quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Anotações à contemplação (2ª p.) da pintura "Encontro na Luz", do mestre alemão Bô Yin Râ (1876-1943).

Quanto ao segundo livro, Aus meiner Malerwerkstat, Da minha oficina de Pintor, destaquemos das informações sobre a sua obra de pintor, sucintamente e numa tradução rápida, que «vejo-me na obrigação de dizer de uma vez por todas que nenhuma dessas pinturas "místicas" tem algo a ver com "misticismo" ou  a "aparência" corretamente designada como "mística", e que todas, sem excepção, foram criados da maneira perfeitamente normal em que toda verdadeira obra de arte é criada, ou seja, com base na habilidade adquirida honestamente através de incontáveis ​​estudos preliminares e experimentações e numa luta artística árdua.»
Diz-nos Bô Yin Râ ainda que «essas composições de cores dinâmic
as, que crescem a partir de estruturas lineares, são algo semelhantes, como designs artísticos baseados nessas formas e cores que - em termos comparativos - às vezes se tornam visíveis sob o microscópio em espécimes vivos, ou, talvez mais corretamente, representações de estruturas de formas e cores que, devido à sua natureza dinâmica, podem ser comparadas de acordo com as "figuras sonoras chladnianas" [formas ressonâncias sonoras em cordas ou areia) - embora tenham sido criadas num nível incomensuravelmente superior, já que são a representação de eventos espirituais eternos e substanciais». 
Comparará o seu tipo de experiência e busca de cores à de Johann Bach com os sons na música e pensa que Goethe teve a mesma capacidade de experiência que ele face à Natureza.
«De todos os nomes que poderiam ser dados à minha produção artística, que foi fundada na experiência puramente espiritual e apenas fertilizada por ela, a designação de pinturas "espirituais" parece-me a menos enganosa.
Mas nesses painéis não mostro nada para além do que experimento conscientemente como resultado do meu desenvolvimento espiritual substancial da consciência em regiões que são acessíveis apenas internamente e que penetram todos os mundos dos fenómenos.
Além disso, no entanto, as regiões de onde vêm os modelos para as formações de minhas pinturas espirituais não só conhecem as nossas três dimensões externas e terrenas, que são universalmente válidas, mas também uma tal multiplicidade de dimensões que o olhar terrestre só experimentaria confusão se quisesse ver esses mundos multidimensionais por conta própria, tentando entender da maneira habitual.»
Das suas batalhas demoradas para conseguir traduzir em forma e cor a multidimensionalidade dos eventos representados, confidencia-nos: «Entre os milhares de observadores das minhas imagens espirituais, haverá muito poucos que serão capazes de formar uma ideia de quanta agonia e tormento, quanta luta e ansiedade, quanta felicidade e decepção, quanta segurança e entrega repentina são exigidas, tal como o esforço num jogo difícil, e cuja vitória finalmente  essa imagem representa.
Não se trata da reprodução de "aparições" e "visões", mas sim da representação de um evento no qual se está no meio, e que não é de forma alguma registrado de forma análoga à visão através do olho físico, mas no organismo substancial espiritual e que é vivenciado de acordo com todas as sensações, acrescentando ainda que no seu livro Welten, Mundos dá informações mais detalhadas sobre esta forma de experiência.
E dir-nos-á então que «forma de linha, cor e tom são apenas os valores expressivos de tensões internas, esforços, ameaças que podem ser vivenciados substancial e espiritualmente». Ou, criticando as hermenêuticas estruturalistas, que «qualquer tentativa de esclarecer intelectualmente o que está representado é errado e será absurdo, por exemplo, assumir que qualquer forma significa algo e que toda a pintura pode ser "explicada", se apenas se souber o "significado" de todas as formas e cores que ela contém.
Uma pessoa só pode “explicar” algo que ainda não está claro ou foi escurecido, ou seja, tornou-se obscuro. Mas o que se apresenta nestas, minhas imagens espirituais, é em si mesmo clareza original, porque é a matriz de todas as aparências: - o evento original, como ocorre como a causa de todos os eventos em todas as áreas cósmicas, de eternidade em eternidade.
Para comunicar, não
 é necessário avaliar-medir uma capacidade artística completamente incomensurável, mas apenas reconhecer que as minhas pinturas encontram o que existe na alma, do mesmo modo que uma fuga de Bach, que também conta coisas que só a alma conhece.
Qualquer pessoa que alguma vez já se familiarizou com a ideia da situação em que as minhas imagens espirituais são criadas, certamente não se deve  surpreender-se que continuem a emanar dos desenhos e suas cores vibrações semelhantes às das estruturas espirituais primordiais na representação escolhida, vivenciada num momento de tendência criativa e assim finalizada.
Basicamente, as transmissões vibratórias possibilitadas pela representação artística dos efeitos coloridos e lineares de forças espirituais primordiais substanciais são nada mais nem menos do que a "magia dos signos" conhecida desde os tempos pré-históricos - e estes melhores do que hoje -, mesmo que nas minhas imagens espirituais os "signos" não estejam isolados no que significam pois há um efeito no seu contexto "orgânico" de ser.» 

                                           
Dirá ainda quanto à composição das suas pinturas:
«O que experimentei no meu organismo espiritual-substancial e, como resultado de minha forma inata de apreensão, principalmente orientada opticamente, e baseada principalmente nos seus valores de cor, fornece apenas o material para a criação da imagem, a qual em toda a sua estrutura permanece também a minha composição, tal como toda a imagem de uma paisagem, a qual é determinada apenas pela experiência para a qual quero abrir o caminho para a alma de quem a vê.
Também tenho de usar os elementos da forma e cor da paisagem de maneiras muito diferentes, dependendo se a imagem deve transmitir paz e tranquilidade, ou uma ajuda encorajadora para o observador.
Os mesmos componentes objetivos de uma paisagem exigirão um tratamento significativamente diferente se eu quiser pintar um clima de tempestade forte do que se for uma questão de tornar tangível a sensação da manhã orvalhada.»

                      
Quanto aos títulos das suas pinturas, dirá, alertando-nos para não nos deixarmos influenciar por eles mas antes tentarmos sentir a verdade anímica deles em nós, já que em geral tais pinturas nos representam:
«Devo advertir contra a adição de um significado ao nome pelo qual torno as imagens identificáveis ​​para a linguagem!
Se um tipo diferente de designação me parecesse apropriado para as obras individuais, então eu certamente não lhes daria quaisquer “nomes” - ou apenas o consideraria necessário nos casos mais raros.
Tal imagem só pode ser "sentida" quando é experimentada pelo observador, e só pode ser experimentada pelo observador quando ele mergulha a sua própria consciência na pintura: - ele mesmo, nas formas e cores da imagem, encontra a sua própria alma, que está representada nela, como é geralmente o caso...»

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