quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Diário de 1995. Velha Goa e Pangim. Com Selma Vieira Velho, António de Menezes e Maria Ferreira da Silva.. Peregrinações, meditações e diálogos.

«Goa, gondola dourada no rio do passado, vai-se comercializando pelos novos colonos indianos. Nas ruas estão acocorados os mesmos pobres de sempre vendo passar os novos senhores com dinheiro. Não se julgue contudo que haja ódio, ou ressentimento; não, qualquer indiano sabe intuitivamente sentir a unidade de todos os seres e ver passar os endinheirados é sê-los por algum tempo. 

As ruas da cidade são ora dolorosas, enquanto se degradam as suas casas antigas, dos séc. XVIII e XIX, ora indiferentes quando reconhecemos a inevitabilidade de Goa ir perdendo as suas características antigas indo-portuguesas e em certos aspectos poder degradar-se pelo aumento populacional.
Hotel Mandovi, o mais caro e famoso, está cheio, o Park Hotel não cheira muito bem e está algo sujo nos três quartos que visitámos. O Sun Rise só tem um quarto vago a partir das 18 horas. Por fim, o Mayfair acolhe-nos, limpo, simples, barato.
Saída ao centro da cidade e entramos no Instituto Menezes de Bragança, uma das principais instituições de cultura desde há muito, [pois foi fundado em 1871 como Instituto Vasco da Gama. por iniciativa do escritor Tomás Ribeiro, então secretário do Governador da Índia, e nele houve grandes conferências, além de um boletim com artigos muito interessantes. Com dois membros dialoguei bem há uns anos, Padre Filinto Dias e o Reverendo Alberto de Mendonça, seres de grande amor, sabedoria e cultura...]
Aqui está ainda Portugal presente nos azulejos do átrio onde as cenas principais dos Lusíadas ao estilo de Roque Gameiro mas de Jorge Colaço, de 1935, falam-nos silenciosamente da história antiga de Portugal. Mas que significado e valor terão hoje para a generalidades dos habitantes? Provavelmente 80 ou 70% das pessoas de Goa já pouco ou nada saberá disto.
                     Velha Goa
A Basílica de S.
Francisco Xavier alta, imponente, espaçosa, recebe-nos de braços abertos: ao fundo no altar-mór, o santo tem-nos virado para o alto, para o sol do Espírito. 
Altares poderosos, sob a invocação da Senhora e do arcanjo Mikael.
O corpo de Xavier no cofre dourado [de prata]  está calmo [ou transmite tal vibração na sua perenidade devocionada...] 
Passamos à grande Sé onde, sem o movimento de visitantes da basílica, já é possível meditar em frente a uma grande capela onde está o Santíssimo Sacramento exposto e que por entre as grades deixa ver as pinturas de Melkitsedek recebendo Abraão, e Jacob recebendo a visita dos Anjos. 
Saudar a Ordem Espiritual de Portugal, designável por ordem de Mariz, e na meditação bem cardíaca e serena, sinto como estes locais têm um excesso de energia espiritual, e que é derramada generosamente no cálice que os peregrinos elevam, e possivelmente em especial quando são de Portugal.
Porque houve aqui grandes seres, obras e vidas, certas energias foram criadas. Havendo pouca gente a sintonizar nelas, estando quase despovoada a zona de Velha Goa, essas energias (e provavelmente almas a elas ligadas) estão mais concentradas e podem descer com facilidade.
Na meditação veio-me o velho dito."Não tenho medo de nada nem de ninguém". Agora tenho de realizar outro preceito "Não desejo nada nem ninguém" .
                                       
Ao fim da tarde vamos até à Igreja
da Conceição, já de novo em Pangim ou Nova Goa, com a sua escadaria imponente, verdadeiramente purificadora, na linha ad astra per aspera. Oramos e meditamos no interior. Umas senhoras goesas e uns senhores esperam que comece a missa das seis horas que é dita em concani e em que nós participamos  devotamente com a sintonização que conseguimos...
Agora já são 23:12, no sossegado e limpo hotel Mayfair, e vou meditar...
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So
nhos nocturnos com mar, ondas, águas, piscinas. Predomina esta elemento em Goa, ou são as emoções-paixões a causa deles?
Num primeiro, o mar estava forte avançava em o
ndas altas e cadenciadas. Eu e outras pessoas apreciávamo-las e cavalgávamos-las ou lidávamos com elas. (...)
(...)
Como se vê é tão difícil correlacionar e interpretar correctamente os sonhos (já para não falar sequer do registar), sobretudo quando tantos níveis se cruzam nestes restos da Roma do Oriente e da sua sucessora Pangim, quando um português com consciência do passado os atravessa e procura [discernir, sintonizar] o futuro certo

Hoje na meditação [matinal] de 20, sexta-feira, veio no olho espiritual a luz, ao fim de algum tempo, e ainda compreensão do que acabar a meditação quando a luz se derrama é um dos sentidos do misterioso "pecado contra o Espírito Santo". Antes havia apenas o apelo a Cristo. Talvez aqui em Goa esta energia talhada com tanto sangue e sacrifício esteja ainda bem presente e exercendo a sua influência subtil sobre todos os que por aqui passam, ou sobretudo os que oram e meditam.
Às 12 horas, a investigadora Selma de Vieira Velho [amiga de Margarida Correia de Lacerda, em casa de quem a conheci, e da Maria Ferreira da Silva, e autora da A Influência da Mitologia Hindú na Literatura Portuguesa dos Séculos XVI E XVII, em 2 vols. 1988, tão valiosa em especial nos capítulos sobre A influência indiana (hindu) em Gil Vicente e Camões], veio visitar-nos  ao hotel e ficamos a almoçar e a conversar até às 17.40 sobre vários aspectos da história e da espiritualidade de Goa e da Índia, que ela conhece bem e vibrantemente. Meditação antes do jantar com algumas compreensões valiosas acerca do que dialogamos mas que depois me escapam da memória da superfície, embora  na meditação da noite fossem recuperadas em parte e agora de manhã transcritas:
A Ordem de Cristo, a Ordem Templária, são estados de consciência, são ordens internas, místicas. É cada ser por si próprio que se acerca e se insere nelas, alcançando ou merecendo certos níveis, conforme o seu estado anímico e as suas realizações. São recriadas ou reactualizadas constantemente com o fluir dos tempos, conforme os que as animam, ou, externamente, ao contrário, que as desfiguram, distorcem, abusam. Certo, há nelas a designação particular de Cristo, que exclui portanto Buda, Maomé, Nanak ou Krishna, embora se saiba igualmente que palavra Χριστός, Khristos, Cristo, significa fundamentalmente Ungido, pelo espírito divino.  E assim é natural que certos seres, ainda que avançando por uma dessas linhas religiosas não cristãs, cheguem depois à universalidade delas, ao ungimento espiritual, a uma cristificação interna e, logo, tenham acesso aos níveis mais elevados das Ordens espirituais, ou ao nível em que todos aqueles fundadores ou sábios vivem, sendo apenas mestres da mesma Fonte Divina...
             
Velha Goa
[Domingo] Estamos à somb
ra das duas árvores centenárias e gigantescas do jardim da Igreja de S. Caetano, após meditação no seu interior. As folhas desprendem-se dos ramos nas rabanadas do vento e dão-nos um certo sabor de Outono.
Dentro da Igreja a vibração fresca permite-nos lançar nos apelos orativos e nas consciencializações do Espírito [energias luminosas].

Alguns pássaros cantam e incitam-nos a redescobrir a alegria divina.
Esti
vemos antes na igreja da Sé Catedral em boa meditação, com a luz a vir, e as pessoas a sorrir [ao verem-nos a meditar, unindo Cristianismo e Hinduísmo ou pelo menos Yoga indiano].

 [Notas escritas já ao findar do dia:]
- A compreensão clara de que a Ordem de Cristo é interna, subjectiva ou íntima. Chegar à ordem de, ou ligação, ou direcção de Cristo.
- O que é em cima é igual [ou semelhante] ao que está em baixo, aplica-se ao olha para o espírito, que tanto pode ser visto para o alto, como para o chacra da raiz [da coluna e suas profundezas]
- A exuberância e vitalidade da energia ambiental colora e modela a energia anímica interna. Curioso intuir a situação da energia interna dos seres (e dos cavaleiros e iniciados de outrora), ao ser influenciada por este sítio.

                                                 

À tarde ida das 13:30 às 17.30 ao cemitério português do Oriente, em Velha Goa, ao convento dos Agostinhos. E afirma-nos a Selma de Vieira Velho que já  não estão 1/10 das sepulturas, pois dezenas e dezenas delas foram feitas em bocados para se pavimentarem as estradas que ligam Velha Goa a Nova Goa e sua capital Pangim.
O Museu do Convento S. Francisco é outra desgraça: das centenas ou mesmo milhares de peças maravilhosas que intensificaram a espiritualidade de Goa, muitas delas perdidas, exportadas, escamoteadas e vendidas, conservam-se no museu cerca de vinte peças de arte cristã com pouco valor artístico ou de raridade, parecendo que querem até diminuir o valor do cristianismo, [embora seja verdade que as melhores existentes em Goa foram recolhidas em 1994 num museu de arte sacra no seminário de Rachol].
Mas que beleza e alegria ao encontrarmos o chão da torre e igreja e Santa Maria dos frades Agostinhos tão cheio de sepulturas de fidalgos, religiosos e notáveis ou esforçados, que aqui deixaram o sangue, os ossos e a fama sepultada e que ainda,  passados 300 ou 400 anos, fazem vibrar a nossa alma. Que sensação espiritual caminhar sobre eles em admiração e gratidão, oração e comunhão...
Reina aqui um silêncio santo desde há 200 e tal anos quando a cidade de Velha Goa foi sendo abandonada por causa das epidemias.
 
Escrevo estas memórias do Domingo na noite final de Diwali [festa das luzinhas, algo correspondente ao Natal, móvel, de 21 a 23 de Outubro em 1995] em Pangim. Os tambores tocam como num concurso ou cortejo de Carnaval. Os carros processionais com o demónio (Ravana) vencido por Rama passam. O pagode está na rua. Já Velha Goa repousa ainda em silêncio. Mas por pouco tempo. Casas e mais casas começam a ser construidas nas imediações. No centro do próprio perímetro sagrado o Estado indiano deixa fazer uma pequena indústria química, disse-nos a Selma. Com efeito, vê-se edificar uma casa semi-disfarçada pelas árvores. O que virá a ser? 
 Velha Goa, Igreja de Santa Maria, dos frades Agostinhos:
Vamos lendo, decifrando os epitáfios sagrados, que jazem aos nossos pés: aqui um capitão de Ormuz, ali uma sua alteza, as mulheres, os herdeiros, pedem orações ou transmitem-nos símbolos religiosos, o que vou fazendo, com Aum e Amens...
Cerca de 2000 estudantes chilrearam por aqui na época áurea. Que cerimónias mais luzidas, de estudos ou da religião, não foram estas pedras, caminhos, largos e igrejas testemunhas?
Hoje o chão e as paredes do convento e da igreja estão cobertos de ervas e poeira, e o vento é o único oficiante. Mesmo assim ergo algumas orações e invocações das bênçãos divinas pelas almas aqui celebradas ou presentes...
Caminhamos sentindo sacralidade do sítio, e a sua queda a pique. Atravessamos constantemente as barreiras do tempo, e entre as memórias do passado e os ideais do futuro, o presente torna-se inquisitivo, exigente.
Onde está o ideal espiritual e de liberdade dos cavaleiros e iniciados?
Onde está o Amor da Ala dos Namorados e dos Cavaleiros do Amor? Onde está o Templo e o V Império?
Estamos nós a trabalhar suficientemente para isso, para acender e manter o Amor sempre a brilhar?
Velha Goa é ainda um chakra ou centro de forças fundamental para este trabalho?
Deverão vir aqui alguns iniciados reactivar e intensificarem-se?
Eis desafios que as pedras e almas de Velha Goa nos transmitem impulsionadoramente, elos duma mesma Tradição Perene...

                                                       
Visita da Igreja de S. Catarina onde Afonso de Albuquerque em 1510 assistiu e dirigiu do alto a conquista de Goa. Bela.
Depois a igreja de S. Francisco, belíssima, algo orientalizada ao estilo de Constantinopla e com um Espírito Santo clarissimamente irradiando o mistério da fecundidade tropical.
Mas já o museu tem quadros retocados ou restaurados pessimamente, talvez até para diminuírem a pujança dos governadores iniciais. 
A Igreja de S. Caetano tem um poço no centro da igreja, debaixo da cúpula. Há uma cripta onde estão até ossadas de cavaleiros mais modernos. Para a Selma era um local iniciático. Passamos ainda à igreja de S. Catarina, mas só por fora. À saída de Velha Goa, à direita, uma igreja sempre fechada surge aberta, a celebrar a missa da tarde de Domingo e há ainda umas quarenta pessoas. Com os anos irá diminuindo provavelmente, mas nunca se sabe bem dos regionalismos religiosos em povos de milenárias devoções....
Regresso a Nova Goa ou Pangim, ao bairro das Fontainhas, para encontrar e conversar com António de Meneses, óptimo para os seus 80 e tal anos. Um amante extraordinário de Goa, da cultura portuguesa e do amor divino que tem bem acesso em si. 
 Novo dia, [Segunda, 23]. Regresso, ou outra peregrinação, a Velha Goa.
Visita de novo da Torre e interior da igreja dos Agostinhos, hoje só com as paredes e o seu fabuloso lagedo de almas vivas em lápides. Fazemos uma meditação equatorial, no húmido calor-amor.
De António Lopes Mendes,  A Índia Portuguesa, de 1886, desenhos seus.
Visita à igreja do convento das Mónicas onde belas pinturas sobrevivem no arco da porta, e onde o claustro está ainda vivo de devoção, pois o antigo convento de S. Mónica, o único para mulheres em Goa, fundado em 1606, está transformado ou alberga um Instituto Religioso Feminino, com artes e lavores de grande delicadeza em exposição, conservando a sua igreja bela de S. Maria. [O convento partir de 2001 acolherá, num projecto de arquitectura museológica moderna, o Museu de Arte Cristã de Rachol, com cerca de 180 peças de valor.]
                     
Basílica de S. Francisco Xavier. Compreendendo uma das mensagens das pinturas e esculturas florais e arborícolas tão presentes nestas igrejas e altares: da Natureza bruta podem-se extrair flores e frutos maravilhosos. A arte, a cultura, a educação são capazes de fazer brotar a perfeição, a manifestação da Divindade. Esta mensagem está dada sobretudo em quatro pinturas esculpidas no mais alto do altar central. Boa meditação.
Passagem para a igreja da Sé catedral onde estão muitas invocações da Ordem de Cristo, sobretudo pela sua cruz, sobretudo no 1º altar, de Nossa Senhora. Fazemos um boa meditação. 
Depois passeio a pé à volta da igreja de S. Caetano indo pelo arco da Conceição. Entrada pelo arco dos Vice Reis. Os arcos são sempre sinais, símbolos, invocadores da grande passagem da dispersão para a eternidade ou a Unidade, e fazemo-lo por alguns momentos em pé, numa meditação intensa, comungando na eternidade da história aqui vivida e da transcendência imanente dela.
Meditação final na igreja de S. Caetano.
Terça-feira, noite 24 de Outubro
De manhã foi o eclipse do sol e meditei na sua luz e vi-o bem, embora parcialmente. Depois de comprarmos bilhetes para Nova Delhi para quinta-feira, fomos realizar um périplo de igrejas, praias e fortes, com um bom banho em Calengute. Água não fria, ondas amigas e demorei-me em brincadeiras com o mar. 
 Ida a Mahem, à tarde.
Lá chegámos à antiga casa do trisavô materno, o conde de Mahém [D. José Joaquim de Noronha] agora na posse de uns parentes quase não parentes. Estava lá Dona Elsa e visitámos a capela, a casa e conversamos um pouco. Quem conseguirá imaginar a vida familiar, convivial e cultural tão grande que aqui houve? [Algo foi registado por Higino da Costa Paulino e mais detalhadamente pelos seus filhos Francisco, 2º conde Mahem,  e o António de Noronha Paulino, nos seus livros Goa Nossa Terra, 1957, e Relembrando Goa, 1963, além das fotografias preservadas e pequenas descrições por Caetano Gonçalves e outros].
 Bela vista da sala principal sobre uma enorme extensão de arrozais, e um jardim agradável à volta da casa. Dos tempos antigos conservaram dois móveis e na capela um crucifixo, imagem do sacrifício, e as leituras das partes principais da missa em latim, em quadros para o sacerdote ler e que eu recito em voz alta, nomeadamente o início do Evangelho de S. João, "Ao Princípio é o Logos", com votos que chegue aos antepassados e familiares que por aqui passaram, os Noronhas e quem a eles se juntou, como o Fernando Leal, Wolfgango da Silva e Higino da Costa Paulino...
Lago de Mahem, frondoso, calmo e belo. Pagar uma rupia para entrar quem é descendente do dono do local... E regresso, com travessia de ferryboat, percorrendo os 92 kms de estrada entre Pangim e Mahem em quase seis horas e meia de viagem, e 450 rupias para o rapaz de boa vibração.
Quarta-feira 25
Manhã visitámos a Fundação Oriente e Fernando Aires Sá recebe-nos simpaticamente. Fala-se das dificuldades e possibilidades da cultura portuguesa na Índia.
À tarde passo a buscar ao Instituto Menezes Bragança alguns números da sua valiosa revista e depois vou encontrar-me com António de Menezes e sua mulher em sua casa. Com as suas memórias fabulosas de tantas décadas de jornalismo em Goa, conta-me algumas histórias, tal como a do presidente de Moçambique Samora Machel perguntando-lhe: - "Onde estão os goeses", porque só via hindus. Ou ainda nas comemorações do IV centenário da morte de S. Francisco Xavier, em 3 de dezembro de 1952, em Velha Goa, o legado cardinalício do Papa Pio X, ao beijarem-lhe tanto a veste, ter exclamado «Isto nem em Roma", tal a devoção do goês cristão. E compreende-se pois ao fundo já tão místico e devoto dos mestres e deuses do milenário Sanatana Dharma e hinduísmo enxertara-se a religiosidade católica portuguesa, também ela cheia de devoções aos santos e sacerdotes e as faces divinas das Nossas Senhoras e de Jesus. 
Quando António de Menezes dirigia o Jornal da Noite, na década de 50.
 Falo-lhe de algumas questões que o Cristianismo não esclarece perfeitamente, tal a possibilidade das reincarnações, tão aceites, pelos hindus, ou ainda as dimensões e características do Céu e do Inferno, provavelmente muito mais individuais e temporárias que prémios ou castigos para sempre e ele vai a acolhendo atento ou receptivo o que lhe digo num sentido de despertar a sua consciência de espírito imortal para além da morte física
Conto-lhe a história do nosso encontro transfigurante há 17 anos, e ele sorri com o seu amor-bondade íntimo, mas não sentiu tanto como eu senti e vi ao contactar e dialogar fusionalmente, como almas de Luz e no caminho do Bem, com um goês cristão....
"Pisar tudo o que é católico", foi uma expressão usada por António de Menezes para definir uma tendência de mentalidade de certos indianos.
Tem 81 anos, nunca foi a Portugal. Pergunto-lhe se gostaria de ir, se pode ir, mas ele com grande naturalidade ou simplicidade de aceitação, diz-me: - "Mas se Goa é Portugal".
"As pedras falam à alma", sente ainda no coração, quando vai a velha Goa, confidenciar-me-á por fim, e será como sua última mensagem.
Sim, é isso mesmo: um homem de coração, um fiel do Amor, António de Menezes. 
 Quinta manhã: a cor do rio Mandovi, é ainda uma mistura de azul do céu e de castanho do ferro das minas de Mormugão. As bandeiras dos barcos concorrem com as folhas das árvores na tremeluzir o vento, que entra pela janela e acaricia o meu braço. Uma pomba vem esvoaçar no resguardo da janela e os corvos continuam a sua crocitagem incessante.
Preparamo-nos para sair de Goa, e despedimo-nos de manhã duma grande alma portuguesa goesa, Selma de Vieira Velho.» 
Muita luz e amor para a denodada Selma de Vieira Velho e o António de Menezes e mulher, tão afáveis anfitriões em Fontainhas e agora sabe-se lá bem onde... Om, Amen!

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