terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Comemoração dos 545 anos de Thomas More. Efeméride, e leitura de "Tomás Moro, um homem para o nosso tempo" de Fernando de Mello Moser.

                                     

  Neste dia 7 de Fevereiro de 1478, portanto há 545 anos, Thomas More nascia em Londres. Estudante em Oxónia e Londres, casado por duas vezes, pai de larga família onde se destacava pelos estudos a filha mais velha Margaret, amigo de Erasmo e de John Colet, humanista profundo mas também irónico, advogado, diplomata e Chanceler do reino, mártir da sua consciência perante o prepotente e "criminoso" Henrique VIII, sendo decapitado junto à Torre de Londres em 6 de Julho de 1535, por manter a obediência ao Papa acima do Rei, deixou uma vasta obra onde se destacam refutações de escritos protestantes de Lutero, Tyndhal e outros, traduções de clássicos da Antiguidade, e ainda a Vida de Pico della Mirandola, a Apologia,  cerca de 200 valiosas cartas e os Epigramas, tal como este ligado com o mar e os Descobrimentos: «Uma tempestade se ergueu; o barco abanava; / Os marinheiros receiam perder as suas vidas. / Os nossos pecados, os nossos pecados, desalentados gritam, / causaram este fatal destino!” / Um monge, acontecia, era da tripulação, / e atraídos rodeiam-no para se confessarem. / Ainda assim o desassossegado barco abana, / e ainda receiam as suas vidas perderem-se. / Um marinheiro, mais ladino que os outros / berra: Com os nossos pecados ainda está ele oprimido; lancemos fora este monge que os carrega a eles todos, e então já de todo bem cruzará a tempestade. / Dito e feito; como um só / deitaram o biltre borda fora; / E agora a casca perante a ventania / foge com casco luminoso e fácil navegação. / Aprende portanto a conhecer o peso do pecado, / com o qual um barco dificilmente navegará»...

                                  

Por fim, a  Utopia, a 1ª edição em 1516, em Lovaina,   inspirada nas viagens dos Portugueses (e por isso o narrador é um marinheiro português, Rafael Hitlodeu) e que ele conhecera pelas narrativas de Américo Vespúcio, lidas quando estava em 1515 nos Países Baixos e então a gerou como "fábula" educativa, tal como a descreveu sobriamente o nosso historiador quinhentista, e humanista, autor ainda da valiosa Ropica Pneuma, João de Barros: «Fábula moderna é a utopia de Thomas Moro; mas nela quis doutrinar os Ingleses como se haviam de governar»  e que estimulou  vários pensadores a gerarem outras propostas  de vida social e religiosa mais humana e harmoniosa, criando uma palavra arquetípica tão actual nos nossos dias em que sinistras utopias de sociedades se perfilam nos horizontes, enquanto as mais luminosas de More, Bacon, Campanela, Johannes Valentinus Andreae e outros (tal Aldous Huxley e a sua A Ilha ou os indianos Sri Aurobindo e Sri Ananda Murti)  se perdem de vista ou de memória actuante.Refira-se ainda uma das mais recentes e sábias, a Utopia III, de José V. de PIna Martins, dada à luz pela Fundação Calouste Gulbenkian, mecenas muito humanista nos tempos em que o prof. Pina Martins lá trabalhou, seja em Paris seja em Lisboa.
Em Portugal Damião de Goes, António Gouveia, João de Barros,
bispo Jerónimo Osório e Frei Heitor Pinto foram dos que elogiaram Thomas More, o qual apesar do seu Cristianismo chegou a ter a Utopia no Index Inquisitorial de 1624. O bispo Jerónimo Osório, em 1567, fora mesmo muito crítico da Inglaterra do rei Henrique VIII: «Ignorarás só tu quando a Inglaterra caiu nessa infâmia onde se debate agora? Como é que santos homens como John Fisher e Thomas More foram publicamente decapitados porque permaneceram fiéis à sua fé e religião? (...) Quanto a Thomas More, homem óptimo e de uma erudição singular, qual foi o seu crime? Corrompera as letras públicas? Desviara coisas do domínio público? Causara a injúria grave ou a morte dos seus concidadãos? De modo algum...»

No séc. XX os seus grandes estudiosos estrangeiros serão muitos e referiremos apenas W. E. Campbell, André Prévost e Germain Marc'hadour. Entre nós destacaram-se  Fernando de Mello Moser, que frequentemente aprofundou e divulgou a vida e obra de More, e José V. de Pina Martins, fazendo o mesmo, tendo até os dois juntos dado à luz o Thomas More au Portugal, em 1983.
 E em 2006 José V. de Pina Martins e o padre Aires Augusto Nascimento dão à luz a Utopia numa excelente tradução pela primeira vez directamente do latim (pelo P. Aires A. Nascimento),  publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian e hoje já numa significativa terceira impressão.
 
 
O prof. Pina Martins possuía belas gravuras dos humanistas e pedira a dois artistas portugueses que pintassem Thomas More e cenas da sua vida, e na sua grande sala da Biblioteca de Estudos Humanísticos, duas belas pinturas, uma de Thomas More a oriente e outra de Pico della Mirandola a ocidente presidiam como génios inspiradores e, no caso de Thomas More, como santo, pois em 1935, nos 400 anos da sua morte, foi canonizado e por Pina Martins venerado.
No V centenário do seu nascimento houve comemorações em toda a Europa, de Portugal à Rússia, e entre nós temos presente a existência de alguns trabalhos do P. Mário Martins, José V. de Pina Martins, P. Manuel Antunes, Pedro Calmon, P. Aires do Nascimento  e de Fernando de Mello Moser.  
 
 
A revista de cultura e crítica Resistência, no nº 186, de Dezembro de 1978, comemora os 500 anos de Thomas More, e um dos artigos valiosos é o de Fernando de Mello Moser, que resolvemos ler,  comentando pouco, e partilhar, em homenagem não só a Thomas More e Fernando de Mello Moser, como também a sua filha e amiga Joana. E a Pina Martins e Mário Martins já que os conheci e que certamente já dialogam entre si enquanto seres luminosos e despertos  nos mundos espirituais, sob as bênçãos Divinas.
Segue-se o vídeo da leitura...

                                

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