sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

A poem to Christ, to the Logos Iswara and to the Absolute, felt and written in Ramakrishna Mission, Kolkota, 1995

Oh Thou, Lord of my heart,
Wilt thou come to me
and dispel all doubts
that as a mist surround my heart?

Oh Thou, Lord of my life
Wilt thou wide open my soul
to thy currents of energy,
full of Love and Peace?

Crossing the boundaries of the Manifestation,
we walk as pilgrims of the Truth.
Master, can thou show us the way,
or are you the Way and theTruth?


Oh Christ, Christ, mantram of my soul.
Are Thou manifesting in all beings
and we just call You by different names,
or are they different manifestations of the Absolute?


Hast Thou become Jesus of Nazareth,
or do you in Jordan anointed him
and through him Thou spokest,
Thou, the Logos-Ishwara of this solar system?

Thy mistery is infinite as the eternity
I just have to surrender my self to Thee,
Absolute Truth and Being
whatever the name and form Thou usest.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Diário de Calcutá, 1995. Iniciação e diálogo com Swami Ranganathananda, vice-presidente da Ordem de Ramakrishna. E outras anotações.

                                           

Calcutá [Kolkota]. No Ramakrishna Mission Institute of Culture. Domingo 19 Novembro, 1995 [já após alguns meses na Índia]. Meditação matinal com bastante luz e cores, revolvendo ou rodando a certo momento. Mas como sabermos se é a luz do espírito, ou se é de Deus, ou se não será de ambos, e se vem de baixo ou de cima, de fora ou de dentro, ou se não será dum plano espacial acima da nossa tridimensionalidade?

Fim do dia, já 23:00. Comecei a jejuar a seguir ao almoço para estar bem preparado para a iniciação matinal com Swami Ranganathananda [1908-2005, e então vice-presidente da Ordem de Ramakrishna]. Assim é de facto. Resolvi-me a ligar-me mais com o mestre Ramakrishna (1836-1886) e quem sabe com Deus, embora tenha tido alguma indecisão hoje, pensando se precisava ou valia a pena.
~~~~~
A conversa com certas pessoas limpa ou extrai mais energias da aura e do chacra da garganta do que com outras. Não percebi bem ainda qual o factor principal: se depende mais da intensidade emocional da minha conversa e entrega, se da receptividade, abertura e assimilação da outra pessoa, ou ainda da sua falta de energia e logo tendência a retirá-la mais de nós.

Sobre Deus pensei que Ishwara, Cristo, Krishna, podem ter por detrás ou de dentro de si  o mesmo Ser divino responsável por este sistema solar e que se manifestou nesses seres mais especialmente.

Dia 21. Meditação matinal com bastante luz e cores.
Meditação é descer a mente ao coração.
Yoga é a suspensão das ondulações mentais.
Meditar é sentir e realizar estados internos de ligação, identificação e comunhão superior.
Durante uma concentração no começo ou primordialidade da manifestação Divina, vejo no olho espiritual uma imagem das montanhas nevadas ao longe emergindo das nuvens.
Sonhos com animais e suas pequenas lutas de sobrevivência, ou foi apenas simbolismo da água capturar o coelho (da prolificidade, ou o coelhinho branco de peluche?). E cães sabendo já que se fala mentalmente.
~~~~~~~~
Repetir mantras é difícil e ainda assim o que me surgiria então mais é  Cristo.
Ontem (dia 20) fui iniciado colectivamente com cerca de 150 pessoas [pois não é frequente o vice-presidente que as transmite vir aqui a Calcutá] no mantra [e corrente espiritual] de Ramakrishna ou, mais correctamente num dos mantras, pois haverá certamente variações nos bijas ou sons sagrados iniciais, conforme as pessoas e que provavelmente o swami Ranganathananda intuirá]. Embora não me sinta muito vocacionado para o repetir e as iniciações assim com tanta gente quase não o são, é um facto que antes da iniciação, na meditação colectiva, fiz as ligações a Deus, a Ramakrishna e aos antepassados e amigos já falecidos, e correu bem com bastante luz e felicidade interior.

Talvez hoje tenha notado mais imagens subtis a quererem aparecer no olho espiritual bem como luz branca e de outra cor. Vejamos nos próximos dias. Estive foi mais desperto de noite.
~~~~.
Dia activo com o meu professor de sânscrito Satchitananda Dhar, que vem aqui ao Instituto quase todos os dias uma hora e tal, duas, para trabalharmos. Revemos a tradução que fizemos dos Bhakti sutras, de Narada, um texto clássico da Bhakti, ou amor devocional indiano. A ver se um dia o consigo dar à luz bem comentado.

                              

A criança aqui ao lado na hospedaria do Instituto de Cultura reage às febres fortíssimas, possivelmente da malária.
~~~~
Visita ao vice-presidente da Missão Ordem de Ramakrishna, o swami Ranganathananda que nos convidara para estarmos na sua habitação por volta das 17:00. Ainda meditámos um pouco.
Desiludida com a sua iniciação [pois fomos iniciados num grupo grande], Dana [a investigador romena do Budismo e companheira de algumas conversas e saídas com mais 2 ou 3 investigadores que aqui estão], tê-lo-á dado a entender a um swami ou monge da Ordem, o qual avisou o secretário de Ranganathananda, que 
resolveu então convidar-nos visitá-lo e a dialogar, diminuindo assim uma certa impessoalidade e rapidez da iniciação, embora cada um tenha recebido o mantra individualmente de boca a ouvido.

Já com 87 anos está semi-deitado numa cama, e visto de longe pela porta entreaberta parece zangado ou severo [pois a sua expressão é em geral grave], enquanto vão entrando algumas pessoas para o saudar.
De perto vemos os olhos mais fechados e a face com pior circulação. Magro, alto, dedos belos compridos, fala sem cessar, não ouvindo já bem todas as perguntas, talvez por isso encadeando umas nas outras as frases. Acaba porém por conversar connosco, embora algo mundanamente, sobre os países que visitou, os livros que escreveu, as fotografias que eles contêm e onde se podem comprar. 
Elogia os livros, maravilhosos, muito bem realizados.
Pergunto-lhe que países mais gostou? - «De todos. Com que respeito nos receberam na Grécia.» E no México, quando após uma conferência, estando já toda a gente de pé e a sair, alguém lhe pediu para recitar uns textos ou orações em sânscrito. Regressaram todos aos seus lugares e pronunciou-os então cerca de vinte minutos, sendo muito apreciados».
                                        
Quando fala do Ocidente, observa-se já um pouco do nacionalismo [ou supremacismo] vedântico indiano, pois critica-o sempre. Assim, por exemplo, Platão e os outros filósofos gregos tiraram tudo dos Upanishads. Estes textos foram os primeiros do mundo a descobrir cientificamente a verdade sobre a alma e nós próprios. Ainda contesto um pouco dizendo que Gregos e Indianos têm raízes comuns [pois são povos indo-europeus e tiveram os seus mestres e poetas videntes] e que mesmo já no Egipto se estudara a alma, mas ele reafirma a prioridade indiana.

Quanto ao Cristianismo ataca-o citando Arnold Toynbee:  no séc. IV ainda estaria no caminho certo, mas depois começara a desviar-se, culminando com "milhões" de mortos, nomeadamente as bruxas queimadas, tendo ele estado em Toledo, Espanha, no local ou praça em que se realizavam os mortíferos autos de fé.
Dirá ainda que o Cristianismo pode ganhar em contacto com a Índia e receber aí a sua correcção total. Três frases de Jesus bastam para construir uma religião racional e verdadeira: «Sede perfeitos, como o vosso pai Celestial que está no Céu», «Bem aventurados os puros do coração porque esses verão a Deus», e outra não tenho já a certeza se terá sido o «amai a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a vós mesmo».

Considera que é a Índia que hoje no mundo está a dar ou partilhar mais a espiritualidade.
Perguntando-lhe eu se estávamos desde a data da morte de sri Ramakrishna  na Satya Yuga ou Era da Verdade, ele replica que sri Ramakrisha, tal como os outros grandes seres, fazem sentir a sua influência por séculos e só agora passados mais de cem anos é que se começam a sentir. [Eis uma hipótese que pode manter mais fervor nos adeptos de movimentos de mestres falecidos não há muito tempo, mas que frequentemente não se realiza assim tanto.]
Uma das respostas dad
as será boa, pois alude à plasticidade anímica. Quais os efeitos da meditação?  « - Dar novas forças e molde à procura da alma e da sua felicidade».

Já a sua constante afirmação da superioridade da Vedanta [o principal sistema filosófico e espiritual - darshana - na Índia] em relação às outras vias religiosas e espirituais mundiais, confirma um certo supremacimso-fanatismo vedântico e indiana, [que se pode compreender face à riqueza das suas tradições espirituais, nomeadamente do Vedanta, Advaita, sem Deus pessoal nem eu distinto do Eu divino,  Dwaita, com espírito individual e possível ligação  à Divindade pessoal, e sobretudo às suas tão numerosas grandes almas, os mahatmas, gurus e yogis, que sob a inspiração dos Himalaias e do Ganges, e dos seus deuses, cultos e práticas, tão luminosas vidas realizaram e testemunho, livros e tradições deixaram.]

Um dos cadernos bem cheios de transcrições, anotações, ensaios da estadia de cerca de nove meses (os outros três dos doze de 1995 em peregrinações) em Kolkota, no Instituto de Cultura da Missão de Ramakrisna, então dirigido pelo sábio e afável Swami Lokeswarananda. Fotografia do grande místico sri Ramakrisna Paramahamsa.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça". Hermenêutica do seu princípio por Pedro Teixeira da Mota. Vídeo e texto.

Leonardo Coimbra (1883-1936) , apesar de já ter sido muito estudado e sobretudo analisado, continua bem merecedor de outras aproximações menos secas e redutoras, e que consigam revelá-lo na sua dimensão perene espiritual e operativa. Neste sentido li e comentei a 17 de Dezembro de 2023 as primeira nove páginas d' A Alegria, a Dor e a Graça, tal como pode ouvir no vídeo inserido no fim deste texto, que será agora reforçado pela transcrição das ideias e frases mais significativas, de novo comentadas por mim.
A Alegria, a Dor e a Graça, dada à luz no Porto na Renascença Portuguesa em 1916,  é uma obra de filosofia perene, sempre legível e actual, pesem algumas redundâncias estilísticas e emotivas, e eis o seu começo prometaico, desafiante, iniciático, interpelativo:
"As almas verídicas (porque há aparências, esboços de alma) nutrem-se dum único alimento – o Absoluto.
Procurar a substância, o íntimo das coisas, o que é, para além do que aparece, eis a ansiosa tarefa das almas».
Comentário: Estas almas que verdadeiramente vivem, se alimentam e alegram na comunhão com o sagrado, o divino, o infinito, o absoluto, são raras. O mundo abastece demasiado as pessoas com alimentos materiais, digitais, informações e manipulações, conflitos e competições, ambições e egos, o que gera pouco tempo ou predisposição para a respiração, meditação e comunhão com o Absoluto, o Espírito, a Divindade, no que podemos sentir ou intuir.
O Absoluto foi para a maioria das pessoas, infelizmente, neagdo, coisificado, afastado, ou até demasiado abstraizado nas e pelas discussões filosóficas, metafísicas, religiosas e só para poucos ele é o fermento mais íntimo e importante do Universo, o pão da vida que alimenta verdadeiramente as almas que o demandam nas suas cogitações, orações e meditações e no seu quotidiano, enquanto seres que tentam despertar e ser na harmonia e eixo da terra e o céu...
Leonardo Coimbra indica onde encontramos o absoluto, o divino, o infinito: no interior ou íntimo das coisas e dos seres. É portanto nossa missão e tarefa procurar esse Absoluto ou Divino que nos substancia interiormente.
Não especifica se essa substância do Absoluto é uma só e a mesma em tudo e todos, ou se está individualizada em cada um, tal como a filosofia indiana muito aprofundou, que Leonardo conheceu, citou e apreciou, pesem em contrário alguns seguidores da escola da Filosofia Portuguesa que nunca gostaram de tais ligações com as filosofias e tradições espirituais orientais, e encontrei-os no caminho.
Aliás Leonardo no 3º e 4º parágrafo vai-nos secundar, ao escrever: «O homem comum vive numa concha, formada dos seus hábitos, depósito dum secular arranjo social.
Não se interroga, não pressente, que em torno dessa concha marulha um Oceano infinito removido de infinitas actividades e formas».
E que portanto é um erro fazer limitações, fronteiras, nomeadamente entre Leste e Oeste, Oriente e Ocidente, ou ainda definir como vazio o que a sua visão não consegue discernir ou não quer abraçar. Como também são ilusórias muitas das concepções feitas ou aceites pelas pessoas quanto aos seus deveres, pelas quais frequentemente se acomodam e se paralisam, ou então se excitam e agem erradamente, perseguindo a sua aparência de Absoluto, limitado e tantas vezes opressivo ou mesmo violento.
Este Absoluto, o infinito, a universalidade ou mesmo a Divindade, sempre foi demandada e intuída por diferente seres ao longo dos tempos e temos obrigação de os estudar e conhecer um pouco para aprendermos a sintonizarmos ou mesmo alimentar-nos melhor Dele, ou seja, para estarmos mais na demanda e na vivência da Verdade e da Harmonia. E Leonardo Coimbra é um elo importante dessa demanda e realização na Tradição Espiritual Portuguesa.
Destaca Leonardo em seguida um núcleo energético importante ou fundamental na vida humana, a Alegria, e vai-nos relembrar alguns momentos ou circunstâncias em que ela está bem presente como alimento, ponte ou portal para o Absoluto, para o Divino:
«A alegria duma manhã é a expressão das vidas que despertam, do grande abraço de luz que as enlaça e acorda?
Não será antes, muito simples e imediatamente, o espectáculo, sem cessar renovado da criação?
O que é uma manhã?
A obra dum Fiat arrancando ao Céu um Mundo. Que imenso Escultor é esse, que aí surge a talhar o Mundo?»
Eis Leonardo a tentar despertar-nos para o valor da aurora, do nascer do sol, da manhã, e como diariamente somos co-creadores do Mundo que ajudamos a concretizar-se pelos nossos esforços, aspirações abnegações. Uma imagem atraente é mesmo oferecida: vede a manhã como uma entidade que vos quer abraçar, ou como um potencial ainda informe ou mesmo caótico, que se quer formar, desabrochar, elevar.
Dirá mesmo sobre «a Alegria da Aurora. As vidas não despertam, renascem; eis porque cada alvorada é inédita, sem par.» Quantos conseguimos diariamente, ao acordar e levantar, adoptar ou abraçar do íntimo este ensinamento madrugante de Leonardo?
Lembremo-nos então mais da alba ressuscitadora, sobretudo quando estamos enfraquecidos ou desanimados, tanto mais que logo a seguir Leonardo afirma, na linha da sua visão Criacionista, que tanto teorizou (o seu 1º livro, O Criacionismo, nascido como tese, sem sucesso, no concurso para Professor da Faculdade de Letras de Lisboa), e convidando-nos a participar por auto-consciência operativa ou dinâmica nela:«O Mundo sai do Caos todas as manhãs. Louvores à primeira Alegria, que é a perpétua vitória sobre a Morte, a renovada e eterna Criação.»
 Após este hino ao Sol invicto, Leonardo observa no canto das aves, dando o exemplo da cotovia, e no sorriso puro ou inocente dos bebes, a Alegria da participação na Unidade Maternal do Universo e da Natureza, e no fundo apela a que não se perca a criança eterna interior, com o seu sorriso originário de bondade, esperança e confiança, dando em seguida exemplos comoventes de como a criança pode ser realmente coroada como imperador do mundo, pelos seres que a sabem ver, sentir e respeitar, partilhando mesmo um caso verídico, dos que sabem "pôr a alma acima do corpo", ou "refazer a realidade perante a fraqueza da aparência", passado com um salvador de náufragos nas praias da Póvoa do Varzim, o famoso Cego do Maio, numa descrição bastante comovedora da sua interacção com uma criança, e que espero que seja sentida ao ouvir a sua leitura no vídeo...
Saudemos Leonardo Coimbra, Sant'Anna Dionísio, seu discípulo directo (e por quem fui de certo modo iniciado no ser ígneo e de amor-sabedoria de Leonardo Coimbra), e o Cego de Maio e sua criança. Que eles, ou os valores e ideais que eles demandaram e realizaram, nos inspirem sempre! Aum, Amen, Hum...

                                 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

"A Visão e o Legado de Daria Dugina", no dia do seu 31º aniversário, por Constantin von Hoffmeister. Versão portuguesa.

A grande alma Daria Platonova Dugina, no seu 31º e 32º aniversários, já no mundo espiritual, mas invocada e celebrada no coração de muitos Fiéis do Amor. Aum, Amen, Om..
Neste texto publicado hoje 15 de Dezembro, dia do nascimento de Daria Platonova Dugina, intitulado a Visão e o Legado de Daria Dugina, o jornalista e politólogo Constantin von Hoffmeister partilha a sua visão das ideias e objectivos da vida, luta e morte de Daria Dugina. Resolvemos traduzi-lo do inglês, extraindo-o do Vk.com, e partilhá-lo, com breves acrescentos entre [..], já que resume razoavelmente certos aspectos da sua e nossa gesta pela multipolaridade fraterna e justa  da Humanidade, na sua perene Tradição cultural e espiritual, e contra a opressividade do liberalismo oligárquico da Nova Ordem Mundial,  à qual infelizmente a maioria dos governantes ocidentais estão vendidos e, consequentemente,  os meios de informação que tentam manipular e alienar as pessoas do discernimento verdadeiro das vias  da justiça e do amor, da ecologia e fraternidade, do auto-conhecimento e da realização espiritual e religação divina.
 "O fundamento da Quarta Teoria Política é o Dasein, o vir a Ser; a essência da Quarta Teoria Política é a visão do Sagrado; a substância profunda da Quarta Teoria Política é a realidade da Alma espiritual."             René-Henri Manusardi.
                                                                                 
 «Ao comemorarmos Daria Dugina, que faria hoje trinta e um [ou dois] anos, recordamo-la como uma figura [uma alma imortal] profundamente embebida na paisagem política e filosófica [e espiritual] da Rússia contemporânea [e perene]. 
                                             
No seu percurso [de estudiosa e ] profissional, Dugina transformou-se numa porta-voz do Eurasianismo. Falou frequentemente da Europa como uma "Rimland" (terra intermediária, expressão provinda de Nicholas John Spykman) apanhada entre as esferas de influência americana e eurasiática, e defendeu um império liderado pela Rússia para contrariar o domínio ocidental. Esta visão de um império era vista por Daria Dugina como uma aliança voluntária que defenderia a soberania dos seus membros, sublinhando as raízes eslavas orientais partilhadas por russos, bielorrussos e ucranianos, ao mesmo tempo que reconhecia a crescente resistência a esta ideia, particularmente na Ucrânia.
Os seus textos abordavam frequentemente o declínio do liberalismo, celebrando o que considerava ser o fim de eras simbolizado por certos líderes e esperando uma reorientação do foco global norte-americano sob Donald Trump [provavelmente ingenuamente]. Daria Dugina tinha a visão da Rússia como uma "ilha de liberdade" contra o que considerava ser o totalitarismo da democracia liberal. A sua Rússia ideal misturava a economia de esquerda com o conservadorismo de direita, uma combinação que ela acreditava ser única e adequada ao contexto russo, apesar das suas aparentes contradições face ao pensamento político ocidental.
Daria Dugina Platonova acreditava que vivíamos na Kali Yuga [a idade Negra ou era das Trevas], na visão cíclica tradicional da Índia das quatro eras e recontextualizada por alguns filósofos perenialistas, tais como René Guénon (1886-1951), Julius Evola (1898-1974), Ananda Coomaraswamy (1877-1947), Titus Burckhardt (1908–1984) e actualmente Alexandre Dugin], uma era mundial que significava o fim de vários paradigmas culturais e ideológicos. Considerava este período como caracterizado pela decadência dos valores tradicionais, um fenómeno que associava à ascensão do liberalismo e à fragmentação do espírito humano e da cultura que o acompanhava.   [Entre nós Antero de Quental já na sua época diagnosticou tal e defendeu uma Ordem dos Mateiros, que preservasse os valores tradicionais espirituais.]

                                     
A sua crítica da modernidade enraíza-se na co
nvicção de que o tempo actual representa um afastamento das estruturas hierárquicas tradicionais e da Ordem Divina [Rita, em sânscrito, ou ainda o Sanatana Dharma], com a Modernidade a conduzir a uma desintegração destes valores. Esta degeneração é mascarada por conceitos modernos atractivos mas superficiais, como os "Direitos Humanos", que ela via ou considerava como um tipo de imperialismo cultural [e que vemos, com o genocídio do povo Palestiniano, ou com mais recente a aclamação pelo ocidente dos terroristas sírios,  como foram um papagaio de papel], facilmente abandonável. Daria Dugina argumentava que tais conceitos são exclusivos das culturas ocidentais e que a sua aplicação a nível mundial sugere um sentimento subjacente de superioridade cultural ou de racismo. 
Daria Dugina discutiu regularmente a Quarta Teoria Política ["O fundamento da Quarta Teoria Política é o Dasein, o vir a Ser, a sua essência  é a visão do Sagrado e a sua substância profunda é a realidade da Alma espiritual."], considerando-a uma síntese que incorpora os aspectos positivos de ideologias passadas - a democracia do liberalismo, a solidariedade e o anti-capitalismo do comunismo e a hierarquia do fascismo - ao mesmo tempo que abordou as suas respectivas deficiências.
No que diz respeito ao género e à idade, Dugina considera que cada indivíduo, independentemente destes factores [influenciadores modernos], tem as suas formas únicas [ou pessoais] de se ligar à Tradição e desafiar a Modernidade. Daria rejeitou os valores promovidos pela juventude globalista, difundindo, em vez disso, o regresso às normas tradicionais e à realização espiritual.
Na sua perspetiva comparativista do Oriente e Ocidente, Dugina começou por ver a Europa como irremediavelmente dominada pelo liberalismo mas mais tarde descobriu movimentos anti-globalistas. Isto levou-a a distinguir entre uma Europa liberal, atlantista, e uma Europa alternativa, tradicionalista, alinhada com o Eurasianismo.
A mensagem que Daria Dugina [a dado momento  deu] aos activistas norte-americanos sublinhava a importância da utilização de meios modernos para combater o paradigma moderno, inspirando-se na noção de "homem diferenciado" descrita por Julius Evola [ver entrevistas no youtube: https://youtu.be/QiCtdi5nCoA?si=qdYK5gbsFIf8kk-Q ], que defende o envolvimento ou engajamento com a sociedade moderna, ao mesmo tempo que se preservam internamente os valores tradicionais [o que implica práticas espirituais]. Ela acreditava no empenhamento numa guerra espiritual contra a modernidade para sustentar a verdade da Tradição Perene, [e no fundo a sobrevivência espiritual do ser humano justo, sábio e fraterno.]

Daria Dugina Platonova ligou a luta política pela Quarta Teoria Política com o estabelecimento de uma ordem metafísica, afirmando que a política é [ou deveria ser, pois no Ocidente é basicamente alinhamento e oportunismo] uma manifestação de princípios metafísicos fundamentais que são a base do ser [e nisto seguia muito dois dos seus mestres e inspiradores, Pitágoras e sobretudo Platão, de quem retirou o nome iniciático Daria Platonova, seres ignorados ou menosprezados pela grande maioria dos avençados da Nova Ordem Mundial, oligarquico-sionista, que desgovernam o Ocidente, e em especial ferozmente sancionam e odeiam a Rússia.]
A posição de Daria Dugina quanto à invasão [ou melhor, Operação especial libertadora da zona mais] russa da Ucrânia foi inequivocamente de apoio. Considerou a invasão como uma manifestação do império que há muito visionava, interpretando-a como o desafio final, [ou como uma resposta corajosa e desafiante] à hegemonia ocidental. Recusava-se a acreditar nos supostos "crimes de guerra" atribuídos às forças russas, que afirmava terem sido encenados para manipular as audiências ocidentais e intimidar os ucranianos. Esta posição levou-a a ser sancionada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha [os dois governos mais anti-russos e oligárquicos] em julho de 2022, uma medida que criticou, afirmando a sua identidade como  jornalista. [Anote-se que neste dia em que nasceu, 15 de Dezembro, é desde 1991, o dia dos Jornalistas assassinados, e neste momento Israel detém o recorde: 195 desde que começou o genocídio de Gaza.]
Daria Dugin com Vladlen Tatarsky, outro jornalista e blogger assassinado, sob o pentagrama do espírito imortal. Muita luz e amor neles!
O assassínio pelos extremistas ucros de Daria Dugina, em agosto de 2022, foi um acontecimento significativo que suscitou atenção e controvérsia a nível internacional. As circunstâncias que rodearam a sua morte foram objeto de vários relatórios e alegações, dando origem a uma narrativa complexa e multifacetada.
De acordo com um relatório do The New York Times, as agências de inteligência [secreta] dos EUA acreditam [ou melhor sabem] que partes do governo ucraniano autorizaram o ataque com bomba no carro, perto de Moscovo, que matou Dugina. Esta avaliação sugere que elementos do governo ucraniano estão envolvidos no que parece ser [ou foi inegavelmente] um assassínio político. 
 Após a morte, o presidente russo Vladimir Putin atribuiu a Daria Dugina, a título póstumo, a Ordem da Coragem, uma prestigiada condecoração estatal, pela sua coragem e abnegação no desempenho das suas funções profissionais.
 Daria, Presente
Possa a  aspiração à verdade, à justiça, à harmonia e ao Divino de Daria Dugina Platonova continuarem vivos e dinâmicos em nós, bem como a comunhão com a sua alma...
                                                         

Aum, Amen, Pax, Lux, Amor, Theos. Лус, Амор, Деус

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Diário de 1995. Velha Goa e Pangim. Com Selma Vieira Velho, António de Menezes e Maria Ferreira da Silva.. Peregrinações, meditações e diálogos.

«Goa, gondola dourada no rio do passado, vai-se comercializando pelos novos colonos indianos. Nas ruas estão acocorados os mesmos pobres de sempre vendo passar os novos senhores com dinheiro. Não se julgue contudo que haja ódio, ou ressentimento; não, qualquer indiano sabe intuitivamente sentir a unidade de todos os seres e ver passar os endinheirados é sê-los por algum tempo. 

As ruas da cidade são ora dolorosas, enquanto se degradam as suas casas antigas, dos séc. XVIII e XIX, ora indiferentes quando reconhecemos a inevitabilidade de Goa ir perdendo as suas características antigas indo-portuguesas e em certos aspectos poder degradar-se pelo aumento populacional.
Hotel Mandovi, o mais caro e famoso, está cheio, o Park Hotel não cheira muito bem e está algo sujo nos três quartos que visitámos. O Sun Rise só tem um quarto vago a partir das 18 horas. Por fim, o Mayfair acolhe-nos, limpo, simples, barato.
Saída ao centro da cidade e entramos no Instituto Menezes de Bragança, uma das principais instituições de cultura desde há muito, [pois foi fundado em 1871 como Instituto Vasco da Gama. por iniciativa do escritor Tomás Ribeiro, então secretário do Governador da Índia, e nele houve grandes conferências, além de um boletim com artigos muito interessantes. Com dois membros dialoguei bem há uns anos, Padre Filinto Dias e o Reverendo Alberto de Mendonça, seres de grande amor, sabedoria e cultura...]
Aqui está ainda Portugal presente nos azulejos do átrio onde as cenas principais dos Lusíadas ao estilo de Roque Gameiro mas de Jorge Colaço, de 1935, falam-nos silenciosamente da história antiga de Portugal. Mas que significado e valor terão hoje para a generalidades dos habitantes? Provavelmente 80 ou 70% das pessoas de Goa já pouco ou nada saberá disto.
                     Velha Goa
A Basílica de S.
Francisco Xavier alta, imponente, espaçosa, recebe-nos de braços abertos: ao fundo no altar-mór, o santo tem-nos virado para o alto, para o sol do Espírito. 
Altares poderosos, sob a invocação da Senhora e do arcanjo Mikael.
O corpo de Xavier no cofre dourado [de prata]  está calmo [ou transmite tal vibração na sua perenidade devocionada...] 
Passamos à grande Sé onde, sem o movimento de visitantes da basílica, já é possível meditar em frente a uma grande capela onde está o Santíssimo Sacramento exposto e que por entre as grades deixa ver as pinturas de Melkitsedek recebendo Abraão, e Jacob recebendo a visita dos Anjos. 
Saudar a Ordem Espiritual de Portugal, designável por ordem de Mariz, e na meditação bem cardíaca e serena, sinto como estes locais têm um excesso de energia espiritual, e que é derramada generosamente no cálice que os peregrinos elevam, e possivelmente em especial quando são de Portugal.
Porque houve aqui grandes seres, obras e vidas, certas energias foram criadas. Havendo pouca gente a sintonizar nelas, estando quase despovoada a zona de Velha Goa, essas energias (e provavelmente almas a elas ligadas) estão mais concentradas e podem descer com facilidade.
Na meditação veio-me o velho dito."Não tenho medo de nada nem de ninguém". Agora tenho de realizar outro preceito "Não desejo nada nem ninguém" .
                                       
Ao fim da tarde vamos até à Igreja
da Conceição, já de novo em Pangim ou Nova Goa, com a sua escadaria imponente, verdadeiramente purificadora, na linha ad astra per aspera. Oramos e meditamos no interior. Umas senhoras goesas e uns senhores esperam que comece a missa das seis horas que é dita em concani e em que nós participamos  devotamente com a sintonização que conseguimos...
Agora já são 23:12, no sossegado e limpo hotel Mayfair, e vou meditar...
~~~~~~~~~
So
nhos nocturnos com mar, ondas, águas, piscinas. Predomina esta elemento em Goa, ou são as emoções-paixões a causa deles?
Num primeiro, o mar estava forte avançava em o
ndas altas e cadenciadas. Eu e outras pessoas apreciávamo-las e cavalgávamos-las ou lidávamos com elas. (...)
(...)
Como se vê é tão difícil correlacionar e interpretar correctamente os sonhos (já para não falar sequer do registar), sobretudo quando tantos níveis se cruzam nestes restos da Roma do Oriente e da sua sucessora Pangim, quando um português com consciência do passado os atravessa e procura [discernir, sintonizar] o futuro certo

Hoje na meditação [matinal] de 20, sexta-feira, veio no olho espiritual a luz, ao fim de algum tempo, e ainda compreensão do que acabar a meditação quando a luz se derrama é um dos sentidos do misterioso "pecado contra o Espírito Santo". Antes havia apenas o apelo a Cristo. Talvez aqui em Goa esta energia talhada com tanto sangue e sacrifício esteja ainda bem presente e exercendo a sua influência subtil sobre todos os que por aqui passam, ou sobretudo os que oram e meditam.
Às 12 horas, a investigadora Selma de Vieira Velho [amiga de Margarida Correia de Lacerda, em casa de quem a conheci, e da Maria Ferreira da Silva, e autora da A Influência da Mitologia Hindú na Literatura Portuguesa dos Séculos XVI E XVII, em 2 vols. 1988, tão valiosa em especial nos capítulos sobre A influência indiana (hindu) em Gil Vicente e Camões], veio visitar-nos  ao hotel e ficamos a almoçar e a conversar até às 17.40 sobre vários aspectos da história e da espiritualidade de Goa e da Índia, que ela conhece bem e vibrantemente. Meditação antes do jantar com algumas compreensões valiosas acerca do que dialogamos mas que depois me escapam da memória da superfície, embora  na meditação da noite fossem recuperadas em parte e agora de manhã transcritas:
A Ordem de Cristo, a Ordem Templária, são estados de consciência, são ordens internas, místicas. É cada ser por si próprio que se acerca e se insere nelas, alcançando ou merecendo certos níveis, conforme o seu estado anímico e as suas realizações. São recriadas ou reactualizadas constantemente com o fluir dos tempos, conforme os que as animam, ou, externamente, ao contrário, que as desfiguram, distorcem, abusam. Certo, há nelas a designação particular de Cristo, que exclui portanto Buda, Maomé, Nanak ou Krishna, embora se saiba igualmente que palavra Χριστός, Khristos, Cristo, significa fundamentalmente Ungido, pelo espírito divino.  E assim é natural que certos seres, ainda que avançando por uma dessas linhas religiosas não cristãs, cheguem depois à universalidade delas, ao ungimento espiritual, a uma cristificação interna e, logo, tenham acesso aos níveis mais elevados das Ordens espirituais, ou ao nível em que todos aqueles fundadores ou sábios vivem, sendo apenas mestres da mesma Fonte Divina...
             
Velha Goa
[Domingo] Estamos à somb
ra das duas árvores centenárias e gigantescas do jardim da Igreja de S. Caetano, após meditação no seu interior. As folhas desprendem-se dos ramos nas rabanadas do vento e dão-nos um certo sabor de Outono.
Dentro da Igreja a vibração fresca permite-nos lançar nos apelos orativos e nas consciencializações do Espírito [energias luminosas].

Alguns pássaros cantam e incitam-nos a redescobrir a alegria divina.
Esti
vemos antes na igreja da Sé Catedral em boa meditação, com a luz a vir, e as pessoas a sorrir [ao verem-nos a meditar, unindo Cristianismo e Hinduísmo ou pelo menos Yoga indiano].

 [Notas escritas já ao findar do dia:]
- A compreensão clara de que a Ordem de Cristo é interna, subjectiva ou íntima. Chegar à ordem de, ou ligação, ou direcção de Cristo.
- O que é em cima é igual [ou semelhante] ao que está em baixo, aplica-se ao olha para o espírito, que tanto pode ser visto para o alto, como para o chacra da raiz [da coluna e suas profundezas]
- A exuberância e vitalidade da energia ambiental colora e modela a energia anímica interna. Curioso intuir a situação da energia interna dos seres (e dos cavaleiros e iniciados de outrora), ao ser influenciada por este sítio.

                                                 

À tarde ida das 13:30 às 17.30 ao cemitério português do Oriente, em Velha Goa, ao convento dos Agostinhos. E afirma-nos a Selma de Vieira Velho que já  não estão 1/10 das sepulturas, pois dezenas e dezenas delas foram feitas em bocados para se pavimentarem as estradas que ligam Velha Goa a Nova Goa e sua capital Pangim.
O Museu do Convento S. Francisco é outra desgraça: das centenas ou mesmo milhares de peças maravilhosas que intensificaram a espiritualidade de Goa, muitas delas perdidas, exportadas, escamoteadas e vendidas, conservam-se no museu cerca de vinte peças de arte cristã com pouco valor artístico ou de raridade, parecendo que querem até diminuir o valor do cristianismo, [embora seja verdade que as melhores existentes em Goa foram recolhidas em 1994 num museu de arte sacra no seminário de Rachol].
Mas que beleza e alegria ao encontrarmos o chão da torre e igreja e Santa Maria dos frades Agostinhos tão cheio de sepulturas de fidalgos, religiosos e notáveis ou esforçados, que aqui deixaram o sangue, os ossos e a fama sepultada e que ainda,  passados 300 ou 400 anos, fazem vibrar a nossa alma. Que sensação espiritual caminhar sobre eles em admiração e gratidão, oração e comunhão...
Reina aqui um silêncio santo desde há 200 e tal anos quando a cidade de Velha Goa foi sendo abandonada por causa das epidemias.
 
Escrevo estas memórias do Domingo na noite final de Diwali [festa das luzinhas, algo correspondente ao Natal, móvel, de 21 a 23 de Outubro em 1995] em Pangim. Os tambores tocam como num concurso ou cortejo de Carnaval. Os carros processionais com o demónio (Ravana) vencido por Rama passam. O pagode está na rua. Já Velha Goa repousa ainda em silêncio. Mas por pouco tempo. Casas e mais casas começam a ser construidas nas imediações. No centro do próprio perímetro sagrado o Estado indiano deixa fazer uma pequena indústria química, disse-nos a Selma. Com efeito, vê-se edificar uma casa semi-disfarçada pelas árvores. O que virá a ser? 
 Velha Goa, Igreja de Santa Maria, dos frades Agostinhos:
Vamos lendo, decifrando os epitáfios sagrados, que jazem aos nossos pés: aqui um capitão de Ormuz, ali uma sua alteza, as mulheres, os herdeiros, pedem orações ou transmitem-nos símbolos religiosos, o que vou fazendo, com Aum e Amens...
Cerca de 2000 estudantes chilrearam por aqui na época áurea. Que cerimónias mais luzidas, de estudos ou da religião, não foram estas pedras, caminhos, largos e igrejas testemunhas?
Hoje o chão e as paredes do convento e da igreja estão cobertos de ervas e poeira, e o vento é o único oficiante. Mesmo assim ergo algumas orações e invocações das bênçãos divinas pelas almas aqui celebradas ou presentes...
Caminhamos sentindo sacralidade do sítio, e a sua queda a pique. Atravessamos constantemente as barreiras do tempo, e entre as memórias do passado e os ideais do futuro, o presente torna-se inquisitivo, exigente.
Onde está o ideal espiritual e de liberdade dos cavaleiros e iniciados?
Onde está o Amor da Ala dos Namorados e dos Cavaleiros do Amor? Onde está o Templo e o V Império?
Estamos nós a trabalhar suficientemente para isso, para acender e manter o Amor sempre a brilhar?
Velha Goa é ainda um chakra ou centro de forças fundamental para este trabalho?
Deverão vir aqui alguns iniciados reactivar e intensificarem-se?
Eis desafios que as pedras e almas de Velha Goa nos transmitem impulsionadoramente, elos duma mesma Tradição Perene...

                                                       
Visita da Igreja de S. Catarina onde Afonso de Albuquerque em 1510 assistiu e dirigiu do alto a conquista de Goa. Bela.
Depois a igreja de S. Francisco, belíssima, algo orientalizada ao estilo de Constantinopla e com um Espírito Santo clarissimamente irradiando o mistério da fecundidade tropical.
Mas já o museu tem quadros retocados ou restaurados pessimamente, talvez até para diminuírem a pujança dos governadores iniciais. 
A Igreja de S. Caetano tem um poço no centro da igreja, debaixo da cúpula. Há uma cripta onde estão até ossadas de cavaleiros mais modernos. Para a Selma era um local iniciático. Passamos ainda à igreja de S. Catarina, mas só por fora. À saída de Velha Goa, à direita, uma igreja sempre fechada surge aberta, a celebrar a missa da tarde de Domingo e há ainda umas quarenta pessoas. Com os anos irá diminuindo provavelmente, mas nunca se sabe bem dos regionalismos religiosos em povos de milenárias devoções....
Regresso a Nova Goa ou Pangim, ao bairro das Fontainhas, para encontrar e conversar com António de Meneses, óptimo para os seus 80 e tal anos. Um amante extraordinário de Goa, da cultura portuguesa e do amor divino que tem bem acesso em si. 
 Novo dia, [Segunda, 23]. Regresso, ou outra peregrinação, a Velha Goa.
Visita de novo da Torre e interior da igreja dos Agostinhos, hoje só com as paredes e o seu fabuloso lagedo de almas vivas em lápides. Fazemos uma meditação equatorial, no húmido calor-amor.
De António Lopes Mendes,  A Índia Portuguesa, de 1886, desenhos seus.
Visita à igreja do convento das Mónicas onde belas pinturas sobrevivem no arco da porta, e onde o claustro está ainda vivo de devoção, pois o antigo convento de S. Mónica, o único para mulheres em Goa, fundado em 1606, está transformado ou alberga um Instituto Religioso Feminino, com artes e lavores de grande delicadeza em exposição, conservando a sua igreja bela de S. Maria. [O convento partir de 2001 acolherá, num projecto de arquitectura museológica moderna, o Museu de Arte Cristã de Rachol, com cerca de 180 peças de valor.]
                     
Basílica de S. Francisco Xavier. Compreendendo uma das mensagens das pinturas e esculturas florais e arborícolas tão presentes nestas igrejas e altares: da Natureza bruta podem-se extrair flores e frutos maravilhosos. A arte, a cultura, a educação são capazes de fazer brotar a perfeição, a manifestação da Divindade. Esta mensagem está dada sobretudo em quatro pinturas esculpidas no mais alto do altar central. Boa meditação.
Passagem para a igreja da Sé catedral onde estão muitas invocações da Ordem de Cristo, sobretudo pela sua cruz, sobretudo no 1º altar, de Nossa Senhora. Fazemos um boa meditação. 
Depois passeio a pé à volta da igreja de S. Caetano indo pelo arco da Conceição. Entrada pelo arco dos Vice Reis. Os arcos são sempre sinais, símbolos, invocadores da grande passagem da dispersão para a eternidade ou a Unidade, e fazemo-lo por alguns momentos em pé, numa meditação intensa, comungando na eternidade da história aqui vivida e da transcendência imanente dela.
Meditação final na igreja de S. Caetano.
Terça-feira, noite 24 de Outubro
De manhã foi o eclipse do sol e meditei na sua luz e vi-o bem, embora parcialmente. Depois de comprarmos bilhetes para Nova Delhi para quinta-feira, fomos realizar um périplo de igrejas, praias e fortes, com um bom banho em Calengute. Água não fria, ondas amigas e demorei-me em brincadeiras com o mar. 
 Ida a Mahem, à tarde.
Lá chegámos à antiga casa do trisavô materno, o conde de Mahém [D. José Joaquim de Noronha] agora na posse de uns parentes quase não parentes. Estava lá Dona Elsa e visitámos a capela, a casa e conversamos um pouco. Quem conseguirá imaginar a vida familiar, convivial e cultural tão grande que aqui houve? [Algo foi registado por Higino da Costa Paulino e mais detalhadamente pelos seus filhos Francisco, 2º conde Mahem,  e o António de Noronha Paulino, nos seus livros Goa Nossa Terra, 1957, e Relembrando Goa, 1963, além das fotografias preservadas e pequenas descrições por Caetano Gonçalves e outros].
 Bela vista da sala principal sobre uma enorme extensão de arrozais, e um jardim agradável à volta da casa. Dos tempos antigos conservaram dois móveis e na capela um crucifixo, imagem do sacrifício, e as leituras das partes principais da missa em latim, em quadros para o sacerdote ler e que eu recito em voz alta, nomeadamente o início do Evangelho de S. João, "Ao Princípio é o Logos", com votos que chegue aos antepassados e familiares que por aqui passaram, os Noronhas e quem a eles se juntou, como o Fernando Leal, Wolfgango da Silva e Higino da Costa Paulino...
Lago de Mahem, frondoso, calmo e belo. Pagar uma rupia para entrar quem é descendente do dono do local... E regresso, com travessia de ferryboat, percorrendo os 92 kms de estrada entre Pangim e Mahem em quase seis horas e meia de viagem, e 450 rupias para o rapaz de boa vibração.
Quarta-feira 25
Manhã visitámos a Fundação Oriente e Fernando Aires Sá recebe-nos simpaticamente. Fala-se das dificuldades e possibilidades da cultura portuguesa na Índia.
À tarde passo a buscar ao Instituto Menezes Bragança alguns números da sua valiosa revista e depois vou encontrar-me com António de Menezes e sua mulher em sua casa. Com as suas memórias fabulosas de tantas décadas de jornalismo em Goa, conta-me algumas histórias, tal como a do presidente de Moçambique Samora Machel perguntando-lhe: - "Onde estão os goeses", porque só via hindus. Ou ainda nas comemorações do IV centenário da morte de S. Francisco Xavier, em 3 de dezembro de 1952, em Velha Goa, o legado cardinalício do Papa Pio X, ao beijarem-lhe tanto a veste, ter exclamado «Isto nem em Roma", tal a devoção do goês cristão. E compreende-se pois ao fundo já tão místico e devoto dos mestres e deuses do milenário Sanatana Dharma e hinduísmo enxertara-se a religiosidade católica portuguesa, também ela cheia de devoções aos santos e sacerdotes e as faces divinas das Nossas Senhoras e de Jesus. 
Quando António de Menezes dirigia o Jornal da Noite, na década de 50.
 Falo-lhe de algumas questões que o Cristianismo não esclarece perfeitamente, tal a possibilidade das reincarnações, tão aceites, pelos hindus, ou ainda as dimensões e características do Céu e do Inferno, provavelmente muito mais individuais e temporárias que prémios ou castigos para sempre e ele vai a acolhendo atento ou receptivo o que lhe digo num sentido de despertar a sua consciência de espírito imortal para além da morte física
Conto-lhe a história do nosso encontro transfigurante há 17 anos, e ele sorri com o seu amor-bondade íntimo, mas não sentiu tanto como eu senti e vi ao contactar e dialogar fusionalmente, como almas de Luz e no caminho do Bem, com um goês cristão....
"Pisar tudo o que é católico", foi uma expressão usada por António de Menezes para definir uma tendência de mentalidade de certos indianos.
Tem 81 anos, nunca foi a Portugal. Pergunto-lhe se gostaria de ir, se pode ir, mas ele com grande naturalidade ou simplicidade de aceitação, diz-me: - "Mas se Goa é Portugal".
"As pedras falam à alma", sente ainda no coração, quando vai a velha Goa, confidenciar-me-á por fim, e será como sua última mensagem.
Sim, é isso mesmo: um homem de coração, um fiel do Amor, António de Menezes. 
 Quinta manhã: a cor do rio Mandovi, é ainda uma mistura de azul do céu e de castanho do ferro das minas de Mormugão. As bandeiras dos barcos concorrem com as folhas das árvores na tremeluzir o vento, que entra pela janela e acaricia o meu braço. Uma pomba vem esvoaçar no resguardo da janela e os corvos continuam a sua crocitagem incessante.
Preparamo-nos para sair de Goa, e despedimo-nos de manhã duma grande alma portuguesa goesa, Selma de Vieira Velho.» 
Muita luz e amor para a denodada Selma de Vieira Velho e o António de Menezes e mulher, tão afáveis anfitriões em Fontainhas e agora sabe-se lá bem onde... Om, Amen!

O Mundo Russo e a sua Catedral, por Aleksandr Dugin. 13 de Dezembro de 2023. Versão portuguesa.

Clarificação da universalidade do Mundo Russo, pelo pai da filósofa e mártir Daria Dugina Platonova (15-12-1992 a 20-2-2022).

       O Mundo Russo e a sua Catedral, por Aleksandr Dugin.

«No limiar do congresso do jubileu do Conselho Mundial do Povo Russo no Kremlin, Moscovo, dedicado ao Mundo Russo, é necessário abordar o próprio conceito de “Mundo Russo” com um pouco mais de detalhe.
A própria designação
de "Mundo Russo" causou muita controvérsia histórica e política acalorada. Quase todos tentaram interpretá-la de forma arbitrária e, dependendo da posição de cada autor, alteravam o seu verdadeiro significado. Alguns transformaram-na numa caricatura, outros, pelo contrário, glorificaram-na de todas as formas possíveis, mas muitas vezes em prejuízo do conteúdo. 

                           
Em primeiro lugar, deve fazer-se a distinção mais importante: o Mundo Russo não significa a mesma coisa que a Federação Russa como um Estado-nação. Isto provavelmente é reconhecido por todos. Mas alguns acreditam que o Mundo Russo é mais amplo e maior do que a Rússia, outros acreditam que ele é mais restrito e localizado, e finalmente outros  colocam-no numa posição intermédia
É claro que a base do Mundo Russo é a Rússia como um Estado, e isto vê-se claramente no facto de que o próprio Presidente da Federação Russa participar dos acontecimentos mais significativos do Congresso do Povo Russo, transformando, realmente, essas reuniões nacionais solenes e totalmente voluntárias numa espécie análoga ao Zemsky Sobor [Parlamento dos estados russos nos séc. XVI-XVII]. Mas o mundo russo é mais amplo do que apenas o Estado, e o povo russo é maior do que a totalidade dos cidadãos russos. Nesse sentido, o mundo russo é formado em torno da Rússia, e o seu Presidente e o Primeiro Hierarca da Igreja Ortodoxa Russa, são símbolos e eixos de toda a civilização, um imã de atração e o núcleo de uma comunidade complexa e não linear de povos, culturas e cidadãos individuais.

                              
Vale a pena mencionar duas outras interpretações – não verdadeiras, mas bastante comuns – do Mundo Russo, porque qualquer conceito adquire [melhor o] seu verdadeiro significado quando é comparado com o que não deveria ser entendido como tal.
Assim, sob [a designação de] Mundo Russo nunca se deve  entender apenas a totalidade dos grão-russos étnicos, ou seja, os eslavos orientais, concentrados historicamente nas regiões orientais da Rússia Antiga, onde Vladimir, mais tarde a Rus moscovita, foi formada e para onde, em determinado momento, foi transferida a capital, juntamente com o trono grão-ducal e a catedral metropolitana.

                                                   
                 Fotografia de: https://brewminate.com/the-princes-of-rus-varangians-to-the-rise-of-moscow/
Essa interpretação distorce completamente o sentido inicial, excluindo do mundo russo os russos ocidentais (bielorrussos e malorussos) e todas as etnias não eslavas da própria Rússia. Com rigor, praticamente ninguém entende o "Mundo Russo" dessa forma, mas seus oponentes, ao contrário, tentam distorcer artificialmente o significado e dar a essa expressão um sentido totalmente inadequado. Portanto, não será supérfluo enfatizar mais uma vez que, sob o “Mundo Russo”, estão compreendidos todos os eslavos orientais (e, portanto, não apenas os grão-russos, mas também os bielorrussos e malorussos), bem como todos os outros grupos étnicos que, em um momento ou outro, associaram o seu destino ao povo russo. Portanto, o Mundo Russo pode incluir, por exemplo, georgianos, arménios ou azeris, e que, embora estejam atualmente fora da Rússia, mantêm a sua crença na proximidade histórica e no parentesco espiritual com os russos.

De Ivan Bilibin (1876-1942) para um dos contos populares russos que ilustrou genialmente

Aqui, no entanto, o principal não é se esses ou aqueles grupos étnicos se consideram parte do Mundo Russo, pois isso pode mudar e depender de muitos fatores, inclusive alguns podem-se considerar parte dele, outros não, e outros não se consideram parte dele agora, mas amanhã o farão. O principal é que o próprio Mundo Russo está sempre aberto aos povos irmãos. É importante que os próprios russos estejam prontos para considerar como parte do Mundo Russo aqueles que o desejam, lutam por ele e compartilham connosco nosso destino comum. E essa abertura não depende do momento histórico ou do clima histórico. Quando falamos sobre o Mundo Russo, essa abertura é um axioma fundamental. Sem ela, o Mundo Russo não é válido. Esse é seu eixo semântico profundo. O Mundo Russo não exclui, mas apenas inclui. Podemos chamá-lo pelo termo ocidental de “inclusão”, mas estamos falando apenas de uma inclusão especial – sobre a inclusão russa e, de fato, sobre o amor russo, sem o qual não existe um russo.
Portanto, o Mundo Russo não pode, de forma alguma, ser mais restrito do que a Rússia, mas apenas mais amplo.
E, por fim, seria errado identificar o Mundo Russo com os três ramos da tribo eslava oriental, ou seja, apenas com os grão-russos, bielorrussos e malorussos. Sim, nós, os três povos eslavos orientais, formamos o núcleo do Mundo Russo. Mas isso não significa que outros povos não eslavos não sejam sua parte orgânica e integral.
Assim, tendo fixado a interpretação correta do Mundo Russo e rejeitado as erradas, podemos continuar pensando sobre ele.
A pergunta que surge imediatamente é: quais são os limites do Mundo Russo? Depois de defini-las, fica claro que essas fronteiras não podem ser nem étnicas, nem estatais, nem confessionais. Essas são as fronteiras da civilização, e elas não são lineares e estritamente fixas. Como podemos colocar o Espírito, a cultura e a consciência dentro de limites físicos rígidos? Mas, ao mesmo tempo, quando nos afastamos muito do centro do Mundo Russo, não podemos deixar de perceber que em algum momento nos encontramos em um território estrangeiro, no espaço de outra civilização. Por exemplo, europeia ocidental, islâmica ou chinesa. E não são apenas o idioma, o fenótipo e os costumes da população local que são importantes aqui. Saímos dos limites do Mundo Russo; a civilização se desintegrou, estamos em um novo círculo cultural diferente do nosso. 
Darya Dugina chamou a atenção para o conceito de “fronteira”. Não é uma fronteira linear, mas uma faixa intermediária, um território neutro ou de ninguém que separa uma civilização da outra. A propriedade da fronteira é mudar constantemente, deslocando-se em uma direção ou outra. Além disso, a fronteira tem vida própria; seu território é um local de intensa troca de códigos culturais, onde duas ou mais identidades convergem, entram em conflito, divergem e voltam a dialogar. Darya vivenciou a fronteira na Novorrússia, enquanto viajava pelos novos territórios. Ela capturou com astúcia a própria vida dessa área, onde o destino do mundo russo está sendo decidido hoje. Sem dúvida, a Ucrânia e Malorossiya [a pequena Rússia, abrangendo Donbas e a Crimeia] pertencem ao mundo russo. Historicamente, ela é seu berço. Porém, mais tarde, quando o centro se deslocou para o leste, ela própria se transformou em uma fronteira civilizacional, tornando-se uma zona intermediária entre a Rússia eurasiática e a Europa. Daí a interseção de influências – no idioma (influência do polaco), na religião (influência do catolicismo), na cultura (influência do liberalismo e do nacionalismo, profundamente estranhos ao código russo). Assim, a fronteira ucraniana, por sua vez, tornou-se uma área de tensão entre dois centros, polos de atração, entre o Mundo Russo e o Ocidente Europeu. Isso foi claramente observado na política eleitoral da Ucrânia (quando ainda havia eleições no país) e levou a uma terrível guerra fratricida. 
                              
Outro exemplo das fronteiras do mundo russo é a irmã Belarus, [Bielorrússia, a Rússia Branca]. Seu povo também foi separado de nós, os grão-russos, por um tempo, e tornou-se parte do Grão-Ducado da Lituânia e, depois, do Estado Polaco. Com toda a originalidade e autenticidade da identidade Bielorrussa estabelecida, as peculiaridades do idioma e da cultura, essa fronteira não foi dividida em dois polos de atração. Com total soberania e independência, Belarus é uma parte orgânica e integral do Mundo Russo, permanecendo um estado totalmente independente. 
Portanto, o Mundo Russo não significa necessariamente nem absorção, nem guerra, nem a presença ou ausência de fronteiras estatais. Se a fronteira ucraniana se comportasse da mesma forma que a fronteira bielorrussa, ninguém atacaria a integridade territorial da Ucrânia. O Mundo Russo é aberto e pacífico, pronto para a amizade e a parceria em vários aspectos. Mas não pode responder a atos de agressão direta, humilhação e russofobia.
Uma vez o Presidente Putin respondeu à pergunta sobre onde a Rússia termina e, nesse caso, “Rússia” significava o Mundo Russo: lá, onde um russo pode chegar, onde seremos forçados a parar. E é bastante óbvio que não pararemos antes de restaurar a integridade de nossas terras do “Mundo Russo”; os contornos naturais e as frentes harmoniosas (embora complexas) de nossa civilização.
O Mundo Russo está baseado na Ideia Russa . E essa ideia, é claro, tem suas próprias características peculiares e únicas. A sua construção é determinada por valores tradicionais, absorvendo a experiência histórica do povo. A Ideia não pode ser inventada ou desenvolvida, ela cresce das profundezas de nossa consciência social, amadurece nas profundezas do povo, busca uma saída nas percepções e obras-primas de gênios [tal em Portugal, Antero de Quental, tão adepto e poeta da Ideia], líderes militares, governantes, santos, ascetas, trabalhadores, famílias simples. A Ideia Russa se aplica a todos: as famílias russas que respondem ao seu chamado com fertilidade e trabalho criativo; o nosso exército, que defende as fronteiras da pátria à custa de suas vidas; o aparato estatal, que é chamado a servir o país com base na ética e na lealdade; o clero, não apenas orando incessantemente por prosperidade e vitória, mas também esclarecendo incansavelmente o povo e educando-o nos fundamentos da moralidade cristã [e da auto-realização espiritual e religação Divina, como o fazem os grande starets]; os governantes que são chamados a conduzir o Estado à glória, prosperidade e grandeza. 
São Serafim de Sarov, um dos starets ou mestres mais venerados. 1759-1833.
O Mundo Russo é aquele ideal que está sempre acima de nós, formando um horizonte de sonhos, aspiração e vontade.
E, finalmente, o que significa o Mundo Russo nas Relações Internacionais? Aqui, o conceito adquire um peso ainda mais significativo. O Mundo Russo é um dos polos do mundo multipolar. Ele pode ser unido em um Estado (como a China ou a Índia) ou representar vários Estados independentes, unidos pela história, cultura e valores (como os países do mundo islâmico). Mas, em qualquer caso, é uma civilização estatal com sua própria identidade original e distinta. A ordem mundial multipolar é construída sobre o diálogo de tais “mundos”, Estados-Civilizações. E o Ocidente, nesse contexto, não deve mais ser visto como portador de valores e normas universais, universalmente obrigatórios para todos os povos e Estados do mundo. O Ocidente e os países da NATO são um dos mundos junto com outros, uma civilização de Estados entre outras – Rússia, China, Índia, bloco islâmico, África e América Latina. O mundo Universal é formado por um conjunto de polos separados – grandes espaços, civilizações e frentes, separando-os e conectando-os simultaneamente. É uma construção delicada que exige delicadeza, subtileza, respeito mútuo, tacto, familiaridade com os valores do Outro, mas só assim é possível construir uma ordem mundial verdadeiramente justa. E nessa ordem mundial, é o Mundo Russo, e não apenas a Rússia como Estado, que é um polo de pleno direito, o centro de integração, uma entidade civilizacional única, baseada em seus próprios valores tradicionais, que podem coincidir em parte e diferir em parte dos valores de outras civilizações. E ninguém pode dizer de fora o que deve ser e o que não deve ser para o Mundo Russo. Isso é decidido apenas pelos seus povos, a sua história, o seu espírito, o seu caminho na História.
Todos esses são os principais tópicos do Conselho Mundial do Povo Russo dedicado ao Mundo Russo.

Fonte: Geopolitika.ru. Artigo de Aleksandr Dugin traduzido pela Nova Rússia, do Brasil, e aperfeiçoado por mim