quarta-feira, 31 de julho de 2024

Em actualização! Consequências do assassinato do líder da resistência Palestiniana, Ismail Haniyeh, na capital do Irão?

Horas depois deste fraterno e confiante  apertar da mão do novo presidente do Irão, o cirurgião Masoud Pezeshkian, cumprimentando-o pela sua eleição democrática,  o líder da resistência palestiniana Ismail Haniyeh era assassinado na própria capital do Irão, numa traiçoeira provocação tremenda, já que sendo ele o mediador da Palestina com Israel nas negociações no Qatar, podia ter sido morto aí mais facilmente, embora incorrendo no (mero) desagrado do governo do Qatar. O já tão desequilibrado Netanyahu errou?

Imagem icónica do 1º imam Ali amparando o general Soleimani, um shia, na transição para o mundo espiritual....

O recente assassinato de Ismail Haniyeh, o líder do Hamas e da resistência do povo Palestiniano ao genocídio praticado há muito pelo Estado de Israel, quando estava na capital do Irão, como um dos convidado das 110 delegações estrangeiras para a tomada de posse do presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, perpetrado por Israel pela calada da noite, vem mais uma vez demonstrar a arrogância e criminalidade do excepcionalismo sionista de Israel, e por detrás, do imperialista norte-americano, de pensarem que têm o direito de assassinaram quem quiserem, tal como sucedera há quatro anos e meio com o heróico General iraniano Soleimani, assassinado cobardemente por mísseis americanos quando chegara ao Iraque para negociar a paz, algo que Ismail Haniyeh estava a tentar também no Qatar com o próprio Israel. Por aqui se vê a falta de ética, a cobardia traiçoeira dos implicados, que já tinham matado ou assassinado vários membros da sua família, entre os quais três filhos, sobrevivendo contudo uma filha e um filho que já testemunharam com valor a sua determinação de continuarem luta por um Estado independente da Palestina...
                                                                      
A reacção do Irão será muito contida, em sincronia com o que um dos tolos da União Europeia e avençados do Fórum Económico Mundial, Olaf Scholz, pediu, ao levantar agora a voz em prol da paz, algo que nunca fizera para com o assassino de milhares de crianças e mulheres palestinianas, o diabolizado Benjamim Netanyahu, ou pelo contrário desta vez a resposta da Pérsia-Irão será mais abrangente, eficaz e poderosa, tal a dimensão da provocação de irem assassinar um convidado e herói em sua capital e casa?
O líder supremo da República Islâmica do Irão Ayatollah Ali Khamenei
já declarou que «o regime sionista criminoso e terrorista martirizou o nosso querido hóspede na nossa casa e isso perturbou-nos», pelo que temos o dever de o vingar «com uma punição severa», justa certamente, uma lição que não esqueçam e com a qual possam aprender, arrepender-se, melhorar. Acrescente-se que dois dias depois as autoridades iranianas anunciaram que houve colaboração e luz verde dos norte-americanos, e que se ao principio disseram que de nada sabiam, agora calaram-se e entretanto vão fazendo chegar mais armamento para Israel...
Conjectura-se, numa certa
inquietação geral pois é grande a tensão na zona, que os mísseis e drones do Irão tentarão destruir locais importantes das forças armadas do regime sionista de Israel, e não hospitais, escolas, universidades, mesquitas como os militares israelitas, por vezes com requintes de sadismo, têm feito na que já foi a Terra Santa. Outra interrogação é quanto aos estados da região que apesar do revoltante genocídio da Palestina por Israel, irão apoiá-lo, e no caso o Egipto e Jordânia muito dependentes do dólar da oligarquia....

Já no dia 3 de Agosto, o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, (IRGC) anunciou resultados das investigações: o assassinato de Heyhani, com luz verde dos USA, foi realizado por um projéctil, com explosivo de sete quilos, de uma arma de curto alcance, e de perto da casa onde Ismail pernoitava. Também o Pentágono, a 3, confirmou o envio de navios, e numerosos aviões e armamentos para Israel, enquanto se aguarda neste jogo de xadrez a resposta do Irão, que desta vez não será pré-anunciada, tal como tinham feito em Abril em relação ao último assassinato importante que tinham sofrido.

Consta que para além do menosprezo racial, por serem o povo eleito do seu Jeová, há muita ganância pelos jazigos marítimos diante da faixa de Gaza...
 Haverá perigo de apenas alastrar por uns dias o bombardeamento, pouco passando além das escaramuças já habituais na zona, ainda que agora mais tensa após os últimos assassinatos selectivos, ou conseguirão Netanyahu e os seus mais próximos extremistas, como há tanto tempo desejam e têm provocado com os diversos assassinatos, lançar alguma bomba nuclear sobre o Irão, pela rivalidade geo-política e porque invejosos que há muito são da reconhecida excelência hospitaleira do seu povo, e da suas riquezas naturais e civilizacionais, e odiando a sua resistência ao sionismo e à oligarquia imperialista?
                                             
Quanto ao envolvimento de paí
ses terceiros é provável, pois já se sabe que USA e Israel estão intimamente ligados entre si pelo dólar e o excepcionalismo do império oligárquico que lideram, pelo que Israel conta com o apoio incondicional norte-americano, como se viu recentemente no escandaloso acolhimento no Congresso dos USA do desalmado Netanyahu, mesmo com a "cabeça a prémio" pelo Tribunal Penal Internacional.
                                                             
Dos USA, uns milhares do famigerados marines já se encontram em navios diante do Líbano, para fazerem pressão ao estilo "nós também vos podemos bombardear", enquanto as embaixadas europeias mandam os seus compatriotas saírem do Líbano e Irão, e algumas companhias deixam de voar para a zona quente.
Do regime frequentemente traiçoeiro da Arábia Saudita, soube-se a 5-VIII que o professor universitário iraquiano Salman Dawood al-Sabawi foi detido por ter publicado numa rede social, quando estava na circumbalação da pedra negra na Kaaba, que oferecia a sua peregrinação a Meca, ou os seus méritos, pela alma do líder e mediador assassinado Ismail Haniyeh.
 Já do lado do Irão os responsáveis vão proclamando que Israel calculou mal, o que os chefes israelitas negam, dizendo-se preparados para tudo (e o abrigo anti-nuclear em Jerusalém já está pronto para Netanyahu e os seus), e que a resposta ao assassinato será forte. Vejamos o que sai desta montanha vulcânica...
Quanto a Rússia apoiar de algum modo o Irão, ocupada que está com a limpeza dos extremistas ucranianos, ou a China, mais neutra e ambivalente como a grande potência económica mundial, muita gente duvida, mas se USA, NATO e UE apoiam quase incondicionalmente o genocida Netnayahu porque não poderá a Rússia apoiar ao Irão, se são aliados na resistência à opressão ocidental? A 5-VIII, esta aliança é reafirmada com a chegada do general Sergei Shoigu, agora Secretário do Conselho de Segurança da Rússia, a Teerão para conversações com os responsáveis iranianos. Um sinal de que o Irão não está tão à mercê do Império oligárquico neoliberal e as suas máquinas de guerra caríssimas
 Teremos de deixar passar uns dias para, após o funeral de Estado que o Irão está a celebrar por mais um mujahedin ou mártir (ainda que certamente tido como um terrorista por Israel), e agora 5-VIII já há dias concluído, para vermos e sabermos melhor o que Ananke, o Fatum, a Providência, o Karma e o Dharma, intervencionados pelos humanos e suas emoções e ideias em conflito, vão gerar.
                                                               
Mistérios do devir. Será que a espada pode cortar o mal? Será que desta vez é que os israelitas, que mais uma vez mostraram a sua hipocrisia de fingirem que querem negociar a paz na Palestina, receberão a sua lição, tal a gravidade do seu acto traiçoeiro e provocatório do Irão, tanto mais que pelo lado da opinião pública estão cada vez mais desmascarados como os mais sinistros e traiçoeiros na cena mundial?
E se nos interrogarmos sobre quem invisivelmente apoiará os mártires palestinianos e quem estará ao lado dos diabólicos dirigentes e militares israelitas não parece haver dúvidas: Jesus, mais uma vez, envergonha-se de Israel...
                                                                          
Face a estado civilizacional tão violento e hip
ócrita do Ocidente político escravizado pela oligarquia sionista e imperialista, só podemos pronunciar a Oração pela dignidade Humana, como o fez tão exemplarmente Pico della Mirandola, no que foi considerado o manifesto do Humanismo, tão necessário nos nossos tempos de transhumanismo-infrahumanista do Fórum Económico Mundial, União Europeia e Organização Mundial de Saúde, para que os bombardeamentos e guerra não alastrem nem durem muito e possa terminar a opressão sionista na Palestina e a corrupção do dólar no mundo, para a paz, a fraternidade e a prosperidade de novo florescerem...
 
Dia 5 de Agosto, a meio da tarde, o Irão no seu espírito milenário de cavalaria espiritual e shia, anunciou ao ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, como a um país canal ocidental que valorizam, que declarem a Israel que o Irão vai atacá-lo. A decisão gravíssima, e que ninguém pode saber ao que vai levar, foi meditada com calma e discernimento e, lastimando a traição de que eles e os palestinianos foram vítimas, os responsáveis iranianos declaram estarem prontos a sacrificarem-se no seu dever de honra e justiça face à constante criminalidade assassina e genocida do governo israelita de Netanyahu.
Provavelmente a retaliação será na noite de 6 para 7, de terça para quarta, ou certamente quando sentirem que estão o melhr preparados possíveis para o que pode ser o confronto decisivo há muito desejado pelo sionismo, já que o regime de Israel, apoiado pelos norte-americanos, tentará destruir todos os drones e mísseis, mas não satisfeitos com isso nem com as perdas (provavelmente mínimas) humanas, semi-cegos na sua arrogância (hubris) e ódio, vão provavelmente querer ir mais longe do que replicar violenta e criminosamente, como o mundo inteiro passou a saber com o que se tem passado de genocídio e urbanocídio na Palestina. 
Se o fizerem com a ajuda directa de forças militares do imperialismo norte-americano, ou até da sua NATO, o Médio Oriente ficará a ferro e fogo por uns dias, tanto mais que a resistência Iraquiana, e no Líbano o Hezbollah, castigado com tantos assassinatos dos seus comandantes, não ficarão submissos às ameaças israelo-americanas e parados. 
 No decorrer do dia 6 vimos a primeira reação de impaciência de um governador regional mais extremista de Israel:«porque haveremos de estar à espera com medo da retaliação e não fazemos antes um ataque preventivo?»
Já o líder do Hezbollah, Nasrallah, na celebração do seu comandante Fuad Shukr assassinado há dias (que os israelitas dizem ter morto em retaliação aos [restos de] foguetes que caíram sobre a terra dos drusos, matando alguns), avisou que  tais crimes não abaterão a resistência palestiniana e libanesa, e que Natanyahu não está interessado na paz mas apenas em anexar brutalmente os territórios da Palestina. Entretanto a preparação das partes beligerantes continua, com mais armamento norte-americano a chegar para o famigerado Netanyahu, tornado Zelensky, e discute-se ainda se a Rússia terá enviado também para o Irão...
A alba rosada do dia 7 vai iluminando a terra e nada de mais gravou se passou no Médio Oriente (para além de mais um plalestinianos mortos, entre os quais um jornalista, o 166º, abatido pelos israelos) pois os sábios iranianos têm sustido estoicamente a vontade de fazerem justiça rápida, preparando-se melhor para o enfrentamento que terão forçosamente de cruzar, pois a oligarquia sionista-americana deseja a guerra e quem sabe se não a vai ainda provocar mais. Anote-se contudo, que o braço armado anglo-americano da NATO foi durante a noite bombardear e destruir mais algumas infraestruturas do Yemen, confirmando a sua designação de terrorista, aterrorizadora e traumatizadora, quando não destruidora, das populações locais quando os seus governos não se deixam corromper e escravizar pelo imperialismo oligárquico ocidental....
 Dia 7, pelo meio da tarde do dia sete, para além dos constantes bombardeamentos mortíferos da população civil de Gaza pelo exército israelita, soube-se que o Egipto, informado pelo Irão de que se vão realizar exercícios militares, pediu às suas companhias aéreas para na manhã de quinta-feira não utilizarem o espaço aéreo do Irão, antecipando assim uma hipotética Hora de luta mais intensa e frontal entre Israel e Irão. Vejamos e oremos para que as piores hipóteses do conflito não se verifiquem...
Dia 7 viu também todos os 57 países da OIC, Organização Islâmica da Cooperação, reunidos extraordinariamente em Jadah, Arábia Saudita, darem razão ao Irão declarando que o «odioso acto do poder ocupante ilegal» assassinando Ismail Hanihey «constitui um crime de agressão, uma violação flagrante do direito internacional e da Carta das Nações Unidas e uma grave violação da soberania, da integridade territorial e da segurança nacional da República Islâmica do Irão.» E a Missão Permanente do Irão nas Nações Unidas fez saber que vão tentar fazer Israel arrepender-se dos crimes que fez.
Vê-se que não há uma pressa muito grande na resposta, o que permite tanto o Irão preparar as duas defesas, como também Israel reforçar-se com mais um tipo de aviões bombardeiros norte-americanos topo de gama, os F-16, a chegarem com o respectivo pessoal militar. A luta e a mortandade em Gaza, continuam diariamente...
A 8 houve mais ataques aéreos de Israel no Líbano e na Síria, e o Hezbollah replicou com intensidade, tendo mesmo erguido a bandeira vermelha numa cidade do sul do Líbano, sinalizando a retaliação por causa de mais um comandante morto com um míssil. Não se prevê um cessar-fogo, pois embora USA, Qatar e Egipto apelem as negociações pela Paz, Israel só a partir do dia 15 estará disponível.
Neste mesmo dia 8 as comemorações das vítimas da bomba atómica em Nagasaki, realizadas todos os anos (tal como se fizeram dois dias antes em Hiroshima), não tiveram neste caso os representantes dos USA, UK, G7 e União Europeia, porque o presidente do Município nipónico criticara Israel pelo genocídio, mostrando assim que a equação actual "sionismo=nazismo= império oligárquico ocidental é verdadeira, desvelando a atitude verdadeiramente escandalosa do Ocidente...
A 9 de Agosto o Irão mantém-se sossegado, continuando a manter a decisão de retaliar em breve, e vai reforçando as suas defesas estratégicas, com o major General Hosseim Salami a afirmar: "No mundo de hoje, as nações têm de escolher entre tornarem-se fortes e independentes ou cederem às pressões externas; não há meio-termo. As nações podem ora esforçar-se por terem força e liberdade, libertando-se do controlo dos poderes globalistas, ou optar pelo compromisso e submissão"..o.
A 10 de Agosto sabe-se que as vítimas do último bombardeamento israelita dum escola abrigo em Gaza foram mais de cem, em mais um acto genocida que a opinião mundial condenou, excepto os governantes facínoras cúmplices ocidentais, mas que para Netan ou Satanyahu nada importa, obcecado com a limpeza racial da Palestina e a provocação do Irão o mais cedo possível para a guerra...o
11de Agosto. A peregrinação à cidade santa de Karbala, que começou a realizar-se nestes dias, com participação de milhões de iranianos e de shiaas, certamente um dos povos mais religiosos, foi determinante no adiar da resposta do Irão ao crime diplomático de Israel. E como ela só termina a 25, não devemos esperá-la antes. Talvez seja nesse sentido que o General  Ali Shadmani disse à TASS, por ocasião do Fórum Exército 2024, em Moscovo: «Do ponto de vista do Irão [ao assassinar o presidente do politburo do Hamas, Ismail Haniyeh], o grupo terrorista [israelita] perturbou o equilíbrio de segurança na região. A maioria do mundo não tem nada a dizer, mas um país forte como o Irão terá de retaliar. O método de retaliação foi determinado pelo nosso líder espiritual. Não foi uma escolha fácil, pois há duas forças em jogo neste ambiente - a situação na região e as questões domésticas. Todos os responsáveis políticos chegaram unanimemente à conclusão de que a reação deve ser forte mas medida».
Entretanto Josep Borrel, o chefe da política externa da União Europeia, afirmou corajosamente no X que «enquanto o mundo pressiona para um cessar-fogo em Gaza, Ben-Gvir apela ao corte do combustível e da ajuda aos civis. Tal como as declarações sinistras de Smotrich, trata-se de um incitamento aos crimes de guerra". Eis os dois ministros israelitas de extrema-direita Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, que afirmaram que o «bloqueio é justificado e moral», e portanto também a morte por fome de dois milhões de palestinianos, para não mencionarmos a subnutrição que já afecta para sempre milhares ou milhões de inocentes, e que têm todo o direito a ter o seu Estado independente, livre e seguro.
Já no dia 12, certamente de acordo com Ursula von Orgenesis, o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, fizeram uma declaração europeia onde dizem, hipocritamente, já que não condenaram o traiçoeiro assassinato do líder palestiniano:«Apelamos ao Irão e aos seus aliados para que se abstenham de ataques que possam agravar ainda mais as tensões regionais e comprometer a oportunidade de se chegar a um cessar-fogo e à libertação dos reféns». O desplante deste trio, totalmente avençado ao Fórum Económico Mundial...
  
No dia 13 já se soube a resposta  iraniana a tal pedido de contenção-submissão, através do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Nasser Kanaani: "Se esses países (UK, Alemanha e França) procuram realmente a paz e a estabilidade na região, devem - sem quaisquer reservas - pronunciar-se contra as provocações do regime israelita e as medidas com que ele atiça o conflito, e também fazerem parar imediatamente a guerra contra a Faixa de Gaza e porem fim aos horríveis assassinatos de mulheres, crianças e residentes indefesos da Palestina".
Entretanto Israel já replicou, nas mensagens à potências Ocidentais, extravasando mais uma vez o seu ódio e vontade de guerra total: «Israel informou os Estados Unidos e vários países europeus que a resposta a qualquer ataque direto iraniano contra o país será um ataque em território iraniano, especificando que "qualquer que seja o resultado do ataque [iraniano]", Israel está "determinado a atacar o Irão em resposta", mesmo que o ataque iraniano não resulte em baixas do lado israelita.» Esperemos que não queiram lançar bombas nucleares, e vejamos se algum país ocidental vai pedir contenção ao psicopata diabólico Benjamim Netanyahu...
Dia 15, na continuação da política norte-americana de parceria com Israel tanto com a mortandade na Palestina como nos ataques à Síria e ao Irão, soube-se pela Tass que, dentro da política que mantém há muito de assassinatos selectivos, «Um conselheiro militar do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irão, ferido na Síria durante um ataque aéreo da coligação liderada pelos EUA, morreu no Irão, disse o comandante do IRGC, tenente-general Hossein Salami. “O coronel Ahmadreza Afshari, das Forças de Aconselhamento Aéreo e Espacial do IRGC, que foi transferido para o Irão para receber tratamento médico na sequência de um ataque aéreo das forças da coligação que invadiram a Síria, morreu hoje devido aos ferimentos sofridos no ataque aéreo”»... Mais uma acha para a fogueira... 
  As celebrações do Abar'deen em hontra do sétimo imam Shia Husseim terminaram no dia 26 e os 2 milhões de peregrinos Shia estão já no regresso para as suas casas. As escaramuças e retaliações entre Hezbollah e o Hamas com os militares e colonos sionistas não têm parado, embora de mais grave só tenham acontecido algumas mortandades nos campos de refugiados palestinianos e a destruição à bomba, com profanação do Corão por alguns militares israelitas e filmada, da bela e pluricentenária mesquita de Bani Saleh em Gaza, mais um caso execrável de genocídio cultural e religioso. Aguarda-se agora a qualquer momento a justa lição moderada que o Irão dará a Israel, restando saber qual será a reacção do extremistas sionistas, na sua hubris, desejosos da guerra total...
   Justitia, Lux, Pax, Amor.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Bênçãos Divinas. Invocação, oração, poema.

                                       Bênçãos Divinas
 Tantas formas, actos, monumentos, sentimentos, crenças e graças associados a esta expressão e ideia ao longo dos séculos, no fundo emanações das profundezas e alturas da alma humana e da anima mundi, do espírito e da misteriosa Divindade, em falas e relações subtis mas eficazes na providência e natureza do universo manifest
ado.
Palavras
e gestos, montes e rios, mares e céus, incensos,orações e litanias, ritos e silêncios, poemas, desenhos, pinturas, esculturas, armas, medalhas, ícones,  amuletos, relíquias, peregrinações, visões, intuições, felicidade, tantos modos de expressão criativa das relações luminosas e inspiradoras entre a Divindade, a beleza e o poder divinos, a Terra ou Natureza e a Humanidade, tantos modos de sermos abençoados e abençoarmos.

Pedras e cristais, cascatas e rios,
montanhas e desfiladeiros,
árvores e bosques, ervas e flores,
aves e animais que subitamente cruzamos
e são forças divinas abençoando-nos.

Bênçãos divinas sentidas e invocadas em nós,
nos outros e pelos outros, vivos ou mortos,
abrindo caminhos de luz em raios etéricos e ígneos,
que ora brotam do interior das coisas e seres
ora descem dos mundos distantes e espirituais,
dos seres celestiais e da Divindade.

Bênçãos divinas, tão adoradas e procuradas,
tão aspiradas ou suspiradas no peito e coração.

Chama de amor desejando a comunhão, 
arrependendo-se do egoísmo, erros  medos,
reconhecendo suas limitações e clamando:
- Vinde, ó Bênçãos divinas e purificai-nos!
 
Orar,  meditar, é pedir bênçãos, é irradiar bênçãos,
tal como contemplar arte, ouvir música e canto,
frequentar museu, biblioteca e templo.
 
Mãos juntas no peito e a jaculatória ou mantra:
- Deus, Deus, Deus, a arder no coração,
e, no aprofundamento meditativo, exclamando:
- Ó Deus, vem nascer mais em nós!

Eis orações ao Amor Divino, ao Sol Divino primordial,
para que faça chegar até nós os
seus raios libertadores,
que nos separem do que é limitativo e desadequado,
  nos inflamem na vivência harmoniosa da verdade
e impulsionem para as acções justas e benéficas,
que intensifiquem o fogo do amor no coração
e o discernir do dharma e a coragem de o cumprir.

Bênçãos emanando de tanto livro e objecto das casas,
das fotografias, imagens e bustos dos que veneramos,

Bênçãos brotando dos grandes seres, mestres e anjos,
Bênçãos, partículas do amor Cósmico vivificando-nos,
           Bênçãos, respondendo à nossa invocação e adoração:
             - - Vinde, e inspirai-nos e fortificai-nos,
para melhor abençoarmos os mais necessitados.

E com sabedoria e amor tornar mais presente
a Unidade Divina universal por entre os seres,
tão necessitados de justiça e verdade, paz e harmonia.

Pintura de Nicholai Roerich. Bênçãos sobre o mundo...

domingo, 28 de julho de 2024

"O que é que a Índia nos pode ensinar", de C. G. Jung, 1939. Da evolução dos povos, da natureza não predatória da civilização Indiana, do valor da arte erótica dos templos. Leitura em tradução, em vídeo, e brevemente comentada por Pedro Teixeira da Mota, aquando dos 149 anos de Jung.

O que é que a Índia nos pode ensinar é o título dum texto de Carl Gustav Jung (1875-1961) escrito em 1939 em inglês e  inserido na Psychology and the East, publicada pela Routledge & Kegan Paul em 1978 e a partir das Obras Reunidas de Jung.

Entre os capítulos da obra distinguem-se alguns que já traduzi e comentei em gravação de vídeo, e que encontra no meu canal no youtube, nomeadamente a Psicologia da Meditação Oriental, os Homens Santos da Índia, e agora este O que a Índia nos pode ensinar. Consegui lê-lo em meia hora, infelizmente o tempo limite da minha máquina de fotografia, pelo que fui bastante breve nos comentários, mas ainda assim creio que ficou razoável e compreensível o texto e a leitura comentada, apesar de ainda o ir aprofundar agora por escrito.

 Foi gravado em 28 de julho de 2024, nas comemorações do 149º aniversário do nascimento do notável psicólogo, psicanalista e alquimista do inconsciente, e como tem sempre a mesma imagem de fundo,  pode ouvi-lo enquanto faz algo.

Um livro que deve ser bom...

No texto Jung apresenta algumas das ideias ou conceitos que formulou em contacto com a Índia quando a visitou brevemente uns meses antes em 1938, onde deixa transmite algumas compreensões quanto à evolução das ideias religiosas na Índia, valorizando bastante Budha, um pioneiro revolucionário, afirmando o seu ensinamento de que «o ser humano iluminado é até o redentor e iluminador dos deuses (não a sua negação estúpida, como o iluminismo Ocidental fez)», e passando depois de certo modo a criticar estar a estudar-se muito (então) os textos filosóficos clássicos hindus da Índia  e não tanto os ensinamentos budistas do cânone Pali, mais interessantes e desafiantes.
Em segu
ida lança a sua teoria mais original, mas que não está longe da que Rudolf Steiner alguns anos divulgara também, de que o indiano não pensa mas é pensado pelos seus pensamentos, de certo modo como os primitivos, ou seja recebe os seus pensamentos como resultados de um processo inconsciente. Talvez uma outra analogia explicite isto, segundo o meu sentir: as energias telúricas e do inconsciente e as celestiais do supraconsciente estão mais livres, activas, trabalhads e cultuadas na Índia e em qualquer 
indiano.
Em seguida expende o juízo valorativo talvez mai
s misterioso, já que não o explicita, e que me apanhou de surpresa ao traduzir o texto, pois quase sempre estas gravações são o modo de eu me obrigar a ler um texto, gerando ainda efeitos benéficos para os outros que as possam ouvir.
Escreveu
ele então assim: «o raciocínio primitivo  é sobretudo uma função inconsciente, e ele percebe os seus resultados. Devemos esperar tal peculiaridade de uma civilização que tenha gozado de uma continuidade quase inquebrada desde tempos primitivos.// A nossa civilização ocidental de um nível primitivo foi subitamente interrompida pela invasão de uma psicologia e espiritualidade pertencendo a um muito mais elevado nível de civilização. O nosso caso não foi tão mal como o dos Negros ou os Polinésios, que se encontraram subitamente confrontados com a infinitamente mais levada civilização do homem branco, mas em essência era o mesmo. Nós fomos parados no meio de um ainda bárbaro politeísmo, que foi erradicado ou suprimido no decorrer dos séculos ainda não há muito tempo
Eis-n
os com algumas afirmações algo fortes de Jung, uma das quais nos desafia: De quem era essa invasão de psicologia e espiritualidade bem mais elevadas? Será da Grécia e Roma, e ele então posicionou a mente ocidental como tendo a sua raiz ou centro na Europa central, na Germânia dita bárbara no seu politeísmo? Ou será a cosmovisão Cristã, também muito devedora da Grécia?

Jung, na sua casa e centro, com o busto de Homero...
Eis-nos com algumas questões quando à visão conceptual evolutiva europeia e dos povos, por parte de Jung, e que em seguida adopta uma posição bastante na linha do seus estudos do inconsciente e até humilde em relação à arrogância ocidental: dessa supressão das suas raízes primitivas ainda em desabrochamento, o ocidental ficou traumatizado e volta e meia explode em violência, ou  avança em invenção técnicas auto destrutivas, sendo-lhe necessário então "fazer um curso sério de auto-educação", no que lhe será muito útil o exemplo da Índia, com o seu modo do devir «de civilização sem supressão, sem violência [ahimsa], sem racionalismo [sahaj]», coexistindo nela os seres mais iletrados e meio-nus e os mais elevados intelectualmente, e em que mesmo os primeiros sentem e comungam «dum conhecimento inconsciente das misteriosas verdades» que os outros procuram pelas disciplinas e estudos. Realçará pois no Indiano a visão do Todo e a sua não-fixação nos detalhes infinitesimais, tal como o Ocidental faz, e que portanto o seu conceber, o seu alcançar compreensivo do que quer que seja não é um acto predatório num terreno a conquistar mas antes uma ampliação de visão. E terminará o seu valioso texto com a recomendação de quem viajar à Índia vá contemplar as esculturas eróticas dos templos de Konarak (onde eu estive também em peregrinação e meditação), para desse confronto do seu inconsciente individual com o colectivo e eterno indiano ali expressado tão artisticamente resulte alguma melhoria ou ampliação do seu auto-conhecimento e unificação do Ser.

Boas compreensões e unificações e, se viajar à Índia, aproveite para aprofundar alguns destes aspectos aludidos pelo nosso amigo Carl Gustav Jung. Muita luz e amor divinos nele!

                             

C. G. Jung, "Homens santos da Índia", 1944. (1ª parte.) A sua crítica a Ramana Maharishi.

Tendo lido, traduzindo e comentando, já há cinco anos um valioso artigo de Carl Gustav Jung sobre os sadhus ou homens santos da Índia, em quatro gravações disponíveis no Youtube, e como celebrámos há dias (26.VII) os 149 anos do seu nascimento, resolvi partilhar para o blogue a primeira delas e adicionando a ligação das outras, num total de quase duas horas de audição, o que não será certamente para muitos... https://youtu.be/xnUgq1XKzzA,    https://youtu.be/byyEhzkO2Gw, https://youtu.be/swmp6sVQrhY

Irei ainda (dentro de um ou dois dias) transcrever algumas das linhas mais importantes.

                           

sábado, 27 de julho de 2024

Dois livros sobre os subtis e misteriosos Anjos, avaliados criticamente, de Charles e Frances Hunter, sobre as visões de Roland Buck, e de Sophy Burnham.

Os cinco Arcanjos principais, por Chrispjn van de Passe, o ancião (1564-1637)
                                   
 Charles e Frances Hunter escreveram ANGELS ON ASSIGNMENT. As told by Roland Buck. Kingwood, Hunter Books, 1979, num in-8º 204 páginas, pois em 1978, pouco antes do pregador Roland Buck (1913-1979) abandonar a Terra foram-no visitar e sendo bem acolhidos e tão encantados com as suas histórias que resolveram escrever o livro que, diga-se de passagem, teve bastante sucesso.
                                                                        
A fonte da obra é pois Roland Buck, um
pastor americano que teria recebido uma série de visitações de Anjos, sempre acompanhadas, segundo ele, de forte ambiente sagrado e de proximidade do amor divino pela Humanidade, os quais o foram instruindo dentro de uma linha de cumprimento das profecias do Antigo e do Novo Testamento, com grande realce para o sacrifício expiador de Jesus e a sua presença viva em nós e até mesmo o seu mítico retorno. Nestes sentidos, o Anjo Gabriel ter-lhe-ia dito: «Não procures Anjos. Procura Jesus. Ele é bem maior que qualquer Anjo». Ou ainda que o Espírito Santo monitoriza tudo o que se passa na Terra e que vendo certas forças negativas a dirigirem-se contra ele enviara quatro Anjos guerreiros, um dos quais Gabriel, que lhe explicara mesmo que Satan tem também as suas forças organizadas mas que não são muitas nem muito poderosas, pois não são omnipresentes, não conseguem estar em qualquer lugar de um momento para outro. Assegurou-lhe também que  Satan, não conseguindo ler a mente das pessoas nem prever o futuro, «está extremamente nervoso porque não sabe o que se há-de passar».
Entre os que acompanhavam Gabriel estava Mikael que lhes chega a confessar que estava ansioso que chegasse a hora de cumprir a sua missão de expulsar dos céus Satan e os seus anjos-demónios. 
Eis-nos com alguns exemplos de uma série de belos desejos e imaginações de Roland Buck (na fotografia, com o seu estimado cão), alegremente ou optimisticamente contextualizados e transcritos por Charles e Frances Hunter
Se retirarmos estes encontros angélicos e com diálogos tão ingénuos, mas com alguma criatividade imaginativa, a obra está excessivamente limitada ou reduzida à Bíblia e a Jesus e sabemos bem quão contraditórias e díspares são as descrições dos Anjos nas Escrituras tidas como sagradas ou mesmo reveladas divinamente do Cristianismo, pelo que fazer uma angeologia coerente de tal corpo heterogéneo de referências obriga a grande labor, do qual ao longo dos séculos nasceram alguns tentativas de definições ou caracterizações importantes, tais como nos Concílios, nos Padres da Igreja, e ainda  em teólogos como o pseudo-Dionísio Areopagita e S. Tomás de Aquino, mas que nesta obra de modo algum, seja o pastor seja os autores tentam, nisso reconhecendo tanto a sua incapacidade como a subtileza e sublimidade dos níveis angélicos e arcangélicos. Ficaram ambos pelas histórias pessoais narradas extensamente, à moda norte-americana de muita parra de páginas e pouca uva de sabedoria e verdade, seja do encontro com o simpático pastor de voz persuasiva, seja das narrativas de Roland Buck quanto aos seus encontros com anjos. Um livro que não é necessário ler...
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O segundo livro é de Sophy Burnham, A BOOK OF ANGELS. Reflections on Angels Past and Present and true stories of how They touch Our Lives. New York, Ballantine Books, 1990. In-8º gr. 298 páginas.
Uma obra boa na abrangência mas sem discernimento entre a verdade e a imaginação enganadora. Logo no prefácio como prova dos milagres angélicos, lembra-nos William Blacke (1757-1827), porque vira aos 10 anos anjos nas árvores, logo começando a desenhá-los e a poetisa-los, o que até é provável ter acontecido. Mas depois passa para outros casos, alguns certamente fantasiosos:«Jacob lutou com um anjo... Um anjo  apresentou-se a Abraão... E José Smith fundou a igreja Mormon depois de ver o Anjo Moroni... E hoje uma criança verá um Anjo...». Contudo, pouco depois de enaltecer (mais acertadamente de que as "moronices" do senhor José Smith), o génio angeolólogo do pseudo-Dionísio, de Dante, Milton, Goethe, Swedenborg e Rudolfo Steiner e de dar uma descrição imaginal elevada:«Diante do trono de Deus, os Anjos não têm forma alguma, mas chegam como energia pura, crua, grandes bolas de fofo rodopiante, como super-novas, rodando, rodopiante, às rodas no espaço negro. São chamados as Rodas ou Tronos e não podem sequer ser descritos senão simbolicamente, apesar dos místicos que viram e ouviram o seu silêncio estupendo sabem o que viram e tornam-se por tal poder humildes», confessa realisticamente no parágrafo seguinte:«não sabemos nada acerca dos Anjos. Não sabemos o que os anjos são ou se eles estão em hierarquias nos céus. Ou se lhes são entregues os seus deveres de acordo com a idade. Não sabemos nada acerca deste outro plano ou domínio, excepto que nos são dados breves e instáveis vislumbres no coração.»
A obra está bem acompanhada de citações de poetas e escritores (embora excessivamente dos violentos Salmos bíblicos), bem como de imagens e numerosas histórias recolhidas, antigas ou contemporâneas. Já na visão histórica e teorizante dos anjos combina diferentes crenças e discutíveis leituras interpretativas, pois tanto afirma como reais as histórias do Antigo Testamento, como considera míticas as descrições dos Anjos nas (outras) religiões antigas, embora reconheça que «os Anjos existiram desde o começo do tempo. Eles já existiam antes de Adão e Eva terem caminhado encantados para explorar o Paraíso.» 
Explicando a seguir que «Querubim significa a plenitude do conhecimento de Deus. O conceito é Assírio na origem, o de Karibu significa um que ora" ou "um que comunica"», reconhece que no princípio significava mais um guardião de palácios e pensa que, embora as ideias acerca deles sejam imemoriais e sem raízes seguras, o conceito de Anjos vem dos mitos Arianos, Mitraicos, Maniqueus e Zoroástricos e que foi introduzido, através do pensamento Persa, no Judaísmo, Cristianismo e Islão. Mas embora reconhecendo esta raiz persa não reconhece a muito provável visão dos Anjos obtida por seres dotados de visão subtil ou espiritual ao longo dos séculos nos diversos povos, e particularmente nos Persas, que ao longo dos séculos gerarão místicos, videntes e iniciados de grande qualidade, tanto antes como depois da chegada do Islão. Em contrapartida, erradamente mas pagando o preço (ainda assim rentável...) de estar a escrever para um público excessivamente crente na Bíblia, demora-se e valoriza demais literalmente o Antigo Testamento, assinalando por exemplo, como se fosse possível, o Anjo da Morte que matou 90.00 no tempo de David e que noutra noite matou 195.000 assírios que lutavam contra os hebreus, absurdos totais que só podem ser hoje admitidos por tolos e fanáticos.

Também o Paraíso Perdido, do poeta inglês Milton, sem dúvida uma grande mente e defensora das liberdades mas não um clarividente e iluminado, é para ela quase uma Escritura sagrada, pese a excessiva materialização que faz dos anjos, bem como a invenção de vários anjos-demónios.
A autora surge crítica do acolhimento dos anjos pela religião católica e considera que «foi difícil para a Igreja aceitar os Anjos. O impulso que gerou o interesse por eles surgiu dos camponeses, teve as suas raízes no folclore», mas lembra (ou melhor pensa, algo mistificadoramente) que na Idade Média «cada dia da semana tinha o seu anjo protector, e cada estação do ano, cada signo astrológico, cada hora do dia ou da noite, quer dizer, praticamente tudo quanto se fazia, pensava, escrevia ou via, estava sendo governado por um anjo próprio», dando duas tabelas dessas correspondências, algo tontas, tal como o arcanjo «Miguel ser de Mercúrio, Quarta-feira, amendoeira e a função de fazer sábio ou tonto». Conta as suas vivências de anjos, em visão ou em sonhos, e inclui ainda cartas de pessoas.
Podemos dizer contudo que ainda assim é uma obra média, bem acima da superficialidade e comercialice de tantos livros de Haziel, Doreen Virtue e companhia.  
Votos de orações, com persistência e profundidade, e boas contemplações!

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Jung, na demanda da Luz do inconsciente, foi um shaman? Marie-Louise von Franz: "C. G. Jung, o seu mito no nosso tempo". Nos 149 anos do seu nascimento.

    Em C. G. Jung, o seu mito no nosso tempo, editado originalmente em 1972 (C. G. Jung, seine mythos in unserer seit, e que li na edição francesa de 1988), Marie-Louise von Franz (1915-1998)  oferece uma sábia visão do ser, vida, pensamento e obra de Carl Gustav Jung a partir das suas acções, narrativas e vivências (onde destaca as oníricas),  dividindo a  obra  em quatorze capítulos e  citando frequentemente conhecidos filósofos, místicos, gnósticos, antropólogos e historiadores das religiões e mitos, inserindo assim o mais possível Jung seja na perene tradição hermética e alquímica europeia, e até universal, já que há bastantes referências às tradições orientais, seja na moderna psicologia e antropologia, referenciando até os autores que segundo Jung e Marie-Louise ora erraram nas suas teses ora se afinizaram com Jung, tal neste caso, por exemplo, o teólogo bem profundo Paul Tillich.
A obra é antecedida  duma Introdução, na qual confessa a sua intencionalidade:  explicar o pioneirismo e a importância de Jung no estudo do inconsciente,  já que «para Freud o inconsciente era um fenómeno secundário formado de desejos incestuosos recalcados que poderiam ser também conscientes», e a sua influência no contexto da história civilizacional, nisto exagerando um pouco pois, depois de dizer que ele estava muito desinteressado da opinião que os outros («o que era raro entre pessoas marcantes») faziam de si, justifica a enorme correspondência mantida por ele, «para não ficar interiormente isolado com as suas ideias, mas mais ainda na convicção que da realização delas dependia em boa parte a sorte da nossa civilização ocidental».
Marie-Louise von Franz (1915-1998) surge aqui, como noutras partes do livro, quase como uma evangelista de um novo mestre ou de uma nova mensagem redentora. Baseava-se na expectativa que as «artes, religiões e comportamentos sociológicos estavam a ser iluminados completamente de novo  pela descoberta do inconsciente, e que de uma concepção justa ou falsa deste inconsciente depende o julgamento de valor que a nossa civilização faz sobre si mesma, e talvez mesmo a sua sobrevivência». 
Há nesta crença, natural para quem foi secretária de Jung e o acompanhou em tantas investigações e compreensões psicológicas ou mesmo curas, uma excessiva valorização do trabalho sobre inconsciente, «o solo maternal autónomo e criador da vida psíquica normal», e dos efeitos transformadores da psique humana e da civilização que os estudos de Jung sobre a importância da criatividade do inconsciente causariam.
Essa falha de sucesso e impacto previsto, ou melhor desejado, acaba Marie-Louise por a justificar, quando, sincera mais do que ingénua,  interrogando-se sobre o que é o inconsciente, confessa que «em verdade, é uma expressão objectiva moderna para designar uma experiência imemorial da humanidade. Ela abraça elementos estranhos e desconhecidos do nosso mundo interior, pulsões de forças capazes de nos mudar subitamente, sonhos e ideias espontâneas que, sentimos, não são criações próprias nossas [ou serão, de um nós mais vasto?], mas sobem do fundo de nós próprios dum modo estranho e todo poderoso. Noutras épocas estas acções foram atribuídas a um fluido divino (mana) a um deus, a um daimon ou a um espírito. e exprimia-se assim dum modo impressivo o sentimento da existência objectiva e mesmo estranha dessas forças, e simultaneamente a experiência de uma realidade toda poderosa à qual se encontra entregue [ou submetido] o eu consciente. Desde a sua idade mais tenra Jung, fez tais experiências de sonhos, de ideias espontâneas e de factos interiores, que ele conta no seu livro a Minha Vida. Mesmo se os fenómenos que ele experimentou foram muito frequentes e intensos e os tomou bastante a sério, eles não oferecem em si mesmos qualquer carácter de raridade.» Observamos um reconhecimento que o inconsciente é uma expressão moderna para algo que sempre existira e que fora reconhecido no passado, recebendo certos nomes que o objectivavam no exterior ora como energia poder, ora como o resultado da acção de certas entidades, mas de facto esses sonhos, ideias espontâneas e factos interiores seriam simplesmente do fórum psíquico profundo de cada ser.
Continua logo de seguida Marie-Louise: «Todo o medicine-man primitivo vive das suas visões e dos seus sonhos, todo o caçador recebe o seu saber de inspirações sobrenaturais, todo o ser humano religioso conhece experiências semelhantes a dado momento da sua vida. No próprio seio da nossa civilização existem de certo numerosos seres que experimentam tais estados semelhantes. Contudo raramente falam, com receio do choque do repúdio pelo meio ambiente racionalista». Observamos M.-L. von Franz, talvez  com pouco rigor,  equiparar e unificar  vários fenómenos com diferentes origens, chegando mesmo a usar a expressão "inspirações sobrenaturais", curiosamente para o exemplo mais terra a terra, o faro do caçador, sob a designação de actividades do inconsciente. 
Continua em seguida, explicando como  Jung estendeu o seu interesse «às manifestações psíquicas mal afamadas  às quais se dá o nome de parapsicológicas», registando que a sua 1ª obra, a tese de doutorado, era sobre tais fenómenos, e como foi estabelecendo a sua interpretação deles como manifestações do inconsciente não recalcado mas potente na sua força de devir:«Jung descobriu nessa ocasião que o "espírito" todo poderoso que se manifestava nas sessões mediúnicas descritas por ele era uma parte ainda não integrada da personalidade da médium, parte que se  tornou um aspecto essencial da personalidade dessa jovem no decorrer da sua maturação. e deixou de repente de se manifestar de modo autónomo, como um "fantasma". Desde então um passo essencial foi feito em direcção das suas descobertas posteriores. Ele adquirira a intuição  da existência de fenómenos psíquicos objectivos inconscientes e contudo relativamente religados a uma pessoa onde eles não constituem um elemento recalcado, mas um vir a ser [ou devir] novo. Toda a sua obra posterior foi consagrada a explorar a fundo este mistério que é a qualidade criativa do inconsciente».
Resta saber se  existência das forças psíquicas existentes no nível inconsciente da psique humana exclui a existência de espíritos individuais reais no mundo subtil ou astral planetário e a sua capacidade de se manifestarem nas auras e psiques humanas, podendo pensar-se que é apenas um núcleo ou uma sub-personalidade do inconsciente.
Depois dessa boa clarificação do que era o inconsciente que,  por contraposição ao eu consciente que se desenvolve ao longo da vida, Jung chamava também o seu génio, daimon interior e o seu inspirador, sem lhe querer dar um valor absoluto como alguns inspirados religiosos fizeram, Marie-Louise von Franz realça que actualmente a demanda profunda necessária, tal como Jung fazia,  é «na camada mais natural, mais original e mais universal do ser», e que está associada aos estados primitivos do fenómeno religioso, ao chamanismo, e não ao cristianismo eclesiástico, que para Jung transmitia pouco ou nada de respostas. E tal como Jung teve de «procurar em si mesmo na psique inconsciente as instruções  para o seu caminhar», assim cada pessoa tem de se «encontrar com o seu próprio deus ou daimon, com o que sobe das suas profundezas, carregado de potência: emoções, afectos, fantasmas, inspirações criadoras e bloqueios», com razão apelando-se a uma unificação da concepção transcendente divina com a vivência imanente dela.
Os títulos dos valiosos capítulos, assentes nas vivências (sobretudo oníricas), e nas explicações interpretações de Jung, e cheios de referências a autores, tradições e casos, são os seguintes: I.  O deus subterrâneo, II. A lâmpada-tempestade, III. O médico, IV. Simetria em espelho e polaridade da psique. V. A viagem no além, VI. O antrophos, VII. O mandala, VIII. Coincidentia oppositorum, IX. Conhecimento matinal e conhecimento vespertino, X. Mercúrio, XI. A pedra filosofal, XII. Penetração no "unus mundus". XIII. O indivíduo e sociedade. XIV. O grito de Merlim. E  conclui com uma tabela cronológica da vida de Jung e a sua bibliografia.
A tabela cronológica ou biográfica tem trinta e três datações e vamos transcrever as principais:
1875 26 de Julho, nascimento de Carl Gustav Jung, filho do pastor Johann Paul Achilles Jung (1842-1896) e de Emília Preiswerk (1848-1923) em Kessil (Thurgovie, Alemanha). 1900 Conclui os seus estudos de Medicina. 1903 casa-se com Emma Rauschenbach, filha de um industrial e tem cinco filhos. 1913 Qualifica-se para ser o docente de Psiquiatria na Faculdade de Medicina, que exercerá até 1913, e médico chefe da clínica psiquiátrica de Zurique. 1907 Encontro com Freud. 1911 Fundação da Sociedade Psicanalítica internacional da qual será Presidente até 1913, quando se separa de Freud. 1916 Fundação do Clube Psicológico  em Zurique. 1918 Estudos sobre mandalas. 1918-1926 estudos sobre os gnósticos. 1925 Viagens de estudo aos povos indianos nos USA  e aos habitantes do monte Elgon, no Quénia. 1932 Prémio literário da vila de Zurique e Presidente da Sociedade Médica Internacional de Psicoterapia. 1933 a 1952 Participação nos famosos encontros de Eranos em Ascona, onde conhece e convive com os principais sábios da antropologia espiritual. e do que resultou um conjunto de livros muito valiosos das conferências proferidas. 1934 começo do estudo da alquimia. 1938 viagem curta à Índia. 1944 Professor de Psicologia Médica na Universidade de Bale. Fundação e Presidente da Sociedade Suíça de Psicologia prática. 1948 Fundação do Instituto de Jung em Zurique. 1961, 6 de Junho desincarna na sua casa em Küsnacht.
 
Como terá sido animicamente a desincarnação de Jung? Estava desperto para avançar logo no além em corpo psico-espiritual? Receberam-no, ou acompanhou-o alguém?

  Destaque o capítulo V, a "Viajem no Além", por ser bem valioso e embora já o tenha abordado parcelarmente num artigo, em que anotei o que me parecem certas perspectivas menos correctas, voltei publicar algumas partes,  acrescentando várias outras.
 Assim no 1º parágrafo a afirmação bem discutível: «Ao lado do sacerdote, que vela sobre o ritual e as tradições da sociedade, encontra-se a figura do shaman, que se distingue por uma experiência individual dos espíritos (ou seja do que nós chamamos hoje o inconsciente) e que é especialmente responsável pela cura de indivíduos e de problemas da colectividade». A fonte adoptada, ou no fundo justificadora de tal equiparação que o "conhecimento do inconsciente = shaman" por Marie-Louise von Franz é Mircea Eliade e remete para o seu volumoso e bem documentado Chamanismo e as técnicas arcaicas do extase.
Ora é enganador, ou então muito reducionista. considerar que os espíritos são o inconsciente. Podemos quanto muito dizer que o mundo dos espíritos não nos está em geral consciente, ou que estamos inconscientes deles, mas considerar que entidades individuais e determinadas, os espíritos, são apenas aspectos, configurações ou símbolos que brotariam ou habitariam o inconsciente é redutor, e insere-se numa linha de antropologia algo materialista que considerava os espíritos como animações e simbolizações que o ser humano fazia dos seus desejos, medos, ou ainda dos elementos da natureza. Poderemos pensar ainda que ela desse modo podia considerar mais fundamentadamente C. G. Jung como o grande shaman da época.
Talvez uma  correcta perspectiva seja admitirmos que no nosso mundo dos sonhos, provenientes do inconsciente profundo ou de um estado de consciência subtil que nos é semi-consciente, os espíritos ou outras pessoas podem-se manifestar e portanto implicitamente poderíamos ficar mais conscientes de que somos espíritos individuais e que nos movemos enquanto tais, ao conseguirmos não nos limitarmos à identificação corporal adormecida, conservando a consciência individualizada noutra dimensão de vida, subtil. Tal todavia  não é tão frequente, embora alguns afirmem facilmente as suas viagens astrais, talvez algo de ânimo leve e haja ainda os sonhos lúcidos.
Podemos ver neste passo e no decurso da obra que Carl G. Jung e M.-L. von Franz tendem a diminuir ou a não valorizar  nas individualidades a visão espiritual de certas realidades  e propõe antes um saco ou fundo vago e amplo, o inconsciente, acessível pelos sonhos, as imaginações, os desenhos e as terapias de psicólogos e psiquiatras.
  A visão do processo da vida como um caminho para a individuação do ser humano na perspectiva jungiana não parece ser verdadeiramente o da auto-consciência espiritual, o da ligação directa com a centelha do espírito, antes assemelhando-se a mergulhos mais ou menos criativos e com mais ou menos sentido num inconsciente individual e colectivo, embora pelos seus estudos crescentes com o tempo de alquimia, hermetismo e espiritualidades orientais Jung tenha vindo a poder compreender melhor as dimensões psico-espirituais do ser humano.
Como a ligação ao espírito individual é fundamental mas não é fácil dada a sua subtileza,  compreende-se que Jung não a tenha conseguido realizar, empenhando-se mais em diversos meios que podem ajudar a limpar e a centrar o inconsciente e o que da personalidade e seus conteúdos mentais deverá renascer para se atingir uma individuação harmoniosa, o que tem a sua razão de ser dado que trabalhava sobretudo com doentes e não com místicos, gnósticos e iniciados, que contudo estudava.
Outro aspecto discutível é Marie-Louise dizer do shaman «é ele que cura os doentes pelo seu transe, acompanha os mortos no reino da sombra e serve de mediador entre eles e os seus deuses. Num certo sentido ele vela pelas suas almas»,
Eis afirmações algo exageradas, tomadas de Mircea Eliade, possíveis num ou noutro caso de bons shamans, mas de modo algum com este tipo de absoluto: quantos deles conseguem ver a ascensão das almas, quantos conseguem acompanhar na visão, ou com meras energias que possam enviar, uma alma no caminho ascensional post-mortem, tão individual, tão subjectivo, tão misterioso?
Estas viagens no Além, de que nos ficaram vários relatos iranianos, judaicos, greco-romanos e da literatura medieval cristã e islâmica, e que Marie-Louise referencia e descreve bem, são em geral mais imaginações do que visões espirituais objectivas, tal como o ver à distancia, o sair do corpo, a clarividência verdadeira do processo da morte e dos caminhos ascensionais. Reflectem em geral as crenças religiosas da época e o que foi mesmo visão ou vivência espiritual, não condicionada por crenças nem apenas imaginação, tem sempre de se tentar discernir.
Bem se pode clamar que o shaman serve de mediador entre os seus pacientes e os seus deuses, pois em geral os deuses representam entidades e planos bem próximos da Terra e que nem exigirão grandes mediações, embora certamente quem executa as danças ou orações que mexem as energias faça algo desse trabalho de elevação dos mortos, faltando saber ainda se há uma existência real dos tais deuses no post mortem, para os seres que acreditavam neles, bem como que forças são precisas para as pessoas poderem despertar mesmo e avançarem conscientes nos mundo subtis por si próprias, ou mais provavelmente com algum tipo de guias ou mestres, seja o shaman incarnado, sejam já viventes no além.

Uma shaman moderna coreana, país onde se conserva muito a tradição.
Um pouco mais à frente outra afirmação algo mistificante ou exagerada, de Mircea Eliade, algo frequente nele e em geral diminuindo a força espiritual de cada ser: «O shaman, diz Eliade, é o grande especialista da alma humana: só ele a vê, pois ele conhece a sua forma e o seu destino». Como se ele fosse o único ou quem mais tem sensibilidade, intuição  clarividência. Ou como se a clarividência que ele possa ter seja assim tão segura que veja o presente e o futuro de um ser. Sabemos bem como a maior parte dos shamans tem uns vislumbres dos planos inferiores do Cosmos, frequentemente ligados a espíritos elementais e de animais. 
Não vamos discutir agora o que entendem por espírito Eliade nem Jung e Maria-Louise von Franz, para eles mais símbolos de que entidades, e a que "forma do espírito" se refere Mircea Eliade como vista pelos shamans, apenas sugeriria que para tal afirmação ser minimamente correcta a interpretássemos neste sentido: eles podem ver algumas almas-espíritos, nos seus corpos subtis, já fora dos corpos físicos mas muito provavelmente o núcleo íntimo do espírito, a centelha, escapa-lhes e portanto a forma primordial dele...
Em seguida cita Marie-Louise von Franz várias viagens no além que podem ser vividas em sonhos e como desmembramentos e mortes sucedem nessa linha iniciática de confrontações  e de morrer e renascer e que Mircea e muitos outros antropólogos têm encontrado  em muitos povos, sobretudo africanos e asiáticos mas também europeus e que têm algo de iniciação de jovens para discernir e vencer os males, devendo-se destacar ainda tal universalidade com o dito registado na Antologia grega, "Morrer é ser iniciado" e que entre nós Antero de Quental, Joaquim de Araújo e Fernando Pessoa poetizaram belamente, como já abordei neste blogue.
Faltaria ainda discernir a que níveis se peregrina no além, se é meramente no inconsciente onírico, ou se tais viagens acontecem no mundo subtil ou astral e são  fontes de informação fidedigna, tal como também discernir-se se os espíritos que falam pela boca do shaman não são senão falas automáticas (quais escritas automáticas de inspirados, mediuns ou surrealistas) de núcleos do seu psiquismo ou inconsciente (como Jung discernira, pelos menos nos casos que observou) ou então possessões interiores e em geral de espíritos pouco desenvolvidos ou apenas entidades menores, embora certamente pudesse haver guias bons, mestres de linhagens shamanicas e que ajudavam o que estivesse incarnado e em acção.
Se os centros espíritas em quase todo o mundo são suspeitos nas suas mensagens, sobretudo quando é Jesus ou outro grande ser a debitar banalidades morais, quanto mais não o serão as múltiplas canalizações actuais dos canalizadores, mestres ou shamans da nova Era, de Elizabeth Claire Prophet a Babaji, de Rampta e Kryon a Denis Walsh, este com a arrogância total de assumir o que escreveu como resultando de um falar directamente com Deus, claro, da sua imaginação.... Ora nestes casos não são mais do que pessoas a falarem por si próprias e a mistificarem, ou então a receberem alguns fragmentos ou influências seja do inconsciente colectivo ou individual, seja de entidades astrais, em geral bem menos elevadas do que se pensa e se afirma.
Talvez neste capítulo um dos aspectos mais interessantes referidos, pelo que pode apontar para o anjo da guarda ou um guia, seja o que diz Eliade e seguindo-o Marie-Louise: «Muitos shamans possuem assim uma esposa celeste invisível, outros tem como auxiliar supremo o espírito de um grande shaman defunto, um velho sábio que os conduz, e que frequentemente, durante o transe, fala directamente através da sua boca». 
 
Uma shaman da zona de Clayoquot na ilha de Vancouver Island. Imagem de final do séc. XIX pelo notável etnógrafo e fotógrafo dos Índios Edward Curtis.
Pese a certa popularidade que alguns tipos de shamanismo têm ganho dentro dos grupos e actividades estilo nova Era, em certos casos com sessões de Ayahuasca ou de baba de Sapo (que chegaram a matar um amigo português, o Miguel: muita luz e amor para ele),   tal não é o mais indicado para os nossos dias, em especial as incorporações de entidades invisíveis, ou o entrar-se em transe e alguém falar por nós, aspecto primitivos de inspiração e que não levam nem a planos e conhecimentos elevados, ou a estados de harmonia e saúde, pois o verdadeiro diálogo com os mestres ou guias, a haver e é raro, passa-se no nosso interior e sem incorporações e vozes exteriores. Mas certamente o shamanismo nos seus locais tradicionais e milenários e realizados por pessoas dotadas de certos poderes psíquicos e abnegadas terá um papel valioso e importante nas populações locais nos casos em que necessitam de tal clarividência, conhecimentos, poderes, curas e ligações.
Do melhor que transmite Marie-Louise, na esteira de Eliade,  é quando diz que os shamans inventam as suas canções e orações, pois tal é certamente algo que todos devemos fazer: orar do coração, espontaneamente. E eventualmente irmos descobrindo os sons, as invocações, as jaculatórias que harmonizam ou elevam melhor os seres e os ambientes ou que nos religam com os níveis elevados de consciência.
Poderemos dizer que os shamans representavam nas populações pré-históricas ou ditas mais primitivas os seres que se notabilizam ou destacavam por certas capacidades de sentirem, identificarem e conhecerem alguns tipos de energias e entidades subtis, nomeadamente as vitais e anímicas, humanas e da natureza, e por possuírem certos poderes psíquicos, servindo-se de tal para gerarem, com mais ou menos espetacularidade, resultados e efeitos que as sociedades em que viviam precisavam e acolhiam com respeito, em certos casos sendo verdadeiramente polos entre a terra e o céu dos mortos e de algumas formas divinas que acreditavam e nutriam.
Mulher shaman nos Altai,  Sibéria, zona de uma das tradições mais antigas e conservadas de shamanismo.O ritmo do tambor  vai provocar a intensificação e alteração de consciência necessária a viagem no além, o que era em geral facilitado ainda pela ingestão de cogumelos ou outras substâncias indutoras seja de visão subtil seja de alucinações.
Uma certa ressurgência destas formas primitivas de espiritualidade que designamos por Shamanismo tem a sua razão de ser face a sociedades actuais tão materialistas e artificiais, despidas de comunhão com a natureza e os seus seres e forças, mas há que ter cuidado para as pessoas não se deixarem envolver em egrégoras ou formas de pensamento de grupos limitadoras e em práticas de ligação com  seres ou entidades meramente etéricas e astrais e despidas do conhecimento do espírito e dos planos mais elevados do Cosmos.
Embora o que conheçamos do shamanismo seja como que a religião natural mais antiga, tanto na Europa e na Ásia, como em África e nas Américas, não devemos mitificar, atribuindo aos shamans, aos feiticeiros e magos tantas capacidades elevadas, e antes cumpre-nos saber discernir bem como podem ser nocivas para o cérebro ou mesmo a psique a ingestão de certas poções, embora certamente a comunhão com a Natureza e a utilização das ervas medicinais, ou dos cinco elementos, seja um dever de qualquer ser que quer sobreviver à massificação consumista e à opressiva dependência dos fármacos, e nestes sentidos todos nós devemos ser shamans, medicine man, ou meigas, da Galiza irmã...
Embora Jung tenha estado em África e na América do Sul, em contacto com povos mais plenamente imersos na Natureza, Marie-Louise acaba por destacar (no 2º capítulo) mais a sua relação naturalista com Goethe e a suas investigações sobre as plantas, as cores  e as metamorfoses que estava muito a par dos teósofos e hermetistas cristãos daqueles tempos. Na mesma linha de valorização do goethianismo esteve Rudolfo Steiner (1861-1925), com desenvolvimentos impressionantes (por ele e seus discípulos) no estudo das cores e formas, da cura e da agricultura biodinâmica, já que estava dotado de uma clarividência, ou capacidade de conhecer os mundos superiores, certamente com subjectividades. Sabemos porém que Jung não apreciou muito Steiner e punha em causa a sua clarividência, preferindo manter-se numa aproximação factual, objectiva, científica, valorizando mais o trabalho dos sonhos, a observação do inconsciente seu e dos seus pacientes e o desenho, estudo e contemplação das mandalas, que têm valiosos efeitos terapêuticos e que ele desenhou até genialmente, algo que Rudolf Steiner também realizou, tal como Bô Yin Râ, para mencionar dois mestres espirituais a que Carl Gustva Jung se referiu com alguma desconfiança, tal como já descrevi neste blogue.
Jung apontando para o centro do microcosmo da mandala, o Eu individuado ou harmonizado
Neste capítulo Quinto, que temos abordado levemente, descrevem-se os sonhos obtidos por Jung ao longo dos anos e que ele considerou como uma viagem no além e no qual interagiu tanto com o seu astral individual como com o colectivo da época, bem patente nos que teve antecedendo a 1ª grande guerra. Contudo, Jung identifica certas personagens arquétipas neles e sente bastante as suas lutas contra as sombras e o mal como o seu caminho e do Ocidente, «atravessar o inferno das paixões, resgatar a sombra e não como «o Oriente que aspira a libertar-se da Natureza e dos opostos interiores». Marie-Louise dedicará no final do capítulo umas seis páginas à apreciação e interacção que Jung fez com o Oriente, e em especial com a China, e o seu Tratado da Flor de Ouro.
Valorizando um diálogo ou o desenvolvimento de uma imaginação activa face ao inconsciente, Jung não negava que com isso se pretendesse chegar ao ser divino ou universal, pois era uma fase transitória rumo à personalidade total, ou individuação, em que se adquiria o seu próprio ser. Mas afirmou:  «a Natureza, a alma e a vida são para mim a divindade», no que representa uma certa limitação pois a Divindade ainda que imanente no ser humano e na Natureza também é em Si mesma, como fonte, e Ser primordial. Por isso o culto, adoração e  conhecimento da Divindade em si ou na sua manifestação pessoal no íntimo de cada ser, acabou por não acontecer tanto nele, ou não foi tão exprimida por ele, talvez algo limitado tanto por um inconsciente seu demasiado forte ou independente  como por um contexto adverso da religiosidade institucional, que para ele estava desprovida de vitalidade, e que sentira mesmo dramaticamente na vida de seu pai, pastor protestante mas morto interiormente para qualquer vivência do Divino. 
Para restaurar a sua gnose e fé no ser humano, na psique e na sacralidade do Cosmos, Jung teve de aprofundar muito as profundezas, e em sofrimento tantas vezes, do inconsciente de si mesmo, dos seus pacientes, do humano, pelo que certamente foi um medicine man, um shaman, com as suas obras terapêuticas, diálogos e livros tentando apontar métodos e caminhos que ajudam a Humanidade a ser e a viajar melhor tanto no aqui e agora, como no além, interior e exterior.
Que a Divindade, a Natureza fecunda, os mestres e os anjos os abençoem e a nós todos, para que tanto das profundezas do inconsciente, como da claridade do espírito e da transcendência, nos chegue a Luz esclarecedora e o Amor criativo e libertador.