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sábado, 11 de julho de 2020

Os cavaleiros do Amor. Antero de Quental, por Félix Horta, in "Livro d'Horas". Com um desenho de Almada.

O diplomata e poeta micaelense Félix Borges de Medeiros Horta, nascido em Ponta Delgada em 1890,  publicou o que cremos ser o seu 1º livro em 1908, o Auto da Vida e trinta anos depois, já bem mais amadurecido, o Livro d' Horas, o qual numa prateleira da livraria alfarrabista Kronos Bazar, do amigo caldense Fernando de Castro, me despertou pela sua lombada e título e, depois, pela capa, a atenção movente.
Levado por aquele impulso intuitivo que nos leva a avistamentos ou descobertas inesperadas, lancei a mão, abri a obrazinha e na página que veio à luz do dia estava inscrito ao alto: Antero.
 Era um belo poema que resumia o seu ser e vida. E como tenho abordado este poeta-filósofo e seus amigos, tendo criado mesmo uma página no Facebook a ele dedicada, adquiri o livro. E já de madrugada, ao deitar, resolvi lê-lo em voz alta e comentá-lo para uma gravação, e assim no fim deste artigo encontra o vídeo de 19 minutos...
Resumamos ainda brevemente o livro de Félix Horta, in-8º de LIII págs., dado à luz nos competentes prelos da Imprensa Nacional, valioso  pelo conteúdo e por ser tão esteticamente bem impresso, não só pelos desenhos e capa mas também pela letra gótica, algo bem raro no séc. XX. E ainda por conter uma breve dedicatória, numa letra bem espraiada e amistosa, a um seu leitor Vasco da Cunha, introduzindo-nos desse modo um pouco mais na sua vibração anímica, que possa ter passado a ele quando o teve na mão.
                                    
Anote-se e reproduza-se ainda o seu ex-libris ou imagem que escolheu como poeta e desenhado para ele por Almada Negreiros, e que nos surge tão discreta e minusculamente logo nas páginas brancas que nem nos demos conta disso inicialmente. Vola et Ama, Voa e Ama, eleva-te e sê pleno, unificador. 

E não encontrei qualquer referência ao alado desenho na iconografia de Almada Negreiros.
                                    
O cap. I , in Limine, no Limiar, contém a dedicatória aos seus pais, "à Terra em que nasci, esse vulcão que o mar embala e ao embalá-lo canta", ao mistério, ao amor, aos mártires e aos que o ampararam ou sofreram por sua causa.
                                    
O cap. II, a Ideia, traça a sua crença no mestre Jesus, em Nossa Senhora da Luz, na comunhão das almas, em especial com seu pai, mas também na vacuidade do pensamento para chegar ao conhecimento Divino e na dualidade das forças que o inspiram, impulsionam ou tentam.

 
 No cap. III, do Amor, este surge-nos bastante vivenciado na dualidade do desejo-encontro e dúvida-separação. 
 No cap. IV, do Homem, contém quatro poemas dedicados a Antero a Soror Mariana, a Camões e a Pedro o Cruel, os dois primeiros muito bem conseguidos, e de realçar Mariana Alcoforado surgir no capítulo do Homem, e ser ela quem que  brilha amorosamente na noite das dificuldades e dos tempos, assim o finalizando: «(...) Sem forças adormece. É madrugada. E ao despertar daquela imensa dor a carta recomeça: - Meu amor!».
 No cap. V. da Morte, pensaríamos que haveria algo de discípulo de Antero, cavaleiro enamorado ou vencedor da morte, mas não, é uma vivência profunda da morte da amada real que descreve, e assim se compreende melhor o dilaceramento patente no cap. III do Amor. Contém seis poemas valiosos, o primeiro levando mesmo o desafiante título Génia, o último confessando nos primeiros versos: «Eu sei quem é que força aquela porta/ e vem, de branco, à noite, silenciosa,/ rondar a minha vida lutuosa/ e afagar-me com suas mãos de morta./ Eu sei quem é aquela forma airosa/ que por saudade ao mundo se transporta,/ que me olha, sorri e me conforta/ e é gelada, pálida e bondosa. (...).
 O cap. VI e final, intitulado da Terra é um belíssimo canto a São Miguel dos Açores, de cinco páginas, iniciado assim: 

 «Nasce das ondas e vai quase aos Céus,
Como uma escada posta aos pés de Deus,
a terra onde eu nasci.
Doura-o o sol e dá-lhe tons e cores
para beijar a Ilha dos Amores
que se levanta ali
num festival supremo de beleza,
em honra do deus Pan,
pela natureza maravilhosa e forte!
Apolo deu-lhe o fogo em convulsões
nas crateras abertas dos vulcões
desafiando a Morte. (...) »

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Oiça então o belo poema dedicado a Antero de Quental, com alguns comentários luminosos, num sacrifício de dezanove minutos do seu precioso temp0....