domingo, 17 de outubro de 2021

Sendai, Kobe e Tokushima: '"As Cidades", do encontro luso-nipónico, no livro "Figuras de Silêncio", de Armando Martins Janeira. 4ª parte.

 Em "As Cidades", a II parte das Figuras de Silêncio,  a Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje, obra publicada em Lisboa, em 1981, Armando Martins Janeira  descreve as raízes históricas das interacções realizadas após a segunda grande Guerra em treze localidades marcadas pelo encontro luso-nipónico, narrando e ilustrando fotograficamente bem os acontecimentos e as personagens importantes do diálogo, partilhando ainda os seus sentimentos e intuições. Após os três artigos anteriores resta-nos resumir e destacar o que ele realçou,  vivenciou e escreveu em Sendai, Kobe e Tokushima.

Martírio Branco, «A cidade de Sendai fica ao norte de Honshu, a principal ilha do Japão, perto duma das mais lindas regiões do país, Matsushima (...) há quatro séculos era a sede do mais poderoso dáimio ao norte de Edo (Tokio), Date Masamune (1566-1636), senhor das terra então chamadas de Oshu, nome que ficou célebre na poesia e na lenda». Em 1613 enviou  uma embaixada à Europa, dirigida por Hasekura Rokuemon e o padre Luís Sotelo, que foi num barco japonês até ao México e depois seguiu num espanhol até Madrid, Genebra e Roma, voltando só ao Japão em 1620, quando as perseguições aos cristãos se acentuavam com o xógum Hidetada, e depois o seu filho Iemitsu. Dentro desta política de não aceitação de missionários, por ordem de Date Masamune  o P. Diogo de Carvalho, que desde 1616 evangelizava sem autorização ou clandestinamente, após um mês de prisão em que recusou apostatizar, foi submetido a três horas em água glacial em Sendai, em 22 de Fevereiro de 1624, resistindo com grande impassibilidade, e em prática de oração como a gravura da época mostra, tendo-lhe sido atribuídas como últimas palavras: Deus sit semper laus et gloria. E até mesmo o P. Luís de Soutelo, o da embaixada, seria queimado vivo em 25 de Agosto de 1624, embora já não sob a jurisdição de Date. 

 Armando Martins Janeira participou na inauguração do monumento ao jesuíta, natural de Coimbra,  Diogo de Carvalho (1578-1624) «num dia chuvoso de Setembro de 1971. O historiador padre Hubert Cieslik  traçou em japonês a biografia, e as autoridades da cidade e o Embaixador de Portugal renderam homenagem aos mártires e celebraram a amizade entre Portugal e o Japão, cimentada no ideal, no sangue e na esperança dum mundo justo e fraternal». Anote-se que Hubert Cieslik (1914-1988 e desde 1934 no Japão) foi um dos quatro jesuítas que sobreviveram à bomba atómica norte-americana lançada sobre Hiroshima e os seus martirizados milhares de habitantes! Que nunca mais um país se atreva a lançar outra, orarão eles....

                                       

No dia seguinte, já com o Sol radioso, visitará a enseada de Matsushima (matsu-pinheiro, shima-ilha) e as centenas de pequenas ilhas, num todo tão belo, considerado mesmo com Miyajima e Amanohashidate como os três mais belos locais do Japão, que o grande poeta Basho só conseguiu exprimir tal «num haikai celebérimo: Ya Matsushima/, Matsushima Ya/ Ya Matsushima» Ai Matsushima...

Kobe e o primeiro cônsul português no Japão. A este principal porto do Japão chegou em 1899 Wenceslau de Moraes.

 E aqui se apaixonou tanto pelo Japão como pela «doce O-Yone-san, a Nobre Senhora Bago de Arroz, com quem os biógrafos japoneses asseguram se casou um ano depois pelo rito xintoísta», vivendo feliz até ela morrer em 1913, e escrevendo os artigos que se tornarão os livros Cartas do Japão e Serões do Japão, além de publicar as Paisagens da China e do Japão. E,  ao estilo japonês, o seu belo livro O Culto do Chá, que tantas vezes terá recebido tão harmonizadoramente das suas duas sucessivas mulheres...

                                         

Armando peregrinará pelos locais descritos ou frequentados por Wenceslau, nomeadamente as cascatas de Nunobiki (em cima num postal igual ao que Wenceslau enviou em 1904 ao seu amigo Francisco P. Chedas), as chayas (casas de chá), e participa na inauguração de «um busto de bronze sobre um alto pedestal de granito», descrevendo bem pormenorizadamente a longa cerimónia shintoísta em sete parágrafos, dos quais transcrevemos o primeiro:«A cerimónia foi iniciada pelos sacerdotes xintoístas, todos de branco imaculado, com uma espécie de gorro de laca preta, kammuri, e enormes e finos tamancos também de laca preta, asagutsu. Havia uns sete sacerdotes, que se revezavam no canto monótono, nas reverências aos vários grupos de pessoas postadas em semi-círculo ao monumento, às quais de quando em quando benziam com um pequeno ramo de sakaki, a árvore sagrada do xintoísmo.»  

                                       

As linhas e reflexões finais, humanistas e universalistas, deste capítulo consagrado a Kobe e a Wenceslau de Moraes são de destacar, quando no decorrer da cerimónia, após Ingrid Martins Janeira ter deposto um ramo de cravos vermelhos, «o sacerdote xintoísta, repetindo os gestos rituais, fez uma vénia profunda a Moraes   e depôs sobre o altar um pequeno ramo de sakaki, adornado de papel branco recortado em quadradinhos, gohei, em conformidade com as regras da liturgia  [e esoterismo] xintoísta. O sacerdote ofereceu um ramo semelhante ao governador de Hyogo, que igualmente foi colocá-lo no altar. Depois veio a minha vez; peguei no raminho das mãos do sacerdote, com uma vénia, e fui depô-lo sobre o altar; bati duas vezes as palmas, fiz nova vénia e fitei o busto, nos olhos, concentrando-me por momentos, o pensamento em Wenceslau de Moraes e nesse estranho acto de celebrar um português, por tão estranhos modos, tão longe dos pátrios lares. A esta ideia outra se associou, a de que os Portugueses, há séculos, se espalharam por todas as terras do Oriente e aí conheceram maneiras e gentes as mais estranhas, e a elas se adaptaram e muitas vezes se entregaram, fazendo a fama e a grandeza de Portugal. E pensei que neste descobrimento, nesta expansão e alargamento da alma, está a raiz do nosso universalismo; neste poder dar-se, sem se alienar, abrir-se ao mundo sem trair as raízes, esteve a força dos marinheiros e viajantes, os mais genuínos filhos de Portugal», ou pelo menos os portugueses mais aventureiros... 

                                        

        A cidade onde alegremente se canta e dança aos mortos. Tokushima, a cidade natal de O-Yone, para onde Wenceslau de Moraes se refugiou após a sua morte, e onde encontrou uma nova companheira, Ko-Haru, sobrinha de O-Yone, ainda mais nova e que  tinha pouco das qualidades da tia, foi visitada anos a fio por Armando Martins Janeira, que pode assim conhecer as transformações de industrialização e crescimento operacional que se operavam e o que restava dos tempos de Wenceslau, que descreve com emoção: «Mas permanece ainda o passado, os templos, incluindo o pequeno templo de O-Mutsu, no centro da cidade; existe a mesma devoção a Inari, deus das colheitas, simbolizado por uma raposa, e a Jizô, deus dos viajantes e das crianças, bem como aos deuses familiares, hotoke-sama, aos quais todas as manhãs, no altar familiar, butsudan, se oferece o arroz, o saké e as flores votivas; há ainda no Verão, pelos caminhos - vi-os anos seguidos passar  todos vestidos de branco em frente da minha casita de férias numa aldeia - os peregrinos, os o-hendo-san, que vão rezar aos 88 templos da ilha de Shikoku; e fazem-se ainda, com a alegria e a algazarra de sempre, os matsuris, as festas religiosas em que a gente nova se diverte e namora, e a gente velha ri, canta e ora aos deuses. As canções das gueixas sobem ainda melancólicas das gelosias das gueishayas rimando as mesmas histórias de amor triste». 

  Descreve depois como em Junho de 1954, como secretário de Embaixada, foi à capital de Awa para assistir à inauguração do monumento a Wenceslau de Moraes,  lendo por isso toda a sua obra de tal modo que quando lá chegou  «conhecia de cor toda a cidade que com tanto carinho, Moraes descreveu  em O Bon-Odori em Tokushima, sabia o lugar dos templos que ele frequentou, dos caminhos que ele percorreu, reconheci as velhas árvores da sua rua Igacho. Quando contemplei a pequena pedra que abriga as suas cinzas, sob uma inscrição japonesa, comovi-me até às lágrimas.» 

Dez anos depois «regressava maduro, com ideias claras, planos precisos, e com mais honras, em vez de secretário da Embaixada vinha agora feito Embaixador. Nos meus planos estava arrancar Moraes ao anonimato japonês, conseguir publicar a sua obra completa, dar-lhe glória e projecção na cultura nipónica em que ele era desconhecido. Para isso tinha antes de mais de conquistar o afecto duma cidade.

Confiei sempre na bondade e na perspicácia incomparáveis dos deuses. Foram eles que me levaram a encontrar uma casa de Verão perto de Tokushima, onde passei a gozar todos os anos as férias (...) Passei em Shodoshima os dias mais felizes e pacíficos da minha existência. O mar ali é tão belo e de águas tão luminosas como mar grego de que nasceu Afrodite. Havia praias sob pinhais e palmeiras, onde eu e a minha tribo podíamos nadar e correr sós sob o sol dourado (...) Na festa das colheitas, por altura do solstício do Verão, também nós íamos associar-nos às celebrações xintoístas, levando oferendas às capelinhas rústicas no meio dos campos, onde as velhas camponesas atendiam os fiéis sob a imagem do galo sagrado, símbolo da fraternidade (...).

Desta ilha de Shodoshima, onde evangelizara em 1586 o padre Gaspar Coelho e  cristãos perseguidos se refugiaram, partia  em meados de Agosto de barco para participar nas festas do Bon-dori  em Tokushima (as duas noites em que se acredita que os espíritos dos mortos descem à terra e são festejados), e onde levava muitos escritores, diplomatas e amigos, que dançavam em kimono com a multidão e, por fim à roda do monumento a Wenceslau, algo corajosamente.  Também eu, mas já em 2011, fiz o mesmo embora junto ao túmulo de Wenceslau e O-Yone apenas orasse e meditasse.   

Como sempre, no seu estilo sentido, livre e amplo, Armando Martins Janeira terminará o capítulo com chave de ouro, ou sol universalizante nas almas: «Foi por esta alegria, pela assistência devotada de sete anos consecutivos, que consegui ganhar a amizade de Tokushima. Tenho lá amigos que estremeço, e a recordação dos seus templos, da sua gente alegre, das mais formosas raparigas do Japão, da sua dança que enlouquece, dá-me calor humano para os anos que hei-de viver. Sinto-me um pouco de Tokushima - concederam-me a honra de me fazer seu honorário cidadão -, como senti sempre que Tokushima, na sua afabilidade, no seu afecto a Moraes, no seu sol e na sua alegria, representa, lá longe, um pouco de Portugal».

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Nagasaki, '"As Cidades", do encontro luso-nipónico, no livro "Figuras de Silêncio", de Armando Martins Janeira. 3ªparte.

 Em "As Cidades", a II parte das Figuras de Silêncio.  A Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje, obra publicada em Lisboa, em 1981, e que já abordámos a I parte, "O Passado e o Presente",  Armando Martins Janeira  descreve as raízes históricas das interacções realizadas após a segunda grande Guerra em treze localidades marcadas pelo encontro luso-nipónico: Tanegashima, Kagoshima, Hirado, Sakai, Kyoto, Yamaguchi, Oita, Yokoseura, ilhas de Amasuka, Nagasaki, Sendai, Kobe e Tokushima, narrando e ilustrando fotograficamente bem os acontecimentos e as personagens importantes do diálogo, partilhando ainda os seus sentimentos e intuições. Após dois artigos anteriores resta-nos resumir e destacar o que ele realçou,  vivenciou e escreveu, em Nagasaki, Sendai, Kobe e Tokushima, ficando para este texto Nagasaki.

O capítulo Quando os Portugueses fundaram a cidade de Nagasaki, por volta de 1560, narra as vicissitudes desta cidade que teve a sua origem quando Dom Bartolomeu de Omura, o dáimio Omura Sumitada (1533-1587, na imagem em cima)  que se convertera, deu esse lugar inculto ao missionário jesuíta Cosme de Torres, «para sempre», procurando também alguma protecção dos portugueses contra os dáimios vizinhos. O porto, sendo excelente, permitiu um crescimento rápido populacional e comercial e em oito anos já havia quatrocentas casas. A Igreja de Todos os Santos, foi erguida em 1568 pelo P. Gaspar Vilela, e o porto tornou-se rapidamente o maior ou mais importante do Japão. Com o decorrer do tempo Nagasaki tornou-se uma enorme cidade, bem traçada e com bastantes sinais ocidentais, embora após os portugueses saírem os holandeses tivessem ficado fechados numa ilha feitoria. Já no século XX, A bomba atómica desnecessária norte-americana, em Agosto de 1945, arrasou com quase tudo, matando milhares de pessoas... Uma tragédia imensa....

Contudo o crescimento do Cristianismo, e que chegou a imprimir mais de vinte livros, alguns dos quais em Nagasaki, fez evidenciar as incompatibilidades com a ordem social, política e religiosa japonesa o que, com os conflitos com os monges budistas, foi criar as sucessivas vagas de expulsões e perseguições no Japão, algumas das quais tiveram o seu epicentro em Nagasaki, pois após a súbita decisão de Hideyoshi expulsar os missionários, e de passar a controlar o porto de Nagasaki directamente, em 1597 foram queimados vivos 26 mártires, dos quais sete ocidentais, no local onde hoje se encontra o Museu dos Mártires. 

Armando Martins Janeira assinala ainda que «em 1600 apareceu no Bungo o barco holandês Liefde. Este facto iria também influir decisivamente na sorte do Cristianismo e do comércio português no Japão. As intrigas entre jesuítas e franciscanos, chegados em 1592, vieram somar-se às intrigas e guerra surda entre católicos e protestantes, portugueses e holandeses». E seriam os holandeses a ficarem com o comércio naval, vindo mesmo a bombardear os cristãos e japoneses na insurreição de Shimabara.

À morte de Hideyohi sucedeu um regente Tokugawa Ieyasu que era mais budista e acabou por ir expulsando os missionários e destruindo as igrejas com excepção de alguns poucos lugares. Em 27 de Janeiro de 1614 dá-se o decreto de expulsão do Cristianismo. Com Hidetada  o filho de Ieyasu, morto em 1616, agravam-se as perseguições aos cristãos ocorrendo de novo uma forte em Setembro de 1622, em que 45 missionários e cristãos foram queimados vivos ou decapitados, como a gravura seguinte de um livro de 1675 reproduz.

 Quando Hidetada morre em Janeiro de 1623, o seu filho Iemitsu «mostrou-se ainda mais cruel que o seu pai. Em 4 de Dezembro desse ano Iemitsu presenciou a morte na fogueira de cinquenta cristãos. Nesse mesmo mês foram sacrificados mais vinte e quatro». Após a insurreição popular e campesina de Shimabara, iniciada em Dezembro de 1637 e terminada em Abril com o massacre de 35 mil, o cristianismo acabava no Japão. E até o comércio português finda em 1639, havendo a registar-se ainda a tragédia em 1640 do último barco  vindo de Macau, a solicitar já apenas a continuação do comércio, como antes os dáimios queriam, sofrer a morte de todos os portugueses, menos 14 moços de tripulação poupados para levarem a rejeição e o barco a Macau. 

O Museu provincial de Nagasaki é dos que mais peças Namban alberga, além das ligados ao culto cristão e à repressão dura que se lhe fez, e tem diante de si um monumento de Martins Correia de homenagem aos portugueses ilustres de então. E, participando no descerramento de uma lápide evocadora de Luís de Almeida, que teria sido o 1º português a chegar a Nagasaki, Armando Martins Janeira após a conclusão da cerimónia num templo budista com um padre Diego Pacheco a falar em bom japonês, conclui este capítulo do seu valioso livro Figuras do Silêncio, com um questionamento pioneiro, corajoso e estimulante sobre os condicionamentos limitadores do presente no passado, ou seja, visto no futuro (dada a pouca clarividência humana), e sobre as mudanças de mentalidades requeridas constantemente pela humanidade: «Ao reflectir no paradoxo de ver uma consagração a um missionário cristão num templo pagão, que fora já antiga igreja e antes desta templo pagão [budista] ainda, senti-me confundido pelos acasos [no desconhecimento natural dos subtis encadeamentos causais] que movem a História e lhe velam o sentido sob um mistério insondável. E fiquei perturbado ao pensar que o novo acto de agora - gesto de amor e harmonia entre homens de várias nações - torna gratuito [ e escreveu bem, gratuito, de graça e não inútil] o esforço e dor e sangue derramado no apostolado e martírio desses homens que há quatro séculos aqui vieram pregar uma fé nova, na crença de que salvavam almas para Deus. De que serviu o seu martírio? Tê-lo-iam aceite se soubessem que viríamos hoje a consagrá-los no próprio templo pagão que eles destruíram com ódio [talvez nem sempre...] e para glória do seu Deus? [Excelente pergunta, e provavelmente teriam compreendido e procurado outras formas de aprofundamento e transmissão da verdade] Até que ponto a Igreja, que hoje prega a harmonia universal dos homens de todas as raças e religiões, é a mesma que pregava o martírio pela defesa [do que eles pensavam ser] da verdade absoluta, em face da qual todos os outros deuses eram considerados demónios e todos os infiéis irremediavelmente proscritos e condenados? Em verdade, Deus há-de estar bem acima de todas as igrejas e de todas as religiões; se assim não fosse, os homens sentir-se iam condenados a penas bem maiores do que a fogueira e Inferno - a perder toda a esperança da própria salvação.»

Esta conclusão final, muito certa e apontando para Religião ou Filosofia Perene que está tanto acima como subjacente a todas as manifestações históricas religiosas, por vezes tão condicionadas e anacrónicas, mesmo nos nossos dias continua ainda pouco reconhecida seja pelos fiéis mais fanáticos de algumas religião, seja pela corrosão das crenças em salvações por vários factores da modernidade, nomeadamente o agnosticismo científico. Resta-nos demandar o espírito Divino íntimo, que os místicos e filósofos espirituais das várias religião tocaram, e manifestarmos a Sua presença nestes tempos, encontros e diálogos, tal como Armando Martins Janeira tanto viveu com tão pioneira e grande sensibilidade e qualidade. Luz e Amor na sua alma!

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

"As Cidades", do encontro luso-nipónico, no livro "Figuras de Silêncio, de Armando Martins Janeira. Breve resumo, 2ªparte....

Em "As Cidades", a II parte das Figuras de Silêncio.  A Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje, obra publicada em Lisboa, em 1981, e que já abordámos a I parte, "O Passado e o Presente",  Armando Martins Janeira  descreve as raízes históricas das interacções realizadas após a segunda grande Guerra em treze localidades marcadas pelo encontro luso-nipónico: Tanegashima, Kagoshima, Hirado, Sakai, Kyoto, Yamaguchi, Oita, Yokoseura, ilhas de Amasuka, Nagasaki, Sendai, Kobe e Tokushima, narrando e ilustrando fotograficamente bem os acontecimentos e as personagens importantes do diálogo, partilhando ainda os seus sentimentos e intuições. Após, no artigo anterior, um resumo das seis primeiras, seguindo os títulos e as informações de Armando Martins Janeira, passamos agora a mais três, os títulos em ítálico, com pequenos acrescentos contextualizantes: 

 Oita, a cidade onde existem mais evocações portuguesas, no sudoeste de Kiushu, era no século XVI, Funai, capital da província do Bungo, regida pelo clan Otomo, do qual Yoshishige, filho do dáimio de então protegeu os portugueses, desde  o início da chegada destes em 1546 mas exerceu tal sobretudo já como dáimio (1550),  com Francisco Xavier a permanecer entre Setembro e Novembro de 1555, seguindo-se outros missionários que receberam várias benesses de modo que se concretizaram os melhores aspectos da acção portuguesa no Japão: o 1º orfanato (sobretudo pela sensibilidade de Luís de Almeida) e o 1º hospital no Japão, ampliado em 1559,  com uma secção para leprosos e doenças contagiosas e outra para os feridos e doentes, e onde Luís de Almeida (1525-1583) brilhou (teria "o dom da cura", no dizer do P. Cosme de Torres),  formando mesmo médicos japoneses. E funda-se um colégio, no «qual se liam duas lições, uma de humanidade e  outra de língua do Japão», que vieram frutificar num vocabulário e dicionário e na gramática de João Rodrigues. Em 1578, Otomo Yoshishige (1530-1587, na imagem em baixo) divorciou-se da mulher que se opunha e fez-se baptizar, passando a ser D. Francisco de Bungo, e pensou mesmo em fundar uma cidade só de cristãos, com a sua 2ª mulher, já convertida, e foi um dos apoiantes da 1ª embaixada do Japão ao Ocidente, em 1582, através do seu sobrinho Mancio Ito. Hoje a cidade está geminada com Aveiro e o hospital chama-se Luís de Almeida, mas este exerceu os seus dons de cura, de evangelização, de mestre de obras e arquitecto e de diálogo por muitas partes do Japão...

8 - Uma cidade assassinada, Yokoseura, já que hoje é apenas uma «aldeia de duas dúzias de casas» e na altura, tendo uma boa baía,  os missionários, em acordo com o dáimio Sumitada e assinando o padre Luís de Almeida, fundaram o porto de Nossa Senhora da Ajuda  e uma cidade, com residências religiosas e igrejas, intensificando-se as chegadas das naus portugueses e o comércio. Em 1563 o dáimio Omura Sumitada (1533-1587) fez-se baptizar e recebeu o nome de Bartolomeu, conforme a imagem em baixo. Todavia, a fatalidade do fanatismo exclusivista aliciou o dáimio ou Dom Bartolomeu e «começou imprudentemente a destruir os templos budistas e  a perseguir os seus fiéis». Tal causou a revolta de um filho e a destruição total da cidade e do porto, fugindo os missionários e nunca mais aportando os barcos comerciantes e evangelizantes. 

Em 1962 foi erguido um monumento, um cruz de oito metros de altura,  sem cerimónias oficiais, mas  Armando Martins Janeira estando presente e sendo olhado com curiosidade e espanto por uns poucos de habitantes não resistiu ao impulso de comunicação da palavra ou verbo, e que tão bem narra: «Pareceu-me descortinar no olhar daquela gente um fundo de simpatia, de afinidades invisíveis, que quatro séculos de ausência não haviam conseguido apagar.  Um impulso irresistível, que me vinha do fundo da alma, levou-me a aproximar-me. Dei uns passos para o grupo. E falei-lhes. Recordei-lhes como há quatro séculos homens do meu longe país ali tinham vindo visitar os seus maiores para lhes trazer a palavra e o amor do Ocidente. E que eu agora ali voltava para lhe reafirmar a mesma amizade. Em Cristo e em Buda, todos somos irmãos, e o mesmo Sol ilumina todos os homens e fecunda a terra inteira. Em nome de Portugal vinha saudá-los e exortá-los a que nos guardassem a antiga amizade. E jurei-lhes a nossa amizade, em nome deste mar sagrado que nos aproximou.» E vieram um a um sorridentes apertar-lhe as mãos...

Depois tem uma nova surpresa comovente, crianças e adultos de casas espalhadas pela estrada emergiam gritando e sorrindo "Yokoso (bem vindo), Yokoso! Porutogaru san (senhor Portugal)", quando se encaminhava para a pequena aldeia no alto da montanha onde se plantou a «típica cerejeira japonesa, que não dá fruto, e cujas folhas de pétalas duplas, zazakura, são duma alvura leve e luminosa.    

E recolhe-se  pensando o futuro em que, tal como a sakura crescerá, também o mesmo aconteceria à liberdade em Portugal. E em seguida, à chegada de barco a Hirado, ao pôr do sol, tem uma elevada experiência interior:«senti um estranho alvoroço. Não era a gente que eu ia lá ver, nem era a novidade de uma pequena cidade moderna que me alvoraçava - era uma voz clara e imensa, feita das vozes de todos os homens que em barcos lavraram o oceano e que, como eu, foram demandar ao desconhecido, na terra e no mar, o mistério que as vidas passadas dos homens, com todas as suas glórias e sofrimentos, não revela; que está algures em nós, e que urge descobrir antes que a morte nos visite....». Muito valioso este apelo de auto-consciencialização espiritual, salvífica, ou seja, iluminadora para agora e para a vida depois da morte... 

9 - Pérolas verdes do mar Japonês, as ilhas de Amasuka, a sul da península de Shimabara, tiveram em vários locais interacções com os missionários portugueses, destacando-se  o P. Luís de Almeida , em Kawachinoura,em 1569 baptizando o senhor feudal de Amasuka; o P. Francisco Cabral em Hondo, em 1571;  e o P. Luís Fróis assinalando «a piedade e devoção dos senhores de Amakusa, D. Miguel (Amakusa Hisatane) e seu filho e herdeiro D. João (Akusa Tanemoto) na sua História do Japão, onde menciona terem havido 30 igrejas, em 1582.

Todavia o mais valioso do encontro foi a introdução da tipografia através de caracteres móveis, saindo dos prelos em Kazusa, em 1591 Sanctos no Gosayu, uma vida de santos, baseada no Flos Sanctorum. Com a perseguição de Hideyoshi a imprensa foi levada em 1592 para Amakusa onde um resumo da obra de Frei Luís da Granada foi impresso em 1592, Fides no Doxi (em cima), o Dictionarium Latino Lusitanium ac Japonicum, em 1595, e uma versão da Imitação de Cristo, em 1596. Em 1597 foi levada para Nagasaki onde laborou até 1611. No total sobreviveram até aos nossos dias vinte nove livros, entre eles destacaremos ainda as Fábulas, de Esopo, Esopu no Fabulas, da qual vemos o frontispício: 

Armando Martins Janeira afirmará reconhecido o trabalho linguístico:  «o trabalho realizado foi notável. Pela primeira vez a língua japonesa foi transvertida em caracteres latinos, com uma perícia que ainda hoje é louvada», mas será em Hondo, numa colina que se erguerá um museu com objectos da época, e se ajuntarão algumas pedras tumulares num cemitério, onde pontifica uma imagem branca de Maria e um baixo relevo em bronze de Luís de Almeida. E conclui com bela  sensibilidade reminiscente:«cada porto evoca perfis de caravelas balouçando na brisa; cada enseada ecoa ainda de vozes lusitanas alvoraçadas pela vista da terra, em busca de um gesto amigo.»

                                    

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

"As Cidades", do encontro luso-nipónico, no livro "Figuras de Silêncio, de Armando Martins Janeira. Breve resumo, 1ª parte.

                                                      

Em "As Cidades", a II parte das Figuras de Silêncio.  A Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje, obra publicada em Lisboa, em 1981, e que já abordámos a I parte, "O Passado e o Presente",  Armando Martins Janeira  descreve as raízes históricas das interacções realizadas após a segunda grande Guerra em treze localidades marcadas pelo encontro luso-nipónico: Tanegashima, Kagoshima, Hirado, Sakai, Kyoto, Yamaguchi, Oita, Yokoseura, ilhas de Amasuka, Nagasaki, Sendai, Kobe e Tokushima, narrando e ilustrando fotograficamente bem os acontecimentos e as personagens importantes do diálogo, partilhando ainda os seus sentimentos e intuições.  Passemos numa breve visita pelas seis primeiras, seguindo os títulos e as informações de Armando Martins Janeira: 

1ª - A pequena ilha japonesa onde os "bárbaros" portugueses aportaram a primeira vez, Tanegashina, em 28 de Setembro de 1543, segundo Teppo-Ki, a Crónica da Espingarda, escrita 60 anos depois, pois tal foi o que mais apreciaram, e passaram a utilizar, além da satsuma imo, a batata doce. É em Nishimo Omote, a capital da ilha, que fica perto da grande ilha de Kiusho, que se realizam festividades anuais em homenagem a Fernão Mendes Pinto e à sua amada Wakasa de que há uma bela lenda, tendo sido erguidos alguns monumentos aos navegadores portugueses, um deles inaugurado por Armando Martins Janeira (na fotografia em baixo), que discursou, participando depois numa pequena missa celebrada com grande unção mística, mas à qual resistiu o comungar, redimindo-se depois numa breve mas vibrante alocução  sobre a fraternidade universal ao pequeno núcleo de fiéis, descendentes  dos antigos tão perseguidos.

 2ª - Maus começos do Cristianismo no Japão, a cidade de Kagoshima, extremo sudoeste da ilha de Kiushu, capital do antigo feudo de Satsuma, onde Francisco Xavier  desembarca em 15 de Agosto de 1549, com o padre Cosmes Torres e um japonês nativo da cidade, Yajiro ou Paulo de Santa Fé, e ficam um ano a doutrinar e converter, mas poucos conseguiram, cerca de cem, já que a oposição dos monges budistas foi sempre forte,  levando  Xavier e os jesuítas a desistirem e preferirem Hirado, Funai e Kyoto. Mesmo o P. Luís de Almeida, médico, sábio e que falava japonês, em 1582, acabou por pouco tempo poder pregar.

                                    
 
 3ª Uma segunda Sodoma, Hirado, pequena ilha ao norte de Kiusho e da sua capital, recebeu desde 1550 barcos portugueses e missionários, tal como duas vezes Francisco Xavier, e sobretudo o padre Baltasar Gago, mas como narra Armando Martins Janeira «o excesso de zelo dos cristão lavou-os a queimar vários templos budistas e xintoístas, o que provocou grande comoção entre os pagãos. Pouco depois a hostilidade dos bonzos moveu o ânimo do senhor feudal e da população contra os missionários, que tiveram de fugir, em 1559. A igreja foi destruída». Hirado sendo um bom porto atraiu ainda espanhóis, holandeses e ingleses, tornando-se no dizer de uma testemunha europeia, uma segunda Sodoma, acabando por serem os holandeses os que ficaram numa feitoria junto ao mar, celebrando mesmo uma missa de acção de graças quando souberam que os portugueses tinham sido expulsos do Japão em 1639. 

- A Cidade do Chá e da Cruz, Sakai, o principal porto de então para o comércio com a China e a Coreia, junto a Osaka. Os portugueses estiveram nela desde 1551 e conseguiram por cerca de 60 anos manter a igreja, a  residência dos jesuítas e um grande cruz, que o Padre Luís Fróis, diz que se "vê do mar longe" e, nas suas limitações ideológicas do eurocentrismo católico que «é a primeira bandeira de Cristo que naquela populosa cidade se tem contra o Demónio arvorada entre quatro mosteiros de bonzos que a cercam» ficando «até ao decreto de expulsão de 14 de Fevereiro de 1614, onze dias após o qual foram obrigados a emigrar para as outras partes do Japão, especialmente Nagasaki». O padre João Rodrigues descreveu muito bem as características de Sakai, nomeadamente a arte do chá e a sua cerimónia o cha-no-yu. Contudo, dado que nem o P. João Rodrigues, nem depois Wenceslau de Moraes, a descreveram bem, Armando Martins Janeira narra-a com todos os detalhes, na pequena casa de chá chaseki, no recanto dum jardim particular citadino, sob um haiku (poema de três frases) caligrafado num kakemono, ou seja, num rolo tela pendurado: «Sobre a cerejeira que começa a florescer/ Um velho rouxinol/ trila o seu último canto»... 

5 - Os Bárbaros em Kioto, capital imperial e uma das mais famosas cidades do Mundo. Depois de elogiar esta maravilhosa cidade, com os seus três mil templos e santuários, que também a mim muito me tocou quando nela permaneci dezassete dias em 2011, lembrando que ao contrário de Portugal, «muito dos esplêndidos palácios e templos de madeira arderam mais de uma vez, mas foram reconstruídos exactamente no mesmo lugar, com a mesma traça, reproduzindo escrupulosamente o modelo», relembra como Francisco Xavier queria evangelizar a capital, mas apenas conseguiu ficar 11 dias,  e os sucessivos sacerdotes que por lá passaram ou estiveram, sobretudo na época de protecção de Nobunaga pouco conseguiram converter. E se celebraram a 1ª missa numa uma bela igreja a 15-VIII-1576, um década depois por ordem de Hideyoshi, foi destruída. Em 1605, graças à autorização do do xógun Tokugawa Ieysau estava erguida outra grande igreja, comentando bem comparativamente Armando Martins Janeira: «Pode imaginar-se quão surpreendente seria o facto de uma missa - e mais tarde lustrosas procissões - celebrada então em Kioto, por ocidentais rezando e cantando em latim e português, se se pensar o espanto que causaria uma cerimónia budista celebrada num templo budista que houvesse sido construído por japoneses na Lisboa dos começos do séc. XVII. Os habitantes de Kioto observavam estes espectáculos com curiosidade e espanto». Em Fevereiro de 1614 deu-se a fatal ordem de expulsão, para Macau, via Nagasaki, embora cerca de cinquenta religiosos tivessem ficado na clandestinidade. Afirma ainda, talvez algo idealizadamente:«Os Jesuítas fundaram em Kioto uma Academia das Ciências, a que pertenceram alguns dos maiores intelectuais japoneses da época, da qual nada se sabe hoje das actividades que desenvolveu; deveria ter sido um pequeno centro de intercâmbio de ideias da cultura ocidental e nipónica», e partilha depois as vivências dos templos e santuários, jardins e maikos, que tanto o encantaram, ou ainda as reminiscências  da passagem lusa, concluindo excelentemente: «É em Kioto, nos seus templos e nos seus jardins, nas suas canções e nas suas mulheres, as mais belas do império, que vive ainda o espírito do Nippon, Yamato damashii, a verdadeira alma japonesa. E tê-la conhecido profundamente é uma felicidade inefável que fica na nossa alma, como sob a água que no rio corre, invisível, uma pedra rara.»

6ª - Primeiros êxitos do Cristianismo no Japão, Yamaguchi, na ponta noroeste de Honshu, a principal ilha do Japão, foi visitada por Francisco Xavier por duas vezes, tendo conseguido em 1551 converter cerca de 500 pessoas, segundo uma sua carta, após muitos dias de disputas  longas que aconteciam no fim das pregações. As guerra civis levaram às destruições das igrejas e residências jesuíticas, com reconstruções em 1586, e a expulsão final em 1602. Embora haja desde 1952 uma catedral dedicada a S. Francisco Xavier, Armando Martins Janeira conclui o capítulo com sentido crítico comparativo desassombrado:«Mais tarde a igreja e as casas de Yamaguchi eram dadas a um bonzo para as suas devoções budistas. Mais uma vez a força das crenças tradicionais vence a religião estrangeira. Xavier, fanático no seu zelo evangélico, incitava à destruição de muitos templos nipónicos e das imagens religiosas, no Japão, como já fizera na Índia, onde encorajara os rapazes a destruírem os ídolos. Esta intolerância contribui em grande parte para a hostilidade dos bonzos e foi uma das principais causas da expulsão dos Portugueses do Japão.» Sobreviveram contudo alguns kakure kirishitan, cristãos clandestinos (ainda assim cerca de 30.000 no final do séc. XIX), e os seus objectos de culto, ou não fossem estes também arte bela e inspiradora, a ser preservada na grande diversidade do género humano, fraterna, ecuménica, tanto mais que a Divindade primordial se pode manifestar em diversas formas segundo a fé dos crentes, conhecedores e amantes...

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Awakening to God, from the dream world, by Bô Yin Râ, in the book "More Light" , "Mehr Licht.


We are going to share from Bô Yin Râ a synthesis of the introduction and 1º chapter of the book Mehr Licht, More Light,  done in order to make available the excellent teachings from this book, and also to generate more right striving or sadhana, and, who knows, also some dialogue...

Part 1: Prologue and Introduction.

Bô Yin Râ afirms himself to be one of the few persons in human history that have achieved a perfect transmission of their eternal being with the substance of human feelings in human language, indeed a most profound realization that should make the people to be more aware, when reading his works, that the inner feelings that we can experience should direct and reunite us with the spiritual being.
And so his words can be said to be the ones who shall not pass, and will be perpetual lights on the path...

In certain way,Bô Yin Râ asks us,  his books readers, to have contact not with parts of his teaching, with ideas or doctrines, but to have communion with is spiritual life, with himself, the spiritual man.
He is in fact not trying to give informations but mostly to create in the readers a inner state of peace and receptivity that will lead them to become more united with the Spirit.
He is not trying to be accepted but mostly to make people cut asunder the darkness over them, and so reach a inner peace from which they will see better what should come from the spirit, from the spiritual world.
He speaks as a master, or sat guru (true master), or as Jesus, when, for example, he said: "unless you come through me, it will be quite impossible to reach the Divine realization, or the communion with the Father."
                                                 
 Bô Yin Râ also discards the idea of some readers that it would be much better to meet him physically, because in fact the inner deep transmission of the substantial spirit alive in him needs to be with the minimum possible of brain oscilations coming from others, and that state of inner concentration is indeed difficult to achieve when mixed with people physically. 
So, in a certain way, he prefers to write, and in the perfect form, as the few ones have achieved in human history. And about the ways to know the mysteries of spiritual life he is not giving doctrines but more different perspectives, in new images about them, and in order to create a inner state of peace and receptivity to them, allowing people to arrive to experience their eternal spiritual being.
And so we have the bright whole of all his 32 books, written until 1936, called Hortus Conclusus, to read, meditate and live, and some eight more, out of the teaching but also very good ones...
In Mehr Licht, More Light, first chapter, "For the Ones who  become tired of Sleeping", Bô Yin Râ gives a dramatic vision of Mankind, so much lost in dreams that if there was not a few awakened persons, people would loose themselves, like a dream in the universal consciousness, something so much more true in the third decade of the XXI century with so much scary brainwashing, internet alienation or even agnosticism about the spiritual self going on...
Consequently Bô Yin Râ asks us to go beyond cerebral knowledge and belief, and seek to discover deep within us the precious gem that will show us that once realized state, when we were both conscious spiritual beings and united to God, indeed, as people is so much lost in unimportant informations, a difficult or challenging task for anyone in our busy days...
People need really to be awakened from their dreams, even if they have theirs saviours and reedemers that they believe, worship and follow, but only superficially, as there is only one saviour in all the saved ones, and this One has to be born in each one of us.
Everyone has to perfect in himself the "Son of Man", the awakened spiritual eternal Being...
So Bô Yin Râ  wishes our awakening and expresses that with strong words and make us feel the need of entering in the inner silence, a condition of acess to the spiritual level of reality, as it is at that level that is possible to happen the birth of the Living God in us.
Many people have created by thoughts their ideas of God and they become enslaved to them, like an "intellectual fetisch" and so they can't see and experience the true or living God, that should be born in themselves. 
Truly, the Divine Reality is beyond the different conceptions and names of God but, anyway, any answer of a God, be Him-Her called in the prayers Brahma, Allah, Father, Lord, Savior, Christ or Buddha, comes from that Divine Primordial Being...
The path to the union with the living God is not easy, as we have surrendered many forces to our idols and dreams and so it is not easy to listen to the Word of God in us.
Although many times in his books Bô Yin Râ has warned that the thoughts are not conductive to the realization, that the intellectual knowledge can be even a difficulty in the path of realization, in this process of awakening from the dreams and becoming free from the powerful powers of idols, beings and conceptions that retain mankind, Bô Yin Râ says that, indeed, thoughts and belief or confidence are also very real and powerful forces, if used or done with consciousness and capacity of a single purpose, in a way that we can control the obstacles and become free from their dominion, and he says it in a lovely way, as we can see now in the original:
«In unserer Zeit ward euch oft gesagt, daß Gedanken „Dinge” seien, „wirklich”, wie die greifbare „Wirklichkeit” der Dinge dieser Erde, doch ich sage euch, eure Gedanken sind wahrhaftig mehr als die „Dinge” dieser Erde, - sind Kräfte: - einzielige Bewußtheiten, denen nichts auf dieser Erde zu vergleichen ist, - erfüllt mit gierigem Lebenswillen, dem ihr durch euer Denken Nahrung schafft!»
And also Bô Yin Râ considers that our Gods, or our conceptions of them, have been formed since so long time, that to think and say now that "God is death"  it is of no avail or value.
                                                                  
It will take a long time to change these patterns of thought and images, as they don't go just by saying "God is death".  So, for example, if now, as spiritual disciples, we seek the living God, how many times, days, years do we have to work to renounce to the dreams of this world or to the will of ever knowing (sometimes just curiosity, so well explored by media...) and be in deep peace, stability and inner receptivity?
 Bô Yin Râ says that most of our night dreams are just reflexions of day life and that we must awaken from the ilusion of the dreams. But he says also that they (dreams) are more near the real awakened life than the normal day life, as sometimes they reflect the subtle worlds...
Still we must go beyond dreams, of the night, in sleeping, or of the wrong conceptions of God, and for that we must really develop a strong aspiration for liberation, for freedom, for spiritual awakening...
Erwachen der seele. Awakening of the soul
 Another prison or cage where we stay is the one of the satisfaction for what we know intellectually and also the pleasure of  wanting or going to know more intellectually...
This wanting to know more, this enslavement to the thoughts and theirs idols, in a never ending aprehension of informations, is really a great obstacle for having contact with the eternal Reality that asks you to renounce to that knowdlege, either in dreams either in factual life, although you have to live with some knowledge. Only with that renouncement or detachment the eternal and real Spirit can be born in each one as the living God. 
Hard truth in our days of so, so, much information available and luring us....
Until this renaissance of God in us happens, we are subject to illusions, errors, manipulations, and so the must important energy and quality to be developed is the will to awaken, to get out of colective dreams that control so much everyone that is not awakened. And that state of subjection in our days has become increasingly manipulated by a few rich ones and their politicians, corporations and media...
These colective dreams originate from religions, science, politicians, media, new age groups, all with their many times false claims, and can't give us answers to our deeper questions, as  we must discover these ones by your own awakening and intuition and by becoming that spiritually, and not just by thinking or believing or listening in the news...
in order to achieve that process we need really to strive much time to empty ourselves and let there be silence and space for the eternal spirit to rise and shine in our inner being...
Then, when your third eye begins to open, then only you will see the signs and wonders of the spiritual world, but still the  important is to aspire and strive to awaken from the dreams of others with all your will, and have patient, as the spiritual world is not something to bargain, nor to reach by strange pratices, but asks the price of long persistent devotion, discipline and striving to the higher, before the helpers or guides can also be felt and stimulate the inner spiritual awakening and the opening of the doors of the Temple....
May we reach these blessed levels...

domingo, 3 de outubro de 2021

Maria De Fátima Silva: Angelis, exposição de pintura e desenhos, no REM, Atelier Espaço Arte, Porto. Setembro-Outubro 2021.


No REM, Atelier, Espaço Arte, à rua Miguel Bombarda, Porto, no âmbito das  Inaugurações Simultâneas, a 25 de Setembro, ficou patente  a exposição de pintura e desenhos de Maria De Fátima Silva, intitulada Angelis, que decorreu bem e com bastante gente a contemplar as belas pinturas, por vezes bem enigmáticas.
Conhecendo-nos já há alguns anos, dialogando com regularidade e tendo escrito apresentações de algumas das suas exposições, a Fátima pediu-me que escrevesse umas linhas para o catálogo da exposição, que se materializou de forma bela e simples, e que reproduzimos:
                            
 O texto é pequeno para o tema, mas pode ser que noutra exposição venha a ter maior amplidão, e neste caso concentrei-me sobretudo no local que foi a fonte das inspirações que intensificaram  o processo criativo e rasgaram e abriram os veios de formas e imagens, ideias e aspirações, cores e movimentos que desabrocharam da anima mundi a qual, numa igreja com tanta história, e face a uma alma tão receptiva e luminosa, a infundiu com a bela fecundidade que as imagens testemunham...
 Leiamos então o texto, e que ele possa inspirar algumas pessoas do Porto a visitarem a exposição...
  «Se o cruzamento de dados informativos é nos nossos dias estonteante, as visitações ao passado intensificam ainda tal desafio, sobretudo se a alma investigadora, historiadora ou artística está munida da necessária sensibilidade, gnose, intuição e paciência para poder sondar os muitos tempos, espaços e seres históricos ou subtis que se cruzam com ela, ou a que ela pode ter acesso.
É o caso da Maria De Fátima Silva que, amadurecida pelas suas criações e exposições sobre Atlantis, Mitos e Lendas e sobretudo o Amor de Inês de Castro e Dom Pedro, resolveu embrenhar-se numa mítica caverna platónica, no útero da terra, mais concretamente numa capela antiga, e expôs-se às múltiplas vibrações que se vieram a plasmar em sonhos, imagens e ideias e materializar nas telas em cores e formas, ora claras ora misteriosas e que tanto nos encantam
como desafiam.
No concelho Mafra, a capela de Fanga da Fé, restaurada após o terramoto de 1755, encerra memórias tanto orais como materiais, e além dum 1º registo de 1220, admite-se terem-se celebrado missas  pela alma de Inês de Castro, pois foi de D. Afonso IV e D. Beatriz, e que um dos intermediários da Divindade invocados num retábulo de altar lateral era S. Miguel e Almas, tendo mesmo havido Irmandade. Esta conjugação de entidades a que particularmente se tem dedicado a Maria De Fátima levaram-na a gerar um conjunto de pinturas denominadas Angelis, Anjos, nas quais estas misteriosas mas reais, ainda que subtis, entidades nos surgem de diferentes modos e invocações: inesianas, locais, actuais e dos simples Anjos da Guarda aos Arcanjos, e que nestas janelas e altares que são as suas tão dinâmicas telas, serão por cada um dos visitantes, vistas e contempladas, sentidas e assimiladas pessoalmente...
Resta-nos destacar a harmoniosa conjunção dos opostos nos temas e nas cores, no humano e no angélico, e desejar que quem contemple mais demoradamente estas poderosas e por vezes enigmáticas pinturas possa adivinhar e sentir o sagrado, as ligações entre a Terra e o Céu que elas partilham e ter mesmo alguma intuição ou experiência unitiva com o que ou quem está evocado e invocado, e que a Maria De Fátima durante cerca de dois meses bem viveu e trabalhou in loco. Que os anjos e mestres nos inspirem...

sábado, 2 de outubro de 2021

Bô Yin Râ. Orações para a refeição, o findar do dia, e na alegria. Tradução do livro "Das Gebet", por Pedro Teixeira da Mota.

       Ao sustentar o corpo

         I

Graças ao Gerador 

Pelo gerado!-

Abençoada seja a comida,

Consagrada seja a bebida

Ao Amor eterno Primordial.

II

Presente da Terra,

Preserva na Terra

O que lhe pertence!-

Torna-te bênção

Para a vida encarnada.

               III

 Força da vida!

Produz o milagre: 

Transforma,

O que eu aniquilo,

O que tenho de destruir

Para me sustentar,

Em sábia força de vontade.

  *  * *

Ao Findar do Dia.


 Oh Felicidade da Paz!

Felicidade do silêncio!

Felicidade da noite! 

 

Após o labor do dia,

Os ruídos do dia,

A pressão do dia,

Agora fatigada,

Aspira a alma

E o corpo

A descansarem por fim,

A libertarem-se das ressonâncias,

A libertarem-se da agitação.

 

Agora está completado

O trabalho terrestre!

 

Alma!

Regressa a ti mesma!

Aprende

A esquecer agora o corpo!

Deixa-o

Descansar na sua cama!

 

Nobre custódia de santos guardiões

Protegei-o do Mal. 

 

Mas tu, -

Alma, - 

Reza

No entretanto!

***    ***

Na  Felicidade!

Livre!

 

Liberto

De questões absorventes!

 

 Liberto

De desejos agitados!

 

Assim liberto,

Eu quero

Ser senhor

De ti, -

Quero

Dominar,

A ti,

Minha felicidade!

 

Graças a quem

te

me enviou!

Graças a quem,

A mim

Te permite modelar!

 

Embora - servir -

Não quero eu

A ti.

 

Se  me queres

 Escravo,

Então terás 

De deixar-me, --

Já que eu quero 

Ser livre

Mesmo de ti!

 ****    ******

Pinturas de Bô Yin Râ