domingo, 26 de novembro de 2023

Dia de Nossa Senhora. Uma oração e consagração íntima e templária, transcrita dum diário de 1986.

                                          

8 de Dezembro de 1986 [Mítico dia da Concepção imaculada ou pura de Maria]

«Dia de Nossa Senhora, e ao mar venho  e saúdo o seu excelso ser e  abro-me ao fogo que do Sol desce e à espuma pura que do abismo sobe e meu ser sente-se então baptizado na sua intimidade ou interioridade...

Quem és, ó Senhora da Noite e do Oceano sem fim?

Meu ser prescruta teus mistérios e  prometo até diariamente alguma devoção que seja esforço de penetrar nos teus segredos e de receber as tuas vibrações para que a mulher seja sagrada e pura, para que o lar seja virtude  e exemplo, para que o amor e alegria brotem da harmonia da polaridade interna e externa...

Meu Deus, que habitais nos corações e nas casas dos que te invocam como Pai e Mãe, dá-me a graça de ser um bom Pai com a mulher que será a Boa Mãe e em quem eu encontro o Maria e o Jesus que será em mim não o refém dum mundo egoísta, mas o portador do Cristo glorioso, transfigurador.

Das brumas do longínquo e do possível a nossa esperança erguer-se-á sempre melhor. Que prosperemos, porque senão estagnamos, e não nas posses mas nas dádivas puras, e nas religiões, mas justas, e nas orações sinceras e consequentes. 

 Meu Deus, aqui renovo os meus votos de castidade, pobreza e obediência. Que os desfaça apenas se for meu destino ou missão casar-me nesta vida. Aceita-me como discípulo eremita, ou então como homem casado, ó Cristo Jesus, mestre da minha alma.

E para ti, Virgem, neste dia de Ti, que a mulher em mim, o desejo de amor, de compaixão, de beleza e de conforto se realize no puro contacto com o Todo, as  pedras, sol, vento, dor; que não precise assim de intimidades especiais com quem quer que seja nem as desenvolva, antes haja em mim um fogo sagrado que arda no meu coração e que eu adoro pela atenção ou consciência alentadora dele, e que é um diálogo com a Inteligência e o Amor puros que és, ó imensa e infinita Divindade que enches tudo enquanto vida e em quem temos o nosso ser, subtilmente, desconhecidamente...

Deus, Deus: Non nobis, Domine, Non Nobis sed Nomine Tuo da gloriam. [Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu Nome [vibração despertante] dá glória]

Invoco os cavaleiros de Santa Maria, os Templários de Cristo, os Fiéis do Amor e os Anjos e Arcanjos para que estejam na minha guarda ou inspiração e que eu seja um deles.  Amen, INRI. [In nobis regnat Ignis]»

Arcanjo de Portugal, na charola do convento templário de Tomar. Em madeira, séc. XVI.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

"A Franco-Maçonaria Mística" por Bô Yin Râ. Tradução do alemão para francês por Oswald Wirth, em 1926, e para português em 2023 por Pedro Teixeira da Mota.

Para celebrarmos o 147º aniversário do nascimento do notável mestre alemão Bô Yin Râ resolvemos traduzir do francês para português, este tão valioso texto escrito em 1925 em alemão por Bô Yin Râ e oferecido a Oswald Wirth, que o traduziu em francês e  o publicou em 1926 na revista mensal que dirigia Le Symbolisme organe d'Initiation a la Philosophie du grand Art de la Construction Universelle, com treze linhas de apresentação e duas pequenas notas, com pouca importância e que não transcrevemos. 

O texto de Bô Yin Râ é  bem valioso  sobre a essência da realização espiritual e que a Maçonaria Mística que surgiu nos primórdios civilizacionais saberia e transmitiria, ao ensinar a construir templos e edifícios exteriores e simultaneamente o templo espiritual interior, . As pedras vivas, a pedra de fundação são expressões da mesma linguagem e tradição no Cristianismo, que perpassara também nos mistérios egípcios e greco-romanos, e em vários dos seus livros Bô Yin Râ utilizará esta linguagem simbólica, com alguns dos seus quadros dando-nos perspectivas visuais dos templos internos ou espirituais de que os terrenos são aproximações.

  O texto é tão bom, toca nos aspectos mais importantes da realização espiritual e religação íntima divina, que dispensa, pelo menos por agora comentários, embora deva surpreender os mais conhecedores da obra publicada de Bô Yin Râ pois desconhecerão este texto, do qual provavelmente o original em alemão se perdeu ou eventualmente se encontra inédito. Oiçamos então o profundo e tão elevado ensinamento deste notável mestre.
                                        
«Apesar da aparência resultante da diversidade de ritos e obediências, existe uma só e única Maçonaria na Terra.
Os sistemas em prática reduzem-se a duas categorias, segundo a sua tendência seja esotérica ou exotérica.
A Maçonaria esotérica é velha como o mundo; foi ela a mãe das organizações exotéricas e da Maçonaria moderna dita humanitária.
O Ir: Henry Gray mostra-nos na [revista] Acacia, como ela se desenvolveu sob a influência das tradições dos Companheiros Artesões [des traditions compagnonniques]. Que nos seja permitido aqui chamar a atenção do leitor para uma evolução mais misteriosa, que não foi suficientemente tida em conta.
"Aprende a tomar conhecimento de ti mesmo!" Este é o preceito que está na base de toda a iniciação. A Maçonaria original, que se nos revela na essência da Maçonaria Mística, não é outra coisa senão o verdadeiro serviço divino aplicado a si mesmo. Eis como se exprime sobre este assunto um Mestre cuja competência se impõe:
No decorrer de uma longa série de milénios, o ser humano concebeu inúmeras formas de culto divino. Dependendo da representação que se conseguiu fazer da Divindade, alcançaram-se inúmeras possibilidades de expressão, desde as manifestações mais grosseiras 
até se atingir a mais alta espiritualidade.
Ora, todos os cultos procedem de uma concepção antropomórfica, como se Deus tivesse necessidade de ser servido pelo homem, como se a divindade esperasse do homem um serviço do qual ela não pode prescindir, tal como o ídolo inerte só é animado na imaginação dos seus adoradores que pelo culto que lhe é prestado.
Os modos superiores de semelhantes cultos são susceptíveis de fecundar o sentimento religioso, dando o impulso germinante a aspirações muito nobres, inspiradoras de símbolos expressivos de concepções refinadas.
Mesmo assim, tudo nestes cultos se reduz a um serviço humano e não divino, porque respondem à necessidade que o homem tem de fornecer ao seu próprio espírito um incentivo a se elevar, enquanto procura satisfazer a sua inteligência por formas cultuais que lhe permitem melhor discernir as suas relações com o fundo misterioso das coisas, objeto dos seus sonhos meditativos, que chegam a uma vaga adivinhação, a uma fé positiva ou ao esboço de um conceito filosófico.
Pode resultar para o ser humano uma estimulação poderosa impulsionando-o a descobrir o mundo espiritual, mas o seu avanço só é proveitoso à sua própria alma, pelo que não há serviço divino, no sentido rigoroso da palavra.
Servir a divindade pela celebração dum culto considerado como um tributo que a terra deveria ao céu não é o que consistiu o verdadeiro serviço divino. Este resulta da consagração livre de todas as energias e faculdades do homem para a realização da vontade divina, tendo em vista a sua dócil subordinação à direção do Deus vivo que se manifesta pela espiritualidade humana. Liberto do caos do desejo impetuoso, o verdadeiro servidor de Deus é objeto de um trabalho interior de cristalização, graças ao qual cada átomo energético sofre a influência da eterna força coordenadora cósmica, que o conduz ao lugar propício ao cumprimento da sua tarefa...
Que o ser humano peça aos cultos exteriores para contribuírem à sua elevação espiritual e que a acção do culto seja para a sua alma uma fonte de emoção salutar. Mas nem por isso deixará de ser certo que ele só pode unir-se a Deus devotando-se sem reserva à realização das intenções divinas.
Trata-se duma "servidão" que só pode conduzir à liberdade suprema. Quem serve aprende a reinar. Pela subordinação, o inferior tende a assimilar o superior, aceitando o ritmo vibratório dele. Na vida cósmica, a influência suprema transmite-se assim integralmente através de toda a cadeia dos éons.
As aspirações espirituais saudáveis do ser humano nesta Terra tendem, em última análise, à manutenção da individualidade em plena consciência por toda a eternidade, para além da dissolução do corpo e sem ser afetada por essa dissolução. Ora, como realizar esta imortalidade, senão pondo todas as forças em concordância com a centelha divina eterna: o núcleo de cristalização coordenador de tudo o que é consciente.
Todas as artes ocultas, incluindo as mais espantosas actuações dos faquires, não fazem avançar nada, pois os resultados obtidos limitam-se ao mundo da manifestação física, que desvanece-se para nós logo que o cérebro do nosso organismo animal deixa de estar à nossa disposição para transformar as nossas sensações.
De que servem, por outro lado, os privilégios de um visionarismo lúcido, que se presta, no máximo, à percepção das imagens geralmente não percepcionadas da aura planetária, onde as nossas formas-pensamento flutuam como fantasmas? E quando o visionário imagina consequentemente que as suas visões o levam para o mundo do puro espírito, está a ser vítima de uma ilusão grosseira e perigosa.
Não dissimulemos também a nós próprios a vaidade de todo o discernimento racional e de todo o conhecimento aplicando-se aos mundos do espírito, uma vez que toda aquisição é aniquilada assim que as funções do cérebro cessam. Nenhum vestígio permanece então na consciência animal, a menos que ela tenha conseguido antecipadamente, enquanto ainda possuía o cérebro, realizar a união com o seu Deus vivo, a centelha divina do nosso santuário interior.
Esta união de todas as forças da alma, de todas as possibilidades sensoriais, incluindo as que provêm unicamente do corpo, realiza-se no eu mais profundo, na intimidade mais sagrada da sensibilidade interior, a única capaz de sentir o divino e de o atingir no único santuário onde se pode encontrar o Deus que está efetivamente vivo em cada um de nós. A procura de semelhante união propõe-se ao ser humano enquanto tarefa espiritual, a única verdadeiramente digna de todos os seus esforços.
O Reino dos Céus sofre violência, e só os violentos se apoderam!
Sem "violência", como rejeitar as objecções incessantes de um intelecto apegado só ao mundo físico e às especulações que dele derivam? Como obter a calma interior que nos permite perceber o nosso eu no seu aspecto primordial, enquanto que Deus vivo, que, em cada momento da nossa existência nos recria à sua imagem? A eterna criação deste Deus faz de nós o que somos espiritualmente. Tornemo-nos cada vez mais semelhantes a ele, para que, participando no seu discernimento, possamos manter a nossa identificação de consciência através de toda a cadeia dos eons.
Não se trata aqui de um esforço tenso, nem de uma concentração torturadora da vontade, mas simplesmente de uma atenção constante para repelir com energia as intromissões indiscretas do intelecto, cuja presunção visa impor-se num domínio que lhe será sempre inacessível. Uma vez domado o intelecto, beneficiamos da grande calma recolhida, a qual permite  então que as nossas energias sentimentais se consagrem voluntariamente ao serviço do Deus interior, pelo qual vivemos e somos. Esta consagração permite ao homem eterno ressuscitar do seu túmulo, depois de ter nascido do espírito, para se tornar imagem e semelhança do seu "Pai" que está nele, no "céu" interior do homem.
Logo que conseguimos domar o nosso intelecto, ele presta-nos excelentes serviços como tractor favorecendo os nossos progressos, porque é bom considerar intelectualmente o que foi sentido em espírito. Juntamos assim os materiais de uma construção mental a erigir segundo as leis da lógica, a fim de nos ser possível conservar em boa ordem os tesouros da nossa sensibilidade interior. Estes correriam o risco de se dispersarem por todos os ventos se, graças ao abrigo que nós próprios construímos, não fossem subtraídos à agitação da nossa vida diária.

O que é essencial é que não nos abandonemos à direção do intelecto, quando, à luz pálida da nossa aurora intuitiva, enveredamos na via das explorações que nos devem conduzir à descoberta do núcleo vital que nos é comum a todos, tal como temos em comum o mesmo domicílio ultra-íntimo, uma mesma maravilha para sempre inconcebível, uma mesma "joia central da flor de lótus".
O intelecto é um excelente explorador, hábil a apanhar os traços susceptíveis de levar ao discernimento das coisas, cuja última manifestação se efectua através do mundo físico dos sentidos. Neste domínio, o intelecto merece toda a nossa confiança e devemos favorecer o seu pleno desenvolvimento, pois também ele é de essência divina e, desde que não ultrapasse as suas atribuições, a sua ação é benéfica.

Para chegar a Deus, não procuremos exteriormente, nem mesmo nesse exterior que tantos investigadores consideram como "interior", simplesmente porque não lhes é revelado por nenhum dos seus sentidos! A mente humana eternizar-se-ia em vão a procurar de Deus nas mais elevadas regiões espirituais; jamais a Divindade será encontrada aí, pois só se manifesta dentro de entidades espirituais: a divindade nunca será encontrada aí, pois só se manifesta no seio de entidades espirituais que são da sua própria natureza. Não procuremos representar-nos Deus isolado, como uma personagem existente por si mesma, confinada nas regiões espirituais mais sublimes; dele se dirá, como da força da natureza, que é acção até ao mais minúsculo átomo do universo físico, mas que se oculta a qualquer percepção direta.
Cabe a nós descobrir Deus em nós próprios, onde ele vive a sua vida eternamente criadora. Esta descoberta expõe-se a um erro de extrema gravidade, pois pode levar-nos a erigir-nos em ídolos aos nossos próprios olhos. É portanto prudente confiarmos nestes assuntos à orientação daqueles que já participam na consciência divina, cujas forças estão postas ao serviço de Deus e que vivem em união com o tipo primordial cri
ador.
                                         
É a estes eleitos que operam sobre a humanidade desde as eras mais recusadas que a Maçonaria deve as suas origens, pois, por intermediário da Arte, eles transmitiram ao homem ainda animal, o anúncio de um reino espiritual.
Sob a sua inspiração, o homem começou a construir. A construção do templo exterior fê-lo aprender a erigir um santuário no seu interior. Ao talhar a pedra para o edifício material, foi levado a trabalhar simbolicamente sobre si próprio, a fim de se adaptar ao Templo espiritual a que aspira tornar-se uma pedra viva.
Esta Maçonaria primitiva desenvolveu-se e manteve-se até ao Renascimento, época que determinou em declínio.
Num artigo intitulado Le Temple ensevelli, O Templo enterrado, propomo-nos explicar o que foi esta Maçonaria primitiva e como ela se constituiu.»

Bô Yin Râ.

Dado em português à luz no dia de aniversário de Bô Yin Râ, de 2023. Que ele nos possa inspirar luminosa e divinamente!

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

As mensagens dos cisnes chegarão perenemente aos jardins das almas, mesmo nas épocas de maior manipulação e opressão...

"O cisne (hamsa, e os paramahamsas são as grandes almas) retorna ao jardim de Nala" e transmite a mensagem da amada Damayanti, de um episódio do Mahabharata... Pintura Pahari, c. 1800,  Museu Nacional de Nova Deli, onde comprei há muitos anos esta reprodução..
O aumento do custo da vida, a luta mais apertada pela sobrevivência, a agitação, a velocidade, a superficialidade, o ruído, o excesso de informação e contra-informação, a censura e perseguição ao pensamento livre por grupos de pressão, a globalização, as lutas políticas, os conflitos internacionais, a mortandade de crianças e mulheres, os extremismos e neo-liberalismos opressivos e a derrocada moral e ética da União Europeia e do Ocidente norte-americanizado tendem a tornar muitas pessoas mais inquietas, superficializadas, dispersas, frustradas. E assim enfraquecidas, tornam-se mais desconfiadas e menos genuínas, estáveis ou auto-conscientes da presença espiritual em si mesmas ou, que seja, de uma certa paz, calma, alegria próprias da alma pura...
Para não se perder o discernimento próprio e não se ser tão  manipulado e contaminado, há que resistir a tal mau tempo nos canais, a tal furacão de desinformação e corrupção, de insensibilidade e arrogância, evitando verem-se os canais televisivos de manipulação e, antes, recolhendo-nos mais e reagindo menos à pressa, perseverando-se no pensar, escrever, orar, meditar e intuir o que é o mais certo ou apropriado, justo ou verdadeiro. E realizá-lo...
E para que coração não se vá tornando traumatizado, insensível e petrificado é importante cultivarmos tanto gostos, altruísmos, amores, passatempos instrutivos, investigações, actividades artísticas e criativas, como algumas amizades ou amores maiores por onde ele se possa expandir, irradiar e melhorar os seres e o mundo...
Não se deixe portanto ir abaixo pela desilusão, a impotência, a inércia, o sofrimento e antes transmute e expanda a sua alma e consciência com regularidade, frequentando mais a  natureza, as artes, a criatividade, a espiritualidade, os diálogos estimulantes.
Foi o mestre indo-persa Dara Shikoh, um sufi universalista, pioneiro do comparativismo religioso, príncipe mogol semelhante ao príncipe indiano Nala representado na pintura, quem escreveu uma obra intitulada A Bússola da Verdade apontando para a necessidade da sintonização e meditação interna para discernirmos os melhores caminhos, ligações e realizações, alertando-nos para perseverarmos no trabalhar, aspirar, aperfeiçoar e partilhar.
O Caminho evolutivo e espiritual faz-se caminhando interiormente e exteriormente, ajudando, meditando, amando, e não tanto intelectualizando  ou "proselitando", e devemos relembrar-nos que a luz do Sol visível não dura sempre e que no além, se não desenvolvermos o corpo espiritual, poderemos estar semi-cegos para a luz do Sol Divino.
Assim não percamos muito tempo com o que não é essencial, com o que não contribui para o nosso despertar e iluminar, para o alinhamento criativo, aperfeiçoador e dinâmico com o corpo místico da Verdade e do Amor, da Humanidade e da Divindade.
Saibamos recolher-nos nos jardins da alma e da Natureza e neles receber as energias e ideias, aves e luzes mensageiras da alma mundi, dos mundos espirituais e da Divindade.
Saibamos ser lúcidos e livres, fraternos e verdadeiros, aspirando ao alto, aos mestres e santas, anjos e deuses, e sobretudo amando a Divindade e acolhendo suas aves, sinais e mensageiro(a)s...

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Tolstoi, 113 anos da sua morte. Pensamentos libertadores, extraídos de "A Anexação da Bósnia e da Herzegovina pela Austria", traduzido por Jaime de Magalhães Lima. 1909.

 Pensamentos bem simples, directos e verdadeiros, mas que parecerão muito utópicos ou revolucionários, de Tolstoi, e partilhados para comemorarmos o dia do seu aniversário de libertação da Terra, 20 de Novembro. Extraídos da tradução e apresentação por Jaime de Magalhães de Lima [1859-1936], anteriano e tolstoiano, pois peregrinara à  Iasnaia Poliana e encontrara-se com ele (e publicando sobre isso), do livro a Anexação da Bósnia e da Herzegovina pela Áustria, dado à luz em 1 de Janeiro 1909, na popular A Editora, ao Largo Conde Barão, 50.

«Estamos tão acostumados a pensar que alguns homens devem governar a vida dos outros que as leis emanadas de alguns deles, mandando aos outros crer ou proceder de certo modo, não nos parecem estranhas. Se os seres humanos podem publicar tais decretos e serem obedecidos é porque não reconhecem nas pessoas aquilo que é a verdadeira essência de todo o ser humano – a Divindade da sua alma, sempre livre e incapaz de se submeter a qualquer coisa que não seja a sua própria lei, isto é, à consciência e à lei de Deus...» p. 9-10.

[Eis uma afirmação altamente revolucionária mas baseada na realidade e verdade íntima do ser humano. Por isso tanto afã nos mentores e defensores da Nova ordem Mundial, do transhumanismo infrahumanista de negarem o espírito e a imortalidade da alma-espírito, e tentarem impor as mais diversas derrogações da leis naturais da Ordem do Universo e o seu Logos divino, isto é a Inteligência amorosa ou compassiva.]

«O patriotismo, para todo o membro de um grande Estado e para mim, um russo, não somente envolve a ausência de simpatia com milhares e milhões de homens, polacos, fínios, judeus, e várias tribos caucásicas, mas também resulta em que eu seja o objecto do ódio dos homens, aos quais não fiz mal algum e com os quais nenhum contacto tenho. Para as pequenas raças ou nações escravizadas é ainda pior: pelo lado espiritual é a causa justificativa do ódio a um povo que lhes é estranho, e pelo lado material produz toda uma série de opressões, perdas e sofrimentos; e este sentimento obsoleto, grosseiro, e moral e materialmente pernicioso é advogado e insinuado por todos os meios, da parte daqueles a quem aproveita, e é ingenuamente aceite como virtude e bênção por aqueles aos quais é manifestamente nocivo...». p. 22.

«Os povos devem ter consciência da sua dignidade humana, igual para todos, incompatível com o domínio de alguns sobre a vida dos outros, ou com a sujeição desses outros a qualquer. Esta consciência é unicamente possível para os homens que conhecem o seu destino na vida e seguem nos comportamentos a direcção que deriva daquele conhecimento. E só conhecem o seu destino na vida e seguem nos actos ou comportamentos a direcção que daí deriva, aqueles que tem religião [ou religação], ou que estão a nascer de novo permanentemente para o amor e o bem..
  p. 24
 

«Hoje ainda vivo; amanhã, provavelmente, já não existirei, mas terei partido, para sempre, para o lugar donde vim. Enquanto vivo, se estiver em relações de amor com os homens, será isso para mim a alegria, a paz e o bem...» p. 25

 «Para um ser humano que acordou para a compreensão religiosa ou espiritual da vida, o que se chama a autoridade do governo consiste meramente na atribuição, que a si mesmo fazem certos homens, de uma importância imaginária, que carece de qualquer justificação racional, mantendo a sua vontade por meio de violência. Para o homem acordado, esta gente desvairada e, em regra, venal, que coage os outros, é como salteadores de estrada que prendem os viajantes e os violentam. A iniquidade desta violência, as suas dimensões e organização, não pode alterar-lhe o carácter essencial. Para o homem que despertou, aquilo que se chama o governo não existe, e não há por conseguinte justificação alguma da violência cometida em nome do Estado, e não pode ter parte nisso. A violência dos governos será abolida, não por meios externos mas unicamente pela consciência dos homens que acordaram para a verdade».
  p 26.

 [Um certo idealismo utópico foi fortemente afirmado por Tolstoi, e hoje no século XXI, com os Estados cada vez mais organizados e opressivos nos seus actos, damos conta como os meios externos revolucionários são muitas vezes necessários pois a democracia instalada está rota e é nociva. Mas quantos acordam para algumas verdades externas e para a realização da sua verdade e missão íntima? Muito poucos, tanto mais que há milhões de limitados ou falsos pregadores ou instrutores, pelo que o discernimento do caminho da Verdade é bem difícil. Meditemos bem e seja a nossa acção ditada pela nossa justa e sã ideia ou convicção, e manifestada com inteligência e amor para o Bem...]

«A relação com a fé fazia com que a maioria dos seres humanos, não reconhecendo em si qualquer autoridade espiritual independente que os guiasse, submetia-se cegamente à direcção de uma minoria escolhida, tanto na compreensão da vida como na direcção das suas acções, enquanto a minoria, atribuindo-se qualidades supernaturais, considerava-se com o direito de dirigir simultaneamente a vida espiritual e a corporal da maioria.» p. 35.

 [Auto-conhecer-nos, e tornar-nos independentes, não perdendo as nossas forças em submissões erradas e nocivas.]

  «A consciência de que a lei velha  está antiquada, gasta e que levou-nos à maior miséria e anormalidade de vida, e de que a nova lei de liberdade e amor revelada há dois mil anos exige aplicação e realização, tomou-se agora tão íntima dos seres humanos, não só no nosso mundo cristão mas em todo mundo, que um despertar em relação à escravidão e à perversão, nas quais se vê mantido há tantos séculos, pode, julgo eu, surgir de repente. Porque na verdade, este acontecimento iminente, imensamente importante como é, depende não de quaisquer acções externas, que podem encontrar obstáculos invencíveis, mas inteiramente da consciência dos homens - que é sempre livre e nunca pode ser estorvada. De nenhumas façanhas ou acções difíceis em conflito com os inimigos mais fortes carece agora o povo do mundo inteiro para a sua emancipação, mas só de uma coisa, a coisa mais natural e normal ao homem - nem mesmo um acto, mas meramente uma abstenção - não fazer coisas contrárias à nossa convicção. E nem a convicção nem a abstenção de acções contrárias à convicção de cada um podem ser impedidas.»
p. 46 

[Eis pensamentos ou linhas de força para despertarmos e nos libertarmos mais: Não agir em desacordo com as nossas ideias, ideais, princípios, convicções...]

  «O ser humano pode libertar-se imediatamente de toda a posição difícil, se apenas se lembrar de que Deus vive dentro dele. Deixai apenas que os homens concebam clara e firmemente o que eles são: deixai-os conceber o que foi ensinado por todos os sábios do mundo e o que foi ensinado por Cristo: que em cada homem, - como em todos, - habita o espírito livre eterno, todo-poderoso de um filho de Deus; que o homem não pode governar nem estar sujeito, e que a manifestação desse espírito é Amor. Deixai que os seres humanos concebam isto (e já estão preparados para o reconhecer) e deixai  que eles procedam
em harmonia - ou antes, deixai que eles somente não procedam ou ajam contrariando a sua consciência, e rapidamente, da maneira mais simples e pacífica, todas as dificuldades se dissiparão...» p 49.

«O mal não pode ser suprimido pela força física do governo. O progresso moral da humanidade não é provocado só pelo reconhecimento individual da verdade mas também através do estabelecimento da opinião pública…» 

[No interior e exterior dos seres deveria a Verdade brilhar e fluir mas sabemos como a opinião pública é ou está completamente manipulada, enganada, oprimida, pelo que nos resta trabalharmos pela auto.realização interior e a irradiação possível no exterior, no ambiente, nos grupos e pessoas mais afins...]

E terminará assim o livro: «Os seres humanos só podem [ou devem] submeter-se aquela lei suprema do amor que dá o maior bem estar a cada indivíduo e a toda a humanidade. Só o reconhecimento, da parte dos homens e mulheres, do princípio espiritual que neles está, e o reconhecimento consequente da sua verdadeira dignidade humana [conforme Pico della Mirandola acentuara já no dealbar do Humanismo], pode libertar e libertará da servidão de uns e outros. Esta consciência vive já no género humano, e está pronta a manifestar-se em todo o momento.»

No bosque de faias da Iasnaia Poliana...

 Que estas corajosas, lúcidas e tão verdadeiras quão poderosas palavras e ensinamentos do Logos, inteligência-amor, e de Tolstoi nos fecundem e nos inspirem, tanto para  nos transformarmos como para impulsionarmos os outros a se descobrirem, iluminarem, realizarem e logo as pessoas, os ecosistemas planetários e a Humanidade melhorarem...

"Angelis". Exposição de pintura de Maria De Fátima Silva, com texto meu, na galeria municipal da Ericeira. Imagens da inauguração.

                               Dos Anjos nos dias de hoje....
Quem contemplar com olhos curiosos, indagadores, as pinturas de Maria De Fátima Silva não pode deixar de reconhecer a sua destreza artística em chamar e harmonizar nas telas tão criativa e admiravelmente a pluridimensionalidade e interelacionalidade dos elementos e seres da vasta Natureza, que se alonga desde o reino mineral e animal até ao angélico e ao divino.
   Face à crescente artificialidade e materialismo do transhumanismo-infrahumanismo que vai tentando reger opressivamente as almas humanas, negando-lhe as suas raízes naturais e espirituais, são muito
importantes os criadores que evocam nas suas obras tais seres e forças subtis e espirituais, como é o caso de Maria De Fátima Silva que, na sua carreira ou senda, vai prosseguindo no desbravamento das brumas misteriosas do passado, do presente e do futuro e perseverando na aproximação e desvendação da riqueza pluridimensional do ser humano e do angélico.
   Embora já nas suas exposições, Mitos e Lendas (2008, 2009), Atlantis (2012, 2014, 2015, 2016) e Inês e Pedro (2016, 2018, 2019), o Anjo surgisse ocasionalmente, foi a partir da sua recente residência artística em 2020 durante dois meses em revisitação trisemanal da igreja de Fandega da Fé, em Safaruxo, Encarnação, próxima da sua casa e a 14 km da Ericeira, e onde houve outrora uma evocação e irmandade de S. Miguel e as Almas, que ela se dedicou mais artistica e animicanente aos Anjos e à sua presença na história de Portugal e seus monumentos e na nossa vida, locais de trabalho, questões de saúde, família, educação, práticas de yoga, comunhão com a Natureza, peregrinações, amores, etc. E em 2021, no Porto, realizou  uma primeira exposição sob o tema Angelis, e com os primeiros trabalhos.
    Embora a generalidade dos portugueses ao longo dos séculos tenha acreditado na existência dos Anjos, poucos os têm conseguido ver na sua visão espiritual pelo que a necessidade de pinturas e gravuras sempre foi sentida e deu origem a muitas obras belas ou inspiradoras, sobretudo desde o século XVI, nomeadamente em esculturas, pinturas e gravuras dos Anjos na vida de Jesus, do Arcanjo de Portugal, dos Arcanjos S. Miguel, Gabriel e Rafael, e ainda do Anjo da Guarda, devoção esta acelerada após o Concílio de Trento, no movimento de Contra Reforma, já que a Reforma protestante abolira a reverência ou culto dos Anjos, de Nossa Senhora, dos santos e santas, e em especial da suas belas imagens, por se tornarem ídolos, algo que o mais destacado dos Humanistas na Europa no começo do séc. XVI, Erasmo, embora crítico das superstições, lamentou quando consequentemente foram queimadas pelos protestantes dezenas e dezenas delas em 1529 em Basileia, além de se proibir a missa, forçando-o a trocar tal cidade pela católica Friburgo.
Foram pois os católicos que conservaram tal culto icónico intercessório através de pinturas, gravuras, ou dos registos emoldurados artisticamente nas paredes ou oratórios das casas, mas
será já só no século XIX que a posse individual de imagens, ditas santinhos, com os Anjos se vai democratizar extraordinariamente e
assim muitas das crianças para a 1ª comunhão recebiam santinhos, com a representação de Jesus, a Eucaristia, o Anjo da Guarda, aprendendo ainda desde tenra idade, e assim se tornando uma de cor,
ou de coração, sempre pronta a brotar em nós, a oração típica em quadra popular, com variantes: "Anjo da Guarda, minha doce companhia, guardai (ou inspirai) a minha alma de noite e de dia".
Nos nossos tempos de muito maior número de imagens acessíveis, infinitas mesmo pelos meios digitais, e numa época em que a Humanidade na sua evolução cada vez mais pode compreender, se não se distrair e alienar, a interioridade, imensidade e pluridimensionalidade do universo e dos seres, é importante realçar
que os Anjos não foram desmistificados ou mortos (tal como queriam e querem em relação à divindade) pelos positivismos, materialismos, cepticismos, post-modernismos e novas ideologias transhumanistas-infrahumanistas, mas continuam a inspirar, motivar ou impulsionar nas pessoas uma busca, uma aspiração, uma devoção, uma comunhão amorosa que justificam o aparecimento de tantos testemunho,  livros obras e de arte que deles se tentam mais acercar, intuir, conhecer, recriar, evocar, para melhorarmos as nossas vidas, intuições e religações à Divindade.
                                     
Maria de Fátima Silva, preparada pelas suas investigações no mundo da arqueologia e da história da arte, pela sua proximidade e peregrinação de locais sagrados ou angelizados, pela sua espiritualidade interior, pelo seu incessante e quase omnipresente amor a Inês e de Pedro e pelos seus dotes artísticos seria naturalmente levada a sondar e alargar os mistérios do relacionamento dos espíritos celestiais com os humanos através da sua criatividade e assim oferece-nos esta série de visões e recriações dos Anjos na história, no amor, no dia a dia humano, proporcionando aos que os admirarem alguns eflúvios da sua elevada ou alada essência, bem como da subtil dimensão em que vivem e em que nos envolvem ou mesmo transfiguram, já que todos estamos entretecidos no infinito campo de consciência, energia e informação cósmica, e todos temos, nos corpos, almas e espíritos de luz e amor e que assim se podem transfigurar, angelizar...
                                       
Ao não se deixar prender nos modelos correntes das representações e
tipificações dos Anjos, e antes manifestar uma tão criativa diversidade de perspectivas e aproximações aos Anjos e Arcanjos e às pessoas, símbolos, seres e monumentos a que ela os vê associados ou criativamente interelaciona em formas e cores tão belas, resulta um vasto horizonte de potenciais reacções, percepções, leituras e hermenêuticas das suas pinturas e consequentemente uma intensificação da presença angélica e da beleza divina pelos sentidos
nas nossas mentes-almas e logo uma expansão de consciência dos Anjos e da nossa natureza angélica e divina, a qual pode então ser mais sentida permeando e penetrando os corpos, as pedras, as aves, os burricos, o espaço, a história, a humanidade em diálogos infinitos...
   Este alargamento consciencial é obtido pela Fátima na sua arte sem ter de estudar e seguir doutrinas ou dogmas sobre o mundo angélico,
embora seja conhecedora dos textos sagrados ou históricos em que entram, mas apenas sentindo ou discernindo nos locais, nas pessoas e
nos acontecimentos a presença subtil ou possível deles e intuindo as
representações ou materializações plasmáveis, que depois vêm fixar-se impressivamente nas telas graças à sua boa destreza manual e excelente domínio das cores, sombras, formas, texturas, estruturas,
planos, movimentos, perspectivas.
   Maria da Fátima da Silva oferece-nos então nesta exposição Angelis, Para os Anjos, à contemplação dezassete ícones grandes e quatorze pequenos invocadores e evocadores dos Anjos e Arcanjos, e da dimensão angélica humana e do Amor, apresentando-os sob diferentes identidades, ângulos, regiões, dimensões, uniões e momentos históricos, e cada um de nós que os admirar, apenas na exposição, no blogue ou ao adquirir algum, para quando quiser nele se poder harmonizar ou inspirar, participa com ela nesta dinâmica humanista e espiritual da Humanidade que não quer ser reduzida a uma dimensão animal e quantitativa e opta com o seu livre arbítrio por cultivar os elos intermediários da ligação com o mundo espiritual e com o mistério supremo e íntimo da Divindade que são tanto os Anjos e Arcanjos, como os santos e santas e as grandes e humildes almas.
  E que na Ericeira e em Portugal sempre houve e sempre foram acolhidos com amor e que agora graças à Fátima são reactualizados com o grande dinamismo e profundidade, alegria e impacto com que ela os consegue assimilar e transmitir humanamente, e na actualidade do aqui e agora mais luminoso e transparente, poderoso e pacificado, unificado e universalizado....
                                             Pax Angelis!
       Imagens da inauguração, a18-XI-2023. A exposição na Galeria Municipal Orlando Morais e casa da Cultura Jaime Lobo e Silva encerra a 10-XII.
O Presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder de Sousa Silva (e que homenageou o seu homónimo galerista Hélio Alfaiate, recentemente falecido)  e o vereador do Turismo, Pedro de Carmo Silva, vieram acalentar a Cultura, já que acreditam que é por ela que avançamos, que melhoramos...
Margarida Marcelino, com a sua autêntica lira grega, a pedido do presidente da Câmara, tocou para toda a gente em silêncio uma música que angelizou ainda mais as almas por momentos....

Uma instalação feita pelo Nuno e o Simão, marido e filho da Fátima.
Saudemos e demos graças, com muito amor, aos Anjos e Arcanjos, em especial aos nossos!

sábado, 18 de novembro de 2023

Daria Platonova Dugina: resistir e avançar no Optimismo Escatológico, face às opressões modernas. Um excerto, bilingue, do seu livro "Optimismo Escatológico"

                             

Um valioso excerto do recente livro Optimismo Escatológico, infelizmente póstumo, por ter sido assassinada a sua brilhante e tão esperançosa autora Daria  Platonova Dugina, aos 30 anos, filha do famoso ideólogo tradicionalista da Eurásia e da Filosofia Perene, Aleksandr Dugin, e da professora Natalia Melentyeva.

Daria  Platonova Dugina, em poucas linhas, aborda duas das raízes filosóficas, Bergson e sobretudo Popper,  da triunfante ideologia do liberalismo transhumanista ou, mais exacta, infrahumanista, tão dinamizado e globalizado pelo Fórum Económico Mundial, de Klaus Schwab, e pela Sociedade Aberta, de George Soros, grupos de pressão insidiosos que influenciam a maioria dos governos e políticos ocidentais, ou do eixo do mal imperial norte-americano e da sua escravizada União Europeia, desgovernada por Ursula von Pfizer... 

Estamos muito orgulhosos de termos penetrado (ou corrompido) em quase todos os gabinetes politicos mundiais, e em especial na escravizada União Europeia

Desmascara também a opressão a que tal aparente abertura liberal conduz, pois é só para os que aceitam as suas ideologias desequilibradas, e que tendem a massificar-se pelo controle que elite financeira exerce sobre quase toda a comunicação social, e de muito da ciência, cultura, filosofia e religião. Tal liberdade condicionada e manipulada, que tem exemplos no passaporte digital e vacinal universal da Organização Mundial de Saúde (graças a Deus não aprovado nas Nações Unidas), nas censuras e bloqueios nas redes sociais das vozes dissidentes, e nas Cidades de 15 minutos, uma Disneylandia de cores do arco-íris, graças ao Logos, ou Inteligência-Razão-Amor substancial, está a ser posta em causa fortemente pela Rússia e outros países que defendem um mundo multipolar e não corrompido e oprimido pela oligarquia possuidora do dólar infinitamente impresso...

                                 

Não se pode deixar de referir as discricionariedades que alguns governos (neles se destacando os ingleses e autralianos)  exerceram ou desejaram aquando da pandemia, tais os campos de concentração para os não vacinados, nem os constantes bloqueios do Facebook, Meta, Youtube, Instagram e Twitter-X aos que não seguem as suas directrizes farmacêuticas, ou de géneros, ou as anti-russas e anti-palestinianas, ou aos que querem discutir abertamente tudo o que interesse ao bem do género humano.  Oiçamos então Daria Platonova Dugina :

Resistir, lutar, meditar, confiar, vencer!

 «Na crítica ao historicismo e ao cientismo, na compreensão-visão da sociedade de Popper, podemos ver um apelo à mesma abertura que encontrámos em Bergson. Nisto reside a identidade das teses de ambos os filósofos sobre a "sociedade aberta". Mas há nelas uma diferença importante.
Na sua abordagem à ciência, Popper defende algo bastante análogo ao "impulso da vida" e rejeita dogmas prescritivos. Neste aspecto, é coerente. Mas, ao transferir este princípio para a sociedade e ao formular a ideologia liberal, depara-se com um paradoxo: a recusa de prescrever qualquer proibição ou restrição a determinados pontos de vista, em que consiste a essência do liberalismo clássico, transforma-se imperceptivelmente, para Popper, em medidas proibitivas contra os que classifica como "inimigos da sociedade aberta". 

Acontece que para ele só pode ser livre quem concordar com os princípios básicos do liberalismo, ou seja, com a sua interpretação muito específica ou definida da liberdade. Quem pensa de modo diferente é deliberadamente colocado na categoria dos privados de quaisquer direitos. Assim, o protesto contra qualquer prescritividade e qualquer historicismo termina na dura diretiva de ter de se seguir as normas da ideologia liberal, já que esta é vista como a coroa do progresso e desenvolvimento históricos.»

   Saibamos pois não nos deixar silenciar pelos bloqueios e  censuras, nem iludir por falsas promessas, e perseveremos no culto das tradições valiosas locais, familiares e nacionais, da harmonia com a Natureza, da alimentação natural e de preferência de agricultura biológica, da solidariedade, da Ética viva, das vias de arte e cultura, religiosidade e espiritualidade, nomeadamente da auto-consciente religação ao espírito individual e imortal, aos Anjos e Mestres, ao Bem, à Verdade e à Divindade e, sobretudo nestes tempos de manipulações e conflitos ferozes, lutando pela justiça e a liberdade fraterna e luminosa...

Original in english, translated from the russian, via Pravda Editions and VK.com: «In the critique of historicism and scientism in Popper’s understanding of society, we can see a call for the very same openness that we found in Bergson. In this lies the identity of both philosophers’ theses on the “open society.” But there is an important difference here.

In his approach to science, Popper defends something quite analogous to the “life impulse,” and he rejects prescriptive dogma. On this count, he is consistent. But by transferring this principle onto society and formulating liberal ideology, he runs into a paradox: the refusal to prescribe any ban or restrictions on certain views, of which the essence of classical liberalism consists, imperceptibly turns with Popper into prohibitive measures against those whom he classifies as “enemies of the open society.” It turns out that only he who agrees with the basic principles of liberalism, that is, with its very definite interpretation of freedom, can be free. Whoever thinks otherwise is deliberately placed into the category of those deprived of any rights. Thus, protest against any prescriptiveness and any historicism ends in the harsh directive to follow the norms of liberal ideology, for the latter is seen as the crown of historical progress and development.»

Muita Luz, Força e Amor divinos em Daria Dugina, e em nós!

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Anotações à contemplação (2ª p.) da pintura "Encontro na Luz", do mestre alemão Bô Yin Râ (1876-1943).

Quanto ao segundo livro, Aus meiner Malerwerkstat, Da minha oficina de Pintor, destaquemos das informações sobre a sua obra de pintor, sucintamente e numa tradução rápida, que «vejo-me na obrigação de dizer de uma vez por todas que nenhuma dessas pinturas "místicas" tem algo a ver com "misticismo" ou  a "aparência" corretamente designada como "mística", e que todas, sem excepção, foram criados da maneira perfeitamente normal em que toda verdadeira obra de arte é criada, ou seja, com base na habilidade adquirida honestamente através de incontáveis ​​estudos preliminares e experimentações e numa luta artística árdua.»
Diz-nos Bô Yin Râ ainda que «essas composições de cores dinâmic
as, que crescem a partir de estruturas lineares, são algo semelhantes, como designs artísticos baseados nessas formas e cores que - em termos comparativos - às vezes se tornam visíveis sob o microscópio em espécimes vivos, ou, talvez mais corretamente, representações de estruturas de formas e cores que, devido à sua natureza dinâmica, podem ser comparadas de acordo com as "figuras sonoras chladnianas" [formas ressonâncias sonoras em cordas ou areia) - embora tenham sido criadas num nível incomensuravelmente superior, já que são a representação de eventos espirituais eternos e substanciais». 
Comparará o seu tipo de experiência e busca de cores à de Johann Bach com os sons na música e pensa que Goethe teve a mesma capacidade de experiência que ele face à Natureza.
«De todos os nomes que poderiam ser dados à minha produção artística, que foi fundada na experiência puramente espiritual e apenas fertilizada por ela, a designação de pinturas "espirituais" parece-me a menos enganosa.
Mas nesses painéis não mostro nada para além do que experimento conscientemente como resultado do meu desenvolvimento espiritual substancial da consciência em regiões que são acessíveis apenas internamente e que penetram todos os mundos dos fenómenos.
Além disso, no entanto, as regiões de onde vêm os modelos para as formações de minhas pinturas espirituais não só conhecem as nossas três dimensões externas e terrenas, que são universalmente válidas, mas também uma tal multiplicidade de dimensões que o olhar terrestre só experimentaria confusão se quisesse ver esses mundos multidimensionais por conta própria, tentando entender da maneira habitual.»
Das suas batalhas demoradas para conseguir traduzir em forma e cor a multidimensionalidade dos eventos representados, confidencia-nos: «Entre os milhares de observadores das minhas imagens espirituais, haverá muito poucos que serão capazes de formar uma ideia de quanta agonia e tormento, quanta luta e ansiedade, quanta felicidade e decepção, quanta segurança e entrega repentina são exigidas, tal como o esforço num jogo difícil, e cuja vitória finalmente  essa imagem representa.
Não se trata da reprodução de "aparições" e "visões", mas sim da representação de um evento no qual se está no meio, e que não é de forma alguma registrado de forma análoga à visão através do olho físico, mas no organismo substancial espiritual e que é vivenciado de acordo com todas as sensações, acrescentando ainda que no seu livro Welten, Mundos dá informações mais detalhadas sobre esta forma de experiência.
E dir-nos-á então que «forma de linha, cor e tom são apenas os valores expressivos de tensões internas, esforços, ameaças que podem ser vivenciados substancial e espiritualmente». Ou, criticando as hermenêuticas estruturalistas, que «qualquer tentativa de esclarecer intelectualmente o que está representado é errado e será absurdo, por exemplo, assumir que qualquer forma significa algo e que toda a pintura pode ser "explicada", se apenas se souber o "significado" de todas as formas e cores que ela contém.
Uma pessoa só pode “explicar” algo que ainda não está claro ou foi escurecido, ou seja, tornou-se obscuro. Mas o que se apresenta nestas, minhas imagens espirituais, é em si mesmo clareza original, porque é a matriz de todas as aparências: - o evento original, como ocorre como a causa de todos os eventos em todas as áreas cósmicas, de eternidade em eternidade.
Para comunicar, não
 é necessário avaliar-medir uma capacidade artística completamente incomensurável, mas apenas reconhecer que as minhas pinturas encontram o que existe na alma, do mesmo modo que uma fuga de Bach, que também conta coisas que só a alma conhece.
Qualquer pessoa que alguma vez já se familiarizou com a ideia da situação em que as minhas imagens espirituais são criadas, certamente não se deve  surpreender-se que continuem a emanar dos desenhos e suas cores vibrações semelhantes às das estruturas espirituais primordiais na representação escolhida, vivenciada num momento de tendência criativa e assim finalizada.
Basicamente, as transmissões vibratórias possibilitadas pela representação artística dos efeitos coloridos e lineares de forças espirituais primordiais substanciais são nada mais nem menos do que a "magia dos signos" conhecida desde os tempos pré-históricos - e estes melhores do que hoje -, mesmo que nas minhas imagens espirituais os "signos" não estejam isolados no que significam pois há um efeito no seu contexto "orgânico" de ser.» 

                                           
Dirá ainda quanto à composição das suas pinturas:
«O que experimentei no meu organismo espiritual-substancial e, como resultado de minha forma inata de apreensão, principalmente orientada opticamente, e baseada principalmente nos seus valores de cor, fornece apenas o material para a criação da imagem, a qual em toda a sua estrutura permanece também a minha composição, tal como toda a imagem de uma paisagem, a qual é determinada apenas pela experiência para a qual quero abrir o caminho para a alma de quem a vê.
Também tenho de usar os elementos da forma e cor da paisagem de maneiras muito diferentes, dependendo se a imagem deve transmitir paz e tranquilidade, ou uma ajuda encorajadora para o observador.
Os mesmos componentes objetivos de uma paisagem exigirão um tratamento significativamente diferente se eu quiser pintar um clima de tempestade forte do que se for uma questão de tornar tangível a sensação da manhã orvalhada.»

                      
Quanto aos títulos das suas pinturas, dirá, alertando-nos para não nos deixarmos influenciar por eles mas antes tentarmos sentir a verdade anímica deles em nós, já que em geral tais pinturas nos representam:
«Devo advertir contra a adição de um significado ao nome pelo qual torno as imagens identificáveis ​​para a linguagem!
Se um tipo diferente de designação me parecesse apropriado para as obras individuais, então eu certamente não lhes daria quaisquer “nomes” - ou apenas o consideraria necessário nos casos mais raros.
Tal imagem só pode ser "sentida" quando é experimentada pelo observador, e só pode ser experimentada pelo observador quando ele mergulha a sua própria consciência na pintura: - ele mesmo, nas formas e cores da imagem, encontra a sua própria alma, que está representada nela, como é geralmente o caso...»