segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Sabedoria Persa (6), de Hafiz, um ghazal traduzido e comentado, e com música e voz de Meher Angez

É com um breve excerto da fabulosa obra de Hafiz, de Shiraz, que convivemos nesta sexta fonte da sabedoria persa. Hafiz, com Saadi, Rumi, Firdowsi e Khayyam, é o quinteto poético mais apreciado e cultuado no Irão de hoje e no mundo dos amantes da poesia e sabedoria persa.
Hafiz (1315-1390) é um dos mundialmente mais conhecidos e valiosos poetas do Amor, humano, espiritual e divino, fogo luminoso no qual todas as barreiras se diluem ou se desvanecem para que as essências e as melhores qualidades venham ao de cima. O seu diwan, a sua antologia de ghazals, muito usada para se abrir à sorte ou à fortuna, istixara, é uma das mais famosas e lidas no mundo e entre nós Antero de Quental e Fernando Pessoa mencionam-na. Quando estive no Irão em 2011 fiz uma conferência sobre ele numa universidade em Teerão. Que este breve excerto nos desperte mais a nossa e fortifique

 «E dei conta de mim a gritar:
- Ó Fortuna, o Sol levantou-se e tu ainda dormes!
E a Fortuna respondeu-me:
- Apesar de tudo, não desesperes». 

Comentário: A plenitude, felicidade ou fortuna que todos desejamos ou aspiramos não surge nem se instala facilmente, pois é antes o resultado lento da maturação de múltiplas sementes desabrochadas em árvores e que darão os seus frutos fragrantes e nutritivos capazes de tornarem felizes os que as souberam cultivar ou os que os receberão..
Tal como o Sol nasce no horiz
onte nas sucessivas estações em horas diferentes, assim cada alma vê o Sol nascer ou brilhar mais na sua vida na hora ou época apropriada, embora em cada novo dia o Sol 
visível e invisível possa derramar sobre nós influxos bem luminosos e benéficos.
A perseverança na manutenção de uma consciencialização espiritual e de certas práticas harmonizadoras psico-somáticas intensificadoras do nosso acolhimento venerativo da luz e das irradiações criativas e felizes é a base da esperança que o Sol do Espírito e do Amor brilhará mais afortunadamente na nossa peregrinação da vida.
- Levantei-me de manhã, virei-me para o Oriente e orei para as montanhas mais elevadas e os raios dos Mestres e da Divindade: - Possai vós inspirar-me a conseguir fazer a Fortuna brilhar mais na Terra....

-  Quel amour l'Amour nous donne avec tant de Fortune....

                            

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Sri Ramakrishna e a Harmonia das Religiões (1ª p.). Palestra de Swami Siddheswarananda, traduzida e comentada por Pedro Teixeira da Mota, com vídeo.

Uma palestra de Swami Siddheswarananda, da Ordem de Ramakrishna, proferida em França, no centro de Gretz, em 1944, veio a ser publicada e, quando eu estive em França nos anos 80, com o sucessor de Swami Siddheswarananda, o simpático Swami Ritajananda, recebi-a dele num livrinho intitulado Sri Ramakrishna e a Harmonia das Religiões. Ao fim destes anos todos, e depois de ter estado seis meses em Calcuta no Ramakrishna Institute e de ter recentemente feito uma palestra sobre o encontro luso-nipónico e a Religião Universal, resolvi-o ler-traduzir e comentar. O livro em formato pequeno, um in-12º,  foi só lido e comentado nas sete páginas iniciais, das quarenta e quatro que tem, e poderá ouvi-las em seguida. Nelas o Swami Siddheswarananda  sobrevoa bem  a universalidade religiosa indiana, e os seus ensinamentos no plano individual e colectivo. 

Seguem-se no livrinho algumas considerações sobre o cristianismo, mencionando até os missionários jesuítas que no tempo dos portugueses receberam influências indianas, tal o P. Roberto da Nobili. Depois Swami Siddheswarananda  discerne bem como as influências greco-romanos predispunham a Europa para aceitar a cristianização, mas «quando o cristianismo veio, no seu zelo, bater à porta dos "gentios" [os indianos], ele deveria apresentar Jesus como uma Incarnação [Avatar] divina, e falar da sua presença no meio dos homens, guardando-se de impor ao mesmo tempo concepções judaicas. A esta linguagem, todos seriam sensíveis pois, se os místicos católicos vivenciaram esta Presença bem-aventurada, os hindus que não eram baptizados, também beneficiaram do mesmo favor.»
Depois desta crítica forte à judaização do Cristianismo que tanto
mal fez à mensagem de Jesus, o Antigo Testamento, com o seu Jehova violento, inquinando bastante o Novo Testamento, com o seu Pai de Amor,  Swami Siddheswarananda faz também um ataque muito forte ao exclusivismo e logo facilmente fanatismo do Islão, escrevendo por exemplo, que ao contrário dos cristãos e sobretudo dos hindus «para adorar Deus, o Islão toma uma atitude intolerante; não transige com os seus princípios teológicos; recusa-se a fazer a mais pequena concessão». Mas, depois de  dar mais provas disso, concluirá pedindo «para não julgarmos o valor do Islão segundo as suas conquistas e as suas conversões! A religião muçulmana produziu místicos comparáveis aos das outras religiões; as tradições do Islão, tal como as das outras religiões, permitiram aos humanos atingir as alturas da Consciência divina, de imergir a sua alma em Deus, e de saborear a serenidade e a felicidade que não passam!» 

No livrinho vêm em seguida algumas páginas consagradas às vivências espirituais ecuménicas ou universais de sri Ramakrishna, bem instrutivas, e que leremos numa próxima gravação. Oiça então esta primeira parte, que tem um bom resumo da tradição indiana, por um monge sábio de Kerala, Swami Siddheswarananda (1897-1957), o fundador do 1º centro vedântico em França.

                     

Sabedoria Persa (5), "se queres ser louvado, morre ou viaja", comentada por Pedro Teixeira da Mota.

Eis-nos com mais uma, a quinta, fonte de Sabedoria Persa, neste caso anónima, do povo, e de facto fruto de uma constatação da tão frequente ingratidão ou inveja dos que nos são contemporâneos e vizinhos: - "Se és um ser criador valioso espera pela morte para te louvarem"; ou então:  - "Move-te, emigra, estrangeira-te, se queres ser apreciado"... Assim tem sucedido ao longo dos séculos e por isso muitos artistas ou mesmo génios sofreram, embora hoje, dado o aumento de audiências e a sua globalidade, já não seja tão, tão fatal o dito ou tal fatum, entre nós, por exemplo, expresso no "ninguém é profeta na sua terra":
«Se queres ser apreciado (ou louvada, amada),
Morre ou viaja.»


Comentário meu, provavelmente dedilhado numa viagem de autocarro em Lisboa, e portanto com todas as limitações de ser apenas uma intuição de fragmentos de verdade:
A eventual plenitude da nossa relacionalidade com as outras pessoas não dependendo tanto da racionalidade dos julgamentos e apreciações, mas antes de factores de afinidades psíquicas e de sincronias de encontros, em geral tende a ser passageira e transitória e só raramente se aprofunda e se torna duradoura, conduzindo então a uma apreciação reciproca estimuladora e intensificadora da nossa plenitude.
Vasto deve ser então o teu horizonte e a tua pátria não pode limitar-se a um torrão de terra mas deve ser a Terra Lúcida dos que aspiram à Verdade e ao seu conhecimento e que a tentam viver, aprofundar e partilhar.
Um Rhyton, do séc. V a. C., persa.

Deves então saber morrer nas desilusões e incompreensões e renascer nas movimentações e novos encontros e horizontes que vão surgindo sempre nos que se conservam peregrinos ou peregrinas do Amor e da Divindade, quem sabe por vezes conseguindo partilhar o vinho do cálice do seu coração e espírito com quem verdadeiramente o aprecia e o assimila.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Sabedoria Persa (4), de Ferdowsi, traduzida e comentada, e com voz de Hooman Khalatbari e a Simorq Orchestra, همایون شج...

Nesta quarta entrada da antologia em francês das Fontes da Sabedoria Persa, reencontramos o grande Ferdowsi (940-1025), com um pensamento simples frontal acerca da instabilidade da deusa Fortuna, ou do severo Fatum ou Destino, nas nossas vidas, e como somos por ela provados ou testados com regularidade, para provarmos o nosso valor, nos desprendermos e nos aperfeiçoarmos, religando-nos mais ao amor, à fraternidade, à Divindade. Diz-nos então Ferdowsi, seguindo-se o meu comentário, escrito numa viagem de autocarro e agora melhorado:

Firdowsi oferecendo a sua epopeia Shahenameh, o Livro dos Reis.

"Assim são as vias do destino neste mundo severo:
Hoje põe-te docemente sobre a sela
E amanhã tens a sela sobre os teus ombros."
 

Comentário: A vida é, na unidade de consciência espiritual que possamos manter, como um fio que une as contas de cada dia do rosário da existência, feitas da sucessão de múltiplas dualidades, tais como a noite e o dia, o Inverno e a Primavera, o prazer e a dor, a atração e a repulsão, a alegria e a tristeza e das nossas vivências anímicas delas.
Sábio é o ser que consegue com calma e discernimento, paciência e esperança, suportar, amar e cavalgar todos esse contrários ou opostos mantendo um estado equânime e confiante de ligação ao bem, ao amor e à Divindade.
Saber dominar a atração e a repulsão e equilibrá-las harmoniosamente, nomeadamente nesses momentos mais duros ou difíceis, de modo a que a alma não seja perturbada e desalinhada do seu eixo vertical e interior, é então um dos objectivos desta vida de contrastes rumo à Unidade e fonte Divina que a subjaz e donde provimos. E que certas músicas e cantos tanto o exprimem, como pode ouvir no fim...
Sabermos suportar as dores do mundo, quando nos cabem, faz parte do Caminho, embora as devamos vencer e desvalorizar, afirmando as qualidades mais divinas, ou afins do espírito e da Divindade, como o amor, a paz, a fraternidade, a unidade. Muitas forças e Luz, Nur!

                         

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Sabedoria Persa (3), popular, traduzida e comentada por Pedro Teixeira da Mota.

A terceira frase da Antologia da Sabedoria Persa ou Iraniana exprime uma percepção do devir causal da vida humana que encontramos em todo os povos e tradições. Basta lembrar-nos do nosso "quem semeia vento colhe tempestades", ou "o que semeias colhes". Na tradição indiana a palavra Karma (da raiz Kr, que significa fazer), foi mesmo aplicada a uma via de união ou yoga, o Karma Yoga, yoga da acção, e valorizado no seu aspecto de acção desinteressada, abnegada, sendo com muita frequência citado o verso tens direito à acção, mas não aos frutos dela, no sentido de aumentar o nosso desprendimento e da nossa possessividade, sem dúvida características que nos podem dificultar o Caminho de avanço e realização espiritual.
O dito Persa da Antologia, naturalmente anónimo, é a coalescência de uma sabedoria natural e simples da lei do karma aplicada à palavra, sem dúvida um dos meios principais da interacção humana e diz-nos:

«Quem fala, semeia
Quem escuta, colhe»

                                  

Comentário meu.
Sabermos ouvir com sensibilidade, atenção e persistência é indispensável para conseguirmos tanto compreender bem os outros como alcançarmos as ligações subtis ou superiores e, portanto, em
ambos os casos gerar ou colher frutuosamente.
Saber ouvir interiormente implica tentarmos alcançar o silêncio, ou seja, aquietarmos as ondulações mentais, para que possamos receber transparentemente o que possa chegar aos nossos ouvidos físicos e psíquicos, este infelizmente muito ignorado e não cultivado, pesem algumas tradições espirituais bem importantes que o mencionam ou implicam mas que a civilizacionice ocidental desdenha e até dificulta com o seu culto ao ruído. E poderíamos mencionar a música das esferas, a voz da consciência ou do silêncio, e yogas como o Shabda e o Nada .
Pelo lado já não feminino da receptividade e da audição, mas domasculino e da acção, devemos consciencializar-nos bem que cada acto nosso é uma sementeira e ainda que o vejamos apenas como um acto isolado, efémero e transitório, ele dá contudo sempre frutos, tem consequências maiores ou menores, pelo que deveríamos de algum modo intuí-las, prevê-las, para evitarmos o que não seja bom para nós, para os outros, para o ambiente, para o Cosmos.
Na realidade cada um de nós é como uma árvore, que conforme as raízes, a nutrição e crescimento irá dar folhas, flores e frutos, benéficos ou destrutivos...
Neste provérbio persa a sementeira expressa é a da palavra, falada, escrita ou pensada, pois por todos estes meios a nossa energia psíquica afectiva, mental e intencional transmite-se e gera efeitos em quem a sente, ouve ou lê.
Ora sendo tão grande a responsabilidade, como é que há tanta gente a escrever barbaridades ou o que tem tantos efeitos negativos nos outros, para já não falarmos dos que o realizam por actos ou materialmente?
Creio que é sobretudo o egoísmo e insensibilidade aos outros, e a ignorância da lei do Karma e que há uma vida depois da morte na qual estaremos muitíssimo condicionados pelo que fizemos no corpo físico enquanto estivemos na Terra, as causas principais de tal erro e ilusão. Será então ouvindo a Sabedoria perene, a Perennial Philosophy, como lhe chamou Aldous Huxley na antologia que o meu mestre Swami Kaivalyananda, de Rishkesh, me fez ler como introdução ao Advaita Vedanta, nomeadamente persa-iraniana- indiana, entre outras, seja dos livros seja directamente de pessoas que
a tentam estudar e meditar, aprofundar e viver.
Hajam então muitas semeaduras biológicas, puras, luminosas para que as colheitas sejam mesmo boas para a Ordem do Universo e os seres e campos unificados de energia consciência informação.

Xvarnah

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Sabedoria Persa (2), de Ferdowsi, traduzida e comentada e com música da Simorq Orchestra...

Estátua de Ferdowsi, junto ao seu túmulo, em Tous.

Os versos da segunda participação na Antologia das Fontes da Sabedoria Persa são de Firdousi ou Ferdowsi (940-1025), o poeta da grande epopeia persa, de cerca de 61.000 coplas, o Shahnameh, uma obra tanto histórica e mítica tão cativante, poderosa e que foi ao longo dos séculos ilustrada com belíssimas miniaturas iluminadas de grande qualidade e também musicada, como podemos ouvir no fim num excerto, pela excelente Simorq orchestra

Ferdowsi foi assim um preservador da tradição iraniana pré-islâmica, nomeadamente zoroástrica e da dinastia Sassânida (224-651), ao fazer a sua história e narrar os seus heróis e mitos, com ensinamentos como a Jam-e jam,  a taça de adivinhação, grálica,  e é considerada o pai da língua persa, graças em parte a ele fixada e mantida desde há mil anos, tendo um culto enormíssimo, a par de Saadi e Hafiz, no Irão e nos países e espíritos de cultura e língua persa. 

«Eu atravessava uma noite única
Quando tu viestes, meu amor,
Transformar a noite num dia radioso.
Cantavas e graciosamente deste-me vinho
Dizendo tais palavras divinas inesquecíveis
Que a noite dissipou-se como fumo... »

                   Comentário saído de mim, e agora ampliado:
O encontro entre duas almas pode ser um acontecimento muito luminoso, quando há  complementaridades e raios mais abundantes de certos assuntos, qualidades ou chakras de um partem e  vão-se repercutir no outro, impulsionando-o, elevando-o, nem que seja apenas no momento, embora saibamos que há quem guarde na sua alma e memória encontros e diálogos que as marcaram, ou que nelas se incrustaram brilhantemente. Pena é  não estarmos tão atentos e sensíveis a todos estes planos de interacção nem discirnamos o que poderá frutificar de melhor do face a face, alma a alma, ou então mesmo apenas pelos meios digitais.
Quando há mais amor no encontro, quando a chama da afinidade mútua para certos aspectos ou níveis elevados da realidade coexiste, então os efeitos podem ser mais duradouros e profundos, e há seres que caminham na vida com a alma do ser amado ou dos seres amados, na sua alma e com alguma ou mesmo constante interpenetração, influência, troca, na anima mundi unificadora, dependendo claro das afinidades e reciprocidades vibratórias, e independentemente das distâncias ou dos planos de vida em que se encontram na sua peregrinação eterna.
De igual modo as palavras e sons que brotaram, com as suas entoações e intenções, podem pelas suas dimensões poéticas e anímicas tornarem-se florescências anímicas por onde a seiva do amor cósmico, intensificado pelos dois corações e espíritos em uníssono, circula, aperfeiçoa, auto-consciencializa e espiritualiza.
Relembrar tais palavras, tais mantras por vezes, ao ter havido iniciações, e pronunciá-los, é intensificarmos a luz sobre a luz, a alma de um no outro, magicamente, iluminadora e libertadoramente.
Felizes dos que, se encantando, encantam também e nessa comunhão da unidade do Espírito e do Amor alcançam as fortificações das suas qualidades, desenvolvendo capacidades latentes da alma, diminuindo as limitações dos órgãos sensoriais e da mente ignorante, para assim melhor acolherem as bênçãos divinas e mais fraterna e harmonizadoramente agirem e viverem...
Todavia, os verdadeiros encontros de seres no Caminho deveriam ter os seus momentos de silêncio, de empatia e telepatia, de tal modo que as palavras, vindas das profundezas, e se tinjam do amor, esse vinho que nos exalta no culto ou adoração da Natureza, do companheiro ou companheira, da amada ou do amado, do mestre ou do anjo, ou mesmo da Divindade...

                           

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A Exposição Alfredo Keil do Amaral, na S. Roque - Antiguidades e Galeria de Arte, à rua de S. Bento, prestes a terminar. Não perca.

Alfredo Keil do Amaral (1850-1907) foi um notável pintor tanto romântico como  naturalista, dotado de interesses científicos e compondo operas. Um génio que infelizmente poucos anos ficou na Terra, deixando contudo ainda assim descendência familiar ilustre e bastantes pinturas e desenhos, ilustrações de livros, óperas (Donna Bianca, Serrana) e a música da Portuguesa, pois indignado, tal como Antero de Quental e muitos outros intelectuais e operários, com o Ultimatum do imperialismo inglês em 1891, imortalizou musicalmente a letra que o oficial da armada e escritor Henrique Lopes Mendonça escreveu nesse ímpeto de luta contra as armas e os canhões do opressor. Com o advento da República, a que ele já não assistiu, a música viria a tornar-se o Hino Nacional.
 
Alfredo Keil do Amaral pintando..

Filho de um alfaiate alemão emigrado, que tendo tanto jeito se tornara o alfaiate real em Portugal e o modelador das modas e roupas de melhor qualidade da época, recebeu bastante apoio do pai seja para os estudos de pintura no estrangeiro, com Kaulbach e von Kreling, seja para os muitos instrumentos musicais e científicos coleccionados e que hoje enriquecem o museu em Viseu dedicado à  vida e obra de doze membros da família Keil do Amaral,  e do qual várias peças vieram para a exposição.
                                 
Em boa hora o responsável da  S. Roque - Antiguidades e Galeria de Arte,  Mário Roque, bem coadjuvado,  entendeu organizar uma exposição, a realizar-se em Sintra mas que, devido aos receios e fraquezas da edilidade, acabou por vir a concretizar-se mesmo num dos corações de Lisboa, o dos antiquários, à rua de São Bento e na própria galeria da S. Roque, que nos seus dois andares conseguiu receber e expor muito bem não só vários óleos, como também desenhos e ainda fotografias, instrumentos, cadernos, blocos de notas e desenhos, dando ainda à luz um sóbrio mas valioso catálogo.

A criança colhendo frutos do gigante

   
"Rio Tejo em Abrantes", numa tarde de Primavera estuante de luz e de algria..
Algumas fotografias tiradas por mim sem grande qualidade servem apenas para partilhar um pouco da riqueza intimista e naturalista profunda que a maior parte da obra de Alfredo Keil exuda, tingindo-nos dos sentimentos profundos que as paisagens, árvores, nuvens, rios e mares ecoaram ou despertaram nele; e neste conjunto de obras expostas, o ser humano surge mais com um pequeno elo da grande Natureza e da sua anima mundi que a tudo e todos penetra e unifica, e que certamente Alfredo Keil do Amaral tanto sentiu e excelente e perenemente plasmou e partilhou.                                           
"Na última pedra". Praia das Maçãs, 1895. Orando pelo peixe face ao Oceano.

"Pinheiro"s ardentes de polén e seiva abraçam-se...

"Marinha". Um belíssimo derramamento da Luz, quase divina...

"Paisagem ao entardecer", o Sol deixa a terra e o céu a arder
"Nuvens", muito presentes na sua obra, certamente sentindo-as e amando-as...
                                      
Série de 3 desenhos de árvores nuas, silenciosas e quedas, pintadas nas florestas da Baviera, 1868


    
Dos conúbios misteriosos e sagrados entre as árvores e as pedras e penedos.....

   
Cena serrana na zona do Zêzere... A alma humana enriquece-nos e enternece-nos na Natureza...


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