Nobel em 1913), ensaio, música, romance, drama, pintura, educação, história, filosofia e ensino espiritual. Em vários textos deste blogue já o biografamos, referimos, traduzimos e comentamos, e hoje acrescentamos um valioso folheto com uma bela imagem, como  guru (e é no livro Sadhana que mais se manifesta, e do qual transmiti partes do 1º capítulo em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/05/sadhana-de-rabindranath-tagore.html), folheto que trouxe do seu centro educativo, Vishva-Bharati, hoje Universidade, no norte de Bengala, há já quase 30 anos, em 1995, quando estive um ano na Índia e em grande parte em Calcutá, no Ramakrishna Mission Institute of Culture, em trabalhos de yoga e orientalismo.
Contém ele um texto-poema-oração em bengali e em inglês, que  traduzimos para português,  já do fim da sua vida, no qual  resume a sua peregrinação como a de um coração e uma mãos sempre abertas à Divindade, um ser de grande amor, compaixão e devoção... Assim o homenageamos, e invocamos até, a sua imensa sensibilidade, amor e sabedoria nas nossas almas, algo dilaceradas e limitadas pelas situações 
difíceis e tão manipuladas que atravessamos...
Possam as bênçãos divinas e dos mestres inspirarem-nos, protegerem-nos e guiarem-nos...

«Thou hast made me endless, such is thy pleasure. This frail vessel thou emptiest again and again, and fillest it ever with fresh life.
This little flute of a reed thou hast carried over hills and dales, and hast breathed through it melodies eternally new.
At the immortal touch of thy hands my little heart loses its limits in joy and gives birth to utterance ineffable.
Thy infinite gifts come to me only on these very small hands of mine. Ages pass, and still thou pourest, and still there is room to fill.»

«Tornaste-me sem fim, tal é o teu gosto. Este frágil vaso esvaziaste-o uma vez e outra vez, e encheste-o sempre com vida renovada.
Esta pequena flauta de cana verde levaste-a por montes e vales, e através dela sopraste melodias eternamente novas..
No contacto imortal das tuas mãos o meu pequeno coração, numa grande alegria, perde os seus limites e dá à luz  expressões inefáveis.
Os teus dons infinitos vêm até mim apenas nestas minhas pequenas mãos. Passam os tempos, e ainda derramas e ainda há espaço  para encheres».    Aum...

                    

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Al-Kadir. Poemas em português. And Celebration of Al-Qadr, Night of Power, in english, video

Considerando-se em 2021 a noite de 5 para 6 de Maio como a primeira  das dez últimas noites do mês do Ramadão a correspondente no calendário arábico à primeira  transmissão do Alcorão ao profeta Mohammed, em Dezembro de 610, denominada Laylatul Qadr, Al-Qadr ou Al-Kadir, crendo-se que por parte de uma entidade celestial, denominada de Jibril, ou Gabriel, tal noite (ou noites, pois terá sido numa ímpar, ou seja a 21, 23, 25, 27 ou 29 do mês) é ou são consideradas muito auspiciosa para orações e meditações, já que as ligações entre os mundos espirituais ou divinos e os humanos estarão mais abertas, intensificadas, possíveis, trabalháveis.

                                              

Depois de ter partilhado para o blogue a notícia da Noite de Poder, com uma mensagem do líder espiritual do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, mais alguns pensamentos tradicionais sobre al-Qadr, nomeadamente a sura corânica e uma frase do 1º Imam dos Shiaa, Ali ibn Abi Taleb, casado com Hazrat Fatimah, a filha de Maomé, durante a noite fiz três meditações, com breves escritos-poemas e uma gravação orativa e meditativa de alguns minutos, que encontrará no fim...
Boas inspirações.

02:15.

Al Qadr, al Kadir,
  Alma minha, abre-te à Divindade
 Ao Espírito, ao Amor, à Verdade,
    À Sabedoria, à escrita certa e justa.
Noite de poder, noite de revelação,
Aos Anjos e mestres nossa devoção.
 Vinde ó bênçãos dos níveis interiores
Vinde ò realizações divinas em nós.



4:10

Noites de poder que nos acordam
 Com sonhos de desprendimento:
Realiza que nada é meu ou teu.
Noites de poder, oportunidade de trabalho
  Pelo despertar maior do nosso ser:
Eu desperto plenamente o Amor divino.


6:35

Madrugada de poder e de revelação:
Esta aspiração ardente a Deus que nasce em nós,
Esta aspiração intensa a que o Amor brilhe em nós,
Esta gratidão imensa pela comunhão anímica,
Esta escrita divina que se realiza entre nós,
Tudo nos faz clamar pela Divindade e seu Amor e Ser.

                                

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Noite de Kadir, Al-Kadr night. Noite de poder. Message of the Ayatollah Ali Khamenei

 Realizando-se hoje a noite sagrada de Al- Kadir, a noite mais sagrada do Ramadam, e de todo o ano islâmico, na qual se homenageia o mestre oculto ou o anjo  que transmitiu os primeiros versos do Corão, ou tal inspiração e ocorrência, e que deve ser bem aproveitada em meditação e oração, vamos antes de mais transcrever uma mensagem do líder espiritual do Irão Ali Khamenei, transmitida há momentos

A message from the spiritual leader of Iran, Ayatollah Khamenei:

«The Nights of Destiny are the peak of Ramadan, and we have reached this peak. We should use this unique opportunity of seeking intercession, supplicating, praying, and pleading the Lord of the world. This praying, intercession and crying are bounties from God to you. Appreciate them. [As noites do Destino são o pico do Ramadão e chegamos a esse cume. Devemos usar esta oportunidade única para procurarmos realizar intercessões, suplicações, orações e pedidos ao Senhor do Mundo. Este orar, interceder e clamar  são graças de Deus para ti. Aprecia-as.]
Pray for yourself and everyone. Narrations say that when you pray, believe in its fulfillment. God is pure Munificence, but sometimes we aren’t ready to absorb divine Mercy. By seeking forgiveness, paying attention & pleading, we should prepare ourselves for receiving divine Mercy. [Ora por ti e por todos. Os ensinamentos que nos foram narrados dizem que devemos acreditar no que se pede ou ora. Deus é generosidade pura, mas por vezes não estamos preparados para absorver a Misericórdia Divina. Procurando perdoar, prestando atenção e esforçando-nos, devemos preparar-nos para receber a Misericórdia divina.  

I ask all of you dear ones to please pray for me. [Peço-vos, queridos, que por favor orem por mim.] #QadrNight

Quotations received from Shahara Islam Fatema, of Bangla Desh:
"𝑻𝒉𝒆 𝒏𝒊𝒈𝒉𝒕 𝒐𝒇 𝑸𝒂𝒅𝒓 𝒊𝒔 𝒃𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓 𝒕𝒉𝒂𝒏 𝒂 𝒕𝒉𝒐𝒖𝒔𝒂𝒏𝒅 𝒎𝒐𝒏𝒕𝒉𝒔".  A noite da revelação vale mais que mil meses. Alcorão. Sura Al-Qadr, 3.

"Everything has a treasure and the treasure of the poor is al¬Qadr. Everything has a helper and the helper of the weak is al¬Qadr. Everything has an ease and the ease of those in difficulty is al¬Qadr . Everything has a chief and the chief of knowledge is al-Qadr".  [Tudo tem o seu tesouro e o tesouro do pobre é a noite do poder. Tudo tem um ajudante e o ajudante do fraco é a noite do Poder. Tudo tem um facilitador e quem facilita o que está a passar por dificuldade é a noite de Poder. Tudo tem um chefe e o chefe do conhecimento é al-Qadr, a noite de poder.]

Quotation from Ali, 1º Imam Shia... Citação de Ali, o º Imam Shia...

Boas inspirações. Ore mais esta noite, cante, chore e arda em amor e aspiração e, por fim, silencie e receba....

terça-feira, 4 de maio de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. Cap. I. O Mistério da Oração. Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                                            A ORAÇÃO

                                           por Bô Yin Râ.

Tradução de Pedro Teixeira da Mota, de esta obra muito valiosa, a partir da versão alemã e das traduções inglesas e francesas. Agradeço à Cláudia Lopes ter-me transcrito uma versão manuscrita redigida há uns anos a partir do francês e que serviu de base. Esperemos que a prossiga com certa regularidade.

A 1ª edição foi dada à luz em 1926 em Leipzig pela editora Richard Humel Verlag. Hoje as obras de Bô Yin Râ estão editadas pela Kober Verlag Ag Bern.

                                                                              *******

A VÓS,

QUE QUEREIS APRENDER A ORAR

                                                            

                                                           **********

          Cap. I                                 

                                            O MISTÉRIO DA ORAÇÃO

Segundo o antigo relato sagrado, os discípulos do carpinteiro sábio, do grande “Rabbi” da Nazaré, teriam vindo procurá-lo uma vez com a pergunta:

                           “Senhor, ensina-nos a orar!.”

 À qual - diz-nos a antiga narrativa – o   mestre da Vida a Deus unido os teria advertido, a não mais recitarem as longas litânias tradicionais, à maneira dos que não sabem, mas antes usarem somente as palavras simples e maravilhosamente belas que pronunciam ainda hoje os lábios de todos aqueles que, sob uma forma religiosa ou outra, professam ou crêem professar o ensinamento cheio de amor do grande homem de Deus.

No entanto até aos nossos dias são ainda muito poucas as pessoas que sabem realmente orar, e mais raro ainda é encontrar-se uma pessoa que sabe o que significa "orar" da alta e sagrada maneira que o grande Ser amante queria ver adoptada. - -

Conhecem-se em verdade ainda as palavras que ele, segundo a antiga narrativa, recomendou aos seus discípulos usarem -  só que agora “palreiam-se” também estas palavras, tal como anteriormente outras orações, as quais ele não valorizava especialmente. –

A profanação não é atenuada, pelo facto de a pessoa falar num tom de grande unção, - e mesmo uma sensibilidade reverente ao sentido que o pensamento pode retirar das magníficas palavras não é de modo algum suficiente para, ao repeti-las, se convertam numa verdadeira “Oração”.

Parece portanto que se tornou de novo necessário ensinar o que realmente é “Orar” em verdade, - de ensinar como é que das palavras da língua humana uma “Oração” pode emergir, e que segredo profundo a oração oculta!-

A arte sacerdotal sagrada de criar “Orações” e de verdadeiramente "orar", está hoje quase perdida e assim onde ainda hoje está em uso é todavia praticada muito mecanicamente, despida de vida, ou mesmo supersticiosamente

Porém, mesmo aqueles que crêem ainda orar, só vêm na oração imploração da Divindade, acção de graças ou louvores e não sabem que estes elementos podem-se encontrar numa oração, mas não constituem de modo algum a essência da Oração.

As pessoas não duvidam sequer que mesmo uma associação sublime de palavras de louvores, gratidão ou um pedido, tem de ser realmente “orada” antes de se poder tornar “Oração”.

Que Deus apenas em nós mesmos é alcançável por nós: - que apenas nas profundezas de nós próprios o coração do Ser Eterno e puro pode de si mesmo “nascer de novo”, numa "auto-geração individual”, repetindo-se infinitamente: - tal é a primeira e indispensável consciencialização que todo o ser, que realmente quer aprender a "orar", tem de lutar por realizar em si antes de mais.

 De igual modo tem de saber que o “Pai” eterno,- qualquer que seja o sentido dado pelo crente a esta palavra - não deseja nem acção de graças, nem louvores à maneira humana, e que será blasfematório crer-se verdadeiramente que o coração do Ser espere ser implorado pelo ser humano para se deixar flectir finalmente por tais orações”,- pois “pedir”, no sentido da verdadeira oração, é verdadeiramente algo essencialmente outro que o querer mendigante com o qual tantos se dirigem ao "Deus” de sua imaginação.

Eu realço aqui a expressão “Deus” da sua imaginação, pois a maior parte dos seres humanos, infelizmente, não passa para além duma tal concepção do seu poder imaginativo porque pensam, devido a insuficientes ou errados ensinamentos, que o caminho para Deus tem de levar sempre para cima, mas sempre para o exterior.

Assim nunca conseguirão certamente sentir a Divindade viva, pois não procuram no único lugar onde o vivo e eterno Deus lhes é alcançável.

Contudo, segundo o antigo relato, foi também dito:

“Procurai, de modo a que encontrareis!”

“Pedi, de modo a receberdes!”

“Batei, de modo a que se vos abrirá!”

                                                             *********

´Queremos demorar-nos aqui e aguardar em grande calma até o enigma contido nestas palavras se quiser desvendar ao nosso olho interior…

Entretanto, vou tentar explicar em palavras o que se deixa mostrar!

                                                                  *****

"Procurar" só pode certamente levar a encontrar quando a procura é onde o que é procurado se encontra realmente escondido.

“Pedir", tomado aqui no sentido que exclui toda a "pedinchice", só poderá obter destinatário se quem pede está com direito de receber.

"Bater", contudo, para conseguir entrada na casa, só tem sucesso de avançar se quem bate está plenaamente seguro da porta em que deve bater e sabe de que modo deve bater para ser admitido na casa e ser reconhecido imediatamente como alguém que tem a esperança de admissão.

Aqui porém "Procurar", “Pedir” e “Bater” de modo algum são separáveis, pois só na sua unidade constituem a - “Oração”!

Feliz de quem  deste modo sabe "orar"!

Será ouvido, quanto ainda“bate”!

Receberá logo, quando ainda “pede”!

“Encontrará” com toda a certeza o que ele desse modo "procura", de modo a que  é encontrado.

Nas suas íntimas profundezas tal orante vivenciará o que quis dizer o grande portador da Palavras viva, que uma vez disse aos que cria estarem suficientemente avançados:

“Tudo o que for pedido ao “Pai” no meu “Nome”, ele dar-vos-á!”

Luminosamente  manifestar-se-á  a quem ora o sentido contido nas palavras de louvor:

«Santificado” seja o Teu “Nome”!» - e finalmente reconhecerá, porque é que  o Mestre ensinou então a pedir em seu “Nome" pois:

«Tudo, o que o "Pai" tem, é meu!»

                                                     *******

Assim quem ora reconhecerá também na mais clara luz do do Espírito, que tudo o que se pode pedir ao “Pai” em "Nome" da sua própria representação manifestada, está já de toda a eternidade “oferecido” e dado, se bem que o “Pedido” seja necessário, para levar à manifestação - para causar efeitos perceptíveis temporais…

Só aprendem todavia a “orar” deste  modo, os que sabem unir a sua própria vontade completamente com a vontade do “Pai”! –

Mas para quem sabe “orar” unido à vontade do “Pai” eterno, então toda a sua Oração – o que quer que seja pedido - será um pedir de “asas”: - dessas asas que em verdade “levam mais alto que as asas da águia. “