terça-feira, 4 de maio de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. Cap. I. O Mistério da Oração. Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                                            A ORAÇÃO

                                           por Bô Yin Râ.

Tradução de Pedro Teixeira da Mota, de esta obra muito valiosa, a partir da versão alemã e das traduções inglesas e francesas. Agradeço à Cláudia Lopes ter-me transcrito uma versão manuscrita redigida há uns anos a partir do francês e que serviu de base. Esperemos que a prossiga com certa regularidade.

A 1ª edição foi dada à luz em 1926 em Leipzig pela editora Richard Humel Verlag. Hoje as obras de Bô Yin Râ estão editadas pela Kober Verlag Ag Bern.

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A VÓS,

QUE QUEREIS APRENDER A ORAR

                                                            

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          Cap. I                                 

                                            O MISTÉRIO DA ORAÇÃO

Segundo o antigo relato sagrado, os discípulos do carpinteiro sábio, do grande “Rabbi” da Nazaré, teriam vindo procurá-lo uma vez com a pergunta:

                           “Senhor, ensina-nos a orar!.”

 À qual - diz-nos a antiga narrativa – o   mestre da Vida a Deus unido os teria advertido, a não mais recitarem as longas litânias tradicionais, à maneira dos que não sabem, mas antes usarem somente as palavras simples e maravilhosamente belas que pronunciam ainda hoje os lábios de todos aqueles que, sob uma forma religiosa ou outra, professam ou crêem professar o ensinamento cheio de amor do grande homem de Deus.

No entanto até aos nossos dias são ainda muito poucas as pessoas que sabem realmente orar, e mais raro ainda é encontrar-se uma pessoa que sabe o que significa "orar" da alta e sagrada maneira que o grande Ser amante queria ver adoptada. - -

Conhecem-se em verdade ainda as palavras que ele, segundo a antiga narrativa, recomendou aos seus discípulos usarem -  só que agora “palreiam-se” também estas palavras, tal como anteriormente outras orações, as quais ele não valorizava especialmente. –

A profanação não é atenuada, pelo facto de a pessoa falar num tom de grande unção, - e mesmo uma sensibilidade reverente ao sentido que o pensamento pode retirar das magníficas palavras não é de modo algum suficiente para, ao repeti-las, se convertam numa verdadeira “Oração”.

Parece portanto que se tornou de novo necessário ensinar o que realmente é “Orar” em verdade, - de ensinar como é que das palavras da língua humana uma “Oração” pode emergir, e que segredo profundo a oração oculta!-

A arte sacerdotal sagrada de criar “Orações” e de verdadeiramente "orar", está hoje quase perdida e assim onde ainda hoje está em uso é todavia praticada muito mecanicamente, despida de vida, ou mesmo supersticiosamente

Porém, mesmo aqueles que crêem ainda orar, só vêm na oração imploração da Divindade, acção de graças ou louvores e não sabem que estes elementos podem-se encontrar numa oração, mas não constituem de modo algum a essência da Oração.

As pessoas não duvidam sequer que mesmo uma associação sublime de palavras de louvores, gratidão ou um pedido, tem de ser realmente “orada” antes de se poder tornar “Oração”.

Que Deus apenas em nós mesmos é alcançável por nós: - que apenas nas profundezas de nós próprios o coração do Ser Eterno e puro pode de si mesmo “nascer de novo”, numa "auto-geração individual”, repetindo-se infinitamente: - tal é a primeira e indispensável consciencialização que todo o ser, que realmente quer aprender a "orar", tem de lutar por realizar em si antes de mais.

 De igual modo tem de saber que o “Pai” eterno,- qualquer que seja o sentido dado pelo crente a esta palavra - não deseja nem acção de graças, nem louvores à maneira humana, e que será blasfematório crer-se verdadeiramente que o coração do Ser espere ser implorado pelo ser humano para se deixar flectir finalmente por tais orações”,- pois “pedir”, no sentido da verdadeira oração, é verdadeiramente algo essencialmente outro que o querer mendigante com o qual tantos se dirigem ao "Deus” de sua imaginação.

Eu realço aqui a expressão “Deus” da sua imaginação, pois a maior parte dos seres humanos, infelizmente, não passa para além duma tal concepção do seu poder imaginativo porque pensam, devido a insuficientes ou errados ensinamentos, que o caminho para Deus tem de levar sempre para cima, mas sempre para o exterior.

Assim nunca conseguirão certamente sentir a Divindade viva, pois não procuram no único lugar onde o vivo e eterno Deus lhes é alcançável.

Contudo, segundo o antigo relato, foi também dito:

“Procurai, de modo a que encontrareis!”

“Pedi, de modo a receberdes!”

“Batei, de modo a que se vos abrirá!”

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´Queremos demorar-nos aqui e aguardar em grande calma até o enigma contido nestas palavras se quiser desvendar ao nosso olho interior…

Entretanto, vou tentar explicar em palavras o que se deixa mostrar!

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"Procurar" só pode certamente levar a encontrar quando a procura é onde o que é procurado se encontra realmente escondido.

“Pedir", tomado aqui no sentido que exclui toda a "pedinchice", só poderá obter destinatário se quem pede está com direito de receber.

"Bater", contudo, para conseguir entrada na casa, só tem sucesso de avançar se quem bate está plenaamente seguro da porta em que deve bater e sabe de que modo deve bater para ser admitido na casa e ser reconhecido imediatamente como alguém que tem a esperança de admissão.

Aqui porém "Procurar", “Pedir” e “Bater” de modo algum são separáveis, pois só na sua unidade constituem a - “Oração”!

Feliz de quem  deste modo sabe "orar"!

Será ouvido, quanto ainda“bate”!

Receberá logo, quando ainda “pede”!

“Encontrará” com toda a certeza o que ele desse modo "procura", de modo a que  é encontrado.

Nas suas íntimas profundezas tal orante vivenciará o que quis dizer o grande portador da Palavras viva, que uma vez disse aos que cria estarem suficientemente avançados:

“Tudo o que for pedido ao “Pai” no meu “Nome”, ele dar-vos-á!”

Luminosamente  manifestar-se-á  a quem ora o sentido contido nas palavras de louvor:

«Santificado” seja o Teu “Nome”!» - e finalmente reconhecerá, porque é que  o Mestre ensinou então a pedir em seu “Nome" pois:

«Tudo, o que o "Pai" tem, é meu!»

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Assim quem ora reconhecerá também na mais clara luz do do Espírito, que tudo o que se pode pedir ao “Pai” em "Nome" da sua própria representação manifestada, está já de toda a eternidade “oferecido” e dado, se bem que o “Pedido” seja necessário, para levar à manifestação - para causar efeitos perceptíveis temporais…

Só aprendem todavia a “orar” deste  modo, os que sabem unir a sua própria vontade completamente com a vontade do “Pai”! –

Mas para quem sabe “orar” unido à vontade do “Pai” eterno, então toda a sua Oração – o que quer que seja pedido - será um pedir de “asas”: - dessas asas que em verdade “levam mais alto que as asas da águia. “

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