domingo, 3 de outubro de 2021

Maria De Fátima Silva: Angelis, exposição de pintura e desenhos, no REM, Atelier Espaço Arte, Porto. Setembro-Outubro 2021.


No REM, Atelier, Espaço Arte, à rua Miguel Bombarda, Porto, no âmbito das  Inaugurações Simultâneas, a 25 de Setembro, ficou patente  a exposição de pintura e desenhos de Maria De Fátima Silva, intitulada Angelis, que decorreu bem e com bastante gente a contemplar as belas pinturas, por vezes bem enigmáticas.
Conhecendo-nos já há alguns anos, dialogando com regularidade e tendo escrito apresentações de algumas das suas exposições, a Fátima pediu-me que escrevesse umas linhas para o catálogo da exposição, que se materializou de forma bela e simples, e que reproduzimos:
                            
 O texto é pequeno para o tema, mas pode ser que noutra exposição venha a ter maior amplidão, e neste caso concentrei-me sobretudo no local que foi a fonte das inspirações que intensificaram  o processo criativo e rasgaram e abriram os veios de formas e imagens, ideias e aspirações, cores e movimentos que desabrocharam da anima mundi a qual, numa igreja com tanta história, e face a uma alma tão receptiva e luminosa, a infundiu com a bela fecundidade que as imagens testemunham...
 Leiamos então o texto, e que ele possa inspirar algumas pessoas do Porto a visitarem a exposição...
  «Se o cruzamento de dados informativos é nos nossos dias estonteante, as visitações ao passado intensificam ainda tal desafio, sobretudo se a alma investigadora, historiadora ou artística está munida da necessária sensibilidade, gnose, intuição e paciência para poder sondar os muitos tempos, espaços e seres históricos ou subtis que se cruzam com ela, ou a que ela pode ter acesso.
É o caso da Maria De Fátima Silva que, amadurecida pelas suas criações e exposições sobre Atlantis, Mitos e Lendas e sobretudo o Amor de Inês de Castro e Dom Pedro, resolveu embrenhar-se numa mítica caverna platónica, no útero da terra, mais concretamente numa capela antiga, e expôs-se às múltiplas vibrações que se vieram a plasmar em sonhos, imagens e ideias e materializar nas telas em cores e formas, ora claras ora misteriosas e que tanto nos encantam
como desafiam.
No concelho Mafra, a capela de Fanga da Fé, restaurada após o terramoto de 1755, encerra memórias tanto orais como materiais, e além dum 1º registo de 1220, admite-se terem-se celebrado missas  pela alma de Inês de Castro, pois foi de D. Afonso IV e D. Beatriz, e que um dos intermediários da Divindade invocados num retábulo de altar lateral era S. Miguel e Almas, tendo mesmo havido Irmandade. Esta conjugação de entidades a que particularmente se tem dedicado a Maria De Fátima levaram-na a gerar um conjunto de pinturas denominadas Angelis, Anjos, nas quais estas misteriosas mas reais, ainda que subtis, entidades nos surgem de diferentes modos e invocações: inesianas, locais, actuais e dos simples Anjos da Guarda aos Arcanjos, e que nestas janelas e altares que são as suas tão dinâmicas telas, serão por cada um dos visitantes, vistas e contempladas, sentidas e assimiladas pessoalmente...
Resta-nos destacar a harmoniosa conjunção dos opostos nos temas e nas cores, no humano e no angélico, e desejar que quem contemple mais demoradamente estas poderosas e por vezes enigmáticas pinturas possa adivinhar e sentir o sagrado, as ligações entre a Terra e o Céu que elas partilham e ter mesmo alguma intuição ou experiência unitiva com o que ou quem está evocado e invocado, e que a Maria De Fátima durante cerca de dois meses bem viveu e trabalhou in loco. Que os anjos e mestres nos inspirem...

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