sábado, 11 de fevereiro de 2023

Mircea Eliade e Ananda Coomaraswamy, a propósito da Tradição Perene: "Partir o Telhado da Casa. Simbolismo arquitectónico e fisiologia subtil"...

Rabindranath Tagore e Ananda Coomaraswamy

Briser le toit de la maison foi o título escolhido pelo historiador de religiões romeno Mircea Eliade para um valioso artigo seu (com o subtítulo significativo Simbolismo arquitectónico e fisiologia subtil) e depois em 1985 para um livro (com um subtítulo alargado, A criatividade e os seus símbolos), e sem dúvida que o texto é fortemente simbólico-imagético da libertação dos limites e da evasão, ou então da abertura plena do nosso cimo (o chakra ou centro de forças sahashara) à descida energética inspiradora, iluminadora e libertadora.

 Entre os vinte e três artigos valiosos (dos quais oito traduzidos pela 1ª vez do inglês e do romeno) reunidos a um ano da sua morte e apresentados sobriamente por Alan Paruit, vários  são sobre  história e arte das religiões e tradições, e doze sobre autores e suas obras, muitos dos quais ele conheceu, tal como Brancusi, Eugène Ionesco, Carl G. Jung, Giovanni Papini, Marthe Bibesco, Jünger, Roger Godel, Matila Ghyka, Paul Tillich e van der Leeuw.
Um deles será resumido e comentado agora: Ananda Coomaraswamy e Henry Corbin, a propósito da Tradição Perene e embora referindo outros autores que estão nessa linha, ou que testemunham a existência de uma tradição primordial por detrás das religiões e filosofias, aborda estes dois. Cingir-nos-emos ao cingalês Ananda Coomraswamy (Ceilão, 22-VIII-1887 a 9-IX-1971, Boston) que, segundo Mircea Eliade,  passou por  três fases, a  1ª evidente, mais sobre a Arte Indiana, pintura e ornamentos, a 2ª sobre símbolos e mitos ctónicos ou telúricos, aquáticos e femininos e por fim a 3ª, a partir de 1932, em que se dedicou à Filosofia Perene, e que Mircea Eliade, seguindo  o autor Charles B. Schmidt, vê patente em Plutarco, S. Agostinho, Nicolau de Cusa, Pico della Mirandola, Marsilio Ficino, Eugubino Steuco e mesmo Leibnitz, sem dúvida Marsilio e Pico sendo os mais importantes, embora o livro (mais tardio, 1540, e que conheci graças ao prof. Pina Martins que o possuiu), De perenni philosophia,  de Eugubino Steuco (bibliotecário da Vaticana, e extraindo daí informação substancial), seja o mais completo e sistematizado.
Embora afirme
que sem dúvida Ananda Coomaraswamy foi um dos sábios mais eruditos e criadores do século XX  e destaque o seu papel na valorização da arte indiana e na demonstração da continuidade entre a Índia pré-ariana, o vedismo, o bramanismo e o budismo, bem como no estabelecimento de paralelismos entre diversas civilizações e religiões, põe algumas reservas ao que Ananda Coomaraswamy entendeu e escreveu sobre a Filosofia Perene (em geral sem a querer definir, porque a seria limitar) nomeadamente quando Coomaraswamy parece apresentar uma certa rigidez metafísica que Eliade chega a atribuir à influência de René Guénon, já que eles procuravam estabilizar-se numa realização ou concepção de Deus metafísica e algo matemática e não tão aberta à diversificação que surge na história, frequentemente pessoalizada, tal a do meu deus ou do deus da minha religião. Podemos pois na realidade observar  em Coomaraswamy, tal como em Guénon, uma visão ou entendimento do tipo advaitico indiano, ou seja, de uma Unidade Divina, sobretudo metafísica e intelectual, sendo as variantes dos deuses, seja locais, nacionais  ou pessoais, em geral consideradas por eles emocionais e dualistas,  e portanto não tão elevadas ou essenciais como a que reconhece um só Espírito Divino.

Ora Mircea Eliade (1907-1986, e que viveu de 1941 a 1944 em Portugal) contesta tal entendimento pois para o historiador das Religiões é «maravilhoso haver essa diversidade de ideias sobre o modo de ser único de Deus», e crê mesmo que «cada estrutura teológica representa uma nova criação espiritual, uma compreensão recente e uma melhor aproximação da realidade última», o que pode ser um optimismo enganador pois a humanidade em certos aspectos está talvez mais materializada e superficializada e logo incapaz de acolher as possíveis compreensões mais recentes e melhores que porventura alguns teólogos, visionários ou mestres espirituais possam conseguir, embora mesmo eles com bem mais dificuldade que nos tempos antigos, que eram bem menos dispersivos. Mircea Eliade sem ser um cego crente no progresso infinito da Humanidade mas parecendo-a defender pelo menos religiosamente, não se lembrou da teoria dos ciclos e como poderemos estar numa fase de decadência, tal a Kali Yuga indiana.
Valoriza bastante porém as a
nálises hermenêuticas ou interpretações de imagens, mitos e símbolos que Coomaraswamy fez e que são úteis ao historiador das religiões, ao orientalista e ao historiador de arte, realçando a sua tremenda erudição manifestada em notas de rodapé extensíssimas que em si seriam novos artigos.
Neste artigo e capítulo, após as quatro páginas
consagradas a Ananda Coomaraswamy, Mircea Eliade passa ao francês Henry Corbin, especialista do Zoroastrismo e do Islão Shia e disso falaremos provavelmente noutro texto. Acrescente-se porém que noutro dos capítulos, A Soberania nos Indo-Europeus, Mircea Eliade cita bastante Coomaraswamy e a propósito dos rituais alternativos antigos ou primitivos em que já estaria «o desejo obscuro de reintegrar os dois princípios opostos, e partir daí, de reconquistar a unidade primordial», considera que tal foi bem visto por Ananda Coomaraswamy que realçou a partir de textos como a Satapatha Brahmana,  importância da unidade dos dois princípios  Mitra e Varuna, ou Agni e Indra, que correspondem ao Sacerdócio e ao Reino ou Realeza: «Vira-te para mim, para que nó nos unamos; eu dou-te a prioridade», diz Varuna, o Reino, a Mitra, o Sacerdócio. É o casamento ou união destes dois princípios na política, no soberano  e na interioridade anímica, que reintegra cada ser numa era ou ordem nova, que Eliade denomina como a serenidade do Soberano perfeito, a sabedoria do Asceta, e à igualdade de amor do Marido perfeito. No fundo trata-se da união da consciência espiritual-sacerdotal, com a activa, guerreira, de poder material, tarefa que caberia a cada um de nós.
Depois de realçar a capacidade das notas elaboradíssimas e a utilização de palavras e vocabulários tradicionais de vários povos, o que é muito exigente para o comum leitor, elogiá-lo-á abertamente:
«Este admirável sábio
, duma imensa erudição, duplicado por ser pensador profundo e audacioso, consagrou os vinte últimos anos da sua vida a trazer à luz as grandes linhas da Tradição Perene conservada sobretudo, pensava ele, nas tradições indianas, - sem que se esquecesse de mencionar as réplicas ocidentais, especialmente platónica, judaica e cristã», a que acrescentamos a celta e a nórdica, ou hiperboreia, a egípcia e a persa ou iraniana.

                              

                                   

 Anote-se que Roger Lipsey editou e prefaciou os Selected Papers, em 1977, após a mulher de Ananda Coomaraswamy ter desencarnado em 1971, no 1º volume com cinquenta seis dos principais estudos de Coomaraswamy, nomeadamente os da sua última fase, de 1932 a 1947, dos quais Mircea Eliade destaca  A Fugue of Speech or a Figure of Thought, The Philosophy of Mediaeval and Oriental Art, The Symbolism of the Dome, Symplegades, Recollection, Indian and Platonic, Akimcanna: Self Naughting; Vedic Exemplarism, aos quais adiciono, porque li, apreciei e anotei,  Art Of Eastern Asia, Nature of Budhist Art, The Mediaeval Theory of Beauty, Note on the Philosophy of Persian Art (onde cita Dara Shikoh), Primitive Mentality, On the Loathly Bride (onde identifica Sri, com Flora, Rosa Mundi e bel fior), The Inverted Tree, Svayamatrnna: Janu Coeli,  e que muito recomendo pois estão ao nível, pelo menos, de Edgar Wind, André Chastel, Gombrich, Mario Praz...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Maryam Qarehgozlou: A normalização da Islamofobia sob o disfarce da liberdade de expressão. Texto bilingue: Normalizing Islamophobia under the garb of freedom of expression.

Devido ao menosprezo dos governantes e media ocidentais e até gozo (Charlie Hebdo) com o recente terramoto e tragédia na Turquia e Síria,  e em especial pelas profanações do Alcorão e assassinatos em massa de islâmicos, frutos de ignorância e ódio, e com vários objectivos, o principal sendo  a opressão e demonização do Islão que, apesar de certos extremistas que dele se reclamam, é uma religião que gerou e tem milhões de grandes seres, místicos, filosóficos, científicos, artísticos, abnegados e plenos amor, resolvi traduzir com a ajuda rápida do Deeply, melhorando no fim, um bom texto da jornalista e escritora Maryam Qarehgozlou, publicado a 9 de Fevereiro no canal tão alternativa das narrativas ocidentais que é a PRESSTV.  No fim encontra o texto original em inglês.

                                                  
Está-se a normalizar a Islamofobia sob o disfarce da liberdade de expressão. 
«A profanação descarada do que é sagrado no Islãos em nome da liberdade de expressão e de pensamento está a ser escandalosamente normalizada nas sociedades ocidentais.
Mais recentemente, testemunhámo-lo em Estocolmo e Haia, onde o Alcorão sagrado foi profanado em plena luz do dia, e como sempre nos países ocidentais muitos meios de informação não só permaneceram como espectadores que consentem mas até se tornaram líderes de claque regozijando-se com tal.
A 23 de Janeiro, Edwin Wagensveld, um político holandês de extrema-direita, provocador e líder do grupo islamófobo Pegida, rasgou páginas do Alcorão em Haia, a capital administrativa da Holanda.
Dois dias antes, noutro acto provocatório, o político de extrema-dire
ita Rasmus Paludan, um duplo cidadão dinamarquês-sueco, conhecido pelo seu extremismo anti-islamismo, queimou uma cópia do Alcorão no exterior da Embaixada turca em Estocolmo, sob protecção policial e com autorização das autoridades.
Uma semana mais tarde, Paludan repetiu
 o acto, incendiando uma cópia do venerado livro Islâmico junto a uma mesquita na Dinamarca, novamente sob a protecção policial.
Naturalmente, desencadeou r
aiva, indignação e condenação em todo o mundo, em particular nos países de maioria muçulmana.
Apesar da legítima exigência de acção legal con
tra tais provocações que feriram os sentimentos de 1,4 biliões de muçulmanos em todo o mundo, os governos ocidentais não fizeram nada, excepto emitir declarações que salvassem a face.

Tal inacção e indiferença cobriu-se no disfarce da liberdade da palavra e de expressão - o que lhes dá uma licença para insultarem e abusarem descaradamente do Islão e dos muçulmanos e convenientemente poderem realizar isso.
Os crimes de ódio anti-muçulmanos têm como principal objectivo provocar e ferir as comunidades muçulmanas. Em casos recentes, os governos em questão não só se recusaram a criminalizar os actos, como também os autorizaram e proporcionaram protecção.
Os meios de comunicação ocidentais também se mantiveram quase calados, excepto para relatar as reacções do mundo muçulmano. A sua cobertura centrou-se principalmente na forma como este incidente teria um impacto potencial na ambiciosa candidatura da Suécia à adesão à NATO.
Isto indica como os valores religiosos islâmicos estão comprometidos na rápida secularização das sociedades ocidentais.
A Islamofobia parece querer prevalecer...
Curiosamente, alguns países ocidentais têm legislações sobre blasfémia que se destinam a proteger as crenças religiosas e a impedir a violação dessas crenças.
A blasfémia é definida como o acto de falar de uma forma que mostra irreverência para Deus ou para santidades sagradas. Em alguns países europeus, é um crime punível. As punições vão desde multas a penas de prisão.
No entanto, em 2017, a Dinamarca revogou a sua lei sobre blasfémia, e as últimas leis Suecas contra a blasfémia foram anuladas nos anos setenta. Foi substituída por uma nova lei chamada "agitação contra um grupo específico de pessoas" que não protege as religiões mas os seus praticantes.
Os Países Baixos, França, Grécia, Inglaterra, País de Gales, Islândia, Irlanda, Noruega e Escócia estão também entre os países que revogaram a lei.
Alguns outros países europeus, como a Alemanha, estão também a contemplar a possibilidade de dar um passo semelhante.
De facto, mesmo nos países onde a lei é promulgada, ela não se estende necessariamente a todos os insultos contra as religiões e à profanação do Alcorão Sagrado.
Infelizmente, a descriminalização de tais crimes de ódio e o contínuo desrespeito pelos insultos contra o Islão e profanação da sua santidade, ostensivamente para defender a liberdade de expressão, é susceptível de resultar em islamofobia e crimes ligados à islamofobia e mesmo em assassinatos.
Em Julho de 2021, o Conselho Nacional dos Muçulmanos Canadianos (NCCM) anunciou que o Canadá assistiu a mais assassínios em massa motivados pela islamofobia nos últimos cinco anos do que qualquer outro país do Grupo dos Sete (G7).
Em Janeiro de 2017, o tiroteio na Mesquita da Cidade do Québec deixou seis adoradores mortos e 19 feridos. Foi um dos assassínios em massa mais mortíferos da história Canadiana.
Em Agosto de 2022, uma série de assassinatos de homens muçulmanos no Novo México, no estado norte-americano do Novo México, enviou ondas de choque através das comunidades muçulmanas em todo o país.

                                                              US Rep. Ilhan Omar (D-MN) (L) talks with Speaker of the House Nancy Pelosi (D-CA) during a rally with fellow Democrats before voting on H.R. 1, or the People Act, on the East Steps of the US Capitol on March 08, 2019 in Washington, DC. (AFP photo)
                                        Um padrão paradoxal
Enquanto os países europeus estão a tomar medidas para descriminalizar a blasfémia e encorajar a islamofobia e o anti-islamismo, a sua posição sobre o anti-semitismo permanece clara.
A negação do Holocausto é uma ofensa criminal em muitos estados membros da UE, incluindo a Alemanha, Grécia, França, e Holanda, entre outros.
Em alguns países europeus, a negação do Holocausto é punível com meses a anos de prisão.
Em Abril de 2021, o Ministro da Justiça sueco Morgan Johansson disse acreditar firmemente que a negação do Holocausto deveria ser tornada ilegal no seu país, anunciando que o governo tinha criado uma comissão parlamentar para analisar a questão em maior detalhe.
Pelo mesmo padrão, os cartunistas, editores e editores da revista francesa "satírica" Charlie Hebdo, que têm o hábito de escarnecer das figuras e santidades islâmicas, deveriam também ser detidos e julgados.
Mas infelizmente, o preconceito contra os muçulmanos foi essencialmente normalizado e os dois pesos e duas medidas ocidentais a este respeito estão apenas a alimentar as chamas da islamofobia.»
       Maryam Qarehgozlou é uma jornalista, nomeadamente do Tehran times e do Modern Diplomacy, que vive em Teerão e que tem estudado e escrito sobre ambiente, saúde, tecnologia, cultura, religião e Médio Oriente em geral desde 2015.

                                   Maryam Qarehgozlou Archives - rahyafteha
 Normalizing Islamophobia under the garb of freedom of expression, by Maryam Qarehgozlou.

The brazen desecration of Islamic sanctities in the name of freedom of expression and thought has been scandalously normalized in Western societies.
More recently, we witnessed it in Stockholm and The Hague, where the Holy Quran was desecrated in broad daylight, and as always Western countries not only remained mute spectators but became cheerleaders for it.
On January 23, Edwin Wagensveld, a far-right Dutch politician, a provocateur and leader of the Islamophobic group Pegida, tore pages from the Quran in The Hague, the administrative capital of the Netherlands.
Two days earlier, in another provocative act, far-right politician Rasmus Paludan, a dual Danish-Swedish national, known for his anti-Islam extremism, burned a copy of the Quran outside the Turkish Embassy in Stockholm under police protection and with permission from the authorities.
A week later, Paludan repeated the act, setting ablaze a copy of the revered Islamic book outside a mosque in Denmark, again under the police cover.
Naturally, it triggered anger, outrage and condemnation worldwide, in particular from Muslim-majority countries.
Despite the legitimate demand for legal action against such provocations that hurt the sentiments of 1.4 billion Muslims across the world, Western governments did nothing except for issuing face-saving statements.
Their inaction and indifference came under the garb of the freedom of speech and expression -- which gives them a license to brazenly insult and abuse Islam and Muslims and conveniently get away with it.
Anti-Muslim hate crimes primarily are aimed at provoking and hurting Muslim communities. In recent cases, the governments in question not only refused to criminalize the acts but also authorized them and provided protection.
Western media also kept mum except for reporting on reactions from the Muslim world. Their coverage was mainly focused on how this incident would potentially impact Sweden’s ambitious bid for NATO membership.
This indicates how Islamic religious values are compromised in rapidly secularizing Western societies.
Islamophobia prevails
Interestingly, some Western countries have blasphemy legislations that are designed to protect religious beliefs and prevent violation of those beliefs.
Blasphemy is defined as the act of speaking in a way that shows irreverence for God or sacred sanctities. In some European countries, it is a punishable crime. Punishment ranges from fines to prison sentences.
However, in 2017, Denmark repealed its blasphemy law, and the last Swedish laws against blasphemy were annulled in the seventies. It was replaced by a new law called “agitation against a specific group of people” which does not protect religions but their practitioners.
The Netherlands, France, Greece, England, Wales, Iceland, Ireland, Norway and Scotland are also among the countries that repealed the law.
Some other European countries like Germany are also contemplating taking a similar step.
In fact, even in countries where the law is enacted, it does not necessarily extend to all insults against religions and the desecration of the Holy Quran.
Unfortunately, decriminalizing such hate crimes and continued disregard for insults against Islam and desecration of its sanctities, ostensibly to defend freedom of expression, is bound to result in Islamophobia and Islamophobia-linked crimes and even killings.
In July 2021, the National Council of Canadian Muslims (NCCM) announced that Canada has seen more mass killings motivated by Islamophobia in the last five years than any other country in the Group of Seven (G7).
In January 2017, the Quebec City Mosque shooting left six worshippers dead and 19 injured. It was one of the deadliest mass murders in Canadian history.
In August 2022, a string of killings of Muslim men in New Mexico in the US state of New Mexico sent shockwaves through Muslim communities across the country.                        

                                                        A paradoxical standard
While European countries are taking steps to decriminalize blasphemy and encourage Islamophobia and anti-Islamism, their stance on anti-Semitism remains clear.
Holocaust denial is a criminal offense in many EU member states, including Germany, Greece, France, and the Netherlands, among others.
In some European countries, Holocaust denial is punishable by months to years of imprisonment.
In April 2021, Sweden’s Minister of Justice Morgan Johansson said he firmly believes that Holocaust denial ought to be made illegal in his country, announcing that the government had established a parliamentary committee to look into the issue in greater detail.
By the same standard, cartoonists, editors and publishers of the French "satirical" magazine Charlie Hebdo who have made a habit of mocking Islamic figures and sanctities should also be detained and put on trial.
But unfortunately, prejudice against Muslims has been essentially normalized and Western double standards in this regard are only fueling the flames of Islamophobia.»

Maryam Qarehgozlou is a Tehran-based journalist who has extensively covered environment, health, technology and Middle East affairs since 2015.

                             

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Comemoração dos 545 anos de Thomas More. Efeméride, e leitura de "Tomás Moro, um homem para o nosso tempo" de Fernando de Mello Moser.

                                    

  Neste dia 7 de Fevereiro de 1478, portanto há 545 anos, Thomas More nascia em Londres. Estudante em Oxónia e Londres, casado por duas vezes, pai de larga família onde se destacaria pelos estudos clássicos a filha mais velha Margaret, amigo de Erasmo e de John Colet, humanista profundo mas também irónico, advogado, diplomata e Chanceler do reino, e por fim mártir da sua consciência perante o prepotente e "criminoso" Henrique VIII, sendo decapitado junto à Torre de Londres em 6 de Julho de 1535, por manter a obediência ao Papa acima do Rei.
Deixou uma vasta obra onde se destacam refutações de escritos protestantes de Lutero, Tyndhal e outros, traduções de clássicos da Antiguidade, e ainda a Vida de Pico della Mirandola, a Apologia,  cerca de 200 valiosas cartas e os Epigramas, tal como este ligado com o mar e os Descobrimentos: «Uma tempestade se ergueu; o barco abanava; / Os marinheiros receiam perder as suas vidas. / Os nossos pecados, os nossos pecados, desalentados gritam, / causaram este fatal destino!” / Um monge, acontecia, era da tripulação, / e atraídos rodeiam-no para se confessarem. / Ainda assim o desassossegado barco abana, / e ainda receiam as suas vidas perderem-se. / Um marinheiro, mais ladino que os outros / berra: Com os nossos pecados ainda está ele oprimido; lancemos fora este monge que os carrega a eles todos, e então já de todo bem cruzará a tempestade. / Dito e feito; como um só / deitaram o biltre borda fora; / E agora a casca perante a ventania / foge com casco luminoso e fácil navegação. / Aprende portanto a conhecer o peso do pecado, / com o qual um barco dificilmente navegará»...

                                  

Por fim, a  Utopia, a 1ª edição em 1516, em Lovaina,   inspirada nas viagens dos Portugueses (e por isso o narrador é um marinheiro português, Rafael Hitlodeu) e que ele conhecera pelas narrativas de Américo Vespúcio, lidas quando estava em 1515 nos Países Baixos e então a gerou como "fábula" educativa, tal como a descreveu sobriamente o nosso historiador quinhentista, e humanista, autor ainda da valiosa Ropica Pneuma, João de Barros: «Fábula moderna é a utopia de Thomas Moro; mas nela quis doutrinar os Ingleses como se haviam de governar»  e que estimulou  vários pensadores a gerarem outras propostas  de vida social e religiosa mais humana e harmoniosa, criando uma palavra arquetípica tão actual nos nossos dias em que sinistras utopias de sociedades se perfilam nos horizontes, enquanto as mais luminosas de More, Bacon, Campanela, Johannes Valentinus Andreae e outros (tal Aldous Huxley e a sua A Ilha ou os indianos Sri Aurobindo e Sri Ananda Murti)  se perdem de vista ou de memória actuante.Refira-se ainda uma das mais recentes e sábias, a Utopia III, de José V. de PIna Martins, dada à luz pela Fundação Calouste Gulbenkian, mecenas muito humanista nos tempos em que o prof. José V. de Pina Martins trabalhava para ela, seja em Paris seja em Lisboa.
Em Portugal
foram Damião de Goes, António Gouveia, João de Barros, bispo Jerónimo Osório e Frei Heitor Pinto os que mais elogiaram Thomas More, o qual apesar do seu Cristianismo chegou a ter a Utopia no Index Inquisitorial de 1624. O bispo Jerónimo Osório, em 1567, fora mesmo muito crítico da Inglaterra do rei Henrique VIII: «Ignorarás só tu quando a Inglaterra caiu nessa infâmia onde se debate agora? Como é que santos homens como John Fisher e Thomas More foram publicamente decapitados porque permaneceram fiéis à sua fé e religião? (...) Quanto a Thomas More, homem óptimo e de uma erudição singular, qual foi o seu crime? Corrompera as letras públicas? Desviara coisas do domínio público? Causara a injúria grave ou a morte dos seus concidadãos? De modo algum...»

No séc. XX os seus grandes estudiosos estrangeiros serão muitos e referiremos apenas W. E. Campbell, André Prévost e Germain Marc'hadour. Entre nós destacaram-se  Fernando de Mello Moser, que perseverantemente aprofundou e divulgou a vida e obra de More, e José V. de Pina Martins, tendo até os dois juntos dado à luz o Thomas More au Portugal, em 1983.
 E em 2006 José V. de Pina Martins e o padre Aires Augusto Nascimento dão à luz a Utopia numa excelente tradução pela primeira vez directamente do latim (pelo P. Aires A. Nascimento),  publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian e hoje já numa significativa terceira impressão.
 O prof. Pina Martins possuía belas gravuras dos humanistas e pedira a dois artistas portugueses que pintassem Thomas More e cenas da sua vida, e na sua grande sala da Biblioteca de Estudos Humanísticos, duas belas pinturas, uma de Thomas More a oriente e outra de Pico della Mirandola a ocidente presidiam como génios inspiradores e, no caso de Thomas More, como santo, pois em 1935, nos 400 anos da sua morte, foi canonizado e por Pina Martins venerado.
No V centenário do seu nascimento houve comemorações em toda a Europa, de Portugal à Rússia, e entre nós destacaremos os  trabalhos do P. Mário Martins, José V. de Pina Martins, P. Manuel Antunes, Pedro Calmon, P. Aires do Nascimento  e Fernando de Mello Moser.  
 A revista de cultura e crítica Resistência, no nº 186, de Dezembro de 1978, comemorou os 500 anos de Thomas More, e um dos artigos valiosos é o de Fernando de Mello Moser, que resolvemos ler,  comentando pouco, e partilhar, em homenagem não só a Thomas More e Fernando de Mello Moser, como também a sua filha e amiga Joana. E a Pina Martins e Mário Martins já que os conheci e que certamente já dialogam entre si enquanto seres luminosos e despertos  nos mundos espirituais, sob as bênçãos Divinas.
Segue-se o vídeo da leitura...

                                

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

"O Palácio da Ventura", de Antero de Quental, um soneto galvanizante e pleno de ensinamentos...



                                           

                                                         O PALÁCIO DA VENTURA
"Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!"

O soneto O Palácio da Ventura, publicado nos Sonetos Completos como escrito no período de 1862 a 1864, e do qual não sobreviveram manuscritos, é certamente dos mais emocionantes e impressionantes, pois em duas quadras e dois tercetos percorremos um tempo e espaço imensos, e chegamos mesmo ao objectivo da vida.  E Antero fá-lo com tal arte que somos investidos na Cavalaria do Amor, na demanda lutadora pelo segredo e objectivo último da existência, seja a Ventura  ou Felicidade, ou o Amor, a Verdade, a ligação à Divindade.
E tal como ele, cada um de nós irá avançando na demanda conforme a sua escolha ao que aspira, ao que deseja, ao que entende ser o fim principal da sua vida. Antero de Quental apenas nos mostra neste soneto como a peregrinação e luta da vida é arquetipicamente profunda, poderosa, infinita, embora em geral não nos apercebamos de tal dimensionalidade, a não ser em momentos de maior felicidade ou infelicidade, de indignação ou amor, de estudo, criação ou iluminação, e como pode ser dramática no desfecho.
Podemos pensar que a escolha que ele fez não foi a mais feliz, não foi a da felicidade, ou então que não acertou nos meios ou caminhos para a realizar, e não recebeu os apoios (sociais e subtis) que precisaria e assim não chegou aos portais do palácio ou do templo da Ventura levando já a luz acessa em si e por isso só viu trevas e ouviu o silêncio negativo.
Este é um ensinamento importante de pensarmos e repensarmos, ou meditarmos frequentemente: o que é para mim, o que será para mim, o mais importante na vida? E o que é que eu estou disposto a oferecer, a sacrificar, a dar, de mim e do meu, por tal?
Podemos auto-investigar-nos ainda: o que devo eu desenvolver, nomeadamente interiormente e verticalmente, para realizar, para alcançar, para chegar a tal? E estou a ser persistente e criativo, não desanimando facilmente, não caindo perante as adversidades e ataques  de críticos ou mesmo inimigos?
                                             
Deixemo-nos então investir ou iniciar nesta cavalaria dos Fiéis do Amor, em que Antero de Quental foi um elo da tradição Espiritual Portuguesa. Vejamos a vida como uma grande peregrinação ou demanda, ora acordados ora em sonhos, ora em esforços anelantes no exterior ora no interior, ora com a espada desembainhada e o coração abnegado, ora com a palavra, a oração, a aspiração, o mantra ou jaculatória em irradiação.
Suponhamos que é o Amor o que escolhemos mais desenvolver e encontrar: estamos dispostos a amar o ser complementar mais do que a nós mesmos? Estamos prontos a sacrificar-nos plenamente pelos outros? Saberemos despertar de noite e orarmos e meditarmos para que o Amor e a Divindade estejam mais vivos em nós, já que tanto tempo durante o dia ele não está consciencializado nem bem vivido e a nós a ele unificados?
Ora vivermos mais na luz do Amor diariamente é fulcral, pois só estando mais despertos auto-consciencialmente na presença irradiante da Luz e no Amor divinos, o mais tempo possível, ou então mais intensamente de quando em quando, é que poderemos chegar à fronteira do além, ou às portas do palácio da Ventura, ou às portas do reino do Céu, preparados, e aptos a ver a fonte da Luz ou a sentir o Amor, e ouvirmos ou comunicarmos com os seres de tais planos.
Não foram os ais de Antero, nem serão os nossos ais, de sofrimento, de lamentação ou de desengano, que nos abrirão a porta da visão espiritual ou da entrada no santuário ou palácio da Ventura, mas sim todos os momentos em que recebemos e vimos a Luz do Amor ou então a manifestamos, transmitimos ou irradiamos sobre os que precisavam, ou sobre as condições adversas que nos desanimavam ou esmagavam. Antero no famoso soneto Mors-Amor, neste blogue já bem trabalhado, manifesta tal amor vitorioso, e bastante autobiograficamente...
                                      
Certamente que teremos de pacientar, de perseverar frequentemente pois mesmo os grandes místicos e santos e santas atravessaram as noites escuras da alma, mas souberam manter a chamazinha no coração e, na visão  interior aquilo, fosse o Graal ou a Estrela, ou a quem, fosse o Anjo da Guarda, Nossa Senhora, Jesus ou o Pai, a que aspiravam.
                                
Antero vê o silêncio e a escuridão, algo que quase todos de noite vemos e sentimos, embora o silêncio, devido aos excessivos ruídos exteriores citadinos, não seja tão profundo que permita interiorizarmos e ouvirmos a "voz" do espírito ou do anjo, sentirmos essa fala subtil íntima, num diálogo de amor que une os seres através dos planos diferentes deste universo tão multidimensional e infinito e ainda tão pouco consciencializado na sua riqueza virtual de fraterna comunicação sábia e amorosa e de elevação à transcendência divina e Unidade.
Mas quem desenvolveu, quem trabalhou, quem procurou durante a vida tal comunicação, tal demanda de iluminação e de comunhão quando chegar às portas e bater e pedir, ser-lhe-á aberto, será reconhecido e conseguirá ver onde outros pensarão nada haver e provavelmente nada verão senão indistinta escuridão.
Extrapolando para o momento da morte ou desencarnação de Antero de Quental, e ressalvando ele ter apenas querido sonetizar na linha do pessimismo e da descrença, meditemos sobre as duas hipóteses futurantes do soneto enquanto auto-biográfico do seu pensar: 1ª, onde esperava ele entrar e quem esperava encontrar? Ou a 2ª, entregava-se à morte que ele entendia (com mais ou menos dúvidas...) ser libertadora e aniquiladora das suas dores, cansaços e limitações?
E nós, o que vamos acendendo em nós e logo no exterior? Lucidez, visão clara, Luz e Amor, ou deixamo-nos enrolar e sujeitar às narrativas oficiais externas, manipulações e alienações que tanto nos diminuem ou enfraquecem? E o que estamos assim a preparar de ventura ou desventura?
Saibamos avançar corajosa e vitoriosamente, luminosa e amorosamente, em comunhão com o tão abnegado Antero de Quental (muita Luz e Amor nele!) e outras almas amigas e espíritos celestiais, vencendo obstáculos e adversidades...
                                                           

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Um poeta pianista, profundo no Amor e citando Antero de Quental: Rodrigo Beça e o seu "Intermezzo (Opus I)".

 Pianista que é poeta, deixa transparecer a unidade dos sons, palavras, vibrações e seres, e facilmente ressoa nas almas do que o escutam. No título da sua primeira obra tal se espelha: Intermezzo (Opus I), ou se quisermos, Interlúdio,  e foi dada à luz em 1908 na Typografia da Empreza Guedes, na tão conhecida dos bibliófilos rua Formosa, no Porto. Nela anunciava o seu próximo Livro de Sonetos, que viria a sair em 1910, sucedendo-lhe ainda os Versos, na mesma  tipografia, em 1911.
Rodrigo Beça, a
ssim se chamou o poeta e pianista, era um  fiel do Amor, um panpsiquista, admitindo a pluralidade de vidas (num dos poemas) e considerava Antero de Quental uma autoridade, como se depreende do exemplar, que possuo da sua primícia, com uma dedicatória assinada pelo Pai, tocante marginália que tanto potencializa o livro, pelo que não quis ou não pude deixar de o homenagear e trazer à luz a sabedoria e amor da sua alma. Ou, se quisermos, ressuscitá-lo para a nossa comunidade e comunhão dos poetas (homens e mulheres) portugueses, espirituais, anterianos e fiéis e cavaleiros do Amor.
Reza assim a dedicatór
ia escrita há cem anos sobre papel de boa qualidade e a abrir a bela impressão da saudosa tipografia Guedes, em sincronia com a qual, talvez, o desenho da capa se foi desvanecendo e é com esforço que delineamos ou recuperamos a musa feminina que nela foi impressa.

«A Eduardo Pinto, companheiro da memória, em recordação do nosso infeliz pianista, oferece com gratidão, o pobre pai do malogrado poeta»...

Não está datada a dedicatória, e assim não sabemos em que ano deixou a Terra (e o "malogrado" pode ter vários sentidos), e porquê, e em que estado afectivo, psico-consciencial  ou anímico, mas dadas tais limitações de conhecimento, pelo menos por hora, pois quem sabe se alguma referência biográfica dele surgirá, nem que seja nos outros dois livros que publicou, aceitemos e oiçamo-lo antes na sua apresentação prefacial:
«O
Intermezzo é uma colecção de versos d'amor.
Não só amor da mulher, mas o amor das coisas, da luz, do ar, das gotas d'água, das manhas de primavera, dos pobre, de tudo que tenha um aroma de Beleza ou um perfume de Bondade.
Não me cabe falar do valor do livro.
Desejo somente fixar nele os princípios, que presidiram à sua celebração e que constituem, por assim dizer, um programa de orientação literária:
Arte poética - nenhuma;
Não escrever um verso sem o sentir.
Ser simples;
Procurar Beleza sob todas as formas, sem atenção a regras nem convenções.
Não ser obscuro na ideia, nem empregar bizantinismos de forma.
Eis tudo.
Finalmente, se algum dia me perguntarem se não tenho vergonha deste livro, responderei como Antero de Quental no prólogo de uma colecção de versos da mocidade: «Não, nunca me envergonhei de ter tido 20 anos».

Duas Palavras, ou o prefácio de Antero de Quental às Primaveras Românticas

Depois desta apresentação da sua poesia - e onde parafraseia a justificação oferecida por Antero de Quental quando na fase revolucionária, com 30 anos, em 1872, resolver publicar as suas composições de amor adolescente e idealista, escritas entre os 18 e os 23 anos, As Primaveras Românticas, na realidade tão palpitantes da aspiração unificadora e agraciadora do Amor - , vamos transcrever seis das 62 poesias do Intermezzo, nas quais podemos sentir como os sentimentos e  compreensões, as descrições e analogias do Amor por Rodrigo Beça são bem merecedoras da perenidade e logo de connosco nestes dias dialogarem....

A 1ª, pelo som, o nome, o mantra, a música, a cor, a suavidade, a elevação, a 2ª pelo panpsiquismo, pelo amor omnipresente e entrelaçador de coisas e seres, a 3ª pela vivência do amor unificador na Natureza, a 4ª pela navegação no oceano subtil do coração e da entrega plena, a 5ª sobre o amor todo poderoso e infinitamente sensível e descritível, a 6ª pela comunhão reciproca dos olhos e seus conteúdos e reflexos profundos:

                                                                                   

«Teu lindo nome vibra na minha alma
Como se fosse
Aquele som duma pureza calma
Tranquila e doce,
Que parece subir até ao céu
Ao viajante alegre, que regressa
Á terra onde nasceu
E ouve ao longe desde a madrugada
O sino leve da ermidinha airosa
A descantar a matinal balada
Da terra em flor ao céu todo de rosa.

15º 
O Amor é a mão amiga,
O iman infinito,
Que tudo atrai e liga
Da lágrima ao granito.
 

16ª
Frescas manhãs de primavera. Passa
Por entre os ramos verdes da floresta
A vibração subtil. Maria enlaça
 
Numa coroa simples e modesta
Folhas e flores. A seiva sobe. Canta
Num hino alegre a Natureza em festa.
 
Luz - poema d'oiro! Aleluia Santa!
Vibram no mesmo cântico de amor
Ave, regato, pedra, terra, planta.
 
Vem avançando impávido o calor.
Sento-me, descansando, o sossegado
À sombra amiga duma olaia em flor.

E enquanto pelo azul ilimitado
Uma andorinha voa satisfeita
E nos espinhos duros dum silvado.

Maria prende a saia pouco aérea
A ser levada assim por maus caminhos
Penso no seu belo tempo da colheita,

Quando com doces, infantis carinhos
A Terra Mãe nos dá o vinho, o pão,
E o aroma subtil dos rosmaninhos,

Horas passaram lentamente. Então,
Chegando ao pé de mim, ficaste pressa
Entre os meus braços, contra o coração,

Passar assim a vida quem nos dera!
Nunca nós nos amámos, com certeza
Como nessa manhã de primavera
Perfumada a alfazema e alecrim
Em que eu amei a Natureza
E tu amaste a Natureza em mim.
 

23
Por sobre as águas do mar
Andam barquitas boiando,
E o mar fica tão brando,
Que não as deixa afundar.
 
Nas ondas do teu olhar
Desliza o meu coração,
Mas não tenhas compaixão,
Podes deixá-lo afogar. 

29
 Canta D. João:

Amor é um forte, um colossal Desejo.
Amor palpita numa frase linda;
E une os lábios num imenso beijo
E cinge os braços em carícia infinda.

Canta Ophelia:

Amor é Graça, que nos doira a vida,
Perfume, incenso, ou roseiral em flor,
Nuvem, que ao longe passa de fugida,
Talisman santo, que afugenta a Dor.
Canta Santa Teresa:
 
Uma visão,visão, que nunca esquece,
A mais suave e pura, a mais ideal.
Sinto o meu corpo todo que estremece
Como uma frágil folha de cristal. 

Canta o poeta:
Amor é o mais perfeito sentimento,
Que pode a nossa vida dominar.
Incoercível como o pensamento;
Incomensuravelmente vasto como o mar.»
 
55
 Quando os teus olhos benditos
Vem descansar sobre os meus,
Vejo mundos infinitos
Por descobrir. Queira Deus
Que eu seja o Gama atrevido
Desse mar desconhecido,
Desses mundos infinitos
Que vejo nos olhos teus.»
 
E concluamos, orando para que haja muita luz e amor divinos na alma e espírito de Rodrigo Beça, que esteja com as pessoas que mais amou e ama, em comunhão divina e, conscientes de que no Amor Rodrigo foi bem fundo e alto, trabalhemos ética e espiritualmente para conseguirmos com ele realizar e dizer:
«Brotam de nós, dos nossos seios.
Ondas de luz, ondas de amor.»

 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A presente situação na Europa... 03-02-2023... Zombie Bide, corrupta e inepta russofóbica Ursula. Opressão dos europeus.

 Texto escrito na aurora - santa e luminosa, à luz de vela - do simbólico dia 03-02-2023. No fim foram adicionadas várias caricaturas e para concluir, finis coronat opus,  uma pintura de Bô Yin Râ.

                                                       
A presente situação da Europa pode resumir-se em poucas palavras:  dirigida por gente inepta para os cargos, ambiciosa, corrupta, vendida e que trabalha não para os interesses dos europeus mas para os de uma pequena elite oligárquica mundial transnacional que, em grupos e instituições, mais ou menos públicos, domina os meios de comunicação, de decisão, de consumo e até de cultura da maioria dos países, arrebanhando e alienando milhões de pessoas menos despertas ou mais superficiais, frágeis e manipuláveis.
                                          

A imagem de um pastor alemão (ressalvando a dignidade e qualidades dos cães) capaz de ser violento, obedecendo às ordens de um semi-demente que quer o enfraquecimento da Europa e da Rússia a qualquer preço, diz muito do que se tem passado e está decorrer em relação ao conflito na Ucrânia, às sanções económicas contra a Rússia (e Irão, Síria, Venezuela, Cuba), ao alargamento da União Europeia e à expansão do braço armado da USA que é a  NATO, às narrativas e medidas oficiais covinescas aterrorizantes, às fobias e preferências da União Europeia, à destruição de tantas pequenas empresas tradicionais, ou de indústria, agricultura, pesca e pecuária...

A corrupção generalizada nos altos cargos políticos, a inimputabilidade com que se blindam, protegidos se for preciso por polícias de choque, não deixando ver ou serem consultados os documentos das grandes negociatas (seja covinescas, seja de armamentos, seja de fundos doados) perpetrados nos últimos anos,  demonstra bem o divórcio dos políticos em relação à população manipulada, oprimida sofredor a europeia, e à coisa ou causa pública, a respublica.
                                       
O objectivo é tam
bém promover um governo global, uma nova Ordem mundial, para a qual a Organização Mundial de Saúde, e os seus milionários doadores, influencers e delegados, se tem destacado, a par do Fórum Económico Mundial, sendo a expressão new reset muito utilizada, embora, após a reação natural da Rússia às ameaças de que estava ser vítima e da qual resultou a operação especial em curso, esteja tudo posto em causa, tal como se pde observar recentemente num dos palcos mais intensos da poluição, opressão globalista e corrupção mundial, Davos.

Ora para tal objectivo orweliano convém enfraquecer as pessoas aos vários níveis físicos, energéticos, psíquicos e espirituais, e para tal contribuíram os lockdowns, as obrigatoriedades frequentemente nocivas de máscaras, os noticiários televisivos manipuladíssimos, com os seus "milheiros" avençados, fomentando ignorância, sofrimento e divisões, com falsas narrativas e incorrectas medias, fobias e ódios.
                                   
O poder corruptor do dólar continua imenso e mais ainda agora, pois tenta-se exercer violentamente, sem
 qualquer contrapartida de ouro nas reservas bancária, inundando os países que se deixam corromper e falseando se não mesmo enfraquecendo a sua posição no mercado financeiro, de facto em causa neste momento já que a Rússia, com alguns outros países, tal a China e o Irão, querem sair da submissão à inesgotável máquina corruptora impressora do tio Sam ou Patinhas, começando já em várias relações a utilizarem outras moedas que não a do  inesgotável e tão injusto dólar, pois mesmo em relação aos seus nacionais são milhões os que vivem numa pobreza extrema física e psíquica, enquanto em armas e ajudas conspirativas, terroristas ou destrutivas se gastam biliões...


Ora o objectivo da Humanidade é desenvolver sociedades nacionais justas e harmoniosas, com as suas tradições específicas e valores, com o seu humanismo e personalismo, dialogantes entre si, numa multipolaridade fraterna e benéfica para  todos, em vez da actual submissão à opressiva máquina de guerra, de dinheiro, de mentalidade e de alienação anglo-americana e europeia moderna, desnaturada e desequilibrada.
                                   
  Esperemos pois que os dois semi-demente, semi-vampirescos e plenamente corruptos que desgraçam a Europa e o Mundo saiam rapidamente de cena e que muitos dos conflitos e problemas se possam resolver ou solucionar rapidamente.
Oremos neste dia 03-02-2023, bem simbólico, para que as bênçãos das diversas tríades, trindades
e trilogias da Humanidade e da Divindade, e dos mundos e seres mais espirituais, dissipem as trevas e os seres trevosos e do mal. E fortifiquem e inspirem as pessoas de boa vontade, para as quais não há religião superior à verdade, à justiça, ao amor fraterno e ecológico,  à ligação à Divindade imanente e transcendente, na comunhão dos vivos e mortos, ou corpo místico da Humanidade, entre nós denominada a santa companhia das almas, na Índia a satsanga, companhia da Verdade, Satya. 

Om Sat Purusha...   Viva o Espírito Divino na Humanidade...